Por Fabiano Lana – Estadão
O bolsonarismo, de fato, não vive uma boa fase. Na verdade, atravessa um verdadeiro inferno astral. Quem imaginaria que os presidentes Lula e seu análogo Donald Trump teriam uma relação “cordial”, que começasse logo após a condenação de Jair Bolsonaro por tentativa de golpe de Estado? Sinceramente, ninguém. Nem eles. A videoconferência entre Lula e Trump, nesta segunda-feira (6), é apenas mais um elemento dessa sequência de terror para quem é um fervoroso admirador do ex-presidente brasileiro e de suas causas.
O bolsonarismo hard contava com o apoio, sem ressalvas, do presidente americano para sua estratégia de vingança contra o “sistema” brasileiro – o que inclui o governo, o Judiciário e até mesmo partes do chamado Centrão. As coisas iam até que relativamente bem, com sanções a torto e a direito, até o casual e surpreendente encontro pessoal de “39 segundos” entre Trump e Lula, com toda a química anunciada, na Assembleia Geral da ONU, no dia 23 de setembro. Nesse dia, eles combinaram de se falar novamente.
Após a Assembleia, os bolsonaristas tentaram nos convencer de que Lula havia caído numa armadilha. Que, na eventual reunião entre Lula e Trump, o brasileiro seria humilhado, massacrado ou coisa pior – assim como ocorreu com o ucraniano Volodymyr Zelensky. Até mesmo a diplomacia brasileira parecia ter comprado essa tese. Apressaram-se em dizer que, por questões de agenda, o tal encontro seria virtual.
Leia maisO filho 03 foi rápido em espalhar essa tese conspiratória: “Para quem conhece as estratégias de negociação de Donald Trump, ele fez exatamente o que sempre praticou: elevou a tensão, aplicou a pressão e, em seguida, reposicionou-se com ainda mais força à mesa de negociações”, disse Eduardo Bolsonaro já no dia 23/9.
Mas o que o bolsonarismo tem para hoje é a seguinte frase de Trump sobre o encontro ocorrido há algumas horas: “Esta manhã, tive uma ótima conversa telefônica com o presidente Lula, do Brasil. Discutimos muitos assuntos, mas o foco principal foi a economia e o comércio entre nossos dois países”, afirmou. O encontro virtual durou 30 minutos e, num tom de cordialidade, Lula teria pedido para Trump suspender a sobretaxa imposta a produtos brasileiros e desistir das sanções a autoridades públicas. Teriam também trocado seus números particulares e aventado um encontro presencial no final do mês, na Malásia.
O que resta ao bolsonarismo agora para manter a narrativa (de tão usada, essa palavra deveria ser sancionada)? Restam alguns fios de esperança. Segundo foi divulgado, as negociações agora cabem ao secretário de Estado, Marco Rubio, personagem que, em tese, não tem qualquer simpatia pela causa brasileira. A conferir os próximos desdobramentos dessa palpitante novela. Na dúvida, o empresário Paulo Figueiredo, braço direito de Eduardo Bolsonaro nas trapalhadas norte-americanas, mandou avisar que “está de férias”.
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