Por Marlos Porto*
Em 26/04/2019, o então ex-presidente Lula deu entrevista de 2 horas e 10 minutos, de dentro da prisão. Ele estava detido desde 07/04/2018. Todo o cenário foi montado, com direito a uma bancada com diversos jornalistas e toda deferência foi dada aquele que havia transformado a sua prisão, um ano atrás, em um show midiático de várias horas.
Ontem, um outro ex-presidente, Jair Bolsonaro, um dia após proferir, por telefone, a frase: “É pela nossa liberdade, estamos juntos”, tão somente transmitida para quem acompanhava manifestação em Copacabana e também pela Internet, foi preso por ordem do ministro Alexandre de Moraes, do STF.
Penso que a frase em questão tem potencial para entrar para a história como atestado da inequívoca escalada autoritária no Brasil.
Leia maisA história não se repete, a não ser como farsa, disse Karl Marx. O que vemos hoje não é propriamente um AI-5, mas algo farsescamente similar. A máxima ironia é ver que as medidas autoritárias não procedem do governo. Estarrecidos, constatamos que nenhum movimento cívico-militar usurpou o poder. Mas que o governo legítimo silencia diante da escalada autoritária contra opositores e posa perante o Brasil e o mundo ostentando sua soberania, esquecendo que, em última instância, toda poder soberano emana do povo.
O ex-capitão, máximo exemplo da outrora prevalente liberdade de opinião no Brasil, durante décadas de seu exercício parlamentar (vide as inumeras polêmicas que protagonizou), que conquistava multidões em 2018 e que, após ter sido vítima de um ignominioso atentado (que chegou a ser comemorado por muitos de seus detratores e até hoje negado por tantos outros), conseguiu uma das mais espetaculares vitórias eleitorais no país, foi um presidente de triste memória, que sabotava sistematicamente medidas sanitárias em plena pandemia. Quantas vítimas poderiam ter sido poupadas, se outra tivesse sido sua postura, incentivando uso de máscaras e distanciamento social?
Mas Bolsonaro não deveria jamais ser vitimado por uma de suas mais lúcidas e singelas frases, que galvaniza os anseios daqueles que não aceitam ter sua consciência obnubilada pela lavagem cerebral midiática e pelo crescente autoritarismo: “É pela nossa liberdade, estamos juntos”.
*Marlos Porto é bacharel em Direito
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