Por Ruy Castro – Folha de S. Paulo
Já aconteceu antes. Era uma vez um político que, legitimamente eleito, vestiu a farda de ditador e tentou impor ao mundo seu estilo de governar —intimidar, dividir, desestabilizar, perseguir, humilhar, subjugar, expulsar e tocar o terror. Com que fim? O de estabelecer sua bolha, expandir sua dominação, consolidar seu poder. Para isso, valeu-se também de recuar, contradizer-se, abandonar parceiros e parecer imprevisível —como alguém pode se defender se não sabe como será o ataque?
Quem é? Adolf Hitler? Não. Donald Trump. Veem-se nos dois essas mesmas táticas e estratégias e em função de igual objetivo: a implantação de um Reich planetário —um império gigante, totalitário, quaquilionário, livre de pretos e morenos e, se possível, imortal. Mas não é tão fácil. O de Hitler, de sólidas engrenagens e que ele garantia que iria durar mil anos, parou nos 12. O de Trump não chegará nem perto. Seu titular é instável e ignorante demais para executar um programa —qualquer um.
Leia maisJá podemos avaliá-lo por suas investidas contra o Brasil. Ao sequestrar a economia brasileira supostamente em defesa de Bolsonaro, Trump só conseguiu o contrário: alertou os indecisos para o fato de que o “Brasil acima de tudo” era conversa fiada e afundou Bolsonaro nas pesquisas. Seguindo esse raciocínio, quanto mais Trump prejudicar o país, em função de um homem que 60% da população quer ver na cadeia, só piorará a situação de Bolsonaro e dos que o apoiam. Isso inclui a banda do Congresso que, neste momento, aparenta defender Bolsonaro e que o abandonará assim que sentir a mudança do vento.
Com ou sem Trump, Bolsonaro será julgado, condenado e preso, com hora certa para apagar a luz da cela. E não será surpresa se, mais ocupado com um escândalo interno por pedofilia e por suas disputas com a Rússia, Trump, como já fez com tantos, virar as costas a Bolsonaro —que, por sinal, ele só viu duas vezes na vida, talvez uma.
Os dois têm uma coisa em comum: não vacilam em jogar os amigos ao mar.
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