Como dizia Nelson Rodrigues, só mesmo estando obnubilado para acreditar que a eleição está vencida antes mesmo de ser disputada. Ou que o Sobrenatural de Almeida anda aprontando quando as manchetes mostram Lula como imbatível. A eleição ainda está longe e mais de 2/3 dos eleitores não tem candidato, mostram as pesquisas espontâneas. Não existe, como desejariam alguns, candidato imbatível.
Isso porque a vida como ela é acaba sendo um pouco diferente. Não só o bolsonarismo está forte e operante como Lula não é francamente favorito. Basta fazer as contas: em todas as pesquisas Lula aparece na frente, com 30%, 35%, mas a soma dos demais candidatos chega a 40%, 42%. Ou seja: há mais gente disposta a votar em outros candidatos do que em Lula. Isso pode mudar? Pode, mas não é a tendência verificada até aqui.
Mesmo tendo vitórias políticas, a aprovação de Lula estancou, como mostrou a pesquisa PoderData publicada em 17 de dezembro. É um complicador. O presidente tem 56% de desaprovação contra 35% de aprovação — uma diferença de 21 pontos percentuais. A mesma pesquisa registrou seu governo aprovado por 42% e desaprovado por 52% dos brasileiros.
Gostam mais do governo do que do presidente. É uma situação interessante. Indica sintomas de fadiga de material, quando o eleitor já não espera nada do político e acredita não ter ele muito a oferecer, a não ser mais do mesmo.
Lula é candidato único da esquerda, enquanto seus adversários tentam se viabilizar para um segundo turno contra ele. A candidatura de Flávio Bolsonaro é a que parece estar forte. Mas esta situação pode mudar até o início do ano, quando os candidatos serão definidos e as chapas anunciadas. O que não deve mudar é a sina de Lula, sempre enfrentando dois turnos.
Enquanto Flávio tenta fazer sua candidatura decolar, Gilberto Kassab trabalha nos bastidores. Ele hoje conta como o melhor time de presidenciáveis de centro. Seja o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos), de quem é secretário de Governo, ou os governadores Ratinho Junior (PSD), do Paraná, e Eduardo Leite (PSD), do Rio Grande do Sul. Difícil imaginar Kassab desperdiçando oportunidades.
A eleição passará por Kassab, assim como passará por Romeu Zema, governador de Minas, pelo senador Cleitinho Azevedo (Republicanos), hoje favorito para suceder Zema com 25% das preferências, e o deputado Nikolas Ferreira (PL) o mais votado do Estado. Com Flávio ou sem Flávio, a única maneira de a oposição derrotar Lula, desaprovado por 51% dos mineiros, será ganhar em Minas Gerais nos dois turnos.
Esta é a grande força de Zema, político bem-avaliado por seu eleitorado. Se Zema e Kassab se sentarem para conversar e decidirem fazer um acordo político para uma chapa com Ratinho Junior na cabeça, teremos a grande novidade para a eleição de 2026.
Ratinho é um dos governadores mais bem-avaliados, com 84% de aprovação. Zema tem 63% . Ambos conseguiram governar sem escândalos de corrupção, num tempo em que a Polícia Federal anda fazendo hora extra. Lula, por seu turno, tem o passivo do INSS e o roubo dos aposentados dia sim e outro também na mídia.
Zema e Ratinho são exemplos de políticos que podem fazer a diferença aliados. Ambos têm juízo e bom senso de sobra. Outro é o governador Ronaldo Caiado, que fez um belo trabalho na segurança pública e ganhou 80% de aprovação entre os goianos.
Caiado disputará a Presidência e será uma pedra no sapato de Lula. Crítico ácido da esquerda, tem a força do agro e fala o que pensa sem medo. Será um debatedor perigoso. Mas ainda não tem negociada uma chapa capaz de fazer a diferença em Minas.
Flávio Bolsonaro também necessita de um vice com força em Minas. Seu pai perdeu ali nos dois turnos de 2022, justamente por ter errado na relação com os mineiros.
Lula, com Alckmin de vice, tem uma grande vantagem sobre os adversários por disputar na cadeira de presidente e contar com uma máquina partidária comandada por um político extremamente competente, o ex-prefeito Edinho Silva. Se o PT é um osso duro de roer fora do governo, será mais duro ainda no poder.
Ainda veremos muitas cobras e lagartos sairem do baú de maldades do PT contra os adversários. Nunca é demais lembrar de Marina Silva, moída sem dó nem piedade pela máquina petista na eleição de 2014, carimbada como alguém que fez acordo com os banqueiros para prejudicar os trabalhadores. O próprio Ciro Gomes sentiu na pele a pressão do PT para renunciar em favor de Lula na eleição de 2022.
Desta vez, virão com tudo. Lula é o político mais experiente em atividade no Brasil. No segundo turno, em 25 de outubro de 2026, estará a dois dias de completar 81 anos. Se eleito, será o único a tomar posse quatro vezes e o mais idoso dos 23 presidentes que chegaram ao poder pelo voto popular. Para isso, precisará convencer os brasileiros de que nada será melhor do que o velho Lula lá.
Feliz Natal e um 2026 iluminado. Volto em janeiro com as baterias recarregadas.
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