João Vicente Goulart: “É obrigação do Estado brasileiro saber o que realmente aconteceu com Jango”
Por Larissa Rodrigues – Repórter do blog
As dúvidas a respeito da morte do ex-presidente da República João Goulart (Jango), em dezembro de 1976, incomodam a família do político até os dias atuais. Filho de Jango, o filósofo João Vicente Goulart afirmou que é uma obrigação do Estado Brasileiro saber o que realmente aconteceu com um de seus ex-presidentes, justamente aquele deposto pelo golpe militar, em 1964.
João Vicente Goulart foi o entrevistado de ontem (15) do podcast Direto de Brasília, comandado pelo titular deste blog. “Jango foi o único presidente constitucional desse país, morreu no exílio e a história nacional ainda não consegue debelar essa dúvida. É uma coisa preocupante para nossos historiadores, nossas pesquisas políticas e historiografia em si, não ter resolvido essa dúvida que aflige a toda a soberania do país, à história nacional”, declarou o filho de Jango.
Leia maisO ex-presidente morreu 12 anos após sofrer o golpe militar. Ele estava na cidade de Corrientes, na Argentina. Como causa oficial foi registrado um infarto agudo do miocárdio, mas as suspeitas de envenenamento e assassinato nunca deixaram de rondar o caso. Em 2014, o laudo da exumação foi inconclusivo sobre o suposto envenenamento.
Presidente da Fundação João Goulart, João Vicente destacou: “o que se supõe, e não é só suposição, é que ele realmente foi vítima de troca de remédios por parte da Operação Condor”. O filósofo lembrou que no Chile, por exemplo, houve mais de 45 casos de envenenamento de guerrilheiros contrários à ditadura de Pinochet.
“No caso de Jango, temos declarações de agentes uruguaios que participaram da troca de medicação. A única coisa que não temos e nem teremos jamais é uma declaração em cartório do presidente Geisel mandando matá‑lo”, enfatizou João Goulart Filho, relembrando os dias que precederam a morte do pai.
Segundo relatou João Vicente, Jango tinha a intenção de voltar ao Brasil. Era perseguido pelo Uruguai e precisou ficar em situação instável, vivendo entre Argentina e Uruguai, sem residência legal. “Ele não dormia duas noites no mesmo lugar, por isso morreu na Argentina. Ficava nessa instabilidade, não tinha passaporte. Por isso, dissemos que mataram ele de qualquer jeito, ou com veneno ou com perseguição”, lamentou.
Operação Condor – O filho de Jango afirmou que o Brasil foi um dos países que mais operacionalizou a Operação Condor, protegendo as identidades dos militares e agentes que dela participaram. O filósofo lembrou que a ex-presidente Dilma Rousseff, quando chefe da Casa Civil, liberou mais de 700 documentos dos serviços secretos sobre a repressão no Brasil, mas não foram divulgados os nomes dos agentes envolvidos, aqueles que sequestraram, mataram e eliminaram vários brasileiros, muitos ainda desaparecidos. “Fomos vítimas da ditadura, mas a maior vítima é o Estado brasileiro, a cidadania, a soberania, a defesa do cidadão brasileiro que passou por todas essas barbaridades e até hoje não tem essa resposta”, disse João Vicente.

Novas gerações – Para João Vicente Goulart, o Brasil precisa analisar se cuidou da democracia conquistada e preparar as novas gerações. “Esse antagonismo de ódio existente no país é muito grave. Vemos os jovens pedindo a volta da ditadura porque eles não conhecem o que foi a ditadura. Eles falam ‘queremos liberdade’ e pregam a volta da ditadura. O Brasil tem um esquecimento muito grande da sua história. Outros países preservam a história nacional. Eu garanto que os cubanos sabem mais do processo de ditaduras na América do Sul do que os brasileiros. Temos que fazer mais uma reflexão política e transmitir a essa nova geração o que aconteceu nesse país”, defendeu.
Ressarcimento do INSS – O Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) contabiliza 339 mil aposentados e pensionistas que aderiram ao acordo de ressarcimento. A partir de 24 de julho, terá início o pagamento integral, corrigido pelo IPCA e com depósitos diários para 100 mil pessoas, diretamente na conta do beneficiário. Segundo o INSS, quem já assinou o acordo até agora receberá nos três primeiros dias úteis da operação. “O governo conseguiu fechar um acordo histórico para que os aposentados afetados pelos descontos indevidos recebam o dinheiro de volta de forma simples, rápida e segura. Quanto antes aderirem, antes recebem. O governo não vai deixar nenhum aposentado para trás”, afirmou o ministro da Previdência Social, Wolney Queiroz (PDT).
Portos e Aeroportos à disposição – A reunião liderada pelo ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços e vice-presidente, Geraldo Alckmin (PSB), ontem (15), com o setor produtivo, para discutir as tarifas de 50% do Governo dos Estados Unidos (EUA) sobre produtos brasileiros, teve a participação do ministro de Portos e Aeroportos, Silvio Costa Filho (RP). Silvinho quer ajudar na busca de soluções. “Quero me colocar à disposição de todos os setores, especialmente daqueles que atuam nos portos brasileiros, para que possamos colaborar neste momento mais delicado”, afirmou.

Reunião proveitosa – O vice-presidente disse que o Governo Lula (PT) trabalhará para reverter as tarifas dos EUA até o início da vigência, em agosto. Geraldo Alckmin afirmou que, se necessário, tentará prorrogar o prazo imposto pelo governo norte-americano. As informações são do portal Poder360. “Nós queremos resolver o problema e o mais rápido possível. Se houver necessidade de mais prazo, vamos trabalhar neste sentido”, declarou Alckmin, depois de reunião com empresários da indústria, a qual considerou “proveitosa”.
CURTAS
POR FALAR EM GERALDO ALCKMIN – Pelo trabalho que vem desenvolvendo na vice-presidência e no Ministério da Indústria, além do perfil discreto, trabalhador e conciliador, Geraldo Alckmin vem ganhando cacife para compor novamente a chapa do presidente Lula, em 2026. Durante esta crise instalada pelas tarifas de Donald Trump, alguns analistas políticos observaram que o Governo Lula não poderia ter escolhido melhor nome para conversar com o empresariado. Há a dúvida se Lula vai optar por um nome de outro partido, como o MDB, para a vice, ano que vem, mas Alckmin ganhou protagonismo.
BRAÇO DIREITO – Geraldo Alckmin vem cumprindo várias missões importantes para o presidente Lula em momentos delicados, demonstrando que a relação dos dois está excelente. O socialista está longe de ser um vice “decorativo”. O diálogo com o empresariado é um dos trabalhos mais importantes de reação do governo à ação trumpista. Como consequência, haverá a aproximação do presidente Lula com os setores do agronegócio, resistentes ao petista. Por ter sido governador de São Paulo, Alckmin tem trânsito com os empresários.
TCE DE OLHO EM GARANHUNS – O Tribunal de Contas do Estado (TCE-PE) instaurou auditoria especial, na última segunda-feira (14), para apurar se o prefeito de Garanhuns, no Agreste, Sivaldo Albino (PSB), tem usado a 33ª edição do Festival de Inverno da cidade, o famoso FIG, para promoção pessoal e política. O Ministério Público de Pernambuco (MPPE) também acompanha o caso. Durante o evento, com início no último dia 10, Albino tem subido ao palco para anunciar atrações e responder críticas contra a organização.
Perguntar não ofende: O PSB, de João Campos, vai conseguir segurar Geraldo Alckmin na vice de Lula, ante as articulações de outros partidos?
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