Por Antonio Magalhães*
A democracia mata. Nos últimos 20 anos a liberdade de expressão vem ceifando leitores de jornais, revistas, e a audiência de redes poderosas de TV. Na breve vida do Pasquim (1969-1991), o semanário de humor político mais importante do final do regime militar e nos anos iniciais da redemocratização, foi atropelado pelo fim da censura à imprensa e a retomada pelos jornalões da ousadia jornalística.
O que só o Pasquim tinha coragem de publicar passou a ser parte do dia-a-dia da outrora grande imprensa. Os jornais que estiveram sob censura ou autocensura experimentaram um período liberalizante, tomando o público do semanário.
Leia maisA euforia daquele momento com periódicos de variados espectros políticos, conservadores e liberais, marcou uma geração que se identificava com um ou outro veículo. Porque a busca pelo fato verdadeiro, a análise honesta, era o que importava.
A minha geração pode se informar com os melhores jornalistas. Como um Carlos Castelo Branco, do Jornal do Brasil, que usava seu estilo enigmático para passar informações, durante o regime militar, sobre o que pouca gente tinha acesso. Quem não admirou a coragem na época do jornal O Estado de São Paulo de publicar versos de Camões no lugar das matérias retiradas pelo censor oficial.
Hoje os jornalões e revistinhas não informam mais. Tudo ficou no passado. Quem está à frente destes periódicos, com a tolerância dos donos, age como militante de um credo político, sem qualquer compromisso com o fato jornalístico.
Esses cadernos de notícias foram vitimados pelas redes sociais. A ceifadeira da militância jornalística. Foi desesperador o momento em que os jornalistas perceberam que tinham perdido o papel de intermediador de informações. Foram confrontados e derrotados com a difusão generalizada das notícias que podem ser lidas sem qualquer interferência ou orientação. O produtor de conteúdo – a nova terminologia de hoje – capta, escreve, divulga e vê na hora a repercussão do seu trabalho.
Não existem mais veículos de comunicação de massa, com noticiário pasteurizado para um público genérico. Agora os produtores de conteúdo escrevem para nichos de pessoas que podem acolher ou repudiar imediatamente o que foi postado.
Surgiram os odiosos “haters” e os fãs incondicionais. Todos têm vez e voz. Até os imbecis, como registrou o escritor italiano Umberto Eco, frase repetida pelo togado Alexandre de Moraes para criminalizar quem não concorda.
Os jornalões exaltavam o jargão “a verdade doa a quem doer”, mas hoje não podem mais dizer isso. O que podem afirmar é “a mentira para quem acredita”. A falta de veracidade da informação não contaminou somente os jornais, as redes sociais estão também impregnadas de fake news, mentiras americanalhadas, pós-verdades, o velho boato com roupagem ciber, muitas vezes maldoso e criminoso.
Mas a liberdade de expressão difundida pelas redes sociais e por seus nichos, que reduziu a pó muitos veículos da extrema imprensa, também ampliou, a trancos e barrancos, o universo informado. Hoje todas as classes sociais e de renda têm acesso à informação.
Na semana passada, fui abordado por um telespectador de um programa de entrevistas que tive na TV Nova. Ele, um simples vendedor de picolés na praia. Exaltei a sua capacidade de se manter informado e o estimulei para que continuasse assim.
Fiquei surpreso quando aquele homem simples, sem maiores estudos, revelou ser conhecedor com muita clareza do quadro político da atualidade. Disse-me que não se encantava e nem concordava com a pregação do candidato petista em relação a identidade de gênero, a defesa do aborto, a liberação das drogas, enfim, com a destruição da família.
O importante, para ele, era assegurar o futuro de seus filhos e netos com fé em Deus e na família. E não gritou “mito”. É assim que o Brasil profundo está vendo a realidade. É isso.
*Jornalista
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