Denunciado pela Procuradoria-Geral da República (PGR) por atuar nos Estados Unidos em busca de sanções contra autoridades para coagir o Supremo Tribunal Federal (STF) e conseguir uma anistia ampla que contemple seu pai, Eduardo Bolsonaro mostrou que dobrará a aposta nas investidas junto ao governo Donald Trump.
O gesto do presidente dos EUA de abrir um canal com o presidente Lula e mostrar que Eduardo não teria o monopólio da comunicação com os americanos também não fez o parlamentar arrefecer sua atuação para pressionar e ameaçar autoridades brasileiras com novas punições. As informações são do jornal O GLOBO.
Leia maisDesde a semana passada, Eduardo passou a tratar com os americanos sobre o decano do STF, Gilmar Mendes. As falas públicas e nas redes sociais do ministro em defesa de Alexandre de Moraes, assim como os elogios à manifestação popular contra a PEC da Blindagem e da anistia, colocaram o ministro como alvo do filho de Jair Bolsonaro.
“As manifestações de hoje contra a anistia dos atos golpistas são a prova viva da força do povo brasileiro na defesa da democracia. Em diferentes momentos, registraram-se demonstrações de apoio ao Supremo Tribunal Federal, que esteve, mais uma vez, à altura da sua história, cumprindo com coragem e firmeza a missão de proteger as instituições e responsabilizar exemplarmente os que atentaram contra o Estado Democrático de Direito”, escreveu o ministro.
Mensagens reveladas pela Polícia Federal, trocadas entre Bolsonaro e seu filho, mostraram o ex-presidente pedindo que Eduardo deixasse de lado qualquer crítica a Gilmar. Hoje, porém, pai e filho estão proibidos de se comunicar por serem investigados na mesma ação penal.
No fim de julho, o deputado e o ex-apresentador da Jovem Pan Paulo Figueiredo afirmaram que estavam trabalhando para excluir o decano e o então presidente do STF, Luís Roberto Barroso, de punições via Lei Magnitsky. O movimento foi mal recebido no STF. Na avaliação da maioria dos magistrados, ao afirmar que realizou esse trabalho para “dar mais tempo” para Gilmar e Barroso repensarem suas posições, Eduardo fez uma nova ameaça contra o tribunal.
Agora, o grupo de Eduardo Bolsonaro traça um roteiro tendo o decano do STF como alvo, similar ao de Alexandre de Moraes. Dois meses depois de sancionar o magistrado, os EUA incluíram sua esposa, Viviane, na Lei Magnitsky. O parlamentar e seus aliados têm conversado com as autoridades americanas também sobre familiares de Gilmar Mendes, como sua esposa Guiomar, que é advogada e sócia de um escritório de advocacia.
No sábado (27), Paulo Figueiredo falou, nas redes sociais, sobre a chance de as punições, no caso de Moraes, serem ampliadas para os filhos do ministro, além de sócios do escritório e do instituto de seus familiares. Essa tem sido outra frente de pressão e debate nas reuniões de Eduardo com os americanos.
No STF, as ações de Eduardo, agora mirando Gilmar Mendes, são vistas como mais uma ameaça para tentar coagir a corte a livrar o ex-presidente da prisão. Bolsonaro foi condenado no mês passado a 27 anos de prisão por tentativa de golpe de Estado. Os ministros têm reiterado que não cederão às ameaças do deputado e afirmam que seguirão firmes na defesa institucional do tribunal.
Nesta segunda-feira, Moraes afirmou, em decisão, que o parlamentar está nos EUA para “reiterar a prática criminosa e evadir-se de possível responsabilização judicial”. O ministro determinou que Eduardo seja notificado por edital da denúncia apresentada pela PGR, devido à sua atuação para pressionar o governo americano a impor sanções e tarifas ao Brasil.
“O denunciado, de maneira transitória, encontra-se fora do território nacional, exatamente, conforme consta na denúncia, para reiterar a prática criminosa e evadir-se de possível responsabilização judicial, evitando, dessa maneira, a aplicação da lei penal. Tal fato é confessado expressamente pelas postagens realizadas pelo denunciado nas redes sociais”, escreveu Moraes.
Leia menos