Por Rudolfo Lago – Correio da Manhã
Glauber Braga (Psol-RJ) acabou suspenso por seis meses de seu mandato depois do entrevero que teve com um militante do Movimento Brasil Livre (MBL). Mas Glauber mesmo não tem muita dúvida: a razão da suspensão foi menos, na sua avaliação, o chute que deu no militante e mais a insatisfação de parte da cúpula da Câmara, especialmente Arthur Lira (PP-AL), com a sua atuação.
Sai, então, Glauber Braga e entra em seu lugar Heloisa Helena (Rede-RJ). “Que azar, hein?”, brinca Heloisa em conversa com o Correio Político. A frase resume a atitude da nova deputada. Quem imaginava um ambiente mais calmo sem Glauber Braga na Câmara é porque não conhece Heloisa Helena. “Vou ser o que sempre fui”, avisa.
Leia maisHeloisa fica por seis meses na vaga de Glauber. Um período que conta, inclusive, o tempo de recesso que haverá a partir da semana que vem e se estenderá até fevereiro. Um tempo curto. Mas no qual ela vem disposta a mostrar o mesmo perfil combativo que demonstrava quando ela senadora pelo PT de Alagoas no primeiro governo Luiz Inácio Lula da Silva. Um perfil que bate de frente com a postura conciliadora de Lula.
Heloísa era senadora pelo PT no primeiro governo Lula em 2003. Chegou a ser líder do partido. Até começar a trombar com as conciliações que Lula fazia a segmentos mais conservadores, especialmente quando aprovou uma reforma da Previdência e exigiu fidelidade dos petistas. Ela recusou-se e acabou expulsa do partido. Fundou o Psol depois. Chegou a ser candidata à Presidência em 2006. Deixou depois o Psol e ingressou na Rede, da ministra do Meio Ambiente, Marina Silva. Marina reconciliou-se com Lula. Heloisa, não.
Heloísa volta à Câmara integrando um partido da base do governo, mas manterá seus posicionamentos. Porque diz seguir condenando o perfil mais conciliador de Lula.”Conciliação é que produz essas pústulas políticas”, diz ela. “Pústulas” que teriam tramado o afastamento de Glauber. Nesse sentido, ela pretende manter no mandato a mesma postura de Glauber.
Embora seja alagoana de nascimento e ter tido boa parte da sua carreira política no estado, Heloisa Helena diz não ter relação alguma com Arthur Lira. A não ser uma percepção de que um acerto de Lula com Lira é que foi o início do seu período de ausência na política, a partir de 2010.
Segundo ela, Lula teria apoiado Lira em 2010 para deputado e o pai dele, Benedito de Lira, para o Senado. Heloisa, disputando contra, acabou perdendo e, por um tempo, voltou a ser somente professora. “Curioso voltar agora à Câmara partir de uma situação que envolveu Arthur Lira”, comenta.
Heloisa deixou Alagoas pelo Rio de Janeiro em um projeto de fortalecimento da Rede. Combinou-se, para esse fortalecimento, que Marina Silva sairia candidata por São Paulo, e ela pelo Rio, como aconteceu. “Mas eu tenho relação antiga com o Rio. Meu pai foi pedreiro no Rio, e foi onde meu irmão nasceu”.
No caso do orçamento, Heloisa pretende montar um observatório da execução orçamentária. No caso, sua preocupação é com o retorno efetivo das políticas sociais à população. Ou seja, o dinheiro precisa claramente chegar ao destino. “Precisamos garantir a possibilidade objetiva de acesso do cidadão ao que é financiado com o orçamento”.
“O Sistema Único de Saúde, por exemplo, não tem que ser somente uma política avançada, tem de funcionar de fato”, diz ela. E, nesse sentido, a aplicação orçamentária precisa ser transparente. “O orçamento não é uma caixinha da qual dispõe o deputado ou senador. Toda destinação tem de ser transparente”.
Nesse ponto, é a mesma briga que antes fazia Glauber Braga. Heloisa pretende seguir batendo na mesma tecla. Com um olhar para o que chama de “Rio profundo”. Para além das belas paisagens, ela enxerga a cidade que sofre com a desigualdade social e com a falta de oportunidades.
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