Genro do ex-senador Marco Maciel, Joel Braga Filho, agradece, em nome da esposa, Gisela Maciel, a Magno Martins pela homenagem feita pelo jornalista em obra póstuma lançada, hoje, no Salão Nobre do Senado Federal.
Genro do ex-senador Marco Maciel, Joel Braga Filho, agradece, em nome da esposa, Gisela Maciel, a Magno Martins pela homenagem feita pelo jornalista em obra póstuma lançada, hoje, no Salão Nobre do Senado Federal.
Por Zé Américo Silva*
A madrugada de 10 de dezembro de 2025 será lembrada como um marco de degradação institucional. A Câmara dos Deputados aprovou o chamado PL da Dosimetria, apresentado como uma “revisão técnica” do cálculo das penas, mas que, na prática, se converteu no maior ato de complacência parlamentar com golpistas desde a redemocratização.
Ao reduzir drasticamente as sanções de quem atentou contra o Estado Democrático de Direito, a Câmara produziu um efeito jurídico direto: aliviar a situação de Jair Bolsonaro e de seus generais conspiradores, repetindo o ciclo de anistias e proteções que sempre o acompanharam desde seus tempos de medíocre capitão do Exército. A história se repete como farsa – e, desta vez, como ameaça concreta ao futuro democrático do país.
Leia maisA aprovação não foi fruto de convicção, mas de conchavos. O que se viu foi um acordo amplo, costurado no subterrâneo do Centrão, cujo objetivo real foi retirar da mesa a candidatura de Flávio Bolsonaro, lançada dias atrás como instrumento de pressão política. O PL da Dosimetria virou peça de chantagem e moeda de troca.
Seu avanço permitiu ao bloco que domina a Câmara reposicionar suas ambições para 2026, pavimentando a construção de uma nova candidatura que atenda exclusivamente aos seus interesses eleitorais e financeiros. Nada ali dialoga com o país, com a justiça ou com a sociedade. Dialoga apenas com a autopreservação de um sistema que se alimenta da própria corrosão ética.
No centro desse processo vergonhoso está o presidente da Câmara, Hugo Motta – liderança frágil, politicamente comprometida e incapaz de exercer a mínima independência institucional. A forma truculenta com que conduziu a sessão, repetindo o padrão de violência seletiva demonstrado dias antes ao mandar retirar à força um deputado que protestava, revela muito mais do que postura autoritária. Revela conveniência.
Protestos de aliados, ainda que paralisando a Casa, foram tratados com condescendência. Já manifestações da oposição receberam o peso da repressão. Dois pesos, duas medidas; duas imoralidades incompatíveis com uma democracia madura. E a Câmara se apequena junto com seu presidente.
No Senado, a tendência é igualmente sombria. O presidente Davi Alcolumbre já sinalizou disposição de atropelar o rito, acelerando a apreciação do projeto sem o devido debate constitucional. A pressa não é técnica; é política. E serve ao mesmo objetivo: aplicar um manto de indulgência sobre os condenados, sejam eles golpistas, militares traidores do juramento constitucional ou outros beneficiados colaterais da mudança legislativa. A Casa Alta parece inclinada a reiterar a desserviço que a Câmara prestou ao país.
O que está em jogo é maior do que a sorte de Bolsonaro, de um punhado de generais e de quadros políticos associados ao extremismo. O que está em jogo é a integridade da democracia, corroída por um Parlamento que legisla para si mesmo enquanto ignora os temas que realmente importam para a vida nacional. O mesmo Congresso que passa madrugadas trabalhando para reduzir penas de golpistas é o que engaveta projetos de combate à corrupção, de taxação justa dos bilionários, de regulação das fintechs predatórias, de enfrentamento às desigualdades e de responsabilização dos setores que financiam ilegalidades, inclusive o poderoso ecossistema das apostas eletrônicas que hoje irriga campanhas e parlamentares. A mensagem é explícita: proteger privilégios é prioridade; enfrentar problemas reais, não.
A madrugada de 10 de dezembro deveria envergonhar qualquer brasileiro que acredita no Estado Democrático de Direito. Diante da condução indecente das Casas Legislativas, resta à sociedade mobilizar-se. O Congresso deixou claro que não agirá em defesa da democracia; só agirá sob pressão. A resposta, portanto, não pode ser resignação.
Deve ser participação ativa, veemente, firme. O país não é obrigado a assistir passivamente à construção de uma anistia disfarçada, nem a aceitar que acordos de bastidor valham mais do que a Constituição. É oportuno lembrar que os eleitores terão em 2026 a oportunidade de renovar todos os membros deletérios da Câmara dos deputados e 54 dos 81 senadores da República.
A história registra seus dias de vergonha – e este certamente será lembrado como um dos maiores. Mas também registra seus momentos de resistência. Que a sociedade brasileira esteja à altura deste desafio.
*Jornalista
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O presidente da Subcomissão dos Presos do 8 de janeiro, deputado Coronel Meira (PL) realiza a quinta e última audiência pública, hoje, a partir das 17h, dando continuidade ao recebimento de relatos e denúncias de violações de direitos humanos praticadas contra os presos do 8 de janeiro.
“Essas audiências, vão assegurar que o Estado brasileiro cumpra seus deveres de respeito à dignidade da pessoa humana, ao devido processo legal e à integridade dos cidadãos que se encontram injustamente sob sua custódia”, afirma o deputado Coronel Meira.
Leia maisA realização de mais uma oitiva é necessária para dar prosseguimento ao trabalho de apuração das graves denúncias de violações de direitos humanos praticadas no âmbito do sistema penitenciário e também pelo poder judiciário em desfavor dos cidadãos presos em decorrência dos fatos de 8 de janeiro de 2023.
As primeiras audiências mostraram a complexidade e a gravidade dos relatos, demandando mais espaço para a oitiva de familiares, vítimas, exilados políticos, representantes legais e especialistas, de modo a garantir uma investigação ampla, aprofundada e transparente.
Para o deputado Coronel Meira, a sequência desse processo de oitiva é fundamental para que a Subcomissão reúna subsídios suficientes para a elaboração de um relatório final consistente, que exponha a realidade enfrentada pelos presos e identifique propriamente as violações de direitos e garantias fundamentais asseguradas pela Constituição Federal e por tratados internacionais dos quais o Brasil é signatário, para a tomada de providências junto aos órgãos competentes.
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Por Paulo Abou Hana*
Hoje, 10 de dezembro, completam-se quatro anos que meu pai se foi. Como o tempo voa… Parece que foi ontem que eu, na estrada a caminho de Petrolina, recebi uma ligação de um médico dizendo que papai não havia resistido a mais uma parada cardíaca.
A viagem de volta foi a mais longa da minha vida. Foi inacreditável ver meu Pai, meu herói, sendo “preparado” para ser velado e sepultado. Acompanhei e cuidei de tudo como se fosse uma última missão a ser cumprida. Que dor…
A família e os muitos amigos foram fundamentais para a “ficha” da saudade, que só cai depois. Honrarei sempre seu nome e o seu legado. Tomara que os Kardecistas estejam certos e um dia eu possa te ver, te abraçar e conversar muito com o senhor sobre tudo que vivemos e deixamos de viver também.
Te amarei sempre, meu pai.
*Advogado
Por Rudolfo Lago – Correio da Manhã
É bastante provável que a CPI do Crime Organizado seja mais uma de várias recentes no Congresso a não chegar a lugar algum. Seja, porém, qual for seu resultado, ela vai ficar marcada pela contundente sinceridade de seu relator, o senador Alessandro Vieira (MDB-SE), ao criticar a promiscuidade que hoje parece haver entre os poderes e o crime organizado.
Ao inquirir o ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski, que já foi ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Vieira pôr um dedo “Supremo” na ferida, ao afirmar, com todas as letras, que “há hoje infiltração criminosa nos poderes da República”. E citou dois fatos recentes noticiados envolvendo ministros do STF em ligações com o enroladíssimo Banco Master.
Leia maisO primeiro foi a “carona” dada a Dias Toffoli em um jatinho com um advogado do Banco Master para assistir, no Peru, à final da Taça Libertadores, entre Flamengo e Palmeiras. “Eu tenho o mau hábito de dar nome às coisas”, disse Vieira. “O escândalo que é o ministro Dias Toffoli viajar para um compromisso particular com o advogado do Banco Master e despachar em favor do pedido do advogado”.
Essa infiltração, diz Vieira, se dá “por meio de lobby que se sustenta em parte na venda de acesso a gabinetes”. Vieira não fez acusações diretas nem a Toffoli nem a Moraes, mas citou, segundo ele, “exemplos”. E poderia ter citado outros nos demais poderes também. Mas vaticinou um cenário sombrio: pode estar próxima, diz ele, a hora da prisão de um ministro de tribunal superior.
O segundo caso claramente mencionado por Alessandro Vieira foi a minuta de um contrato encontrado nos celulares e notebooks de Daniel Vorcaro com o escritório Barci Advocacia, da esposa de Alexandre de Moraes, Viviane Barci de Moraes. O contrato previa uma remuneração mensal de R$ 3,6 milhões por 36 meses para que o escritório representasse o banco em qualquer circunstância. No total, R$ 129 milhões. “O escândalo do momento é o suposto contrato entre o Banco Master e o escritório da esposa e dos filhos do ministro Alexandre de Moraes”.
“Este é um país que já teve presidente, governador, senador, deputado, governador, prefeito e vereador presos”, disse Alessandro Vieira. “Mas não tivemos nenhum ministro de instâncias superiores preso”, continuou. Para, então, concluir o relator da CPI: “Me parece que este momento se avizinha”.
Na sua resposta, Ricardo Lewandowski não citou nenhum caso específico. Disse apenas ser contrário à “qualquer desvio ético”. Mas as menções talvez o tenham também incomodado. Depois que deixou o STF, antes de assumir o Ministério da Justiça, Lewandowski foi do conselho consultivo do Banco Master.
Ainda que Vieira tenha citado especificamente dois casos do Supremo, não é somente ali hoje que as coisas se complicam. Como o Correio Político lembrou, há hoje mais de 30 parlamentares investigados por desvios com emendas orçamentárias. E os esquemas do INSS agora arrastam mais alguns políticos.
Isso tudo num tempo de complicadíssimo conflito e de falta de harmonia entre os poderes. Cada ação autorizada por ministro do Supremo para investigar políticos é respondida com reação do Congresso. E em nada ajudam notícias que envolvam diretamente ministros da Suprema Corte e que fiquem sem explicação.
A Câmara primeiro tentou se blindar com a fracassada PEC que o Senado barrou. Então, o STF tenta se blindar com a decisão tomada pelo ministro Gilmar Mendes limitando a possibilidade de pedidos de impeachment de integrantes da Corte. Onde tudo irá parar, é imprevisível. Talvez haja aí um caminho para a CPI.
O presidente do STF, Edson Fachin, falou em criar um código de ética para os tribunais superiores. Houve reação dos colegas. Se Fachin não conseguir estabelecer tais limites pelo Judiciário, quem sabe talvez haja por aí a possibilidade de a CPI relatada por Alessandro Vieira não ser mais uma a acabar em pizza.
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Por Marcelo Diniz*
O debate sobre o chamado “PL da dosimetria” foi vendido como um acerto de contas com supostos excessos do Supremo Tribunal Federal nas penas do “8 de janeiro”. Mas o texto aprovado pela Câmara vai muito além de Bolsonaro e dos réus da trama golpista.
Ao mexer na Lei de Execução Penal e no capítulo dos crimes contra o Estado Democrático de Direito, o Congresso alterou engrenagens centrais do sistema penal. E fez isso num momento em que o próprio Legislativo discute leis para endurecer o combate às facções criminosas e milícias. O resultado é um conjunto contraditório de normas, que pode abrir brechas para antecipar a soltura ou até evitar a prisão de integrantes de organizações criminosas.
Leia maisOs defensores do projeto insistem em um ponto: o texto endurece a regra de progressão para quem exerce comando de facção ou constitui milícia, exigindo o cumprimento de ao menos 50% da pena, em vez dos 40% hoje aplicados em crimes hediondos sem morte. É verdade. O inciso VI do novo artigo 112 da Lei de Execução Penal fixa esse patamar para o comando de organização criminosa estruturada para crime hediondo, e o inciso VII faz o mesmo para a constituição de milícia privada. Mas essa vitrine de rigor esconde o movimento de fundo: o mesmo artigo 112 volta a consagrar a progressão após 1/6 da pena como regra geral – e, pior, expande esse benefício para crimes cometidos com violência ou grave ameaça que não se enquadrem como hediondos nem como crimes contra a vida ou o patrimônio.
Na prática, uma série de delitos frequentemente associados à atuação de organizações criminosas – como exploração sexual, certos crimes econômicos, corrupção em licitações e outras condutas previstas fora dos títulos de vida e patrimônio – passam a exigir menos tempo em regime fechado para progressão. São justamente esses delitos periféricos que, somados, alimentam o caixa e o poder territorial de facções e milícias. Ou seja: ao mesmo tempo em que o Congresso aprova um marco legal de combate ao crime organizado, com penas mais duras e percentuais mais altos para progressão em crimes hediondos e para chefes de organizações, o PL da dosimetria puxa o sistema para o lado oposto em uma parte relevante do Código Penal.
O risco de beneficiar, direta ou indiretamente, integrantes de organizações criminosas não é retórico. Ele decorre de três movimentos combinados:
O relatório da Câmara deixa claro: o objetivo foi “retomar consagrada redação quanto ao tempo necessário para progressão de regime”, aplicando o patamar de 1/6 de cumprimento inclusive para crimes com violência ou grave ameaça, salvo algumas exceções. Para crimes não hediondos, mas graves – como determinados delitos econômicos, contra a administração ou ligados à exploração de pessoas – isso significa menos tempo na prisão antes do semiaberto. É um presente também para o braço financeiro de facções e milícias.
A alteração do artigo 126 da LEP deixa expresso que o condenado em regime domiciliar poderá remir pena por trabalho ou estudo. A prática já vinha sendo admitida por decisões do STJ em casos específicos; agora, ganha chancela legal ampla. Em tese, é um avanço civilizatório. Na prática, em um país com enorme déficit de fiscalização e monitoramento eletrônico, abre espaço para que condenados vinculados a organizações criminosas acelerem o fim da pena fora do presídio, em ambiente em que o controle estatal é muito mais frágil.
As mudanças foram desenhadas para retroagir. Isso significa que condenados por crimes graves – inclusive integrantes de organizações criminosas que não se enquadrem na faixa mais dura de hediondos com morte ou comando formal de facção – poderão pedir recontagem de penas, progressões antecipadas e conversão de regime.
A combinação desses elementos cria uma janela de oportunidade para a atuação em cadeia de advogados de facção: uma lei aprovada sob o pretexto de corrigir “excessos” no 8 de janeiro passa a ser argumento para soltar antes da hora quem lucra com o crime organizado. O PL foi pensado para atingir um núcleo bem específico: os condenados pelo golpe de Estado e pela abolição violenta do Estado Democrático de Direito. A unificação das penas desses crimes, em concurso formal, reduz de forma drástica o total a ser cumprido por Bolsonaro e outros réus de alto escalão – cálculos divulgados apontam cenário de pouco mais de dois anos de regime fechado em vez de mais de sete. Só que a lei não é cirúrgica. Ao mexer no Código Penal e na Lei de Execução Penal, o Congresso recalibra o sistema inteiro. As mesmas regras que hoje são apresentadas como gesto de “reconciliação” com uma parcela dos golpistas poderão ser invocadas por réus de crimes violentos e por integrantes da engrenagem de facções e milícias.
Esse efeito colateral é particularmente grave num país em que o próprio governo calcula a existência de dezenas de facções e milícias atuando no território nacional, algumas com alcance transnacional. Não é trivial afrouxar as engrenagens da execução penal justamente quando se tenta estrangular o poder econômico e territorial dessas organizações.
A contradição política é evidente. De um lado, o Executivo envia ao Congresso projetos que criam o tipo penal de facção criminosa, ampliam penas, agravam circunstâncias qualificadoras e fortalecem a investigação patrimonial e a cooperação internacional. De outro, a Câmara aprova, em votação tensa e acelerada, um texto que:
É um recado confuso: endurecer na vitrine (“comando de facção”, “milícia privada”), mas abrir atalhos no miolo da legislação penal – justamente onde as organizações criminosas se sofisticam, lavam dinheiro, capturam contratos e exploram populações vulneráveis. Há ainda um efeito político-jurídico que não pode ser ignorado.
Ao introduzir conceitos abertos como “mesmo contexto” e “multidão” e ao selecionar, por lei, o tipo de concurso de crimes a ser aplicado pelo juiz, o Congresso cria um terreno fértil para disputas intermináveis de interpretação.
Essa ambiguidade interessa a quem tem estrutura para litigar sem prazo: grandes escritórios criminalistas, réus com poder econômico e, naturalmente, cúpulas de organizações criminosas. Cada brecha semântica vira um novo caminho recursal; cada regra retroativa, um novo pedido de revisão. Quando o alvo aparente é um grupo politicamente identificado – os golpistas de 8/1 –, mas o efeito normativo respinga em todo o sistema, a sensação de “virada de mesa” não se limita à política. Ela alcança a segurança pública e o combate ao crime organizado.
Defender o Estado Democrático de Direito não é apenas punir exemplarmente quem tentou derrubar as instituições. Também é garantir que o país não se torne mais vulnerável a facções, milícias e organizações criminosas que se alimentam da fragilidade do sistema penal. Ao aprovar o PL da dosimetria, a Câmara optou por uma solução aparentemente intermediária entre anistia ampla e manutenção integral das penas definidas pelo STF. Mas, ao fazer isso, mexeu em pilares da execução penal que vão muito além do 8 de janeiro.
O Senado terá agora a oportunidade – e a responsabilidade – de corrigir essa rota. Não se trata de blindar um ex-presidente ou de manter inimigos políticos atrás das grades a qualquer custo. Trata-se de uma pergunta mais simples e objetiva: Faz sentido, em plena expansão do crime organizado, aprovar uma lei que pode encurtar a prisão ou até impedir o encarceramento de integrantes de organizações criminosas (tenham elas atuação política ou não)?
Se a resposta for não, o caminho é claro: revisar o texto, separar o que diz respeito ao 8 de janeiro do que impacta o resto do sistema penal e fechar, em vez de alargar, as brechas que hoje interessam tanto aos golpistas quanto às facções.
*Empresário, coordenador-geral estadual do Instituto Afro Origem
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Por Inácio Feitosa*
Há mudanças silenciosas que raramente viram manchete, mas alteram a espinha dorsal do Estado. Em 2025, duas normas assim redesenharam o futuro da educação inclusiva no Brasil: o Decreto Federal nº 12.686/2025 e a Resolução nº 296/2025 do Tribunal de Contas do Estado de Pernambuco. Juntas, essas normas instauram um novo regime jurídico que simplesmente não admite aquilo que, por décadas, foi regra em milhares de municípios: improviso, contratações frágeis e cuidadores informais que sustentavam, precariamente, uma política que deveria ser técnica, estável e contínua.
O decreto federal estabelece o padrão nacional de inclusão escolar. Determina que estudantes com deficiência, com Transtorno do Espectro Autista (TEA) e com Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) devem receber apoio especializado dentro da escola regular, com parâmetros mínimos de qualidade e com profissionais devidamente preparados. Não se trata apenas de garantir acesso; trata-se de assegurar aprendizagem, permanência, segurança e dignidade. A inclusão deixa de ser apêndice e passa a ser eixo de organização das redes municipais.
Leia maisO profissional de apoio escolar – figura central nessa engrenagem – passa a ter perfil técnico definido: formação mínima de 80 horas, domínio de estratégias de mediação e compreensão das necessidades sensoriais e comportamentais de cada estudante. O país, enfim, estabelece um padrão de quem pode e quem não pode exercer uma função tão sensível.
Mas é a Resolução nº 296/2025 do TCE-PE que torna esse padrão possível. Se o decreto descreve o “como deve ser”, o Tribunal de Contas descreve o “como pode ser contratado”. A resolução exige que todo profissional esteja vinculado a cargo criado por lei, determina que concursos observem critérios objetivos e limita o uso de temporários a hipóteses realmente excepcionais. A regra é direta: sem lei municipal criando o cargo de Auxiliar de Desenvolvimento à Inclusão, qualquer contratação é irregular.
E aqui está o ponto que 2026 transformará em divisor de águas. A demanda por inclusão é permanente. Crianças neurodivergentes chegam à escola todos os anos. Não é eventual, não é transitória, não decorre de calamidade. Portanto, o uso de contratos temporários – prática histórica no Nordeste – não encontra mais respaldo jurídico. A resolução proíbe substituição permanente por mão de obra temporária e impõe limite de 30 % de vínculos precários no serviço público, percentual que grande parte das redes ultrapassa quando o assunto é inclusão.
O Manual de Seleções Públicas do TCE reforça que até seleções simplificadas precisam de editais estruturados, critérios objetivos e ampla divulgação. Ficou para trás a era das listas internas, convocações diretas ou renovações automáticas de contratos. A partir de agora, o que antes era tratado como “arranjo administrativo” passa a ser visto como irregularidade.
A mensagem é inequívoca: insistir em cuidadores informais, monitores improvisados ou contratações sem formação mínima deixará de ser tolerado. O secretário que mantiver profissionais sem ensino médio ou sem as 80 horas de formação mínima poderá responder por violação aos princípios da legalidade, da moralidade e da proteção integral da criança. O risco não é teórico. O Ministério Público pode propor ações de improbidade. O TCE pode glosar despesas, determinar devolução de valores, ordenar substituição de profissionais irregulares e rejeitar contas. Famílias poderão acionar judicialmente os municípios por danos decorrentes da ausência de apoio adequado.
E a responsabilidade não recai apenas sobre o secretário. O Controle Interno tem o dever de impedir a continuidade das irregularidades. A Procuradoria Municipal não pode emitir pareceres que validem cargos inexistentes ou vínculos precários. E o prefeito responde solidariamente: quando a irregularidade persiste, a omissão é compartilhada.
É verdade que os municípios continuam à margem de um arranjo federativo desigual. A União define padrões, cobra qualificação, fixa formações, mas repassa recursos insuficientes. Municípios – especialmente nordestinos – arcam com mais de 70 % da educação básica e sustentam a inclusão praticamente sozinhos. Ainda assim, o fato jurídico permanece: a obrigação existe. E, enquanto gestores discutem orçamento, quem sofre são as crianças.
Por isso, a história de Maria – a menina do agreste que se esconde debaixo da mesa quando o mundo pesa demais – permanece como símbolo. Maria não é personagem literário; é diagnóstico. É espelho de milhares de crianças que seguem invisíveis às normas, aos sistemas e às urgências administrativas. Quando o gestor posterga a criação do cargo, adia concursos ou mantém contratações informais, ele não descumpre apenas a lei: prolonga o sofrimento de Maria. Diz a ela, sem palavras, que continuará invisível.
A transição é dura, mas necessária. A era do improviso acabou. Começa a era da responsabilidade – jurídica, administrativa, ética e humana. O momento exige coragem para criar cargos, definir atribuições, estruturar formações, reduzir temporários e cumprir a Resolução nº 296/2025 em sua integralidade.
As crianças brasileiras – especialmente as do Nordeste – não podem mais esperar que a inclusão funcione “como der”. Precisam que funcione como deve ser.
*Advogado, diretor e fundador do Instituto IGEDUC
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O Sextou desta semana traz um tributo a Dalva de Oliveira, a ‘Rainha do Rádio’. A cantora e compositora paulistana, de ascendência portuguesa, brilhou nas décadas de 40 e 60. Entre as canções eternizadas em sua voz, destaques como ‘Tudo acabado’, ‘Que será’, ‘Estão voltando as flores’, ‘Ave Maria no Morro’, ‘Bandeira Branca’ e ‘Máscara Negra’.
O retrato desta diva da MPB será traçado pela cantora, atriz e escritora carioca Mona Vilardo. Mona faz shows pelo Brasil afora cantando Dalva de Oliveira e é autora de um livro em linguagem infantil – ‘Dalva, minha vó e eu’.
O Sextou vai ao ar na próxima sexta-feira, das 18h às 19h, pela Rede Nordeste de Rádio, que reúne 48 emissoras em Pernambuco, Paraíba, Alagoas e Bahia, tendo como cabeça de rede a Rádio Folha 96,7 FM, no Recife. Para ouvir pela internet, acesse o link do Frente a Frente no topo desta página ou baixe o aplicativo da Rede Nordeste de Rádio na Play Store.
Numa noite marcada pela alegria e beleza, o prefeito do Cabo de Santo Agostinho, Lula Cabral, abriu oficialmente, ontem, as festividades natalinas no município. Um cenário especial foi montado na Praça 9 de Julho, que se transformou em um grande cenário cheio de luzes, símbolos e personagens, incluindo uma Árvore de Natal gigante, a casa do Papai Noel, um presépio completo e outras dezenas de elementos, para receber os cabenses e visitantes.
“A iluminação natalina transforma nossa cidade, traz beleza, alegria e reforça o sentimento de alegria e união nesta época tão especial. Queremos que cada família que mora ou visita o Cabo sinta esse clima e tenha orgulho de ver sua comunidade mais bonita e acolhedora”, afirmou Lula Cabral, antes de acionar a chave que acendeu a iluminação da praça.
Leia maisO coral da Secretaria de Educação abriu a noite com um repertório clássico. A programação seguiu com o auto de Natal Ao Divino Vamos Celebrar, a apresentação das crianças do SCFV do Cras da Charneca e o show da Turma do Sorriso.
Uma sequência de queima de fogos iluminou o céu, anunciando a chegada do personagem mais esperado da noite: o Papai Noel. Ao chegar à casa montada especialmente para a programação, o “bom velhinho” se acomodou na poltrona vermelha e começou a receber as crianças. “Foi a coisa mais linda que já vi”, disse a pequena Jéssica Silva, de 7 anos, sobre a festa preparada pela Prefeitura do Cabo.
Decoração – Este ano, toda a cidade recebeu uma decoração natalina especial nas principais ruas, avenidas e equipamentos públicos. Em Pontezinha, além das luzes instaladas nas áreas centrais, a Prefeitura instalou uma árvore de Natal de 8 metros de altura. Em Ponte dos Carvalhos, o Parque dos Eucaliptos ganhou cor e brilho com elementos temáticos. Bairros como Pirapama, Charneca e o distrito de Juçaral também estão se vestindo de luz, assim como o Palácio da Cultura, que receberá iluminação especial em sua fachada.
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Em resposta ao texto divulgado ontem, pelo presidente do Conselho de Administração da Compesa, Alex Machado Campos, sobre os indicadores utilizados na modelagem da concessão dos serviços de saneamento em Pernambuco, a Procompesa, associação de atuação técnica, formada por profissionais de carreira da Compesa, emitiu uma nota. No documento, a entidade reafirma a existência de dados irreais no Edital da Concessão. Confira abaixo a nota na íntegra:
Nota oficial da Procompesa
A Procompesa, associação de atuação técnica, formada por profissionais de carreira da Compesa, que tem por finalidade defender a universalização dos serviços de abastecimento de água e esgotamento sanitário em Pernambuco, de forma sustentável, diante da nota divulgada pelo presidente do Conselho de Administração da Compesa, Alex Machado Campos, vem a público, por meio desta nota, reafirmar a existência de dados irreais no Edital da Concessão para os índices de atendimento de esgoto em 66 municípios, que gerará um prejuízo de R$ 2,9 bilhões aos cofres públicos.
Leia maisCom todo respeito ao presidente do Conselho de Administração, não é admissível que a defesa, para um erro desta gravidade e magnitude, se resuma a tecnicidades e retórica, sem qualquer comprovação, que não sustentam a legalidade e a coerência técnica da modelagem.
Ao falar dos erros nos indicadores em 66 municípios, a Procompesa se baseia em dados reais, levantados e confirmados na fase de diagnóstico do projeto do BNDES.
Diagnóstico que, conforme o próprio presidente afirma, teve a participação ativa da Compesa no fornecimento de dados detalhados sobre a realidade operacional e a infraestrutura de cada município. Ainda assim, em prol da verdade, esta associação teve o cuidado de confirmar as informações antes de protocolar a denúncia.
Ao falar da consistência dos dados, o presidente Alex Campos afirma que os estudos se basearam em “fontes oficiais”. Cabe ressaltar que estas fontes de dados são historicamente reconhecidas, por especialistas do saneamento, pela falta de confiabilidade das informações, como veiculado recentemente na matéria da Folha de São Paulo, razão que justifica a necessidade da realização de diagnóstico nos estudos para avaliação em campo da realidade de fato dos serviços nos municípios, como foi feito.
O caso mais emblemático, de Serra Talhada, que apresenta a maior distorção da realidade, nem sequer foi citado na nota do Presidente. Cabe lembrar que para este relevante município, com 92mil habitantes, o Edital adota um índice de atendimento de 86%, enquanto a realidade é de 0%. Esta informação, inclusive, foi confirmada pela prefeitura de Serra Telhada, em apuração realizada pelo jornalismo da Folha de São Paulo, e publicado em matéria veiculada no dia 8/12 pela Folha e por este blog.
Voltamos a afirmar para a sociedade Pernambucana: a realidade de fato é que não há sistema de esgoto em operação em Serra Talhada, nem nos demais 65 municípios, seja pela Compesa ou pelas prefeituras, nos termos da Norma Regulamentadora da ANA. Convocamos qualquer interessado e os órgãos de controle para, em uma simples auditoria, constatar esta afirmativa.
Ademais, cabe esclarecer que a existência de infraestrutura inacabada, fora de operação, nos termos da norma, não pode ser contabilizada no atendimento. Qualquer infraestrutura identificada precisa ser adequadamente inventariada para apuração de seu estado físico e de seu efetivo cumprimento as normas técnicas de implantação e operação, bem como à regulamentação para a prestação dos serviços, e não apenas ser citada sem qualquer referencial técnico que embase a quantificação do atendimento.
Não podemos repetir o erro do Rio de Janeiro, onde as concessionárias já cobram bilhões em compensação pelos mesmos problemas de superestimação de índices de atendimento de esgotamento sanitário.
Não há tempo a perder. A omissão de hoje será o lamento de amanhã, quando milhões de pernambucanos eventualmente se vejam privados de serviços essenciais por conta de decisões administrativas irregulares que podem – e devem – ser impedidas pela atuação vigilante do controle externo.
Anderson Santos Quadros – diretor-presidente da Procompesa
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A comunidade católica de Itapissuma recebeu com estranheza os ataques proferidos contra o Padre Neto Feitosa, pároco da Paróquia de São Gonçalo do Amarante. O sacerdote relata que foi alvo de ataques de um possível gabinete do ódio paralelo na cidade. O episódio aconteceu depois de sua fala no encerramento da Festa de Nossa Senhora da Conceição, na última segunda-feira.
Em sua mensagem, o sacerdote pediu por mais respeito, parceria e compromisso com as tradições religiosas que moldam a fé e a identidade do povo itapissumense, por parte da Prefeitura Municipal de Itapissuma. O Padre Neto lembrou que, por muitos anos, Igreja e gestão municipal caminham juntas, mas que recentemente essa parceria tem enfraquecido, trazendo desafios para a realização das festas dos padroeiros.
Após o episódio, o padre passou a ser alvo de mensagens ofensivas e ataques pessoais em redes sociais e grupos de WhatsApp. Para esclarecer os fatos, Padre Neto gravou um vídeo e reafirmou que seu único propósito sempre foi defender sua comunidade, sua paróquia e a fé que move tantos corações em Itapissuma.
Funcionários de três abatedouros mantidos pelo Governo de Pernambuco paralisaram as atividades em greve por falta de pagamento dos salários. Os equipamentos, situados nos municípios de Itambé e de Paudalho, ambos na Mata Norte, e de Escada, na Mata Sul, produzem e forneceram carnes de bovinos, suínos, ovinos e caprinos para dezenas de cidades das regiões.
Os contratos são de responsabilidade do Centro de Abastecimento e Logística de Pernambuco (Ceasa) e da Secretaria de Desenvolvimento Agrário, que, até o momento, não sinalizou quando regularizará a situação. A estimativa é que cada abatedouro realiza o corte médio de 80 a 100 animais por dia.
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Com a paralisação das atividades, o temor é que o preço dos produtos suba em virtude da escassez dos alimentos, impactando comerciantes, especialmente as feiras livres, e principalmente os consumidores.
Trabalhadores desses abatedouros regionais alegam que os atrasos nos salários persistem há meses, o que têm ocasionado prejuízos às famílias. Ao todo, mais de 150 funcionários estão sendo afetados com a falta dos pagamentos. Além das queixas sobre as remunerações, também há relatos de corte nos auxílios alimentação e vales-transportes.
Esta não é a primeira que abatedouros públicos mantidos pelo Governo de Pernambuco paralisam as atividades devido à falta de pagamentos dos trabalhadores. Em novembro de 2023, uma greve suspendeu a produção e fornecimento em quatro locais do estado – Itambé, Paudalho, Ribeirão e Escada – prejudicando a cadeia de produção para mais de 90 cidades e afetando mais de 250 funcionários.
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O presidente da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado, Otto Alencar (PSD-BA), escolheu o oposicionista Esperidião Amin (PP-SC) como relator do projeto de lei que trata da redução de penas aos envolvidos no 8 de Janeiro, o chamado “projeto da dosimetria”. A proposição deverá entrar na pauta da CCJ na próxima semana. As informações são do portal Estadão.
Amin é aliado e amigo do ex-presidente Jair Bolsonaro há 34 anos. Foi ele quem, inclusive, incluiu na votação do Código Eleitoral no colegiado um trecho para permitir o voto impresso. A Câmara aprovou o projeto da dosimetria na madrugada desta quarta-feira, 10, com um placar de 291 a 148. Esse texto, além de favorecer cidadãos que depredaram as sedes dos Três Poderes, também pode beneficiar Bolsonaro.
Leia maisO presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP), disse no Senado nesta terça-feira que logo após a aprovação na Câmara traria a matéria para o plenário da Casa. O presidente da CCJ, Otto Alencar (PSD-BA) e outros senadores como Renan Calheiros (MDB-AL) protestaram. Alcolumbre acatou aos protestos e enviou a matéria par a comissão.
“Combinei com o senador Davi Alcolumbre porque o Senado não pode, como já foi algumas vezes, ser cartório da Câmara, de aprovar lá e ter uma decisão cartorial referendando o que passou lá. Isso é uma coisa absolutamente inaceitável”, disse Otto.
A redação “concede anistia aos participantes das manifestações reivindicatórias de motivação política” ocorridas entre 30 de outubro de 2022 e a data de entrada em vigor a lei.O prazo extenso compreende desde os acampamentos golpistas erguidos a partir da derrota eleitoral de Bolsonaro e a insurreição que culminou nos ataques aos prédios dos Três Poderes, em 8 de janeiro de 2023.
Isto é, a anistia beneficia toda a cúpula que virou ré no STF no julgamento da trama golpista, incluindo generais e ex-ministros do governo Bolsonaro, e os bolsonaristas que acamparam em frente ao QG do Exército e participaram dos ataques na Praça dos Três Poderes.
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