Dedico este artigo ao prefeito João Campos, em defesa dos pangarés que fazem o transporte de tração animal. Prefeito Johnnie, please, liberte os bichanos!
MONTANHAS DA JAQUEIRA – O cowboy Mac Donald Tramp ama Bolsonaro? A questão vai além de sentimentos pessoais. Está em curso um realinhamento ideológico de direita nas Américas, Brazil inclusive. O capitão é apenas uma peça nessa engrenagem. A mundiça vermelha vai dançar.
Montado em seu cavalo branco, The White Horse, MaCDonald botou moral no saloon oval da Casa Branca: “Agora eu sou herói e o meu cavalo só fala inglês”. Ele fala inglês com o sotaque conservador do Velho Oeste. É um cavalo da direita e usa a diplomacia do big stick, o grande porrete. Barack Obama era um intelectual com tutano vermelho e o cavalo dele, o Azulão, falava inglês com sotaque politicamente correto. O cavalo globalista de Joe Biden, The Red Horse, exercitava a diplomacia da monetização de aliados através da CIA e Usaid.
A humanidade caminha nas patas dos cavalos, desde a Antiguidade. A guerra entre gregos e troianos foi decidido pelo Cavalo de Troia, um presente de grego para adentrar nas muralhas do inimigo e resgatar Helena, a mulher que fazia o rei Menelau gemer sem sentir dor.
O cavalo branco de Napoleão conquistou impérios até naufragar na batalha de Waterloo. As patas do valente cavalo Bucéfalo conduziram o grande Alexandre da Macedônia, durante o século IV antes de Cristo, a dominar os reinos da Grécia, Egito e Índia. O conquistador Alexandre adorava Bucéfalo.
No apogeu de sua glória, o excêntrico Calígula (século I antes de Cristo), nomeou, monocraticamente, o cavalo Incitatus como senador do Império Romano. Sua excelência o equino cavalgava garboso em plenário com paramentos de seda e manta de púrpura, a cor dos cardeais, ao cumprimentar seus pares e ímpares.
Era uma criatura de fidelidade cavalar, assim feito algumas cavalgaduras de hoje que pedem licença ao painho até para ir ao banheiro. Isto, em troca da merenda milionária em emendas secretas. Cercado por cavalos atômicos nos mares do Caribe, o ditador narcotraficante da Venezuela não tem saída. O capitão América vai raspar o bigode dele.
Também cultivamos nossos ídolos equestres. Eis uma declaração de amor à musa Pocotó de nossa fauna tropical:
“Vou mandando um beijinho pra filhinha e pra vovó/ Só não posso esquecer da minha eguinha Pocotó./ Pocotó-Pocotó-Pocotó!” Emocionante! Quanto romantismo!
Ao presenciar um cocheiro açoitar a um cavalo numa rua em Turim (Itália), o filósofo Nietzsche (1844-1900) abraçou-se com o animal e caiu no choro. Depois disso teve um curto-circuito no cérebro e enlouqueceu.
Quando vejo carroceiros maltratarem cavalos de carga nesta cidade, eu me lembro de Nietzsche e do prefeito João Campos. Nietzsche era humano, demasiadamente humano, assim falou Zaratustra. Prefeito Johnnie, eu sei que você é um animal político humano, demasiadamente humano. Liberte os nossos bichanos. Substitua os pangarés por cavalos motorizados, tipo triciclos com bagageiros. Os bucéfalos vão adorar. Zaratustra manda lembranças.
O país tem memória curta. Sempre se soube. Mas o defeito cognitivo está se agravando. No início de agosto parlamentares da direita populista autoritária ocuparam as mesas da Câmara e do Senado.
Impediram por 2 dias os trabalhos legislativos. Duas dezenas deles, mais ativos, tiveram cassação requerida à mesa. Ao invés da suspensão cautelar prevista no inciso XXX do art. 15 do regimento interno, uma manobra esfriou o assunto ao remetê-lo ao corregedor. Que, depois do embargo de gaveta, propôs ao conselho de ética apenas a suspensão dos mandatos dos deputados Marcos Pollon (PL-MS) por 90 dias e de Marcel Van Hattem (Novo-RS) e Zé Trovão (PL-SC) por 30 dias. E, para os demais 14 parlamentares, a pena de mera censura. Porém quase ninguém se lembrava do motim.
Antes, outro evento de amnésia. A CPI da Covid havia pedido vários indiciamentos. Principalmente dos envolvidos na quase compra da vacina Covaxin, em contratos superfaturados com 20 milhões do doses a serem vendidas por US$ 15 quando na Índia cada dose era ofertada por U$ 1,34. O total da compra seria de 1,26 bilhão de reais. Enquanto isso a vacina da Pfzier ia sendo engavetada. Alguns dos personagens voltaram a aparecer. Desta feita, roubando os aposentados do INSS no escândalo dos descontos para entidades fantasmas.
Outro evento que saíra do foco foi a Operação Carbono Oculto. Gente do crime organizado explorando o mercado de combustíveis. Comprando destilarias, refinarias e postos de combustíveis. Com dinheiro investido em fundos financeiros administrados desde a Faria Lima. Alguns personagens do escândalo anterior novamente envolvidos, inclusive um célebre advogado que adorava exibir no Insta a sua adega com rótulos que outros amantes do bom vinho com eles apenas sonham.
No ritmo frenético dos abutres do erário, o país tomou conhecimento da denúncia do piloto de avião que acusou os presidentes do União Brasil e do Progressistas de serem os proprietários ocultos de 5 aeronaves que também eram usadas por personagens do crime organizado. Os dois partidos acabam de formar uma federação que é a mais forte do país, com 109 deputados federais, 15 senadores, 1.335 prefeitos, 7 governadores, R$ 953,8 milhões em fundo eleitoral e R$ 197,6 milhões em fundo partidário.
Tudo isso só não caiu no esquecimento pleno porque o Brasil de hoje tem algumas instituições que cumprem o seu dever. E que procuram combater a nossa memória curta. Porque sabem que, sem a lembrança e punição dos malfeitos, o país não terá instituições sólidas. Nem desenvolvimento. Nem futuro.
O jornalismo profissional é uma dessas instituições essenciais. Como vimos numa mesa redonda da Globo News, na semana passada. Nela as jornalistas Natuza Nery e Maria Cristina Fernandes desmontaram o argumento do colega Joel Pinheiro da Fonseca que tentara passar pano na PEC da blindagem. Com dados, as jornalistas mostraram que esses recentes episódios de corrupção estão sendo investigados e envolvem parlamentares diretamente ou porque atuaram como padrinhos de contratos escusos com os poderes públicos. E que, juntamente com os desvios de emendas parlamentares, estão sendo investigados sob a supervisão de magistrados como Flávio Dino.
Não precisavam desenhar, para entendermos que é disso que procuram se proteger os parlamentares que aprovaram a PEC da blindagem à bandidagem. Não tiveram sequer o pudor de acusar indiretamente alguns presidentes de partidos ao incluí-los entre os benefícios do habeas corpus preventivo e salvo conduto que inventaram para esses chefes partidários. Quando negociaram o fim da ocupação das mesas da Câmara e do Senado, obtiveram a promessa de Hugo Mota de levar à votação e aprovação da PEC da blindagem e o PL da anistia, agora rebatizado de PL da dosimetria. Como se reduzir as penas que foram aplicadas aos réus da trama golpista não representasse modalidade de anistia, ainda que parcial e restrita.
Esses parlamentares priorizaram a PEC da blindagem e estão obtendo a anistia embrulhada como se fosse mera mudança do tamanho das penas. Ambas são interligadas. Até porque os réus e personagens são os mesmos. Eles sabem o que fizeram no verão passado. E sabem que, somente nos inquéritos em curso na Polícia Federal sob a supervisão do ministro Flávio Dino, já estão envolvidos cerca de 72 parlamentares. Disso também sabem as centenas de milhares de pessoas que neste domingo foram às ruas das grandes cidades para se manifestar contra o PL da anistia/dosimetria e contra a PEC da blindagem.
*Advogado formado pela FDR da UFPE, professor de Direito Constitucional da Unicap, PhD pela Universidade Oxford
Como a Dona Flor – aquela personagem de Jorge Amado – o presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), vive entre dois maridos. Elegeu-se para comandar a Casa com o apoio quase unânime dos partidos e em meio a juras de amor ao governo e à oposição.
Mas um dos maridos de Dona Flor estava morto, o que tornava o convívio mais fácil, digamos assim. Já os dois cônjuges de Hugo Motta estão vivos e vivem às turras.
Neste domingo, em uma ligação telefônica com o líder do PL na Câmara, Sóstenes Cavalcante (RJ), Hugo Motta reclamou do presidente do Senado, Davi Alcolumbre (AP), que está prometendo enterrar a Proposta de Emenda Constitucional (PEC) da Blindagem dos crimes cometidos por parlamentares.
Segundo Sóstenes, Alcolumbre havia garantido a Hugo Motta que a PEC seria votada no Senado no mesmo dia em que saísse da Câmara. O texto da Emenda Constitucional foi aprovado pelos deputados em dois turnos num só dia – a terça-feira, 16 – e enviado imediatamente para o Senado.
Alcolumbre, na mesma hora, se declarou publicamente contra a proposta e mandou o texto para “uma análise aprofundada” da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), cujo presidente, Otto Alencar (PSD-BA), já havia anunciado – e reiterou – que a “PEC será devidamente enterrada”.
“O PL não alinhou essa PEC com o Senado, nem com nossa bancada lá. Confiamos na palavra do presidente da Câmara para votar aqui. O Hugo nos contou estar acertado com o presidente do Senado. Segundo ele, o Alcolumbre havia lhe prometido que os senadores votariam a PEC no mesmo dia. Mas parece que o Alcolumbre não cumpriu a palavra”, disse Sóstenes à coluna.
Segundo o líder, no telefonema deste domingo, Hugo Motta contou que, desde a votação da PEC, Davi Alcolumbre não retorna suas ligações.
“Parece que as coisas entre eles não estão boas. E isso é muito bom para a oposição. Se eu fosse o presidente da Câmara daria o troco no Alcolumbre e no governo nesta semana mesmo”, acrescentou.
Como assim?
Sóstenes conta que, chegando a Brasília para conversar pessoalmente com Hugo Motta, vai propor que ambos busquem “dois ou três projetos de interesse do Alcolumbre e do governo para serem derrubados”.
É pouco provável que isso seja executado. Mas esse mesmo Hugo Motta que agora troca figurinhas com o líder do PL, foi vítima de um ataque da oposição à sua autoridade na Câmara.
Na quarta-feira da semana anterior, deputados do PL e do Novo tomaram a sua cadeira na Mesa Diretora, impedindo que ele presidisse a sessão do plenário. Motta só conseguiu sentar-se na cadeira depois que, Arthur lira (PP-AL), ex-presidente da Casa, prometeu à oposição que a anistia seria pautada.
Na semana passada, Motta cumpriu o acordo de Lira: votou a anistia. Mas trincou sua relação com os governistas. Uma relação cheia de altos e baixos como esse momento que vivem agora.
A Casa de Saúde e Maternidade Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, ligada ao marido da vice-governadora Priscila Krause (PSD), recebeu 25 repasses de recursos estaduais em 15 dias. O período coincidiu com a interinidade dela à frente do governo, em março, durante recesso da governadora Raquel Lyra (PSD).
A soma dos pagamentos à unidade, que tem como sócio Jorge Branco Neto, marido de Krause, chega a R$ 3 milhões e, além de estar sob os holofotes da oposição local, também pode entrar na mira de órgãos de controle federais, já que envolve transferências do Sistema Único de Saúde (SUS).
A polêmica tem princípio em remanejamentos orçamentários que turbinaram o Fundo Estadual de Saúde (FES), principal fonte pagadora do Hospital Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, situado em Garanhuns, no Agreste. Em fevereiro de 2023, quando Krause substituiu Raquel pela primeira vez, foram creditados R$ 7,6 milhões ao fundo. Parte desse montante é oriunda de verba federal.
A prática se repetiu em outro período de interinidade da vice-governadora, em abril de 2024, com R$ 22,3 milhões, mas se intensificou em março de 2025, conforme registros do Portal da Transparência e do Diário Oficial.
No dia 17 de março, foram acrescidos ao FES R$ 51,6 milhões. Mais R$ 3,9 milhões foram remanejados no dia 20, e outros R$ 13,6 milhões, no dia 21. Em datas similares localizadas entre os dias 14 e 29 daquele mês, 25 pagamentos foram feitos ao hospital a partir dessa fonte, totalizando R$ 3 milhões.
Ao longo de todo o ano, a unidade já recebeu R$ 25,1 milhões. Significa dizer que, nos 15 dias de março em que Priscila Krause esteve à frente do governo, 12,2% dos pagamentos foram efetivados, o que, na visão de deputados de oposição, indica uma “concentração atípica” e um possível conflito de interesses.
Outros atos sob suspeita têm relação com a saída de gestores das áreas de orçamento e projetos e de monitoramento jurídico de licitações da Secretaria de Saúde, entre 20 e 21 de março. As exonerações foram assinadas pela governadora em exercício, o que vem sendo interpretado como uma possível providência para dar celeridade aos pagamentos para o hospital.
Em audiência pública na Assembleia Legislativa, a secretária estadual de Saúde, Zilda Cavalcanti, foi confrontada sobre o assunto, mas negou que os profissionais demitidos tivessem relação com o manejo desses recursos. O suposto conflito de interesses decorrente de pagamentos ao Hospital Nossa Senhora do Perpétuo Socorro sob o Governo Raquel Lyra/Priscila Krause chegou a ser alvo de pedido de medida cautelar feito pela Comissão de Saúde e Assistência Social da Alepe junto ao Tribunal de Contas do Estado (TCE) em 2023.
Na época, a corte negou a solicitação por entender que a unidade de saúde tem um papel importante na complementação dos atendimentos da rede estadual, mas levou em conta o fato de a vice-governadora não ser a ordenadora das despesas do Governo de Pernambuco com esses repasses.
O mesmo entendimento, porém, pode não se aplicar aos períodos em que os pagamentos ocorreram de forma coincidente ao exercício da função de governadora por Priscila Krause. Também pesa contra a gestão estadual o fato de os aportes estaduais no Hospital Regional Dom Moura, unidade pública também situada em Garanhuns, atingirem uma média mensal de apenas R$ 500 mil, cinco vezes menos que os valores repassados ao hospital ligado à família da vice-governadora. Confira abaixo os documentos que comprovam os pagamentos:
Ex-prefeito do Recife, o deputado João Paulo (PT) tem sido protagonista de movimentos para levar o partido ao palanque da reeleição da governadora Raquel Lyra (PSD). Mas por enquanto, uma andorinha solitária. Principal liderança petista no Estado, o senador Humberto Costa tem vaga garantida na chapa de João Campos (PSB) a governador.
No último fim de semana, cumpriu agenda no Recife ao lado do prefeito e suas manifestações públicas não deixam dúvida de que qualquer guinada à direita tentada pelo PT, via articulações de João Paulo, não terá o seu aval. João, entretanto, comemora o fato de aliados do novo presidente estadual da legenda, Carlos Veras, sinalizarem para Raquel.
É o caso, por exemplo, do prefeito de Tabira, Flávio Marques (PT), que passou a ser figura carimbada nos atos da governadora, com circulação frequente também no Palácio das Princesas. Tabira é a terra de Carlos Veras. “Espero que Raquel faça o L”, disse o dirigente petista, tão logo aclamado para comandar o diretório estadual da legenda. Veras é do grupo de Humberto, que não acredita nesse L da governadora.
Mas não é só o senador que não acredita, é Pernambuco inteiro. Raquel botou na cabeça repetir a estratégia de 2022, quando derrotou Marília Arraes (SD) no segundo turno, quando no plano presidencial adotou o muro, não apoiando Lula tampouco Bolsonaro. Deu certo, mas em política a história não se repete. Aliás, pode até se repetir, na primeira vez como tragédia, na segunda como farsa, como está nos escritos de Karl Marx.
João Paulo será levado a apoiar João Campos, com quem não se bica, a não ser que se desfilie da legenda, como fez já uma vez e depois voltou manifestando arrependimento. Por uma razão muito simples: o palanque de Lula em Pernambuco será o do PSB, conforme já decidiu o próprio presidente e a direção nacional do PT. João Paulo vai divergir do partido ou abrir uma dissidência para o palanque de Raquel? Nenhuma das hipóteses. Vai ter que engolir a seco a determinação do seu partido.
Mas não espere uma boa conduta de João Paulo no palanque de João Campos. Fará corpo mole, com leves ações conspiratórias em favor de Raquel. Não sou profeta: está escrito nas estrelas, como diz uma canção.
CONRADO COM JOÃO – Mas no Pajeú nem todos os prefeitos do PT sinalizam para a reeleição de Raquel. Gestora do segundo maior colégio eleitoral do Sertão, atrás apenas de Petrolina, Márcia Conrado, de Serra Talhada, já fechou com a candidatura de João Campos ao Palácio do Campo das Princesas, não por decisão pessoal, mas porque seus principais adversários, o deputado Luciano Duque (SD) e o presidente estadual do Avante, Sebastião Oliveira, terem aderido à reeleição da governadora.
PSB adota postura diferente no Senado – Numa entrevista, ontem, ao blog Cenário, de Caruaru, o prefeito do Recife, João Campos, revelou que, na condição presidente nacional do PSB, já conversou com o líder do partido no Senado, Cid Gomes, para fechar posição contra a PEC da Blindagem, já aprovada na Câmara dos Deputados, estranhamente, com apoio da legenda socialista, a partir do líder Pedro Campos, que não apenas votou a favor como orientou a bancada. “Sou completamente contrário à proposta”, reiterou o dirigente socialista.
Maioria vota contra – Aprovada na Câmara em um consórcio de partidos do Centrão e da oposição, e também em partidos de esquerda, a chamada PEC da Blindagem, que dificulta a abertura de ações penais contra parlamentares, não terá guarida no Senado. Levantamento do jornal O Globo de ontem aponta que 46 dos 81 senadores se declaram contrários à medida, enquanto apenas seis afirmam ser favoráveis. Outros seis disseram ainda não saber como votarão e os demais não responderam. Entre os que se manifestam pela rejeição, o senador Alexandre Vieira (MDB-SE), escolhido relator da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ).
Supremo amplia poderes – Em mais uma queda de braço com o Congresso, o Supremo Tribunal Federal já conta com cinco votos de ministros da corte para que apenas o STF tenha poderes para autorizar buscas e apreensão no Congresso, seja em gabinetes, dependências internas ou apartamentos funcionais dos senadores e deputados. Com isso, juízes de primeira instância ficam proibidos de fazer qualquer ação nesse sentido. Para o STF, a regra é essencial para preservar a separação de poderes e assegurar o pleno exercício do mandato parlamentar.
Sem pretensão política – Ex-deputado, o presidente do Santa Cruz, Bruno Rodrigues, mesmo colhendo os frutos da ascensão do time coral à série C, descarta qualquer possibilidade de vir a disputar um novo mandato federal. Em entrevista ao repórter Houldine Nascimento, do site Poder360, de Brasília, o dirigente tricolor afirmou que seu projeto é seguir adiante para colocar o santinha de volta à elite do futebol brasileiro. “Uma missão que me dedico com muito amor e responsabilidade. Para mim, a página da política já foi virada”, disse.
CURTAS
MORTE 1 – A governadora Raquel Lyra (PSD) voltou a Surubim, sexta-feira passada, para prestigiar a vaquejada da cidade, a maior do Estado, ao lado do prefeito Cléber Chaparral. O evento atraiu uma multidão impressionante, mas a morte de um vaqueiro, ao tentar derrubar o boi na competição, consternou a população.
MORTE 2 – Conhecido como Mãozinha, o vaqueiro, após derrubar o boi na competição em que participava, perdeu o equilíbrio e bateu a cabeça na cerca de proteção. Foi levado para o Hospital da Restauração, no Recife, mas não resistiu ao forte impacto da batida. Era um vaqueiro experiente e bastante premiado.
NILO COELHO – Na próxima semana, por Belém do São Francisco, na segunda-feira (29), começo mais uma incursão de lançamentos do meu livro “Os Leões do Norte” pelo Sertão. Na rota, também estão Salgueiro, Santa Maria da Boa Vista e Petrolina, onde, no dia 2, haverá uma grande homenagem a Nilo Coelho na Fundação Nilo Coelho.
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Após o voto polêmico do deputado federal Pedro Campos (PSB) e da maioria da bancada do partido em favor da PEC da Blindagem, o prefeito do Recife e presidente nacional do PSB, João Campos se pronunciou contrário à medida e afirmou não ter orientado os parlamentares a aprovarem o texto.
“Sou completamente contrário à PEC da Blindagem e não votei, nem orientei a nossa bancada em relação a isso”, destacou o prefeito durante entrevista na manhã deste domingo (21).
Segundo João Campos, a decisão do voto favorável foi tomada de forma interna, sem o seu conhecimento. “Quando eu soube que tinha um absurdo de querer incluir presidente de partido, de forma imediata eu fiz uma intervenção da nossa bancada para que votassem contrários a isso, o que foi feito de forma unânime”, ressaltou.
Além disso, o prefeito também afirmou já ter entrado em contato com o líder do partido no Senado, Cid Gomes para que ocorra unanimidade nos votos contra a PEC no senado. “O que posso dizer é que sou contra a PEC da Blindagem e sou totalmente contrário à anistia. Tenho certeza que essa é uma posição que também contempla o nosso partido”, afirmou.
O PCdoB realizou na sexta-feira (19) o ato de filiação do secretário executivo de Integração Metropolitana do Recife, Vinicius Castello, ao partido, no Clube Vassourinhas, em Olinda. O ex-candidato a prefeito de Olinda pelo PT anunciou sua pré-candidatura a deputado estadual pela legenda, com o slogan “PCdoB com a cara do povo”.
Com a frase “Um bom filho à casa torna”, Vinicius Castello reafirmou sua felicidade de retornar ao PCdoB. O advogado e ex-vereador da cidade de Olinda contou sua história, da luta da sua família e de tudo que enfrentou para chegar ao lugar de representação que hoje se encontra. Ele ainda agradeceu ao Partido dos Trabalhadores (PT) por fazer parte da sua história. “Eu preciso agradecer ao PT. E dizer que sou muito grato ao partido de massa, que integra a nossa federação e que tem o presidente Lula como seu líder maior”, disse.
O evento contou com a presença da ministra de Ciência e Tecnologia, Luciana Santos, do deputado federal Renildo Calheiros, da vereadora do Recife Cida Pedrosa e de outros integrantes do partido em Olinda e Pernambuco.
Durante o ato, Cida Pedrosa afirmou que Castello fará parte da atuação do partido no combate à extrema direita. Renildo Calheiros destacou a trajetória de Castello como ex-vereador e afirmou que ele representará o PCdoB na Assembleia Legislativa de Pernambuco (Alepe).
Luciana Santos mencionou que Castello iniciou sua trajetória política na União da Juventude Socialista (UJS), ligada ao PCdoB, e disse que a filiação dele ao partido reúne jovens militantes e membros com experiência política.
“Você representa o espírito de luta. Quando você vem para o PCdoB, você agrega valor, uma figura e militante muito jovem com muita história para contar, de capacidade política e perseverança. Aqui você reúne a juventude da UJS e a figura de Alanir Cardoso, que é símbolo de experiência e resistência. Você representa a nossa bandeira. Você será nosso estandarte nesta cidade e você vai ser eleito deputado estadual com a força da nossa militância e nossa energia, com coração e a convicção que nos move. Nós vamos garantir em 2026 uma nova vitória de Pernambuco e do povo brasileiro”.
Em seu discurso, Vinicius Castello relatou sua trajetória política e familiar, agradeceu ao Partido dos Trabalhadores (PT) por integrar sua história e afirmou que chega ao PCdoB para atuar em questões como racismo, misoginia e defesa de minorias. O filiado afirmou que pretende atuar junto ao partido em Olinda e em Pernambuco, com o objetivo de participar das eleições de 2026.
A ordem é minimizar, mas, em reservado, aliados de Jair Bolsonaro — de dentro e de fora do Congresso — afirmam que se assustaram com o tamanho das manifestações realizadas em diversas cidades do Brasil contra a PEC da Blindagem e a anistia neste domingo (21). O projeto aprovado na Câmara dificulta a abertura de ações penais contra parlamentares e é um retrocesso de mais de 20 anos na legislação.
O local que mais impressionou os bolsonaristas foi a Avenida Paulista, em São Paulo. A imagem de milhares de manifestantes nas ruas foi apontada como “similar” aos atos realizados pela direita em defesa do ex-presidente e causa preocupação por confrontar o argumento de que a esquerda não teria capacidade de mobilização.
Aliados do capitão reformado apontam que, com a PEC da Blindagem, os parlamentares do PL que votaram em peso pela aprovação da medida “empurram para o colo” da esquerda e do governo Lula a pauta anticorrupção, que acreditavam ter o monopólio.
Os dados do Monitor do Debate Político, da USP, mostra que o ato deste domingo na Avenida Paulista reuniu 42.379 pessoas. Visualmente, a manifestação preencheu ao menos três quarteirões da avenida no meio da tarde. Ao comparar os números de público do mesmo monitor da USP, a presença é semelhante à do último ato realizado por bolsonaristas no local, em 7 de setembro, que levou 42,2 mil pessoas à avenida e foi considerado um sucesso de público pelas lideranças bolsonaristas.
O fato da urgência do projeto de anistia aos golpistas de 8 de janeiro — que também busca beneficiar Bolsonaro — ter sido aprovada na Câmara dos Deputados no dia seguinte à PEC da Blindagem passou a ser criticado pelos aliados do ex-presidente, que veem dificuldades para a pauta avançar, ainda mais diante das mobilizações populares deste domingo (21).
Integrantes do governo Lula celebraram o resultado das manifestações, como o advogado-geral da União, Jorge Messias. “Neste domingo, o Brasil voltou a mostrar ao mundo a força de sua democracia. As ruas de várias grandes cidades se encheram em defesa soberana de nossas conquistas democráticas. O povo expressou sua posição firme pela integridade do nosso Estado Constitucional. Com paz no coração e serenidade, nosso povo desenhou, nas praças e avenidas, o mapa de suas esperanças e as prioridades que espera de seus representantes. Seguiremos juntos, com coragem e, cada vez mais, esperança! A democracia é sempre caminho e nunca ponto de chegada. Temos muito a construir”, escreveu o ministro nas redes sociais.
A Praia de Copacabana reuniu, na tarde deste domingo (21), uma multidão à espera de artistas numa manifestação convocada em todo o país contra o projeto da anistia e a PEC da blindagem, em pauta no Congresso Nacional. O ato carioca apostou em nomes como Caetano Veloso, Gilberto Gil e Chico Buarque para mobilizar o público, que esperou pacientemente por cerca de duas horas até o início das atrações.
Após espera paciente por parte da plateia, o ato musical teve início por volta das 16h15 com o aumento dos gritos de “sem anistia”. A cantora Maria Gadú abriu as apresentações cantando a sugestiva “Como nossos pais”, de Belchior, com direito a alteração na letra para dizer que “eles não venceram e o sinal está sempre aberto para nós que somos jovens”. Na sequência, Os Garotin entoaram “Olhos coloridos”, de Sandra de Sá. Na frente do trio foi reservada uma área vip para convidados. Nomes como Dira Paes, Carol Castro, Alessandra Negrini, Alinne Moraes, João Vicente de Castro e Alice Carvalho marcaram presença no evento.
O show continuou com Marina Sena, que cantou “Brasil”, tema da novela da TV Globo “Vale tudo”. — Viva a democracia e sem anistia — afirmou Marina antes de chamar ao palco o cantor Jorge Vercillo, que entoou seu hit “Final feliz”.
A seleção musical engajada continuou com “Podres poderes” na voz de Caetano Veloso. Principal promotor do ato ao lado da esposa, a empresária Paula Lavigne, o músico continuou a apresentação com “Gente”, “Um índio”, “Alegria, alegria” e “Desde que o samba é samba”.
— Sem anistia. O povo brasileiro elegeu Lula e por isso a democracia no Brasil resiste — afirmou Caetano. — Não poderíamos deixar de responder aos horrores que vem surgindo a nossa volta.
Na sequência, Caetano fez as vezes de mestre de cerimônia e convidou colegas para cantar com ele. Primeiro fez duetos com Djavan em “Linha do Equador” e “Sina”. Depois, convocou o parceiro Gilberto Gil para “Aquele abraço”, que contou ainda com participação de Chico Buarque e do próprio Djavan. Num dos momentos mais aguardados da tarde, Chico e Gil cantaram o hino contra a ditadura “Cálice”, emendada com “Samba do grande amor”, na voz de Chico e Djavan.
E os duetos seguiram… Djavan e Gil cantaram “Estrela”. Gil e Caetano foram à forra com “Cajuína” e “Divino e maravilhoso”, em que os versos “é preciso estar atento e forte” empolgaram o público. — Salve a nossa democracia. Lutemos por ela sempre — disse Djavan antes de se juntar a Paulinho da Viola em “Coração leviano”.
Bastidores com Djavan
Antes do show, Djavan mostrou no Instagram imagens do encontro. Ao lado de Caetano e Chico, cantaram “Samba do Grande Amor”. Apesar de não aparecer nas imagens da postagem do alagoano, Gilberto Gil também estava presente.
O “Brasil nas ruas” também levou artistas para protesto em diversas cidades pelo país. Marina Lima, em São Paulo, Chico César, em Brasília, Daniela Mercury e Wagner Moura, em Salvador, Silva, em Vitória, e Simone, em Maceió, foram alguns dos destaques.
A Câmara dos Deputados aprovou na noite da última terça-feira a chamada PEC da Blindagem, proposta que dificulta a prisão e a abertura de ações penais contra parlamentares, além de ampliar o alcance do foro privilegiado para incluir presidentes de partidos. Escolhido para relatar a PEC da Blindagem, o senador Alessandro Vieira (MDB-SE) disse na sexta (19) que opinará pela rejeição do texto na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), primeira parada da proposta na Casa
O Recife inaugurou, neste domingo (21), a nova sede do Centro de Documentação Dom Helder Câmara (CEDOHC). O espaço funciona no Edifício Arquiteto Zildo Sena Caldas, vizinho à Igreja das Fronteiras, no bairro da Boa Vista, e foi pensado para preservar a memória do arcebispo emérito de Olinda e Recife, reconhecido internacionalmente como defensor da paz e dos direitos humanos.
A reinauguração reuniu o prefeito João Campos, o vice-prefeito e secretário de Infraestrutura, Victor Marques, o presidente da Fundação de Cultura do Recife, Marcelo Canuto, a secretária municipal de Cultura, Milu Megale, a senadora Teresa Leitão, além de convidados e representantes de entidades ligadas à trajetória de Dom Helder.
Logo no início da solenidade, episódios chamaram atenção do público. Um homem gritou vivas a nomes de políticos, como Miguel Arraes, Eduardo Campos e Lula, recebendo reações divididas da plateia. Pouco depois, o arcebispo de Olinda e Recife, dom Paulo Jackson, pediu que ninguém fizesse referência a políticos no evento. O gesto foi seguido fortemente por aplausos e estabeleceu o tom da cerimônia.
Na sequência, João Campos, ao discursar, optou por mencionar o avô, Cyro de Andrade Lima — médico de Dom Helder — sem citar nomes de lideranças políticas. Em sua fala, destacou o compromisso da Prefeitura em preservar o acervo, garantindo repasse anual de R$ 300 mil para manutenção do centro e apoio às atividades culturais.
Durante a missa que se seguiu à reinauguração, dom Paulo voltou a marcar posição ao criticar a Proposta de Emenda Constitucional conhecida como “PEC da Blindagem”. Ele classificou a medida como dissonante em relação à luta que resultou na Lei da Ficha Limpa e afirmou que a justiça deve valer para todos — ecoando os ideais de Dom Helder. O pronunciamento foi novamente aplaudido pelos presentes.
O CEDOHC reúne mais de 200 mil páginas de manuscritos, 18 mil imagens, além de livros, correspondências, vídeos e documentos históricos que estavam sob a guarda da Universidade Católica de Pernambuco desde 2020, quando o prédio original foi invadido e vandalizado. Agora, o material retorna ao espaço concebido pelo próprio Dom Helder, aberto à pesquisa e ao público.
Portugal anunciou neste domingo (21) o reconhecimento oficial do Estado da Palestina, por meio de declaração do Ministro dos Negócios Estrangeiros, Paulo Rangel, na sede da missão portuguesa junto às Nações Unidas.
“Hoje, 22 de setembro de 2025, o Estado português reconhece oficialmente o Estado da Palestina”, afirmou Rangel, destacando que o país se posiciona a favor de uma solução de dois Estados e do avanço de paz no Oriente Médio. As informações são da Revista Exame.
O anúncio de Portugal acontece no mesmo dia em que outros países, como Reino Unido, Canadá e Austrália formalizaram o reconhecimento da Palestina. O movimento internacional ocorre em meio a crescente pressão diplomática para que Israel e a Autoridade Palestina retomem as negociações por uma solução de dois Estados, que permita coexistência pacífica e estabilidade na região.
A expectativa é que, nos próximos dias, outros países europeus, incluindo França, anunciem reconhecimentos semelhantes durante a Assembleia Geral da ONU, em Nova York.
Reação de Israel
O primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, afirmou neste domingo (21), que “não haverá um Estado palestino”, após o reconhecimento formal da Palestina por parte de Reino Unido, Canadá e Austrália. Em declaração gravada, o premiê disse que anunciará uma resposta à medida após retornar da Assembleia Geral da ONU, que ocorre nesta semana nos Estados Unidos.
“Isso não vai acontecer. Não será estabelecido um Estado palestino a oeste do rio Jordão”, afirmou Netanyahu no vídeo divulgado por seu gabinete. A mensagem foi direcionada especialmente aos países que decidiram reconhecer o Estado palestino em resposta à ofensiva militar israelense na Faixa de Gaza, onde os ataques já deixaram mais de 65 mil mortos, segundo dados palestinos.
Por Jorge Henrique Cartaxo e Lenora Barbo Especial para o Correio Braziliense
O Graf Hindenburg — dirigível mais moderno do que o já tradicional Zeppelin — fazia a rota Frankfurt-Rio, sem escala, em três dias. Impactante, a nave, quase cilíndrica, exibia, de cada lado da cauda, uma suástica preta sobre um fundo branco. Era uma das faces do nazismo de Joseph Goebbels, cruzando o atlântico. Foi num desses voos que Le Corbusier desembarcou no Rio, em 1936. O já famoso arquiteto franco-suíço fora convidado pelo arquiteto Lucio Costa para integrar a equipe que elaborou o projeto do futuro Ministério da Educação e Saúde, comandado pelo ministro Gustavo Capanema. Tinha início a, ainda hoje polêmica, consolidação da arquitetura modernista no Brasil.
Charles-Édouard Jeanneret-Gris — nome de batismo de Le Corbusier — nasceu, em 6 de outubro de 1887, na indústria relojeira de La Chaux-de-Fonds, na comuna suíça situada na Cordilheira do Jura. Em 1902, sob a orientação do pintor e arquiteto suíço Charles L’Éplattenier, Jeanneret começou a estudar artes decorativas. Nesse momento ele se interessa também pela arquitetura. “Étude sur le mouvement d’art décoratif em Allemangne”, é o primeiro trabalho publicado de Jeannert. “A Revolução levou a uma reversão completa. Homens no poder — ou tendo a possibilidade de subir ao poder — tiveram uma educação incompleta, tendo ascendido os plebeus ignorantes”, disse o futuro modernista ao analisar, em seu texto, os efeitos da Revolução Francesa nas artes decorativas do império, que teriam entrado em declínio vencidas pelo gosto burguês.
Em 1917, já em Paris, depois de ter sido expulso pela elite judaica de La Chaux-de-Fonds, acusado de não cumprir contratos profissionais, Le Corbusier — agora com o nome artístico — conhece o pintor francês Amédée Ozenfant. No ano seguinte publicam o manifesto de fundação do purismo na arquitetura: “Aprés le cubisme”. Naquela reflexão ele traz as primeiras percepções do impacto das novas tecnologias na arquitetura. Pontes, barragens, fábricas, tudo em grandes dimensões, sinalizando o advento de uma nova Era moderna.
Curiosamente, o texto traz uma conexão com a clássica “grandeza romana”. Em outubro de 1920, agora em companhia, também, do poeta belga Paul Dermée, o trio lança a revista “L’Espirit Nouveau” (1920/25). Um espaço editorial para o embrionário movimento de vanguarda e as reflexões sobre o purismo na arquitetura. “Roma se ocupava de conquistar o universo e gerencia-lo. Estratégia, suprimentos, legislação: espírito de ordem[…]. A ordem romana é uma ordem simples e categórica […]. Eles tinham desejos imensos de dominação, de organização”, escreveu Le Corbusier, na 14º edição da revista, sublinhando a disciplina e a ordem, que o encantavam como fundamentos da antiga civilização romana. Nesse período, Le Corbusier e o seu primo Pierre Jeanneret, projetam a Ville La Roche (onde hoje funciona a Fundação Le Corbusier), em Paris, para o banqueiro suíço Raoul La Roche.
Foi também nesse início dos anos 20, que ele lançou o seu clássico “Ver une Achiteture” rapidamente traduzido na Europa e nos Estados Unidos. Havia naquela ocasião, certamente uma consequência das preocupações com a salubridade e a higiene urbanas evidentes no século 19, como ilustra a grande e clássica reforma de Paris do Barão Haussmann, a construção de espaços urbanos higiênicos, ordenados e funcionais. Era uma proposta para uma reflexão e um refazimento da forma de se organizar, trabalhar e viver a luz da história e das “tradições”.
Em 1927, os líderes do primeiro grupo fascista francês, “Le Faisceau”, encantaram-se com as ideias do arquiteto franco-suíço expressas no seu “Plan Voisin”. George Valois, no seu artigo “La Nouvelle Etape De Fascisme”, disse que ele expressava o pensamento profundo do fascismo com a sua cidade moderna. Corbusier, durante quase vinte anos, teve uma participação ativa no “Le Faisceau”, defendendo um estado forte, intervencionista e autoritário. Eram evidentes suas críticas à democracia moderna que nasce com a Revolução Francesa.
Convidado por Paulo Prado — rico e um dos patrocinadores da Semana de Arte Moderna de 1922 — Le Corbusier desembarca em Santos, na sua primeira visita ao Brasil, no dia 17 de novembro de 1929. Entre São Paulo e o Rio de Janeiro, ele faz uma série de palestras, antecipando o que apresentaria na Carta de Atenas de 1933. No IV Congresso Internacional de Arquitetura Moderna (CIAM), realizado a bordo do navio “Patris II”, foram apresentadas as teses básicas do urbanismo moderno: habitação, trabalho, lazer e circulação; as áreas verdes e de lazer deveriam estar distantes do setor industrial; o patrimônio e a memória arquitetônica deveriam ser preservados; o crescimento urbano teria que ser observado e administrado.
Assinaram o documento, além de Corbusier, os arquitetos Wiliam Morris e Tony Garneier. As questões ideológicas, naquele momento, não tinham ainda a densidade e tensões que o ocidente passaria a perceber e se posicionar com o início da II Guerra Mundial, em 1939. Portanto, as teses sobre o urbanismo e a arquitetura modernista, que se destacariam depois de 1945, pelo menos de uma forma direta, não se viam prejudicadas pelas posições ideológicas manifestas.
A fama, o reconhecimento e a notoriedade não afastaram Le Corbusier do fascismo italiano e do colaboracionismo francês com o nazismo. “A nova civilização da máquina nasceu há cem anos. As raízes são tão profundas que uma arquitetura e um planejamento urbano resplandecentes e magníficos…podem florescer sob o sinal milagroso da decisão, esse gesto que depende apenas da autoridade. A autoridade, essa força paterna”, disse o arquiteto ao encerrar uma palestra, em Roma, no ano de 1934.
Em fevereiro daquele mesmo ano, agora em Paris, ao saber de uma grande manifestação da extrema direita contra o parlamentarismo, ele observou: “o despertar da limpeza”. Às vésperas da guerra, em 1937, ele escreveu que almejava “uma sociedade ordenada, viril, higiênica, racional […] classifique as populações urbanas, ordene, elimine aqueles que são inúteis na cidade”. Em junho de 1940, quando o Marechal Pétain assinou um armistício com a Alemanha, entregando todos os judeus aos nazistas, Le Corbusier, em uma carta à sua mãe, escreveu: “Vitória milagrosa. Se tivéssemos ganhado, a podridão teria triunfado e nada de limpo jamais poderia pretender viver”.
“Le Corbusier tinha alguns notáveis rivais, mas nenhum deles teve a mesma importância na revolução da arquitetura, porque nenhum deles suportou insultos tão pacientemente e por tanto tempo”, disse André Malraux, herói e símbolo da resistência francesa, na cerimônia fúnebre do festejado urbanista, no átrio do Louvre, no dia 1 de setembro de 1965. Naquele momento, as feridas abertas pelos colaboracionistas ainda estavam abertas. O esquecimento era uma prudência, sobretudo quando se tratava de um símbolo da cultura, de certo modo, universal.
O relatório final e conclusivo da Comissão de Localização da Nova Capital Federal, presidida pelo Marechal José Pessoa, com minucioso e amplo detalhamento sobre todos os aspectos e procedimentos necessários para a mudança e edificação da cidade, apresentado em 1955, merece, pelo menos, dois destaques: a identificação dos cinco sítios possíveis para localização do núcleo urbano principal da cidade; e o primeiro Plano Piloto da capital que, pela sugestão de Pessoa, teria o nome de Vera Cruz.
O primeiro anteprojeto para a Futura Capital, é importante destacar, com as inspirações modernistas de Le Corbusier, foi apresentado pela primeira urbanista brasileira, Carmem Portinho, em 1939, como o seu trabalho de tese. Inspirada nos trabalhos da Comissão Cruls e as referências de Glaziou sobre o local onde seria o Lago Paranoá, sem um trabalho de campo, ela apresentou uma espécie de Ville Radieuse. Por coincidência, ou não, o projeto apresentado pelos engenheiros Raul Penna Firme, Roberto Lacombe e José Oliveira Reis, da equipe do Marechal Pessoa, traz os mesmos princípios do modernismo. Reis, Lacombe e Firme sugeriram a vinda de Le Corbusier para aconselhar a equipe brasileira. O Marechal Pessoa não acolheu a sugestão. Para ele, aquele era um desafio para os brasileiros!
A Comissão, seguindo as orientações do Relatório Belcher (fotos e analises), identificou, em cores para evitar a especulação imobiliária, os Sítios Azul, na região de Anápolis; o Amarelo, em Silvânia; o Verde, em Planaltina; o Castanho, onde é hoje o Plano Piloto; e o Vermelho, a 65 quilômetros de Unaí. Cada uma das regiões escolhidas foi devidamente analisada, considerando as adequabilidades já elencadas. Uma combinação se destacava: o Sítio devia ter uma altitude de cerca de 1.000m, em um terreno sem grandes ondulações, paisagem variada sem monotonia.
“As encostas seriam de pouca declividade, não excedendo a 8%, assim permitindo construir sobre elas sem dificuldades. Deve haver, também, uma área localizada em posição dominante, que possa ser aproveitada, de forma monumental, para o núcleo governamental da cidade”. Venceu o Sítio Castanho — onde fica o Plano Piloto — que somado ao Sítio Verde, constituem o Distrito Federal.
*O jornalista Jorge Henrique Cartaxo é diretor de Relações Institucionais do IHG-DF | A arquiteta Lenora Barbo é diretora do Centro de Documentação do IHG-DF
Manifestantes realizam atos em diversas cidades do país neste domingo (21) contra a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) da Blindagem e o projeto que anistia pessoas condenadas pelo 8 de janeiro.
Convocados nas redes sociais por movimentos de esquerda, os protestos acontecem em capitais como São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Brasília, Salvador, Belém e Maceió.
Em comum, as manifestações pedem que a PEC da Blindagem não siga a tramitação no Senado Federal. O texto, aprovado na Câmara dos Deputados na última semana, busca proteger parlamentares contra a abertura de processos penais no Supremo Tribunal Federal (STF).
Críticos da proposta afirmam que a PEC, na prática, inviabilizará a abertura de ações penais contra deputados e senadores, uma vez que, quando regra semelhante vigorou no país, somente a instauração de um processo foi autorizada pelo Legislativo.
Após ser aprovada na Câmara, a PEC da Blindagem segue para análise no Senado, onde sofre resistência. O presidente da CCJ, Otto Alencar (PSD-BA), disse à GloboNews neste domingo (21) que vai pautar o texto na próxima reunião do colegiado para “sepultar de vez esse assunto”. Ele chamou a proposta de “murro na barriga e tapa na cara do eleitor” e afirmou que há articulação para rejeitá-la na comissão e no plenário.
Manifestantes também se posicionaram contra a tramitação do projeto que prevê perdoar os condenados envolvidos no ato golpista do 8 de janeiro de 2023. Na última quarta-feira (17), os parlamentares aprovaram um pedido de urgência para a proposta para acelerar a análise do texto.
Veja o andamento das manifestações nas cidades brasileiras:
São Paulo
Manifestantes fazem protesto ao Masp, na Avenida Paulista, contra a PEC da Blindagem e o Projeto de Anistia — Foto: Reprodução/TV Globo
Manifestantes se reúnem em frente ao Masp, na Avenida Paulista. O ato começou às 14h e foi convocado nas redes sociais por movimentos de esquerda.
Os participantes gritam palavras de ordem contra a anistia e carregam placas e cartazes. Eles também estendem uma bandeira gigante do Brasil, em contraste com o bandeirão dos Estados Unidos exibido por bolsonaristas no mesmo local, durante o ato do 7 de setembro.
Rio de Janeiro
Manifestantes se reúnem na orla de Copacabana. Segundo organizadores, o ato deve começar às 15h.
Brasília
Na capital federal, os manifestantes se concentraram em frente ao Museu Nacional da República, na via S1, por volta das 10h. A partir das 11h30, o grupo seguiu em marcha até a altura da Avenida José Sarney, nas proximidades do Congresso Nacional.
Está prevista a apresentação do cantor paraibano Chico César.
Salvador
Manifestantes protestam contra PEC da Blindagem e PL da Anistia em Salvador — Foto: Luan Fagundes / TV Bahia
Em Salvador, manifestantes se concentraram em frente ao Cristo da Barra, por volta das 9h. Com cartazes nas mãos e entoando gritos de ordem, os manifestantes deram início ao ato por volta das 10h40.
Estão presentes no ato os atores Wagner Moura e Nanda Costa, a percussionista Lan Lanh e Daniela Mercury, ambas em cima de um trio elétrico.
“Estamos juntos lutando pela democracia brasileira, contra anistia, que já foi julgada pelo Supremo, de forma adequada, respeitando o Estado Democrático de Direito e todo processo legal. A gente não aceita que ela seja ressuscitada a qualquer custo”, afirmou Daniela.
Belo Horizonte
Manifestantes se reuniram na Praça Raul Soares, na Região Centro-Sul, neste domingo (21), e seguiram em marcha até a Praça Sete, no Centro da cidade.
Nas ruas, era possível ver cartazes com dizeres como “Sem anistia”, “Não à PEC da bandidagem” e “Em defesa da democracia”.
O ato conta com a presença de lideranças políticas e sindicais, além de artistas mineiros, como a musicista Fernanda Takai, da banda Pato Fu.
Natal
Manifestantes se reuniram na Avenida Roberto Freire, na Zona Sul de Natal, em um ato convocado por partidos de esquerda e centrais sindicais do Rio Grande do Norte. O protesto começou por volta das 9h e segue no local.
João Pessoa
Manifestação contra a PEC da Blindagem em João Pessoa, Paraíba — Foto: Yanka Oliveira/TV Cabo Branco
Na capital paraibana, os manifestantes se concentraram no Busto de Tamandaré, em Tambaú, por volta das 9h, carregando bandeiras e faixas.
O ato conta com a presença de artistas e políticos e permanece parado ainda no lugar de encontro.
Maceió
Manifestantes realizam protesto contra PEC da Blindagem e PL da Anistia em Maceió — Foto: Lucas Leite/g1 AL
Na orla da Pajuçara, manifestantes se concentraram próximo à Praça Sete Coqueiros a partir das 9h. O grupo incluiu movimentos sociais, lideranças sindicais e partidos de esquerda, que fizeram falas a favor da democracia.
Durante o ato, foram exibidas bandeiras do Brasil e faixas com mensagens como “Sem anistia para golpistas e bandidos”, “Fascismo nunca mais” e “Não à PEC da Bandidagem”.
A manifestação seguiu até a Praça Multieventos, também na orla da Pajuçara, onde foi encerrada por volta das 12h.
Entre os participantes do ato, estava a cantora Simone, que realiza um show na capital alagoana ainda neste domingo. Ela foi recebida com a canção “Para não dizer que não falei de flores”, de Geraldo Vandré, que também foi interpretada pela artista.
Teresina
Na capital do Piauí, o ato reuniu pessoas na região central a partir das 10h.
Representantes de movimentos sociais, partidos e sindicatos discursaram em um trio elétrico. O grupo exibiu cartazes e entoou palavras de ordem.
Belém
Manifestantes realizam ato contra PEC da Blindagem e PL da Anistia em Belém — Foto: Lucas Trevisan/TV Liberal
O grupo se reuniu em frente ao Theatro da Paz, na Praça da República, por volta das 9h. A mobilização é organizada por frentes locais ligadas ao Brasil Popular e ao Povo Sem Medo, que destacam o caráter simbólico da Praça da República como espaço tradicional de manifestações políticas na cidade.
Estão previstas apresentações de artistas como Keila Gentil, Aíla, Raidol, Jeff Moraes, Antônio Oliveira, Joelma Kláudia, Carimbó Selvagem, além da participação do ator Marco Nanini, que está em temporada na capital paraense.
Manaus
Ato contra PEC da Blindagem e anistia reúne manifestantes em Manaus — Foto: Michel Castro/Rede Amazônica
Manifestantes se reuniram durante a manhã na faixa liberada da Avenida Getúlio Vargas, no Centro, e seguiram em caminhada até a Avenida Sete de Setembro.
Durante o percurso, exibiram cartazes com dizeres como “Não à PEC da bandidagem” e “Sem anistia para golpistas” e gritaram em coro: “Sem anistia e sem perdão”.
São Luís
Manifestantes se reúnem em ato contra a PEC da Blindagem em São Luís — Foto: Larissa Carneiro/g1 MA
Manifestantes se reuniram na manhã deste domingo (21) na Praça da Igreja do Carmo, no Centro Histórico de São Luís, em um ato convocado por partidos de esquerda.
Com cartazes e faixas, o grupo percorreu as ruas da região distribuindo panfletos e gritando palavras de ordem. Alguns manifestantes carregam placas com as fotos dos 15 deputados federais maranhenses que votaram a favor do texto-base da chamada PEC da Blindagem.
Cuiabá
Na capital do Mato Grosso, o protesto, convocado por partidos de esquerda, aconteceu durante a manhã na Praça Cultural do CPA 2.
A manifestação durou pouco mais de 2 horas. Os participantes usaram faixas e cartazes para se manifestarem contra as propostas.
Juiz de Fora
Ato contra PEC da Blindagem foi realizado na Praça da Estação, em Juiz de Fora — Foto: Marcos Lacerda
Em Juiz de Fora, o ato teve concentração na Praça da Estação e depois subiu a Rua Halfeld, até as escadarias do Cine-Theatro Central.
Triângulo Mineiro
Em Uberlândia, o ato teve concentração na Avenida José Fonseca e Silva, no Bairro Luizote de Freitas. O grupo percorreu a feira livre para chamar a atenção da comunidade, usando apitos e instrumentos musicais para fazer barulho.
O protesto foi pacífico, mas deixou claro o descontentamento com os parlamentares que votaram a favor da PEC da Blindagem nesta última semana.
Já em Uberaba, a manifestação aconteceu na Feira da Abadia, na Avenida Prudente de Morais, e foi liderada pelo Fórum dos Trabalhadores de Uberaba.