Por Italo Rocha*
A rivalidade de duas famílias (Capuleto e Montechio) na Itália do século XVI, retratada pelo escritor inglês William Shakespeare, foi transportada para o interior do Nordeste brasileiro quatro séculos depois. A partir do ano de 1949, houve o que Luiz Gonzaga, o rei do baião, chamou de “Romeu e Julieta” do Sertão pernambucano.
Começava naquele ano, em Exu, a 615 km do Recife, uma guerra sangrenta entre duas famílias, Alencar e Sampaio, que durou mais de três décadas e deixou um saldo lastimável de 33 pessoas assasinadas. As desavenças entre os dois clãs começaram a partir de um caso de infidelidade conjugal que foi parar na polícia.
O estopim foi uma frase dirigida de forma provocativa por um integrante da família Sampaio, o coronel Romãozinho, na frente da delegacia local, a um jovem de 22 anos da família Alencar: “O que você está olhando para mim, seu pederasta?!”
Leia maisAo que Zito Alencar respondeu:
— Já sabia de muitas coisas ruins a seu respeito, menos que o senhor tinha essa tendência!
Ambos puxaram seus revólveres e o coronel levou a pior. Nesse mesmo dia, começou a série de assassinatos dos dois lados, que só terminou em 1982, com a intervenção decretada pelo então governador Marco Maciel e uma campanha pela paz feita por Luiz Gonzaga, filho ilustre da terra. A médica Adriana Alencar decidiu, em 2022, contar em livro o amor que surgiu entre a sua mãe Teresinha Sampaio e o seu pai Zito Alencar, no meio desse banho de sangue entre essas duas famílias.
No livro “Amor sem tréguas”, Adriana conta nas suas 237 páginas detalhes de como começou o conflito que ocupou o noticiário nacional. Mas a parte mais instigante do livro, contada por Adriana, foi como pôde ser possível ter surgido uma história de amor tão puro e verdadeiro entre duas pessoas das famílias rivais.
Uma união que gerou seis filhos. A autora também descreveu como foi o dia mais triste da sua vida, o 12 de maio de 1978, quando seu pai Zito Alencar, então prefeito do município, foi assassinado a tiros, no centro da cidade, por um pistoleiro que desapareceu misteriosamente na escuridão da noite de Exu.
Mas, hoje, 43 anos depois de o conflito ter terminado, Adriana olha para trás e conclui que o mais importante foi a paz ter sido selada definitivamente entre os Alencar e os Sampaio!
*Jornalista
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