Por Marcelo Tognozzi
Colunista do Poder360
Basta dar uma olhada nas listas de assinaturas dos manifestos em defesa da democracia que circularam antes e durante a campanha eleitoral de 2022 para constatar que Lula foi apoiado por uma elite de ricos e muito ricos, os mesmos que ele agora ataca para fabricar uma polarização com os mais pobres.
Os ricos são maus e os pobres bons. Essa conversa não cola mais, a não ser para meia dúzia de militantes amestrados do Psol, como os que invadiram a sede do Itaú na Faria Lima.
Os ricos são os empreendedores. Não interessa qual o negócio, se pequeno, médio ou grande. São aqueles que criam empregos e renda no país. Todos eles precisam de crédito para seus negócios e quanto mais caro o dinheiro, mais caros os produtos e serviços.
O crédito está caro, não por culpa exclusiva dos banqueiros, mas porque o governo teima em manter um cabo de guerra com o Banco Central e quer porque quer gastar mais do que arrecada. Simples assim. Xingar empresários que dão milhões de empregos no Brasil – só no agro são 30 milhões de pessoas – é o que há de pior nessa política pequena e mesquinha transformada em tábua de salvação pela turma do quanto pior, melhor.
O governo não cria emprego, muito menos renda. O empreendedor brasileiro é punido com uma carga tributária altíssima para cada emprego que produz. E o empregado acaba sendo impedido de ganhar mais, porque os encargos em cima dos salários são de quase 100%. O sujeito que ganha R$ 2.000 na realidade custa R$ 4.000. Hoje, as pessoas preferem trabalhar por conta própria e ganhar mais, em vez de ter carteira assinada e ganhar menos.
Faltando 15 meses para a eleição presidencial, entrou em ação a esquerda mequetrefe, a mesma que em 2014 entrou em confronto com a polícia de Brasília, invadiu o Congresso e feriu 24 pessoas. Em 2017, fizeram uma enorme baderna na Esplanada dos Ministérios e atearam fogo no prédio do Ministério da Agricultura.
Agora, vão criar um caso na Faria Lima e, claro, não pararão por aí. Protestam a favor dos impostos. Os mesmos impostos que encarecem a vida dos pobres e da classe média. Tudo isso porque o presidente não consegue domesticar o Congresso. E se ele não manda ali, então Câmara e Senado não prestam. São inimigos do povo, embora eleitos pelo povo.
Esta semana começou um movimento interessante em favor do semipresidencialismo, sistema de governo adotado por França e Portugal, no qual o presidente da República é o chefe de Estado e um primeiro-ministro por ele designado governa.
O Brasil não tem outro caminho para a estabilidade política, precisa mudar seu sistema de governo, como defende o ex-presidente Michel Temer. Há uma PEC do deputado Luiz Carlos Hauly com 200 assinaturas pronta para começar a tramitar. Basta o presidente da Câmara querer.
O presidencialismo que aí está é um presidencialismo com um DNA de crises. Quanto mais poder conquistou o Congresso, mais difícil ficou para este ou qualquer outro presidente governar à moda antiga. Chegou o momento de dividir poder e responsabilidade. É muito fácil arrumar culpados quando se perdeu a mão e o discurso. Só resta investir na irresponsabilidade do “nós contra eles”, acirrando ainda mais uma polarização na qual todos perdem.
O uruguaio Pepe Mujica, morto recentemente, herói da esquerda, dizia: “Não se apequenem, companheiros, queiram-se muito, mas não a ponto de perdoarem as cagadas”. Estamos vendo o presidente Lula ir à Argentina confraternizar com a ex-presidente Cristina Kirschner, condenada por corrupção, depois de ter mandado um jatinho buscar a ex-primeira-dama do Peru, Nadine Heredia, condenada pelo mesmo motivo. Certas coisas continuam imperdoáveis.
O semipresidencialismo, agora reconhecido como saída institucional pelo ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Gilmar Mendes e por Nelson Jobim, ex-presidente da Corte e um dos homens que mais entende de poder no Brasil, é algo que deve ser posto em prática logo.
De preferência, com voto distrital e lista fechada para que cada partido seja obrigado a dizer a que veio e para onde quer levar o país.
É preciso fazer a transição da 5ª República, iniciada com a eleição de Tancredo Neves, para a 6ª República, com a implantação do semipresidencialismo, do governo parlamentar no qual o Congresso passará a ter papel de executor de políticas públicas, com mais transparência e menos crises.
Desde a eleição de Getúlio Vargas em 1950, o Brasil vem tropeçando em crises protagonizadas pelo Executivo e pelo Legislativo. Eleito depois de mandar no Brasil durante 15 anos, Getúlio Vargas retornou à Presidência com 68 anos, num país onde a expectativa de vida era de 48 anos. Veio embalado pelo seu jingle de campanha: “Bota o retrato do velho outra vez, bota no mesmo lugar, o sorriso do velhinho faz a gente trabalhar”.
O Brasil de 1950 era muito diferente daquele de 1945, quando ele foi deposto, abrindo o caminho para a volta das eleições diretas e uma Constituinte. O Congresso perdera a docilidade e os militares ganharam relevância enquanto atores políticos.
A oposição eficiente e profissional liderada por Carlos Lacerda, tirou o governo do prumo. Getúlio dava claros sinais de desconforto com a pressão imposta pelos adversários, não tinha mais a força do seu governo anterior, precisava negociar muito, mas faltavam-lhe a paciência e a perseverança.
A crise levou o aloprado Gregório Fortunato, chefe da guarda presidencial, a tramar o assassinato de Lacerda. Mas quem acabou morrendo foi o major Rubens Vaz, um dos militares da Aeronáutica encarregados da segurança de Lacerda. A crise de 1954, assim como outras que viriam em sequência até desaguar na ditadura de 1964, nasceu da falta de sintonia de um governante do passado com o país do presente.
Passados 71 anos do suicídio de Vargas, a crise se repete, criada por um governante do passado e sem futuro. Diante da insatisfação popular com seu governo e da expectativa de poder cada vez menor, Lula resolveu esticar a corda e dividir ainda mais o país. Chega de nós contra eles. A hora é de unir, não de dividir.
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