Por Cláudio Soares*
A líder opositora venezuelana Maria Corina Machado foi laureada com o Prêmio Nobel da Paz 2025, um feito histórico para a América Latina e, em especial, para o povo venezuelano. Corajosa e incansável, ela simboliza a resistência contra um regime autoritário que há décadas sufoca a democracia na Venezuela.
No entanto, a notícia — de relevância global — mal encontrou espaço na cobertura de setores da imprensa latino-americana, notadamente aqueles simpáticos ao chavismo. E, talvez mais grave ainda, foi solenemente ignorada pelo governo brasileiro e pelo Itamaraty.
Leia maisEngenheira industrial de formação, Maria Corina Machado entrou para a política com uma missão clara, devolver aos venezuelanos a liberdade de escolher seu destino. Fundadora da ONG Súmate, que fiscalizava eleições e promovia a participação cidadã, ela rapidamente se tornou alvo do regime de Hugo Chávez. Em 2010, foi eleita deputada com votação expressiva, mas teve seu mandato cassado em 2014 sob alegações controversas — mais uma entre tantas manobras autoritárias.
Corina nunca recuou. Mesmo com ameaças constantes, perseguição política, inabilitações forçadas e tentativas de silenciamento, ela se manteve firme. Recentemente, venceu as primárias da oposição para as eleições presidenciais de 2024, embora o regime de Nicolás Maduro tenha tentado impedir sua candidatura por vias judiciais e administrativas.
Ao receber o Nobel da Paz, Maria Machado reforça seu papel como símbolo de resistência pacífica e democrática. O comitê do Nobel destacou sua “persistência na defesa dos direitos humanos e das instituições democráticas em um país onde a repressão se tornou política de Estado”. A escolha da ativista opositora envia uma mensagem clara à comunidade internacional: a luta da Venezuela por liberdade é legítima e não pode mais ser ignorada.
Com a atenção do mundo voltada para ela, cresce a pressão sobre Maduro para permitir eleições livres e justas. Mais que uma honraria individual, o prêmio acende esperanças em milhões de venezuelanos que vivem sob um regime marcado por censura, escassez, violência e migração forçada.
Apesar da magnitude do acontecimento, o governo brasileiro — historicamente ambíguo em sua relação com o regime venezuelano — optou pelo silêncio. Nenhuma nota oficial do Palácio do Planalto. Nenhuma manifestação do Ministério das Relações Exteriores. Brasília mantém-se calada, como se a concessão de um Nobel da Paz a uma opositora de Maduro não dissesse respeito à estabilidade da região.
Esse silêncio constrange. Principalmente porque o Brasil, como maior economia da América do Sul, tem responsabilidades diplomáticas que vão além da ideologia. Ao se omitir, o governo brasileiro perde uma oportunidade fundamental de se posicionar em defesa dos direitos humanos e da democracia — valores que deveriam ser universais, e não negociáveis.
Parte da imprensa também falhou. Setores claramente alinhados à esquerda radical relativizaram ou sequer noticiaram o prêmio. O contraste com a ampla cobertura de outros ganhadores do Nobel em anos anteriores é gritante. Parece haver um desconforto em admitir que a luta democrática, quando travada contra regimes “companheiros”, não merece o mesmo entusiasmo.
Mas a história se encarrega de dar o devido peso aos fatos. E hoje, Maria Corina Machado entra para o seleto grupo de líderes mundiais que ousaram enfrentar ditaduras de peito aberto. Sua voz ecoa não só na Venezuela, mas em toda a América Latina — onde a democracia ainda é, em muitos lugares, um projeto inacabado.
*Advogado e jornalista
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