Por Edney Souto
Era 1986, e Pernambuco se preparava para uma eleição histórica. Miguel Arraes, recém-retornado do exílio, voltava a disputar o governo pelo PMDB. Do outro lado, José Múcio Monteiro, jovem e ambicioso, representava o PFL e uma nova geração de líderes. A disputa parecia destinada ao conflito, mas, para surpresa de muitos, gerou mais respeito do que rancor.
O episódio mais lembrado aconteceu em um debate televisivo. Arraes, firme, e Múcio, conciliador, debatiam sobre os acampamentos de camponeses. Cada palavra carregava convicção e ética, deixando claro que, mesmo rivais, ambos partilhavam o desejo de servir Pernambuco. A semente do respeito mútuo estava lançada.
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Após a vitória de Arraes, José Múcio poderia ter se afastado ou guardado ressentimentos. Mas optou pela cordialidade. Visitou Arraes no Palácio das Princesas, gesto simples, mas carregado de significado. Nascia ali uma amizade rara, feita de respeito, admiração e reconhecimento da história do outro.
Décadas depois, José Múcio lembraria dessa postura como marco de sua própria filosofia política: adversário nas urnas, amigo na vida. Essa amizade se tornaria um fio condutor de sua carreira e das relações com a família Arraes.
O neto de Arraes, Eduardo Campos, cresceu cercado por histórias de coragem, exílio e resistência. Herdou o protagonismo político do avô e, ao longo do tempo, consolidou sua própria imagem de governante moderno. Entre Eduardo e José Múcio havia respeito e diálogo, mesmo quando visões políticas divergiam.
Essa relação mostrou como é possível conciliar inovação e tradição. Múcio admirava a capacidade de Eduardo de projetar Pernambuco nacionalmente, enquanto Eduardo reconhecia em Múcio um amigo fiel e conselheiro sábio.
Hoje, João Campos, filho de Eduardo, comanda a Prefeitura do Recife, mantendo vivo o legado da família. José Múcio permanece ao lado do jovem prefeito, provando que a amizade construída com Arraes e Eduardo se estende à nova geração.
Essa ligação demonstra que política não precisa ser feita apenas de disputas e interesses: pode ser também construída sobre confiança, lealdade e compromisso com o bem coletivo. João Campos representa a continuidade de um legado pautado em ética, diálogo e serviço à população.
Engenheiro de formação e agrônomo por vocação, José Múcio iniciou sua carreira transformando a Zona da Mata, introduzindo a ceringueira e fortalecendo o desenvolvimento local. Foi vice-prefeito e prefeito de Rio Formoso, presidente da CELPE, secretário de Energia e Transporte no governo Roberto Magalhães, deputado federal por quatro mandatos, ministro do TCU e hoje, ministro da Defesa.
Ao longo da trajetória, construiu reputação de conciliador, integrador e amigo fiel. “Aprendi desde cedo a construir pontes”, ele costuma dizer, e essa habilidade marcou sua relação com líderes, amigos e famílias políticas, incluindo os Arraes.
Entre as amizades de José Múcio, destaca-se Eudson Catão, com quem mantém laços desde 1983. No Agreste Meridional, essa amizade atravessa décadas, marcada por respeito, confiança e experiências compartilhadas. Em Palmeirina, Múcio recebeu seu primeiro título de cidadão, selando uma relação que se tornaria simbólica para sua vida pessoal e política.
Eudson Catão testemunhou a construção de pontes que se estenderam por gerações, desde Arraes até João Campos. Sua presença reforça o lado humano de Múcio, lembrando que a política é feita de pessoas, de relações e de lealdade.
José Múcio é amigo de três gerações da família Arraes: do avô Miguel, do pai Eduardo e do filho João. Cada vínculo é uma demonstração de como respeito e amizade podem coexistir com a política, superando rivalidades e transformando a história.
O exemplo de Múcio, junto com Eudson Catão, mostra que a ética, a civilidade e a humanidade não são valores em extinção. Pelo contrário, são o alicerce de um legado que atravessa décadas e inspira novas gerações.
Com a morte de Arraes e Eduardo, José Múcio segue ativo no cenário nacional como ministro da Defesa, mantendo a reputação de integridade e visão estratégica. João Campos, ao liderar o Recife, leva adiante o legado da família e mantém vivas as relações que atravessam gerações.
A amizade com Eudson Catão permanece firme, símbolo de que é possível equilibrar poder, legado familiar e relações humanas. Pernambuco, através dessa história, ensina que a política também pode ser feita de respeito, amizade e continuidade de valores. É isso!
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