— Há complexidades e problemas nesse modelo que reserva para o Supremo Tribunal Federal esse papel. Porém, cabe enfatizar, com todas essas circunstâncias, esse é o arranjo institucional que nos proporcionou 37 anos de democracia e estabilidade institucional sob a Constituição de 1988 — pontuou Barroso.
O ministro ainda ressaltou que nesse período, “não houve desaparecidos, ninguém foi torturado, ninguém foi aposentado compulsoriamente. Todos os meios de comunicação, impressos ou digitais, manifestam-se livremente”.
Decano do STF, o ministro Gilmar Mendes fez o discurso em nome da Corte para homenagear o presidente que está de saída. Emocionado, Gilmar disse que sob a condução de Barroso o STF julgou e condenou um ex-chefe de Estado por tentativa de golpe, fato que classificou como “raro”.
— A presidência de vossa excelência entra para a História em que pela primeira vez um ex-chefe de estado é condenado por tentativa de golpe de Estado, um fato raríssimo em termos mundiais — afirmou Gilmar
Segundo Gilmar, “apenas outros nove ex-Chefes de Estado foram condenados por golpe de Estado após a 2ª Guerra Mundial”. A fala destacou a resiliência da Corte diante de ataques inéditos, o papel histórico de Barroso na condução de julgamentos decisivos e avanços em pautas sociais.
—Após uma nova rodada de ataques, de violência e ousadia inéditas, que irrompeu sobre esta Corte durante sua Presidência, posso asseverar novamente, com renovada convicção: o Supremo Tribunal Federal sobreviveu — afirmou Gilmar, em referência ao período pós-8 de janeiro e às tentativas de desestabilização institucional.
Gilmar ainda elogiou a condução do Supremo por Barroso ao longo dos últimos dois anos para reforçar o papel histórico do STF como barreira contra excessos políticos.
— Seu estilo elegante, sua palavra assertiva e sua condução tranquila, mesmo em meio às tormentas, serão sempre lembrados — disse.
Além do discurso do decano, Barroso foi homenageado pelo procurador-geral da República, Paulo Gonet, pelo advogado-geral da União, Jorge Messias, e pelo representante do Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) Marcus Vinícius Furtado Coelho, ex-presidente da entidade. Os ministros Luiz Fux, André Mendoça, Nunes Marques e Dias Toffoli não participaram da sessão de despedida de Barroso como presidente.
Natural de Vassouras, no Rio de Janeiro, Barroso completou 12 anos no STF em junho deste ano, após assumir a vaga do ministro Ayres Britto. Ao longo desse período, Barroso assumiu a relatoria de julgamentos de destaque como o piso nacional da enfermagem, Fundo do Clima, candidaturas avulsas, sem filiação partidária, proteção aos povos indígenas contra a invasão de suas terras e contra despejos e desocupações de pessoas durante a pandemia de covid-19, além das execuções penais dos condenados no mensalão.
Graduado em Direito pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), onde é professor titular de Direito Constitucional, Barroso tem mestrado na Universidade de Yale (EUA), doutorado na Uerj e pós-doutorado na Universidade de Harvard (EUA).
Integrante do Supremo desde 2013, o ministro Luiz Edson Fachin assumiu a vaga deixada pela aposentadoria do ministro Joaquim Barbosa. Advogado e acadêmico, foi professor titular de Direito Civil da Universidade Federal do Paraná (UFPR), onde se graduou em Direito em 1980. Tem mestrado e doutorado em Direito Civil pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) e pós-doutorado no Canadá.
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