Por Rinaldo Remígio*
Há instituições que ultrapassam o concreto das paredes e a rigidez dos calendários escolares. Tornam-se território de afetos, forja de destinos e bússola de gerações. Assim foi – e continua sendo – o Colégio Normal Estadual de Afogados da Ingazeira, hoje Escola de Referência em Ensino Médio Professora Ione de Góes Barros. Uma escola que ensinou o Sertão a ensinar e que fez da educação um verdadeiro projeto de vida.
Com base em informações precisas e criteriosas do historiador Fernando Pires, é possível revisitar, com rigor histórico e sensibilidade humana, a trajetória dessa instituição que ocupa lugar de destaque na memória educacional de Afogados da Ingazeira e de toda a Região do Pajeú. Fundado em 4 de fevereiro de 1956, como Escola Normal Rural Regional, o Colégio nasceu com uma missão clara: formar professores preparados para transformar realidades, sobretudo no Sertão profundo, onde o ensino era, para muitos, a única ponte possível entre o presente árido e um futuro promissor.
Leia maisDesde os primeiros anos, a escola demonstrou grandeza. Possuía biblioteca própria, hino próprio e, acima de tudo, um espírito coletivo que compreendia a educação como instrumento de emancipação social. Por uma década, esteve sob a direção das Irmãs Franciscanas, que imprimiram valores de disciplina, ética e compromisso cristão. Em seguida, viveu um de seus períodos mais marcantes sob a liderança da Professora Ione de Góes Barros, que dirigiu a instituição por 22 anos, entre 1967 e 1989, deixando um legado tão profundo que, por justa homenagem, empresta hoje seu nome à escola.
Essa denominação não é apenas simbólica. Representa o reconhecimento público de uma mulher que deu o seu melhor pela educação, que defendeu a escola pública com firmeza, e que ajudou a consolidar o Colégio Normal como referência regional na formação de educadores e lideranças. Seu nome traduz uma história de dedicação, sensibilidade e responsabilidade social, valores que ainda ecoam nos corredores da instituição.
Eu mesmo sou testemunha desse legado. Migrei para Afogados da Ingazeira no início dos anos 1970, como tantos outros jovens do Pajeú que deixaram suas cidades natais em busca de oportunidade e formação. No Colégio Normal encontrei mais do que salas de aula: encontrei um ambiente de acolhimento, exigência e estímulo intelectual. Ali se aprendia a ler o mundo, a respeitar o outro e a compreender que ensinar é um ato de coragem e esperança.
Quantos professores ali foram formados? Quantos cidadãos, hoje espalhados pelo Sertão, por Pernambuco e pelo Brasil, tiveram no Colégio Normal o alicerce de suas trajetórias? São incontáveis as histórias, os mestres inesquecíveis, os cadernos marcados pelo tempo e as amizades que resistiram às décadas. Cada docente, cada servidor, cada aluno que passou por aquela instituição ajudou a construir uma herança coletiva que não se perde.
O tempo avançou, os desafios educacionais se transformaram, e a escola soube se reinventar. Hoje, como Escola de Referência em Ensino Médio Professora Ione de Góes Barros, mantém viva sua vocação, oferecendo Ensino Médio e Educação de Jovens e Adultos (EJA), com foco na melhoria dos indicadores educacionais, no acolhimento dos estudantes e no reconhecimento do mérito acadêmico. Localizada na Rua Padre Luiz de Campos Góes, no Centro de Afogados da Ingazeira, continua sendo um farol de conhecimento e cidadania.
O antigo Colégio Normal é, portanto, patrimônio histórico, educacional e cultural de Afogados da Ingazeira. Mais do que um prédio ou uma sigla, é memória viva, é identidade, é prova de que instituições se tornam eternas quando são construídas por pessoas comprometidas com o bem comum.
Para mim – e para tantos outros que ali encontraram rumo e sentido – o Colégio Normal foi fundamento. E fundamentos bem lançados sustentam uma vida inteira.
*Professor universitário e memorialista
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