Por Joel de Hollanda*
A velhice não é para os fracos.
A velhice é para os fortes.
É preciso ser forte —
não apenas para erguer o corpo cansado da cama,
mas para sustentar o peso dos anos,
o fardo dos desenganos,
as feridas que o tempo não cura
e o silêncio que o mundo impõe aos que envelhecem.
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É preciso ser forte
para espantar o leão da tristeza,
domar o dragão da solidão,
conviver com o monstro frio da indiferença
daqueles que, cegos de juventude,
não percebem o velho que caminha trêmulo,
passos lentos e incertos,
rumo ao seu destino final —
ser apenas mais uma fotografia
num porta-retrato empoeirado.
É preciso ser forte
para lutar com unhas, dentes
e o fiapo que restar de lucidez,
para não ser largado, como um objeto sem valor,
num canto qualquer
de um quarto soturno e esquecido.
É preciso ser forte
para ter lágrimas ainda por derramar
a cada partida de um velho amigo.
É preciso ser forte
para não chorar ao lembrar a infância —
os dias de sol,
o pião girando no terreiro,
o tec tec das bolas de gude,
o jogo de botão,
o papagaio colorido dançando no céu azul do sertão.
É preciso ser forte
para suportar a saudade da primeira namorada,
do primeiro beijo
naqueles lábios de romã.
É preciso ser forte
para não se comover ao recordar
a sessão de cinema,
a mão trêmula e ousada
descobrindo, pela primeira vez,
a rosa maçã guardada
sob o apertado e malvado sutiã.
É preciso ser forte
para conviver, dia após dia,
hora após hora,
minuto após minuto,
com a sombra paciente da morte —
sempre à espreita,
sempre pronta,
com a foice em riste,
para, num golpe certeiro,
cerrar as cortinas do teatro da vida
e dar descanso
ao seu atabalhoado ator.
Praia de Boa Viagem, 9 de novembro de 2025
*ex-senador, ex-deputado federal e estadual, secretário da Educação e do Trabalho durante os governos Marco Maciel e Joaquim Francisco
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