Por Flávio Chaves*
Toda grande história de amor, mais cedo ou mais tarde, se torna uma despedida. É como se o universo conspirasse para que os amores mais intensos, aqueles que nos arrancam do chão e nos fazem voar, nunca pudessem ser completamente nossos. Eles chegam como uma tempestade, sacodem nossas raízes, iluminam nossos dias com uma luz que nunca havíamos visto, e então, quando menos esperamos, partem. Deixam para trás um silêncio que ecoa, um vazio que dói, e uma lembrança que nunca se apaga.
Os amores que realmente importam, aqueles que atravessam a alma e deixam marcas eternas, nunca terminam da maneira serena que imaginamos. Não são aqueles que se acomodam na rotina, que envelhecem juntos, que se reúnem em um sofá e uma xícara de café todas as manhãs. Esses amores são importantes, sim, mas são diferentes. São amores que se constroem no chão, tijolo por tijolo, dia após dia. E há uma beleza nisso, uma beleza tranquila e reconfortante.
Leia maisMas os amores que queimam a pele e estremecem o coração? Esses são feitos de fogo. Eles não se contentam com o chão. Eles querem o céu. E, por isso, sempre se despedem no auge, no momento em que tudo parece inteiro. Quando nos damos conta de sua força, já estamos perdendo-os. É como tentar segurar a luz do sol nas mãos: por mais que a desejemos, ela escorre entre os dedos, deixando apenas o calor de sua passagem.
A pessoa que mais ama, aquela que nos olhou uma vez e mudou para sempre o curso dos nossos dias, nunca é a mesma que dividirá conosco o envelhecer. Talvez porque o destino saiba que esses amores são grandes demais para caber em uma vida inteira. Talvez porque eles existam apenas para nos lembrar de que somos capazes de sentir algo tão profundo, tão avassalador, que nos transforma para sempre. E, uma vez transformados, não podemos mais voltar ao que éramos.
O destino sempre encontra uma maneira de nos separar. Às vezes, ele usa uma geografia. Outras vezes, a pressa, os desencontros, os medos, o orgulho ou as emoções que escapam ao nosso controle. E, no entanto, mesmo quando partem, esses amores nunca nos abandonam completamente. Eles ficam. Ficam nas músicas que nos fazem chorar, nos lugares que nos fazem sorrir, nos cheiros que nos transportam de volta a um momento que já se foi. Ficam nas histórias que contamos, nas cartas que nunca enviamos, nos sonhos que nunca realizamos.
E talvez seja assim que deve ser. Talvez os grandes amores não sejam feitos para durar. Talvez eles existam apenas para nos mostrar o que é possível. Para nos lembrar de que somos capazes de amar e de ser amados de uma maneira que transcende o tempo, o espaço, a razão. Para nos ensinar que, mesmo na despedida, há uma beleza indescritível. Porque, no fim das contas, o amor que nos marca para sempre não é aquele que fica, mas aquele que nos transforma.
E, assim, seguimos. Carregando dentro de nós a chama daqueles amores que nunca se deixaram capturar. Sabendo que, em algum lugar do universo, eles continuam vivos. Continuam ardendo. Continuam nos lembrando de que, por um instante – mesmo que breve, mesmo que fugaz –, fomos capazes de tocar o infinito.
*Jornalista, poeta, escritor e membro da Academia Pernambucana de Letras
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