A Marinha brasileira destituiu do cargo, rebaixou o conceito militar e transferiu para outra unidade um capitão de mar e guerra de 46 anos que divulgou em um grupo de WhatsApp foto de um caça americano F-35 que havia feito um pouso de emergência em São Pedro da Aldeia (RJ), em maio deste ano. O fato foi revelado pela Revista Sociedade Militar no último dia 23.
Em 18 de maio, o Lockheed Martin F-35C Lightning II da Marinha americana fez um pouso de emergência na base naval da cidade por falta de combustível.
Nesse dia, o militar Marcos Roberto Cavalcanti Sales estava em Brasília, de onde seguiria para Belém (PA) em missão oficial com Giovani Correa, diretor do Centro de Inteligência da Marinha, que era seu chefe.
No mesmo sábado, o capitão de Mar e Guerra diz ter recebido a foto do caça no celular, enviada por um assessor do diretor e sem orientação em relação à retransmissão. Sales, então, encaminhou a um grupo do WhatsApp. Ao chegar a Belém, no domingo (19), Correa o acusou de ter compartilhado a imagem do avião e relatou o caso ao vice-diretor Anderson Marcos da Silva.
Leia maisO vice-diretor, em relato disponível no processo, afirma que tomou conhecimento de que a publicação se deu sem o consentimento do diretor.
“Por ter utilizado um canal não seguro para envio de material sensível a um grupo de aplicativo de mensageria, perdendo o controle da replicação do mesmo, [Sales] contrariou as normas de contrainteligência da Marinha do Brasil, em especial as referentes à segurança da documentação e à segurança das comunicações”, escreve.
Na peça da defesa, os advogados Adão Farias e Claudio Lino contestam a informação de que o material seria sensível. Eles argumentam que as fotografias e vídeos da aeronave estavam “circulando nas redes sociais e nos grupos de WhatsApp, pois a própria Marinha americana divulgou de forma ostensiva a aeronave.”
Os advogados pediram que a Marinha abrisse sindicância para apurar os fatos, autoria, materialidade e motivação, o que não ocorreu. “Assim, diante do cerceamento de defesa, faz-se necessária a anulação da punição disciplinar imposta ao requerente.”
Farias também critica o fato de o diretor ter sido responsável por todas as etapas do processo disciplinar contra Sales.
“O que eu aleguei no processo é que ele foi um inquisidor. Lembra na época da Inquisição? Onde o inquisidor acusava, julgava, punia e acendia a fogueira? O inquisidor fazia tudo. Por isso que ele era chamado inquisidor.”
Sales ainda tentou recorrer da punição acionando o comandante da Marinha, Marcos Sampaio Olsen, sem sucesso.
Com a decisão, o capitão de mar e guerra foi destituído do cargo de chefe do Departamento de Inteligência e transferido para o Comando do Sétimo Distrito Naval. O rebaixamento do conceito militar também fez com que o oficial perdesse possibilidade de ser indicado ao cargo de almirante. Agora, ele deve dar entrada com requerimento para reserva militar pelo fato de não ter perspectiva na carreira.
Procurada, a Marinha disse que “não se manifesta sobre processos em curso no âmbito do Poder Judiciário”.
“Consciente de sua missão constitucional e de seu compromisso com a sociedade brasileira, a Marinha brasileira, instituição nacional, permanente e regular, reafirma que pauta sua conduta pela fiel observância da legislação, valores éticos e transparência. A Marinha reitera que permanece à disposição da Justiça para contribuir integralmente com o processo.”
Da Folha de São Paulo.