Por Américo Lopes, o Zé da Coruja*
Ofereço a Mary, minha mulher, meus filhos Tiago e Raquel, meus netos Bernardo e Duda, e minha nora Bárbara
Caríssimo Magno,
Suas crônicas domingueiras têm se transformado em refúgios de acolhimento e até mesmo de perdão (no meu caso, meu mistério), pois são permeadas por grande valor estético, literário e cristão. Esses elementos estão lá, e nem precisa usar lupa.
Afogados da Ingazeira, Riacho do Mel/Coruja, nosso Sertão de vidas secas, acabaram de pedir Aracataca/Macondo em casamento. A comemoração será no Riacho do Mel, desculpe aí, com os coronéis Lopes abrindo o champanhe. Até os bichos dos currais beberão.
Leia maisA impressão que dá, pelas maravilhosas manifestações dos seus internautas — entre os quais honrosamente me incluo —, é que essas suas crônicas domingueiras tornaram-se um legítimo acontecimento cultural em Pernambuco. Pode botar no calendário e festejar. Não tem nada mais novo ou melhor.
Era uma vez um menino do interior que, como milhões de iguais, deu de cara com um livro chamado “Cem Anos de Solidão”, que exigiu a leitura quase que total da extraordinária obra desse gênio Gabriel García Márquez.
O conhecimento do gelo apresentado ao vilarejo de Macondo pela cigano Melchíades; o sangue do filho assassinado que venceu grandes distâncias até chegar aos pés da mãe; os mortos mostrando os ferimentos aos vivos e ameaçados de morrer de novo se não deixassem de assombrações tolas e perigosas, e tantas outras maravilhas de encantamento e magia.
Esse livro foi o elemento de fusão entre o garoto pobre assombrado com a cidade grande e um passado lindo e feliz deste garoto, daqueles que vale a pena ter vivido. Dúvida zero.
Se o menino Gabriel García Márquez preparou-se para ser o maior escritor e jornalista do século XX e de muitos séculos, decerto há três elementos em sua obra ditos por ele mesmo que o fizeram gigante: o escritor americano Faulkner, a Bíblia, que ele leu, trancado, até quase ficar louco (a barba cresceu tanto que o homem virou um eremita) e, não menos importante, o seu avô materno que, ao caminhar com ele de mãos dadas, parava bruscamente e dizia: “Gabo, você não sabe o peso de ter matado um homem”.
Magno, em “Cheiro de Goiaba” o nosso herói Gabo revelou que só mandava o livro para a edição depois que dele emanava o cheiro das coisas, fossem as frutas e até mesmo a merda do coronel nas privadas úmidas e fora de casa. Estou dizendo isso porque as suas crônicas estão com cheiro de goiaba, de manga, de laranja lima e até mesmo da pólvora dos festejos de final de ano.
Em pleno domingo dou de cara (damos de cara) com o Gabo garoto e suas andanças por esse mundo mágico: sua pequena Macondo. “O Tejo é mais belo que o rio que corre pela minha aldeia. Mas o Tejo não é mais belo que o rio (Pajeú) que corre pela minha aldeia. Porque o Tejo não é o rio que corre pela minha aldeia.”
Você anda gastando seu tempo conosco, seus pobres leitores, que estamos a fazer de cada domingo uma farra, com pão, peixes e vinhos, e armados com o anzol da esperança para ver se pegamos uma simples piabinha na sua gigantesca sensibilidade.
Pode mandar mais, somos comilões desse banquete nuclear que você nos oferece todos os domingos. Vai, Pelé, vai Garrincha, vai Ademir da Guia, pois é isto o que tu és: craque do meu Pajeú das Flores, do meu irredentista Pernambuco, do Nordeste e do Brasil.
Do seu admirador,
Zé da Coruja.
*Diretor operacional da Folha de Pernambuco
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