Por José Nivaldo Junior*
Vivemos no país das falsidades. E, desculpem a rude franqueza, no país das patifarias. Não quero dar lição de moral a ninguém, de falsos moralistas o planeta anda abarrotado. Nem interessa se é assim no mundo inteiro, na França, na Bahia ou na Coreia do Lado. Lamentavelmente, é assim por aqui. O país onde vivemos. E onde, dentro do nosso limitado alcance, temos o compromisso de criticar para tentar aprimorar.
Minha penúltima intenção é criticar quem lamentou a morte do cachorrinho que passeava extraviado e torturado por uma companhia aérea irresponsável e burocrática. O lamento foi uma manifestação de aprimoramento da consciência coletiva. Um ser vivo merece respeito ao ser assassinado por omissão. Aplausos.
Leia maisO lamento vem ante o doloroso silêncio frente a mais de 3.600 mortes humanas naquele dia, sendo 130 assassinatos intencionais. Um cachorrinho morto por omissão vale, para autoridades e mídia (aí nos incluo) mais que 130 humanos assassinados intencionalmente.
Tenho forte ligação afetiva com Limoeiro, cidade já no agreste pernambucano, a uns 80 km da capital. Minha família tem raízes lá. Dr. José Nivaldo, meu pai nasceu lá, no distrito do Cedro. Vivi parte da minha vida circulando por ali. E o triste episódio que vou abordar ocorreu nas imediações da UPA que, bem cuidada por sinal, ostenta o nome do meu pai.
Um motorista de táxi, retornando de uma corrida, protagonizou um bizarro, porém corriqueiro acidente nas rodovias do País. Na madrugada chuvosa de um domingo, 28/04, conforme publicado em primeira mão pelo Jornal O Poder, um taxista, trafegando em velocidade apropriada, foi atropelado por um cavalo com vocação para assassino.
Acompanhei na juventude alguns casos desses. É incrível. O animal, cavalo, boi ou búfalo, bode grande ou jumento, literalmente, voa para dentro do veículo. Assim morreu há muitos anos o promotor Jaime Adrião, nas imediações da cidade deJoão Alfredo. Homem digno. Honrado por filhos que seguiram sua trilha na Justiça, no sentido pleno da palavra. No caso, uma vaca atropelou seu veículo. O ilustre homem da lei morreu na hora. Passei pelo local a tempo de testemunhar o desmantelo. Imagem traumatizante até hoje.
O motorista escapou por centímetros. E não houve mortes porque o táxi não levava passageiros. Culpa do Governo Federal? Da governadora do Estado? Do Serviço de Proteção aos Animais? Da Polícia Rodoviária? Dos proprietários do animal? Tem alguém culpado nessa imensa Casa da Mãe Joana chamada Brasil?
Podia-se falar em acidente se fosse algo episódico. Não é. Até nas grandes cidades, animais atravessam pistas de alta velocidade. De dia, pode-se, com sorte, evitar. Em noite escura, resta ao motorista apelar aos orixás.
O Senado Federal é integrado por 81 senadores. A Câmara Federal é formada por 513 deputados. Qual deles já se ocupou do tema?
Bem, o deputado Joao Maia, (PL/RN) cuidou do assunto. Apresentou Projeto de Lei. A deputada Zambelli deu um empurrãozinho. A Comissão de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável da Câmara aprovou. O Projeto de Lei 1211/21, proíbe a presença de animais soltos nas vias e determina aplicação de multa a proprietários, posseiros ou tratadores. O texto altera o Código de Trânsito Brasileiro. O projeto determina punição a quem permitir ou deixar de adotar providências que impeçam a circulação, em via pública, de animais de sua propriedade. A multa é escalonada de acordo com o porte do animal, mas em todos os casos a infração é considerada gravíssima.
O projeto empacou, feito mula birrenta. Assim, ninguém vai ser responsabilizado no caso que estamos tratando. A estrada é estadual. O secretário ou secretária de Agricultura e etc, anônimo(a) como 94% do atual primeiro escalão da governadora Raquel Lyra, tá nem aí. A culpa? O animal, assassino em potencial, trafegava imprudente, sem faróis, na contramão de uma descuidada e não sinalizada rodovia estadual. Conhecemos bem os perigos da PE 90. Quadrúpede estúpido. A culpa é do cavalo.
A imagem é chocante. Tirem as crianças da sala.
*Acadêmico, jornalista, publicitário e marqueteiro político
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