Em convenção nesta sexta-feira (30), o PSB oficializará o prefeito como presidente nacional do partido, cargo que já foi ocupado por seu bisavô, Miguel Arraes (1916-2005), e por seu pai, Eduardo Campos (1965-2014).
Qual vai ser a prioridade da sua gestão à frente do PSB? A prioridade é fortalecer o partido em diversas vertentes. É preciso ter uma capacidade de avaliação e de construir uma agenda que gere proximidade com as pessoas, mantendo a essência do PSB, uma luta que sempre foi por igualdade, por justiça social, por inclusão. Mas é preciso ter força eleitoral. Não tenho nenhuma dúvida que a gente vai ser um partido progressista com maior crescimento nas próximas eleições. Vejo que o PSB tem um nicho muito nítido a ocupar.
A gente sabe que você está trabalhando bastante nos bastidores para manter o Alckmin como vice na chapa do Lula no que vem. Se isso não acontecer, o PSB vai romper com o governo e deixar de apoiar a reeleição do Lula? Nossa crença é que o presidente não vai mudar o rumo. Essa construção que foi feita em 2022 foi vitoriosa. Eu não tenho nenhuma dúvida que Alckmin reúne todos os atributos necessários para continuar a fazer um grande trabalho pelo Brasil.
Vai ser possível reeditar uma frente ampla ano que vem? Eu vejo como o maior desafio do momento é você compatibilizar a governabilidade com o eleitoral. O que está acontecendo é uma disfunção entre a montagem do governo e o que se espelha para uma eleição. Isso não é fácil de ser resolvido, porque você precisa ter a governabilidade, mas o que a gente reivindica e sempre defende é que você tenha aliados prioritários fortalecidos, porque isso lhe dá uma proteção em um campo programático. O PSB se enxerga como um aliado prioritário e também gosta da recíproca.
O sr. acha que Lula deveria ter feito uma reforma ministerial ou já perdeu o timing? Quem monta ou desmonta um governo é o presidente. É uma atividade que sempre tem o que você ajustar, corrigir. Nossa posição nunca vai ser uma posição de chegar numa pressão descabida, de cobrança pública. Não é assim que se faz o governo. O bom aliado pode trabalhar internamente, mas ele nunca vai trabalhar para querer fazer um desgaste público.
Não é arriscado para a reeleição chegar na disputa sem estar com os partidos de centro, como União Brasil, PP, Republicanos, MDB e PSD? É estranho você ter uma composição em que os partidos estão em governo, mas declaradamente se colocam distante da reeleição do governo. Não conte com o nosso partido para fazer algo desse tipo. É inclusive isso que gera descrédito à política. Então, quando eu digo que os partidos precisam ter uma avaliação crítica sobre a forma como se posicionam, passa por aí também. Agora, há um risco real. Qualquer analista político dirá que os partidos de centro, a sua ampla maioria, não têm uma decisão tomada sobre 2026. E muitos apostariam que nem com o presidente [esses partidos] estariam. Por circunstâncias de estados, de posições regionais diversas, de lideranças internas do partido.
Mas dá para ganhar eleição só com partidos progressistas? Quem tá numa posição máxima de liderança tem que representar a sua população. Eu fiz isso no Recife. Eu tive um marco amplo de alianças. Não é fácil, mas se você faz o dever de casa de juntar, alimentar uma pauta que não seja uma polarização excessiva, tirar o discurso do irracional e ir colocando para o mundo prático, buscando centro para perto, você ganha governabilidade. Então, se perguntar, João, qual é o mundo ideal? Eu acho que o mundo ideal é que você tenha a maior frente possível na eleição de 2026 e que a esquerda tenha a capacidade de puxar o centro para o perto e não jogar o centro para a direita. É preciso alargar mais. Fazer uma frente realmente ampla em 2026.
O governo deveria estar cobrando maior fidelidade desse partido? Não é só que deveria estar cobrando. Tem que ter uma agenda de governo que tenha a capacidade de atrair pessoas de credos diferentes. Por exemplo, ninguém tem dúvida de que o agro no Brasil, de maneira geral, tem uma posição majoritariamente contrária às posições do governo. Então, não seria o caso de ter uma agenda que dialogasse de forma mais próxima para tentar diminuir essa resistência? O governo tem feito muito em todas as áreas, inclusive nessa. Mas muitas vezes eu acho que isso não é capitalizado, não é construído de forma harmônica.
Mas é um problema de comunicação só? Não, não é comunicação. O governo é comunicação, política e gestão. Não há um grande culpado, nem um grande salvador. O governo é muito melhor do que a leitura que as pessoas têm dele. As ações positivas não chegam e muitas vezes as ações negativas aparecem.
A gente tem uma mudança grande estrutural do Brasil. Essa mudança de muita coisa ao mesmo tempo, eu acho que é o tempero que está fazendo com que as coisas fiquem mais difíceis, irracionais na política. E o PSB vai ser o partido que vai fazer essa leitura. A gente tem que ter uma agenda para o autônomo brasileiro, por exemplo. Porque existe uma parcela grande da população que pensa assim. A gente tem que entender o que eles pensam para representá-los. Então, acho que essa grande fragilidade que a política tem atravessado é muito porque não está compreendendo que as coisas mudaram.
A esquerda está tendo essa dificuldade de compreensão? Isso é inegável. Mas você tem um uso deturpado, ácido e muitas vezes desvirtuado por parte da direita. Grita, causa barulho, mas ela não entrega. Qual foi uma política pública estruturada na área de formação profissional, na área de desburocratização, na área de inclusão produtiva que o governo Bolsonaro fez? Então, de um lado você tem a direita gritando, entendendo que essa pauta existe e gritando sem entregar, e uma parte da esquerda dizendo que essa pauta não existe ou que está errada. Eu acho, sinceramente, que a verdade está muito mais pelo meio desse caminho.
A esquerda precisa aprender a gritar mais? Não acredito que seja por aí. Não vá pelo caminho que o seu adversário quer. Vá pelo que é melhor para você fazer aquilo que você acredita. Lembro do meu pai dizendo isso. Muitas vezes, o próprio governo federal entra numa pauta que a oposição coloca. Quem tem que fazer a pauta é o governo. Acho que o melhor caminho não é aumentar o volume, não. Talvez um cancelamento de ruído seja mais adequado [risos].
O governo podia ter uma pauta com as igrejas, por exemplo. Quase toda igreja tem um trabalho social. Se o nosso campo trabalha tanto pela formação, pela participação popular, porque a gente não busca uma proximidade maior para entender esse braço social que as igrejas têm tido para chegar onde muitas vezes o Estado não chega? Acho que pode ter mais proximidade. Para isso, não é gritando que você vai fazer, mas é enxergando onde você pode chegar.
Quais outros segmentos o sr. acha que tem de aproximar? É preciso ter um diálogo forte em relação aos grandes centros urbanos, o problema da violência urbana é um grande problema hoje. É preciso compreender nichos do agro e comunicar o que está sendo feito.
Em algumas entrevistas que o sr. deu no ano passado, falou da fragilidade da polarização e como as pessoas têm demandas da vida real. Essa lógica se aplica também na eleição do ano que vem? Acho que a maioria da população sente um certo cansaço da polarização. [Mas] Acho que a eleição tende a ser polarizada.
O presidente Lula também se beneficia desse cenário de polarização, né? Para a eleição, pode ser bom, mas para o governo, não. A grande pergunta é, por que não trazer mais o centro para próximo da agenda do governo? Não é o dito centrão, não são os partidos, eu falo a sociedade, o centro da sociedade. Nem a direita ganha sozinha, nem a esquerda ganha sozinha. Então, o que está em disputa é o centro.
O sr. vai ser candidato ao governo de Pernambuco? Não sei ainda. Meu foco essencial é continuar cuidando do Recife e de poder ter clareza que o nosso conjunto político à nossa frente vai ter um candidato ao governo de Pernambuco. E o tempo vai dizer como é que isso vai se consolidar ou se cristalizar.
RAIO-X | João Henrique de Andrade Lima Campos, 31
Prefeito reeleito com 78% dos votos em Recife, é novo presidente nacional do PSB. Formado em engenharia civil pela Universidade Federal de Pernambuco, foi deputado federal de 2019 a 2020, quando concorreu e venceu a disputa pela Prefeitura do Recife pela primeira vez. É filho do ex-governador de Pernambuco Eduardo Campos (1965-2014).
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