Da BBC News Brasil
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) afirmou nesta segunda-feira (27) na Malásia que Donald Trump se comprometeu a negociar rapidamente um acordo com o Brasil sobre as tarifas de 50% impostas pelos EUA a produtos brasileiros. “Ele [Trump] garantiu que vamos ter um acordo. E acho que será mais rápido do que muita gente pensa”, disse o presidente durante uma coletiva de imprensa.
Lula afirmou que Brasil e EUA devem participar de novas rodadas de negociações sobre as tarifas “nas próximas semanas” em Washington. “Estou convencido de que, em poucos dias, teremos uma solução definitiva entre Estados Unidos e Brasil, para que a vida siga boa e alegre, do jeito que dizia Gonzaguinha em sua música”, disse o brasileiro. As declarações foram feitas um dia após Lula se encontrar com Trump na Malásia.
Leia maisNa reunião com Trump, o brasileiro disse ter pedido ao americano “a suspensão da taxação e revisão das punições aos nossos ministros”, referindo-se a sanções aplicadas pelos EUA a magistrados do Supremo Tribunal Federal (STF) e autoridades de seu governo.
O brasileiro voltou a chamar as sanções de “infundadas e baseadas em informações erradas”. Lula disse que Trump “ficou surpreso” ao ouvir que as sanções americanas haviam atingido até a filha de 10 anos do ministro da Saúde, Alexandre Padilha (PT).
Padilha foi sancionado em agosto por ter participado da elaboração do programa Mais Médicos. Segundo o governo americano, o programa consistiu em um “esquema de exportação de trabalho forçado do regime cubano”, em referência à participação de médicos cubanos no programa entre 2013 e 2018. O ministro, sua esposa e filha tiveram os vistos americanos cancelados.
Já oito magistrados do STF — entre os quais o ministro Alexandre de Moraes — foram sancionados com base na Lei Magnitsky, criada para punir estrangeiros que os EUA consideram autores de graves violações de direitos humanos.
Na entrevista coletiva, Lula disse que questões políticas entre Brasil e Estados Unidos — incluindo as sanções aos ministros — serão tratadas apenas por ele e por Trump, ao passo que assessores dos dois governos negociarão temas comerciais, como as tarifas a produtos brasileiros.
Lula disse ainda ter defendido na reunião com Trump a legitimidade do julgamento no STF que condenou Bolsonaro a 27 anos e 3 meses de prisão por golpe de Estado e outros crimes. O americano já fez várias críticas ao julgamento e o usou como um dos argumentos para aplicar as tarifas de 50% contra o Brasil.
“Eu disse que foi um julgamento muito sério, com provas contundentes”, afirmou Lula. Referindo-se a Bolsonaro, Lula disse que Trump sabe que “rei morto, rei posto”. “Bolsonaro faz parte do passado da política brasileira. Eu disse [a Trump]: com três reuniões que você fizer comigo, vai perceber que Bolsonaro não era nada”, disse o petista.
Lula disse que a reunião com Trump foi importante para que pudessem se conhecer pessoalmente. “Quando você se conhece [por intermédio] das pessoas que falam, é mais difícil. Tem que sentir, pegar na mão, olhar, ver a reação da pessoa. Acho que houve sinceridade na nossa relação”, afirmou.
O encontro ocorrido no domingo foi a primeira reunião formal entre os dois, que mantinham relação distante desde o início do governo Trump.
A situação se agravou em julho, quando Washington anunciou o tarifaço contra o Brasil. Mas o diálogo melhorou a partir de setembro, quando ambos tiveram breve contato durante a Assembleia Geral da ONU, em Nova York, o que abriu as negociações para o encontro bilateral.
Numa rápida conversa com jornalistas antes do início da reunião, Trump disse ser “uma honra estar com o presidente do Brasil”. “Acredito que seremos capazes de fazer ótimos acordos para os dois países”, disse ele.
Após o encontro, o perfil da Casa Branca no X publicou uma foto dos dois presidentes se cumprimentando e a seguinte fala de Trump: “Acho que seremos capazes de fechar alguns bons acordos para ambos os países… Sempre tivemos um bom relacionamento e acredito que isso continuará.”
Também depois do encontro, o secretário-executivo do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), Márcio Rosa, disse que a questão de Bolsonaro não foi discutida diretamente e que Trump não mencionou o aliado na conversa.
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