Por Andreza Matais
Do UOL
O União Brasil — quarto maior partido do país — não vai ter candidatura própria em 2026, segundo defendeu em entrevista à coluna o deputado federal Elmar Nascimento (BA), líder na Câmara.
Um movimento do partido que inviabilize Caiado pode deixar Lula praticamente sem adversários de peso em 2026 — o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), outro cotado, já disse que irá disputar a reeleição, e o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) está inelegível.
Elmar defende que o União decida até fevereiro se fica ou desembarca do governo Lula. Para ele, seria “traição” ao presidente Lula (PT) permanecer no governo com três ministérios até a “úndécima hora” e lançar candidatura própria em 2026 em oposição ao petista.
Leia mais“Não dá para a gente ficar falando em candidatura própria ou abrindo ou flertando com a candidatura adversária por dentro do governo”, afirmou.
Veja a entrevista feita em Lisboa, onde Elmar participou do Lide Brazil Conference Lisboa, promovido pelo Lide, UOL e Folha de S.Paulo.
UOL – As eleições municipais empoderaram o centro. Esses partidos irão cobrar mais protagonismo no governo Lula?
Elmar Nascimento – Passados os primeiros dois anos do governo, agora nós teremos um novo realinhamento com vistas a 2026. Acho legítimo que o presidente faça uma repaginada com gente que ele saiba que vai estar ao lado dele na reeleição.
UOL – O seu partido tem um candidato e, portanto, não estará…
Elmar – Não seria muito legítimo alguém ocupar espaço dentro do governo com os bônus que isso traz e, quando chegar na convenção, faltando seis meses para a eleição, fazer de conta que não participou do governo, que não tem nada com aquilo e lançar candidato próprio ou apoiar outro candidato. Não acho isso leal. Portanto, qualquer partido que deseje ter um voo próprio ou escolher outro caminho deve deixar o lugar para os outros.
UOL – E fazer oposição a Lula?
Elmar – Nós temos uma pauta econômica que é importante. Independentemente de qualquer coisa, a gente vai votar a favor, mas o partido [se optar por candidatura própria] deveria deixar o lugar para quem quer estar ao lado do presidente em 2026. Se o meu partido não tomar uma posição agora, permitindo que a gente continue no mesmo jogo, votando com o governo, participando do governo, usufruindo dos cargos, eu não vou virar as costas em 2026. Vou apoiar o presidente. A política não perdoa traição.
UOL – Vai ter um racha no partido com o grupo que defende a candidatura do Caiado?
Elmar – Não vai ter racha, porque a gente pode conseguir levar [o partido a apoiar Lula].
UOL – Quando essa decisão de permanecer ou desembarcar do governo deve ser tomada?
Elmar – O momento dessa discussão é depois das eleições para o Congresso [em fevereiro de 2025]. Pelo timing de virar dois anos do governo Lula.
UOL – O senhor irá defender que o partido siga com o presidente Lula?
Elmar – Não dá para a gente ficar falando em candidatura própria ou abrindo ou flertando com a candidatura adversária por dentro do governo. Se o partido quiser ter um projeto próprio, tem que sair ou estará enganando alguém. Como é que você pode querer, por exemplo, que o ministro Juscelino [Filho, Comunicações], que o ministro Celso Sabino [Turismo] ou que o presidente Davi Alcolumbre, que indicou o ministro da Integração Nacional, que é um dos ministérios mais importantes do país, fiquem contra o governo? Seria desleal da parte deles.
UOL – Nessa lógica, o partido pode rifar a candidatura própria em 2026 só para manter os cargos?
Elmar – Eu tenho indicação de um cargo que, do ponto de vista político, para a minha região, é muito importante, que é o presidente da Codevasf. O que eu posso lhe dizer é que, se eu chegar em 2026 ocupando a Codevasf, com certeza eu vou votar no presidente Lula, independentemente da posição do meu partido. Eu, pelo menos, não consigo indicar cargo, participar do governo para chegar em 2026 e ficar contra o governo.
UOL – Seria melhor para o partido o governador Caiado retirar seu nome da disputa?
Elmar – Eu, no lugar dele, provocaria esse debate. Até para ele não ficar dois anos passeando e depois não ser candidato. Mas imagina só, como é que ele pode ir falando em ser candidato se o partido está no governo?
UOL – O Congresso capturou o orçamento público e usa os recursos de acordo com seus interesses políticos, e não do país. O STF está correto em por um freio?
Elmar – Por que quando um ministro de uma área temática como a agricultura decide aplicar recursos do seu ministério de forma diferente e desproporcional para a sua região em detrimento de outra, isso não é questionado, e quando é é feito por um deputado, é questionado?
UOL – O Supremo cobra transparência no processo de indicação dos recursos. Tem legitimidade para isso?
Elmar – O Poder Judiciário aponta o dedo para a gente, quando deveria apontar o dedo para a sua casa, com os supersalários que a gente já devia estar discutindo, com as várias distorções que existem.
UOL – O senhor defende anistia aos golpistas do 8 de Janeiro que o ministro Alexandre de Moraes mandou prender. Quando era candidato à presidência da Câmara, o PL pediu isso em troca de apoio?
Elmar – Sou a favor da pacificação e de a gente encontrar um meio-termo que não desmoralize o Judiciário.
UOL – A anistia alcança o ex-presidente Bolsonaro?
Elmar – A condenação dele foi pela manifestação com os embaixadores. Aquilo não tem consequência criminal nenhuma. Teve uma consequência eleitoral e não cabe anistia para isso.
UOL – Já superou o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), ter escolhido Hugo Motta (Republicanos-PB), e não o senhor para sucedê-lo?
Elmar – Não se ganha tudo. Muita gente se prepara a vida toda para uma coisa e não dá certo, e tem gente que não faz nada e dá certo. É, como a Presidência da República. Dizem que é destino, não é? Bolsonaro faz tudo errado e virou presidente.