Por Hanna Katarina Lopes Ferreira*
Querida eu,
Volto a 2015 e vejo você, aos 19 anos, ouvindo pela primeira vez o nome Esclerose Múltipla. Para muitos, aquilo seria um peso insuportável, mas em você nasceu algo diferente. Mesmo tão jovem, você nunca se perguntou “por que comigo?”. No fundo, já sabia: se Deus permitiu, é porque Ele sabia que você podia suportar.
E assim foi. Havia medo do novo, sim, mas nunca ausência de fé. Deus segurou sua mão desde o primeiro instante e colocou dentro de você uma confiança que só cresceu com o tempo. Você compreendeu que não caminhava sozinha, e essa certeza se transformou na sua maior força.
Leia maisHoje, prestes a completar 30 anos, você olha para trás e reconhece a evolução. De uma jovem que ainda aprendia a lidar com tantas mudanças, você se tornou uma mulher determinada, resiliente e confiante. Ainda existem medos e anseios, e tudo bem, porque você aprendeu a ser gentil consigo mesma. A acolher suas vulnerabilidades e a enxergar que cuidar de si não é egoísmo, mas parte essencial da sua jornada de cura e amor-próprio.
Nesses 10 anos, você descobriu que beleza também é tratamento. Que o batom, o perfume, o creme ou aquele momento de pausa não são apenas vaidade, mas lembretes de que você merece se sentir bem, confiante e viva, mesmo nos dias difíceis. O autocuidado se tornou uma forma de honrar o corpo que Deus lhe confiou e de reconhecer que, apesar das marcas e das lutas, você continua sendo inteira, forte e bela.
E há algo que todos que te conhecem sabem: o quanto você ama se cuidar. Vaidade e autocuidado sempre foram suas marcas registradas, e longe de serem superficiais, eles te deram ainda mais confiança para enfrentar a vida de cabeça erguida. Estar arrumada, se sentir bonita, cuidar de cada detalhe, tudo isso não foi apenas uma escolha de estilo, mas um ato de coragem. Porque quando você se olha no espelho e gosta do que vê, encontra forças extras para seguir, e mostra a todos, inclusive a si mesma, que a beleza também é uma forma de resistência.
Em meio às lutas, você sempre escolheu ressignificar. Cada tropeço se transformou em aprendizado, cada dor em resiliência, cada queda em recomeço. E assim, você se reergueu, vez após vez, mais confiante e fortalecida. Esse jeito de encarar a vida é inspiração para quem também recebeu um diagnóstico, porque ele não nos define. Ele é apenas uma parte da nossa história, mas jamais será a totalidade do que somos.
Houve dias de dor e de choro silencioso. Mas, mesmo quando a vida a colocou à prova, sua fé foi maior. E cada vez que a escuridão tentou se aproximar, você se iluminou ainda mais com resiliência, confiança em si mesma e a certeza de que Deus estava ao seu lado.
Hoje, você não se define pela Esclerose Múltipla. Você se define pela coragem de continuar, pela fé que nunca se abalou e pela beleza que aprendeu a enxergar dentro e fora de si. Você não apenas suportou: você floresceu.
Com amor, fé e gratidão,
a versão mais forte, mais bela e mais resiliente de você 10 anos depois.
*Bióloga, Mestra em Saúde Pública pela UFPE
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