Por Cláudio Soares*
Ao longo de seu mandato e, de forma ainda mais intensa, após a derrota nas eleições de 2022, o ex-presidente Jair Bolsonaro viu seu círculo de amizades se desintegrar. Figuras que outrora eram pilares de seu governo e campanha, de generais a ministros e parlamentares, romperam laços e, em alguns casos, se tornaram seus mais ferrenhos críticos. A desagregação de sua base de apoio não se deu por uma única razão, mas por um emaranhado de divergências ideológicas, crises de gestão, acusações de corrupção e, sobretudo, a tentativa de politização de instituições-chave como as Forças Armadas.
Um dos alicerces do governo Bolsonaro era a forte presença de militares em cargos estratégicos. No entanto, o que começou como uma aliança sólida transformou-se em um foco de tensão e distanciamento. Generais e oficiais de alto escalão, preocupados com o desgaste da imagem das Forças Armadas e o risco de serem arrastados para a arena política, começaram a se afastar.
Leia maisNomes como o general Gustavo Bebianno, um dos principais coordenadores da campanha de 2018, foi um dos primeiros a romper. Sua demissão precoce, motivada por um escândalo de candidaturas “laranjas” e acusações mútuas com a família Bolsonaro, marcou o início de uma série de rupturas.
Mais recentemente, o general Walter Braga Netto, ex-ministro da Defesa e vice na chapa de 2022, e o general Augusto Heleno, ex-ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), também se viram sob os holofotes da Polícia Federal. Suas lealdades foram colocadas em xeque em meio a investigações sobre planos de golpe e a “minuta do golpe”. Outros militares de destaque, como os generais Carlos Alberto dos Santos Cruz e Fernando Azevedo e Silva, distanciaram-se publicamente, expressando preocupação com a crescente politização da caserna.
Além dos militares, Bolsonaro também enfrentou a debandada de importantes aliados políticos que foram fundamentais para sua ascensão. A ex-deputada Carla Zambelli, que já foi uma de suas maiores defensoras, teve uma relação com idas e vindas e hoje se encontra presa na Itália por desentendimentos com ex-aliados. O ex-juiz e ministro da Justiça Sérgio Moro rompeu publicamente com Bolsonaro em 2020, acusando-o de tentar interferir na Polícia Federal. Sua saída não apenas marcou uma nova fase de desgaste no governo, mas também teve consequências judiciais significativas.
Outros nomes, como a deputada Joice Hasselmann e o ex-deputado Alexandre Frota, que iniciaram suas trajetórias políticas na base bolsonarista, tornaram-se críticos ferrenhos, denunciando o que consideravam serem desmandos e ilegalidades. Até mesmo o ex-governador de São Paulo, João Doria, que inicialmente se alinhou a Bolsonaro, rompeu com o ex-presidente durante a pandemia de COVID-19, devido a divergências sobre a vacinação e as medidas de isolamento.
As causas por trás da desagregação da base bolsonarista são múltiplas facetas. Nos casos militares, a principal preocupação era a legalidade e a preservação da imagem das Forças Armadas. Muitos generais, ao se depararem com a tentativa de Bolsonaro de usá-las para fins políticos, optaram por se afastar para evitar um desgaste institucional.
Já entre os aliados políticos, as razões são mais variadas. Elas vão desde disputas internas de poder, como a que envolveu o “núcleo duro” familiar de Bolsonaro e o ex-secretário-geral do PSL Gustavo Bebianno, até divergências ideológicas e acusações de corrupção, como a que motivou a saída de Sérgio Moro. A falta de lealdade de Bolsonaro com seus aliados, a exposição de escândalos familiares e o envolvimento de seus filhos em polêmicas e corrupção também contribuíram para o distanciamento de figuras-chave.
O futuro de Bolsonaro é, portanto, também a história de seus desafetos. As rupturas com ex-aliados políticos e militares não apenas minaram seu governo, mas também expuseram as fragilidades de sua liderança e a dinâmica de poder que permeava seu círculo mais próximo. O que você acha que esses rompimentos revelam sobre o estilo de liderança do ex-presidente?
*Advogado e jornalista
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