*Por Rinaldo Remígio
Há histórias que nascem em cartórios, livros ou praças. Outras, porém, nascem num gesto simples, numa frase solta, num apelido que atravessa décadas. E foi exatamente assim que nasceu “Finfa” — não o nome de batismo, mas o nome que se fez público, conhecido e, mais do que isso, respeitado.
Essa história me foi contada pelo próprio Júnior Finfa, e confesso: me tocou de maneira especial. Porque não se trata apenas de um apelido, mas de uma memória viva da Afogados de outrora — aquela cidade onde as relações se faziam na presença, na rotina e no afeto.
Leia maisEra década de 70. Seu Zezito Sá, funcionário dos Correios e Telégrafos, levava seu filho pequeno para o trabalho. O menino subia numa cadeira e, com entusiasmo, carimbava cartas, como quem já queria deixar sua marca no mundo.
Entre envelopes e risos, um colega de trabalho de Zezito, o sempre espirituoso Seu Gastão Cerquinha, lançava um aviso bem-humorado:
“Cuidado para não cair, Finfa!”
Pronto. Bastou isso.
A palavra “Finfa”, nascida ali no calor da convivência, saltou da agência dos Correios para os campinhos de bola, os corredores da escola, os jogos de pião e de chimba, a bola de gude. A criança cresceu, o apelido ficou. E com o tempo, tornou-se o nome pelo qual Júnior seria conhecido em toda a região — jornalista, colunista, cronista atento da vida política e social do nosso sertão.
Mas o que mais emociona nessa história não é a origem engraçada do nome. É o laço que ela revela. Porque mesmo anos depois, sempre que Júnior encontrava Seu Gastão, a pergunta vinha certeira, como um ritual:
“Finfa, você sabe de onde surgiu Finfa?”
E ele respondia, sorrindo:
“Sei sim, foi o senhor.”
O que Seu Gastão fez foi mais do que batizar um menino com um apelido. Ele plantou uma marca, sem saber que ali havia futuro, que ali nascia uma identidade. Porque nomes são isso: construções de afeto, memória e pertencimento.
Em tempos onde tudo parece rápido e descartável, ouvir uma história dessas nos lembra do valor das pequenas coisas — de um carimbo, de uma cadeira, de um sorriso, de uma palavra lançada no tempo e abraçada pela vida.
E assim, entre carimbos e cartas, nasceu Finfa. E com ele, uma linda história daquilo que a gente leva da vida: os nomes que nos dão, os afetos que nos moldam, e as memórias que ninguém jamais poderá apagar.
*Professor universitário e memorialista
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