Deputados da base do governo têm usado as redes sociais para manifestar insatisfação e pressionar contra a articulação de Guilherme Derrite (PP-SP) no PL Antifacção. Alguns deles pedem que Derrite deixe a relatoria do projeto.
Governistas têm usado as redes sociais para manifestar insatisfação. No X, o deputado Rogério Correia (PT-MG) disse que Derrite “derreteu” o PL Antifacção. Glauber Braga (PSOL-RJ) chegou a pedir que ele deixe a relatoria da proposta. As informações são do portal UOL.
Leia mais“Com certeza o Derrite está arrependido de ter topado ser relator do chamado projeto ‘antifacção’. Achou que estava fazendo uma jogada de mestre, mas na vida real está saindo profundamente desgastado”, disse Glauber Braga.
Para eles, o texto de Derrite é mais uma tentativa da oposição de blindar políticos de investigações. Os deputados alegam que isso ficou mais evidente depois da foto em que o relator aparece jantando com os ex-presidentes da Câmara, Arthur Lira (PP-AL) e Eduardo Cunha. “Virou símbolo de um projeto desmascarado”, disse Glauber Braga.
“Eu acho que Derrite perdeu a condição de ser relator. O fato de ele fazer uma reunião secreta com Eduardo Cunha e Arthur Lira para discutir, com certeza, blindagem de políticos que sustentam o crime organizado, fez com que ele perdesse qualquer condição de apresentar um texto que não cause desconfiança”, afirmou Rogério Correia.
Derrite nega ter se arrependido e fala que é preciso ter coragem para estar no seu lugar. Na última quarta-feira, o deputado disse a jornalistas que tem adotado uma postura técnica, e não política, como relator da proposta. No mesmo dia, foi flagrado jantando com Lira e Cunha. O UOL procurou o relator, mas ele não se manifestou até a publicação desta reportagem.
O texto inicial tirava da Polícia Federal a competência de investigar crimes de facções. Na primeira versão do parecer, Derrite propôs que a corporação só poderia entrar nas investigações se fosse provocada pelos estados ou pela Polícia Civil. O governo bateu o pé e o relator precisou retomar o papel da PF.
A proposta segue sem consenso entre governo e oposição. Derrite já apresentou quatro versões do seu parecer, mas o governo segue insatisfeito. Os deputados da base alegam que a Polícia Federal continua enfraquecida, com um desmonte orçamentário.
“Em vez de fortalecer a PF, o texto promove uma fragmentação orçamentária em relação aos fundos, o que compromete a eficiência no enfrentamento às organizações criminosas de atuação interestadual”, afirmou o deputado federal Lindbergh Farias (PT-RJ).
A ideia é votar o texto na terça-feira, mas a falta de consenso e a COP, em Belém, dificultam. Ao encerrar a sessão plenária na última quarta-feira, o presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), concordou com Derrite e lideranças que a votação da proposta poderia ficar para esta semana. Na pauta do plenário, da próxima semana, o PL Antifacção é o único item a ser votado. A ver se haverá novos pareceres e consenso para que o texto caminhe.
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Do portal Metrópoles
O Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) identificou repasses milionários e saques suspeitos que ligam empresários de Brasília a duas associações que faturaram R$ 263 milhões com a farra dos descontos sobre aposentadorias pelo Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), revelada pelo Metrópoles. As entidades em questão faturaram R$ 263 milhões e estão formalmente em nome de aposentados. Os empresários, do setor de seguros e clubes de benefícios, são apontados como os verdadeiros beneficiários delas.
Esses empresários foram personagens da série de reportagens Farra do INSS, que mostrou os controladores de associações que agiam em nome de aposentados pobres e moradores das periferias de capitais como São Paulo, Brasília e Belo Horizonte. Eles são donos de um grupo de seguradoras e de clubes de benefícios, que também têm enfrentado problemas na Justiça por descontos indevidos em débito automático junto a bancos.
Leia maisGutemberg Tito e Zacarias Canuto Sobrinho são os sócios da empresa Thinking Blue, cujos serviços eram oferecidos a aposentados filiados à União Brasileira de Aposentados da Previdência (Unibap) e da Associação de Amparo aos Aposentados e Pensionistas do Brasil, que atualmente é chamada de Ampaben, mas, no auge da farra, tinha o nome de Abenprev. A primeira associação faturou R$ 183 milhões com descontos sobre aposentados. A segunda, R$ 80 milhões.
Na boca do caixa
Basicamente, as entidades faziam repasses milionários às empresas ligadas à dupla. A Thinking Blue, por exemplo, recebeu R$ 1,8 milhão das associações. Outra empresa recebeu R$ 11 milhões da Abenprev. Somente uma delas enviou R$ 290 mil de uma vez só para a conta de Zacarias após repasses das entidades. Tito aparece fazendo saques fracionados de altos valores na boca do caixa.
Somente entre abril e junho de 2025, Tito retirou R$ 173 mil em dinheiro vivo de empresas que estão na teia de favorecidos das associações. Parte desses saques, em agências de Brasília, foi feita mesmo após a deflagração da Operação Sem Desconto, que investiga a farra das entidades.
O relatório do Coaf menciona que a presidente da Ampaben, por exemplo, aparenta ser “uma pessoa interposta” de terceiros que realmente a controlaram. Menciona ainda que quem responde por demandas relacionadas à entidade é, na verdade, Gutemberg Tito. Cita ainda que contatos com as associações são encaminhados a funcionários da empresa Pryde Seguros. Como mostrou o Metrópoles, foi usando os contatos e o endereço da Pryde que o grupo tentou erguer mais uma entidade, a Abenpreb, em Brasília.
A Abenpreb, de nome quase idêntico a outra do mesmo grupo, firmou acordo com o ex-diretor de Benefícios do INSS, André Fidelis, hoje suspeito de receber propina do esquema. Ela esteve em uma lista de sete entidades que receberam seus acordos em 2024 das mãos de Fidelis, mas tiveram seus descontos interrompidos após o início da série de reportagens.
Os empresários ligados a essas entidades são também donos de um negócio semelhante: o Clube Multual de Benefícios. Trata-se de uma empresa que também oferece seguros. Ela tem sido acusada por correntistas de bancos de fazer descontos indevidos em débito automático diretamente em suas contas. À semelhança de filiados às entidades do grupo, eles afirmam sequer saber o que é o Multual.
Desde o início da série de reportagens Farra do INSS, o Metrópoles busca contato com Gutemberg Tito e Zacarias Canuto Sobrinho. Eles nunca se manifestaram.
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Do jornal O Globo
Com sua trajetória política marcada pelos discursos em tom emocional, muitas vezes espontâneos, o presidente Lula tem demonstrado dificuldade, neste terceiro mandato, de seguir roteiros previamente acertados com seus auxiliares. O resultado, em alguns casos, tem sido declarações que acabam repercutindo negativamente, afetando sua popularidade. A menos de um ano da eleição, o comportamento acendeu um alerta no governo, que tem demonstrado preocupação com as escorregadas do titular do Palácio do Planalto.
Auxiliares dizem saber que não há como controlar totalmente as falas de Lula. Reconhecem que caso siga apenas os scripts, o presidente poderia perder a espontaneidade, considerada um dos pontos fortes de sua atuação política.
Leia maisDiante desse diagnóstico, o plano, de olho na eleição do ano que vem, é tentar controlar as manifestações do petista repassando a ele informações baseadas em pesquisas para reduzir os deslizes.
O caso mais recente envolveu a operação policial promovida pelo governo do Rio nos complexos da Penha e do Alemão, no fim de outubro, que deixou 121 mortos. Ao falar pela primeira vez sobre o tema, uma semana depois do ocorrido, o presidente tratou a ação como “desastrosa” e ainda afirmou que houve uma “matança”. A declaração foi dada em uma entrevista para agências internacionais.
Até então, o governo vinha adotando uma linha mais cuidadosa, sem críticas diretas à operação, que, segundo pesquisas, foi majoritariamente apoiada pela população. Em uma postagem em seus perfis nas redes sociais no dia 29, Lula dizia que “não podemos aceitar que o crime organizado continue destruindo famílias, oprimindo moradores e espalhando drogas e violência pelas cidades”, e defendeu a necessidade de trabalho integrado que “atinja a espinha dorsal do tráfico sem colocar policiais, crianças e famílias inocentes em risco”.
A posterior mudança de tom de Lula não estava acertada com os auxiliares. O plano era que o presidente criticasse o fato de a ação promovida pela polícia do governador Cláudio Castro (PL) não ter cumprido os objetivos de prender os principais líderes do Comando Vermelho. O argumento era que a operação, mesmo com as mortes e prisões, não quebrou a espinha dorsal do tráfico de drogas nos complexos do Alemão e da Penha. O desejo era que Lula dissesse que a operação serviu apenas para “enxugar gelo”.
Mas a frase sobre a “matança” não estava alinhada à estratégia da Secretaria de Comunicação Social (Secom), comandada pelo ministro Sidônio Palmeira. Imediatamente, a manifestação do presidente passou a ser usada pela oposição para propagar que o governo “defende bandidos”.
Logo após a declaração, a equipe de comunicação do petista fez uma postagem nas redes sociais de Lula com o intuito de tentar reduzir o impacto da fala. A mensagem exaltava ações do governo federal na área da segurança pública.
Pesquisa Genial/Quaest divulgada nesta semana mostra que 57% da população discorda da declaração em que Lula considera a operação no Rio “desastrosa”.
A Quaest avalia que a preocupação com a segurança pública despertada pela operação policial no Rio brecou a tendência de melhora da popularidade de Lula que vinha sendo registrada desde julho. A aprovação do governo, que era de 48% em outubro, oscilou para 47% no levantamento divulgado na quarta-feira. A desaprovação foi de 49% para 50%.
Além de declarações polêmicas, o estilo de Lula tem atrapalhado a estratégia política definida para dar mais impacto para suas ações. Em 23 de outubro, na Indonésia, o petista anunciou que irá concorrer a um novo mandato e atropelou todo o planejamento que vinha sendo discutido pelo governo e pelo PT para dar relevância à decisão. Embora a tentativa de reeleição já tivesse sido tratada anteriormente, foi a primeira vez que ele falou do assunto sem colocar ressalvas, como sua saúde.
Impacto eleitoral
A principal preocupação está no fato de que falas mal colocadas têm impacto maior nas avaliações de governo e na intenção de voto feitas da parcela do eleitorado que não se declara nem petista nem bolsonarista. Em um cenário de polarização, essa fatia da população é considerada decisiva no ano que vem.
O diretor da Quaest, Felipe Nunes, diz que esse eleitorado, que representa cerca de 10% da população, apoiou as ações do governo de defesa da soberania nacional contra o tarifaço imposto aos produtos brasileiros pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, em julho:
“Quando a gente olha o dado (das pesquisas) por dentro percebe que é o eleitor independente que está mudando de opinião. Era aquele eleitor que apoiava o governo na soberania e agora fica contra o presidente no tema da violência. Temos evidência que a segurança pública produziu efeito.”
Antes da operação no Rio, Lula já havia enfrentado desgaste ao afirmar que os traficantes de drogas são “vítimas dos usuários”.
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O deputado estadual Coronel Alberto Feitosa (PL) postou, neste domingo (16), em suas redes sociais, um vídeo mostrando a presença de publicidade de casas de apostas nos parques Santana, Jaqueira e Dona Lindu. O parlamentar afirmou que deu entrada em um projeto de lei que proíbe a divulgação de jogos em parques públicos do estado. Recentemente, uma parceria da Prefeitura do Recife com uma empresa do setor estampou a marca da companhia nas quadras, pistas de caminhada e outras áreas desses equipamentos.
O deputado afirma ter recebido pedidos de pais para a proibição desse tipo de publicidade em espaços de lazer voltados a crianças e adolescentes e atendeu às solicitações ao apresentar o projeto, que tramitará na Assembleia Legislativa de Pernambuco (Alepe). “Não sou contra o que se chama popularmente de ‘fazer uma fezinha’, mas estimular jogos de apostas financeiras em um espaço de lazer para crianças e adolescentes não é coerente. Lamentavelmente, o vício em jogos como esses tem destruído famílias e também vidas”, argumentou.
Em 2024, a deputada estadual Rosa Amorim (PT) também protocolou dois projetos de lei sobre casas de apostas na Alepe (PL 2290/2024 e PL 2293/2024). Um deles visa restringir fortemente os anúncios publicitários das “bets”, em linha com o que já ocorre com os cigarros. Ela também propõe que os órgãos de saúde atuem no tema a partir da taxação do setor. Em outra proposta, a petista quer inserir o tema nas campanhas de saúde mental.
No âmbito municipal, tramita na Câmara do Recife o Projeto de Lei Ordinária nº 356/2025, da vereadora Liana Cirne (PT), que proíbe a veiculação de publicidade de apostas esportivas e jogos de azar em diversos espaços públicos da cidade — como praças, parques, vias urbanas, paradas de ônibus e equipamentos municipais. A proposta também veta anúncios de “bets” em ônibus, BRT, metrô, eventos públicos e canais institucionais mantidos pela Prefeitura.
O ministro Alexandre de Moraes determinou a devolução do equipamento apreendido pela Polícia Federal (PF) com o hacker Thiago Eliezer Martins Santos, investigado sob suspeita de envolvimento com a deputada Carla Zambelli na invasão do sistema do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) em 2023.
Moraes aceitou a solicitação de Martins após manifestação favorável da PF e da Procuradoria-Geral da República (PGR). No pedido, o hacker argumentou não ter sido indiciado pela PF ao final das investigações, que resultaram na condenação de Zambelli a 10 anos de prisão. As informações são do portal Metrópoles.
Leia mais“É crucial destacar que, após exaustiva investigação, Thiago Eliezer Martins Santos não foi indiciado pela autoridade policial, tampouco denunciado pelo Ministério Público Federal (MPF), não se comprovando qualquer envolvimento seu com a prática dos crimes”, afirmou a defesa de Martins.
Em seu parecer, a PF alegou que o aparelho celular, o notebook e dois HDs apreendidos com o hacker passaram por perícia e não foi encontrado nenhum elemento que apontasse a participação de Martins na invasão ao sistema do CNJ.
“Todos os procedimentos periciais obtiveram êxito na extração do conteúdo e posterior categorização por meio do software forense Indexador e Processador de Evidências Digitais (IPED)”, relatou o delegado responsável pelo inquérito, Fabio Shor.
Prazo para retirada
Dessa forma, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) acolheu a solicitação e determinou um prazo de 30 dias para que o equipamento seja retirado. “No caso específico, há ausência de interesse na manutenção da apreensão dos bens apreendidos, conforme manifestação da Polícia Federal, inclusive que os dispositivos apreendidos já foram periciados, não havendo dúvida, ainda, quanto à propriedade lícita dos bens”, argumentou Moraes.
“A retirada dos referidos itens deve ocorrer no prazo de 30 (trinta) dias, de modo que autorizo a destruição dos equipamentos se não forem retirados nesse prazo”, afirmou o ministro, na decisão.
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Por Jorge Henrique Cartaxo e Lenora Barbo*
Especial para o Correio Braziliense
“No sábado, 7 de agosto de 1976, o país levou um susto com o alarme falso de que Juscelino havia morrido em um desastre de automóvel na estrada Rio–São Paulo. O desmentido só veio à noite, nos jornais, e no dia seguinte, no Fantástico, da TV Globo.
Do Rio, pressionada pela reportagem do Jornal do Brasil, Sarah Kubitschek ligou para Vera Brant, amiga de JK em Brasília. Vera recebeu também telefonemas dos jornalistas Carlos Castelo Branco e Hélio Doyle.
Leia maisFoi imediatamente à fazendola de Juscelino, em Luziânia, a 70 quilômetros de Brasília. Encontrou-o, como sempre, extrovertido, mas cercado de jornalistas e muito intrigado. Quando a imprensa saiu, Vera lhe disse:
— Juscelino, acho que jogaram esse alarme falso para avaliar que tipo de emoção causaria no país a sua morte. Cuidado, que vão matar você.
— Olha, Vera, sem brincadeira, acho que só com a minha morte será possível o processo de redemocratização. Eles temem demais a minha volta.
Dois dias depois (9 de agosto), Juscelino desembarcava no aeroporto da Pampulha, em Belo Horizonte, recebido por seu amigo Serafim Jardim:
— Presidente, o senhor nos deu um susto anteontem!
— Serafim, esses canalhas sonham com a minha morte.
Mais dois dias (11 de agosto), JK voltou a Brasília e, no bar do Hotel Eron, abatido, deprimido, olhando o Eixão de Brasília todo iluminado lá embaixo, disse a Vera Brant e Olavo Drummond:
— Será que não verei minha pátria livre nunca mais?
No dia 22 de agosto, JK ia de São Paulo para o Rio, pela Via Dutra, e, em Resende, o carro dirigido pelo motorista Geraldo, com ele no banco de trás, recebeu uma fechada. Segundo testemunhas, ouviu-se um estampido; o veículo desgovernou-se para a pista contrária e bateu de frente numa carreta.
Os dois morreram na hora. Quando a polícia chegou, alguns senhores de terno, cabelo curto e óculos escuros fotografavam os corpos. Disseram-se repórteres e saíram rápido numa Caravan marrom, placa 0001.
No necrotério de Resende, para onde foram levados, tropas do Exército cercaram o caixão do motorista, não deixando ninguém aproximar-se. Já o de JK podia ser visto por quem quisesse. Anos depois, em 1996, o amigo Serafim Jardim conseguiu a exumação dos corpos, constatando-se o crânio do motorista perfurado por um artefato metálico, apontado como ‘prego do caixão’”.
Essa história está contada em Folclore político — Sebastião Nery — Geração Editorial, 2002. Nery (1932–2024) foi jornalista, deputado federal, adido cultural do Brasil em Paris e em Roma. Como homem de imprensa, notabilizou-se pelo brilho, talento, humor e seriedade.
Todas as investigações sobre a morte de JK sempre concluíram pelo “fator acidental”. O atentado jamais seria comprovado exatamente. De todo modo, o relato de Sebastião Nery, com seus atores e personagens, e a crônica anunciada da tragédia, trazem para a cena histórica do país o impacto do destino contra a virtude pública. Dom Pedro II foi escorraçado do Brasil numa madrugada fria e solitária. Getúlio tiraria a própria vida com um tiro no coração, numa manhã de agosto. Juscelino teria a vida interrompida na penumbra de uma cena irresoluta. Menos de dez anos depois, o também mineiro, parceiro e amigo de Getúlio e de JK, Tancredo Neves seria traído pela saúde na véspera de sua posse como presidente da República, em 1985.
JK, o herói deste texto, como seu contemporâneo Winston Churchill, era destemido e determinado na batalha, porém magnânimo na vitória. Como homem que enfrentou, com rara coragem e sabedoria, as glórias e os infortúnios do seu tempo, Juscelino nos remete ao shakespeariano Benvolio. Primo e amigo de Romeu, Benvolio Montague, no clássico Romeu e Julieta, exerce o papel de mediador e pacificador na sangrenta disputa movida pelo ódio e pelos ressentimentos entre as famílias Montéquio e Capuleto. A raiz latina bene (bom) e volo (desejo) constitui o significado do nome Benvolio: benevolente e pacificador. Assim era o cidadão e homem público Juscelino Kubitschek, em seus passos pela nação, buscando o diálogo entre a opulência e a miséria, a brutalidade e a cordialidade, os descaminhos e o destino.
Jan Nepmuk Kubícek, bisavô de Juscelino, marceneiro de grande talento, nasceu na Boêmia durante o Império Austro-Húngaro (não havia ainda a República Tcheca). Ruivo e de olhos azuis, Jan chegou ao Brasil em 1835 e logo teve seu nome abrasileirado: João Alemão. Em 1840, na região do Serro, em Minas, consta o primeiro registro de João Nepomuck Kubitschek no Brasil. Augusto Elias Kubitschek e João Nepomuceno Kubitschek, filhos de João, tiveram presenças distintas na história do País. Elias Kubitschek, comerciante de armarinhos, foi o pai de Júlia, mãe de Juscelino. Nepomuceno Kubitschek, tio-avô de JK, foi professor, advogado, jornalista, fazendeiro e vice-governador de Minas Gerais entre 1894 e 1898.
Juscelino nasceu em 1902 na cidade de Diamantina. Seu pai, João César Oliveira — caixeiro-viajante, garimpeiro e delegado de polícia — faleceu, vítima de tuberculose, em 1905. Com 32 anos, professora primária, Júlia teria que cuidar e educar duas crianças: Maria da Conceição, então com quatro anos, e Juscelino, então com três anos. Eufrosina, a primeira filha de Júlia, nascida em 1900, havia falecido nos primeiros meses de vida.
Em 1914, então com 12 anos, Juscelino ingressa no seminário diocesano de Diamantina. Em 1919, com o apoio de um tabelião da cidade, alterou sua certidão de nascimento para poder se inscrever em um concurso de telegrafista, em Belo Horizonte. Ele tinha 17 anos, e as inscrições não eram permitidas para menores de 18. Em maio de 1921, foi divulgada sua nomeação para telegrafista auxiliar. No ano seguinte, JK prestou vestibular e matriculou-se no curso de Medicina.
Em 1926, já concluindo o curso, iniciou suas atividades profissionais com o cunhado, Júlio Soares, na enfermaria da clínica de cirurgia da Santa Casa. Famoso entre os amigos pelo gosto de dançar, numa festa Juscelino conhece Sarah Gomes de Souza Lemos, filha do deputado federal Jaime Gomes de Souza Lemos. Em novembro de 1927, conclui o curso de medicina, passando a trabalhar em uma clínica particular, como assistente do professor Baeta Viana, e como médico da Caixa Beneficente da Imprensa Oficial do Estado.
Em 1930, Juscelino realiza sua primeira viagem à Europa, onde faria um curso rápido em Paris — três semanas — com o professor Maurice Chevassu. Antes do retorno ao Brasil, esteve em Viena, Berlim e na Tchecoslováquia. De volta a Paris, foi informado sobre a Revolução de 1930 e a vitória de Getúlio Vargas. Naquela mesma noite, ele e os amigos Cândido Portinari e Leopoldo Fróes comemoraram na noite parisiense.
De volta ao Brasil, em novembro de 1931, montou seu consultório, voltou a trabalhar na Santa Casa de Misericórdia e foi nomeado, com o apoio de Gustavo Capanema — então secretário de Justiça — médico da Força Pública. Iria servir como capitão-médico do Hospital Militar. Em dezembro, casou-se com Sarah na Igreja da Paz, em Ipanema, no Rio de Janeiro. Com a Revolução Constitucionalista de 1932, JK, como médico-militar, apoiou o governo Vargas nos combates na Serra da Mantiqueira.
Nomeado por Vargas como interventor federal no governo de Minas Gerais, Benedito Valadares convidou JK para sua chefia de gabinete. Com o prestígio do cargo, ele cuidou de preservar edifícios históricos em Diamantina e providenciou a construção de uma ponte sobre o Ribeirão do Inferno, que ligava Diamantina à cidade de Rio Vermelho. Em 1934, foi eleito deputado federal. Essa primeira experiência parlamentar foi curta.
Com o Estado Novo em 1937, o Congresso Nacional foi fechado. Em 1940, nomeado prefeito de Belo Horizonte, Juscelino consolida sua liderança no Estado e começa a aparecer no cenário nacional com a inauguração do Conjunto Arquitetônico da Pampulha e a famosa Exposição de Arte Moderna, em BH. Em 1945, com o fim do Estado Novo e a redemocratização do País, elege-se deputado federal para a Assembleia Nacional Constituinte. Em julho de 1950, foi indicado pelo PSD como candidato ao governo de Minas. Por ironia, disputou as eleições com o concunhado Gabriel Passos, casado com a irmã de Sarah.
“Energia e Transporte.” Foi esse o slogan de sua campanha. Minas, com suas montanhas, ainda era um Estado predominantemente rural e agrário. Desenvolvimentista e modernista, JK queria a indústria, a técnica e o fascínio das grandes cidades. Vitorioso, construiu mais de mil quilômetros de estradas, 251 pontes e 160 centros de saúde. Matriculou, até o final de seu governo, mais de um milhão de alunos — quando assumiu, eram 680 mil jovens estudantes. Criou a Companhia Energética de Minas Gerais (CEMIG), aumentou de forma exponencial a capacidade energética do Estado com a construção de cinco usinas hidrelétricas e iniciou investimentos para a edificação de uma significativa e transformadora produção metalúrgica. Foi na inauguração da siderúrgica Mannesmann — à época um grande investimento de capital alemão — que Vargas fez sua última aparição pública, aceitando o convite de JK. O presidente da República se mataria dias depois. Juscelino foi o único governador do País a comparecer ao velório no Catete.
Eleito presidente da República em 1955, num cenário de tensão política e ameaças de golpe que o obrigaram a tomar posse, em janeiro de 1956, com o País em estado de sítio, Juscelino, enquanto presidente, manteria o mesmo vigor e a mesma ousadia que haviam caracterizado suas gestões como prefeito de Belo Horizonte e governador de Minas.
Com o slogan “Cinquenta anos em cinco”, JK impulsionou a industrialização no Brasil, de certo modo iniciada por Vargas, construiu Brasília e ofereceu ao mundo a feição da possibilidade de um novo país no concerto das grandes nações em reconstrução no Ocidente do pós-guerra. Com o desenvolvimentismo e seu arrojado Plano de Metas, fez convergir para a economia brasileira, entre 1956 e 1961, mais de dois bilhões de dólares em investimentos. O país crescia 7,9% ao ano. A consolidação do que então se entendia por progresso parecia inexorável. Não aconteceu exatamente assim, mas ele foi, depois de Vargas, o maior estadista da história republicana brasileira.
Veio a inflação e a concentração de renda. A eleição de Jânio Quadros e sua renúncia. A crise do governo João Goulart e o golpe de 1964. As perseguições, as injúrias, os processos, as intimidações, o exílio e o silêncio. A expectativa de um retorno triunfal até a morte surpreendente, em 1976.
*Jorge Henrique Cartaxo é jornalista e Diretor de Relações Institucionais do IHGDF | Lenora Barbo é arquiteta e Diretora do Centro de Documentação do IHGDF
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O Diário Oficial de ontem (15) trouxe a oficialização do que já vinha sendo especulado há alguns dias: a saída de Fúlvio Wagner da presidência da Empresa Pernambuco de Comunicação, para assumir uma função estratégica na comunicação institucional do Estado.
Com experiência em rádio e TV, e integrante do núcleo de confiança da governadora Raquel Lyra (PSD), o comunicador será o secretário executivo da pasta comandada por Rodolfo Costa Pinto, auxiliando na relação com a imprensa e divulgação das ações da gestão. O cargo era exercido por Diego Abreu, que foi exonerado e, até então, não apareceu nomeado em outra função. As informações são do blog Cenário.
Já Thaís Toledo assumiu a vice-presidência da EPC, mas Fúlvio, embora tenha sido exonerado do cargo de presidente, foi designado em nova portaria para assumir o comando da empresa pública.
A mudança acontece em um momento estratégico para o Governo, que pretende massificar as informações sobre o que Raquel Lyra vem realizando e pretende entregar ao longo de 2026. A missão dele será justamente fazer com que chegue até às pessoas, as ações que o Governo vem desenvolvendo.

Do Metrópoles
A operação da Polícia Federal (PF) que mirou um esquema de fraudes em licitações voltadas a compras de material escolar em prefeituras do interior de São Paulo teve como um dos alvos o empresário Daniel Lancaster, filho do ex-deputado estadual Gil Lancaster.
A investigação da PF aponta que Daniel atuou como uma espécie de operador financeiro informal por meio de suas empresas, cujas contas teriam sido utilizadas para a lavagem de dinheiro proveniente de contratos suspeitos da empresa Life Tecnologia com municípios.
Leia maisO dono da Life, André Mariano, é apontado pela PF como o líder do esquema, que teria movimentado cerca de R$ 111 milhões por meio de contratos suspeitos de corrupção com quatro prefeituras do interior paulista: Hortolândia, Sumaré, Limeira e Morungaba.
A operação Coffee Break, realizada na última quarta-feira (12) pela Polícia Federal, prendeu Mariano e outras quatro pessoas, incluindo o vice-prefeito e o secretário de Educação de Hortolândia. Cerca de 50 mandados de busca e apreensão foram cumpridos.
Dinheiro bloqueado
Daniel Lancaster foi alvo de busca e apreensão em um endereço em Barueri, teve o sigilo telemático quebrado e uma de suas empresas, a Metrópole Soluções, teve R$ 187 mil bloqueados pela Justiça. De acordo com a PF, a conta da empresa foi indicada por um intermediador de André Mariano para o recebimento dos valores ilícitos.
“Para o recebimento de valores da Life, João [apontado como um intermediador] teria indicado para André Mariano conta da Metrópole Soluções, cujo sócio formal é Daniel Lancaster Gonçalves Grassano de Moraes, o qual, ao menos entre 2019 e 2020, ocupou cargo comissionado no município de Cajamar (SP)”, diz a PF.
Ainda segundo a investigação, empresas de fachada ligadas a doleiros e usadas para lavagem de dinheiro da organização também remeteram recursos para a Lancaster Holding Administradora de Bens, vinculada a Daniel.
O Metrópoles não conseguiu contato com Daniel e Gil Lancaster. O espaço segue aberto para manifestação.
Cajamar e Barueri
Entre 2019 e 2020, Daniel Lancaster ocupou dois cargos comissionados na prefeitura de Cajamar, na Grande São Paulo. Em 6 de agosto de 2019, foi nomeado pelo então prefeito Danilo Joan (PSD) como assessor especial. Em 30 de dezembro do mesmo ano, Lancaster foi exonerado do cargo.
Já em 2 de janeiro de 2020, dias depois da exoneração, foi renomeado como oficial executivo do prefeito, nomeação também assinada por Danilo Joan.
O Metrópoles mostrou que Joan e o atual prefeito de Cajamar, Kauan Berto, que é seu aliado, são investigados pela Polícia Civil por um suposto esquema de desvios no município. Os contratos suspeitos somam R$ 875 milhões.
Além de Cajamar, Daniel Lancaster tem ligações com a política de Barueri. Ele é genro do ex-prefeito Gil Arantes e, até as eleições municipais de 2024, ocupava o cargo de presidente do diretório do PP em Barueri.
Na campanha eleitoral do ano passado, Lancaster participou de um evento de campanha do então candidato Gil Arantes, que acabou perdendo o pleito no município. Em publicação no perfil oficial do PP de São Paulo, o empresário aparece discursando aos presentes.
Operação Coffee Break
Uma mulher morreu e outras três pessoas ficaram feridas após um grave acidente por volta das 7h30 da manhã deste domingo (16) na rodovia estadual PE-360, nas proximidades da conhecida curva do Airi, no município de Floresta, no Sertão de Pernambuco. As informações são do blog do Elvis.
De acordo com informações apuradas pela reportagem do blog do Elvis, as vítimas são da cidade de Ibimirim e viajavam em um Corsa Classic com destino a Floresta, onde participariam de um evento católico. Durante o trajeto, o motorista teria perdido o controle do veículo, que saiu da pista e capotou.
A vítima fatal foi identificada, até o momento, apenas pelo nome de Quitéria. Ela não resistiu aos ferimentos e morreu no local. As três pessoas que sobreviveram ao acidente foram socorridas e encaminhadas para o Hospital Municipal de Floresta, onde receberam atendimento médico. Não há detalhes oficiais sobre o estado de saúde delas.
A curva do Airi é conhecida pela grande quantidade de acidentes e pela péssima sinalização, segundo relatos de moradores e motoristas que trafegam pela região. A comunidade cobra providências urgentes do Governo do Estado para reforçar a segurança do trecho e evitar novas mortes. As causas do acidente ainda serão investigadas.
Retomo minha agenda de palestras e lançamentos de “Os Leões do Norte” amanhã pela cidade de Pedra, bacia leiteira do Estado, produtora de queijos e manteiga de qualidade. O evento, que conta com o apoio do prefeito Júnior Vaz (PV), está marcado para o Espaço Dona Vilma, a partir das 13 horas.
Na terça-feira, tenho jornada dupla: logo cedo, às 8 horas, em Bom Jardim, na quadra esportiva Dr. Oswaldo Lima Filho, anexa à Escola Municipal 19 de Julho, no bairro Noelândia, com apoio do prefeito Janjão (UB), que estará presente com toda sua equipe, diretores de escolas e professores, além de vereadores.
Leia maisAinda na terça, estarei em Itaíba, no Agreste Meridional, a partir das 19 horas, na Câmara de Vereadores, com apoio e a presença do prefeito Pedro Pilota (Republicanos), da ex-prefeita Regina da Saúde, candidata a deputada estadual, secretários, vereadores, professores e estudantes.
“Os Leões do Norte” é resultado de uma extensa pesquisa jornalística e historiográfica, envolvendo 22 minibiografias de ex-governadores de Pernambuco, que exerceram mandatos entre 1930 e 2022. Trata-se de uma contribuição essencial para a preservação da memória política e institucional do Estado, destacando o papel de Pernambuco como berço de lideranças que marcaram a história nacional.
O livro ainda conta com design gráfico, capa e caricaturas de Samuca Andrade, além de ilustrações de Greg. “Os Leões do Norte” homenageia os líderes que ocuparam o Palácio do Campo das Princesas e também promove o debate sobre seus legados, suas contradições e o impacto de suas gestões.
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Do Poder360
O ex-deputado federal Aldo Rebelo (MDB), 69 anos, voltou a criticar o governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), classificando a COP30 como um “fiasco político”. Em vídeo publicado ontem (15), o ex-ministro afirmou que o encontro climático em Belém (PA) teve pouca participação de líderes estrangeiros e acusou o Palácio do Planalto de permitir que a Amazônia permaneça com os piores indicadores sociais do país.
Aldo Rebelo disse que a conferência foi esvaziada e que países centrais das discussões climáticas não compareceram. “Não veio o presidente dos Estados Unidos, que além de não comparecer retirou-se da conferência de Paris e não mandou nem o porteiro da Casa Branca. Não veio o presidente da Rússia. Não veio o presidente do Uruguai, do Paraguai, da Argentina. Ou seja, os Brics e o Mercosul não apareceram por aqui”, declarou.
Leia maisA COP 30 é um fiasco político. pic.twitter.com/T4OeMb6GDJ
— Aldo Rebelo (@aldorebelo) November 15, 2025
Segundo ele, até o evento organizado pela primeira-dama, Janja, teve baixa presença. “Não tinha nem gente para o coquetel que a primeira-dama organizou e que chegou atrasada também. Foi um fiasco político.”
O ex-deputado também criticou Marina Silva, ministra do Meio Ambiente, e Sonia Guajajara, ministra dos Povos Indígenas. Disse que ambas participam da marcha climática e depois “voltam para São Paulo, onde têm domicílio e mandato”, enquanto a Amazônia “fica entregue ao seu destino”.
Rebelo citou indicadores sociais e afirmou que a região mantém “as maiores taxas de analfabetismo, doenças infecciosas, mortalidade infantil e os piores números de saneamento básico e acesso à energia elétrica”. Para ele, a marcha climática realizada na COP30 seria “uma atividade esvaziada” e contrária ao desenvolvimento regional.
Histórico
A crítica se soma à linha que Rebelo vem adotando nas últimas semanas. Em 8 de novembro, ele publicou outro vídeo em que acusou ONGs de “controlarem” o Ministério do Meio Ambiente e afirmou que existe uma “caixa-preta” dentro do Estado brasileiro.
Ex-ministro da Defesa (2015-2016), ex-ministro da Ciência e Tecnologia (2015), ex-ministro do Esporte (2011-2015), ex-ministro da Secretaria de Coordenação Política da Presidência da República (2004-2005) e ex-presidente da Câmara dos Deputados (2005-2007), Aldo Rebelo foi deputado federal por seis mandatos consecutivos, a partir de 1991, sempre eleito pelo Estado de São Paulo.
Foi por muitos anos do PC do B, legenda na qual militou desde o movimento estudantil nos anos 1970 e 1980. Afastou-se do partido em 2017, passou por outras siglas e é filiado ao MDB desde 2024.
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O presidente da Associação de Empresários do Brasil (AEBR), Fernando Mendonça, fez um apelo pela preservação das praias ao divulgar um vídeo em que aparece recolhendo lixo na areia: “Todos nós somos responsáveis pela limpeza desse mar. A gente se alimenta dos peixes, temos que ser educados, mas acima de tudo ter a consciência de que o mar é para todos e de que quem suja está prejudicando”, afirmou.
