Prezado Magno Martins,
Polêmico e de estilo próprio, você é um saudosista das origens e convicto apaixonado pela família e vem protagonizando importante papel na política brasileira.
Parabéns pelo aniversário do blog.
Delmiro Campos
Advogado
Prezado Magno Martins,
Polêmico e de estilo próprio, você é um saudosista das origens e convicto apaixonado pela família e vem protagonizando importante papel na política brasileira.
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Delmiro Campos
Advogado
Por Igor Gadelha – Metrópoles
Integrantes do Palácio do Planalto e da base governista no Congresso Nacional viram uma dobradinha de Hugo Motta (Republicanos-PB) e Davi Alcolumbre (União-AP) na decisão de votar o PL da Dosimetria antes do recesso.
Para aliados e auxiliares de Lula, os presidentes da Câmara e do Senado fizeram anúncios casados sobre a votação da proposta com o objetivo de mandar um recado ao presidente da República, com quem ambos têm tido divergências.
Leia maisMotta anunciou que votaria o projeto — que reduz as penas de Jair Bolsonaro e de outros condenados pelo 8 de Janeiro — após a reunião de líderes da terça-feira (9/12). A proposta foi aprovada na Câmara, no mesmo dia, por 291 votos a 148.
Pouco tempo depois de Motta anunciar que pautaria a proposta, Alcolumbre disse a jornalistas que colocaria o projeto para votar no Senado ainda em 2025, caso os deputados aprovassem o texto.
Para parlamentares governistas e auxiliares de Lula, os presidentes do Senado e da Câmara fizeram acordo para votar a proposta como uma forma de se contrapor ao atual chefe do Palácio do Planalto.
Aliados de Lula garantem que o presidente da República vetará o projeto. A palavra final, entretanto, será do Congresso Nacional, que poderá derrubar o veto do petista, mantendo a proposta.
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O ministro Gilmar Mendes, do STF (Supremo Tribunal Federal), recuou e suspendeu o trecho da liminar que restringia à PGR (Procuradoria-Geral da República) o poder de pedir impeachment de ministros da Corte.
A nova decisão foi publicada na tarde desta quarta-feira (10) após pedido protocolado pelo Senado Federal. A sessão virtual de julgamento para referendar a liminar, que estava maracada para a próxima sexta-feira (12), foi retirada de pauta. As informações são da CNN.
Leia maisNa decisão, Gilmar argumentou que a liminar impulsionou o avanço do projeto de lei que atualiza as regras de impeachment no Congresso, fazendo com que os parlamentares incorporassem de forma rápida parte do que defendia o Supremo.
Parado desde agosto de 2023, o projeto de lei voltou à pauta da CCJ (Comissão de Constituição e Justiça) do Senado nesta quarta. A votação, porém, foi adiada para 2026 a pedido do relator Weverton Rocha.
O texto restabeleceria a possibilidade de que OAB, sindicatos e cidadãos, com apoio popular, apresentem pedidos de impeachment de ministros, fixaria prazo de 15 dias para o Senado analisar essas solicitações, mas manteria a exigência de dois terços dos votos para abrir processo, conforme a liminar de Gilmar.
Segundo o ministro, o debate sobre o tema nos últimos dias demonstrou um amadurecimento político, por isso, entendeu ser adequado suspender essa parte específica da liminar, permitindo que o Congresso finalize sua deliberação com autonomia e profundidade.
Na decisão desta quarta, o ministro diz ainda que os últimos presidentes do Senado, Davi Alcolumbre e Rodrigo Pacheco, têm agido com prudência ao arquivar pedidos de impeachment contra ministros do STF, inclusive diante de pressões políticas, mostrando ter “adequada percepção dos potenciais traumáticos” desse tipo de processo.
“A cooperação entre as instituições, pautada pela prudência, pelo diálogo e pelo respeito às normas constitucionais, reafirma a maturidade do sistema democrático brasileiro e estabelece precedente histórico de condução responsável em matéria de impeachment de Ministros da Suprema Corte”, diz Gilmar.
Além de restringir à PGR o poder de pedir o afastamento de ministros, a liminar de Gilmar também estabelecia que a aprovação do processo de impeachment pelo Senado precisa dois terços dos votos e impedia que o mérito de decisões judiciais fosse utilizado como motivo para abertura de um processo de afastamento. Esses pontos foram mantidos pelo ministros.
“No que diz respeito aos demais tópicos da medida cautelar, entendo ser imprescindível a sua manutenção, não apenas em razão de seus fundamentos específicos, mas sobretudo como instrumento de proteção à independência do Poder Judiciário”, justificou.
Pedido do Senado
Na manhã desta quarta (10), o Senado protocolou pedido ao STF para que Gilmar suspendesse a liminar até que o Congresso conclua a votação do projeto que atualiza a Lei do Impeachment.
Segundo os advogados da Casa Legislativa, o projeto trata exatamente dos pontos alterados pela liminar e já está em fase final de consolidação. Eles argumentaram que a decisão do ministro, ao mudar parâmetros da lei vigente, interferiu na construção e no andamento do novo texto da lei.
Na petição, disseram também que não haveria risco institucional em suspender temporariamente a liminar, já que não existe nenhum processo de impeachment em curso contra ministros do STF.
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O deputado Osmar Terra (PL-RS) foi o único parlamentar do PL (Partido Liberal) a votar contra o Projeto de Lei da Dosimetria, aprovado pelo plenário da Câmara dos Deputados na madrugada desta quarta-feira (10).
O texto, que reduz as penas de envolvidos nos atos antidemocráticos de 8 de Janeiro e é considerado benéfico ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), recebeu 291 votos favoráveis e 148 contrários. Com a aprovação, segue agora para análise do Senado. As informações são da CNN.
Leia maisA proposta fixa critérios para o cálculo das punições, estabelece percentuais mínimos para progressão de regime e inclui a possibilidade de compatibilizar remição de pena com prisão domiciliar, medida defendida pelo relator para evitar “insegurança jurídica”. Mesmo com amplo apoio da base bolsonarista, Terra destoou da orientação do seu partido.
Perfil do parlamentar
Nascido em Porto Alegre (RS) em 18 de fevereiro de 1950, Osmar Gasparini Terra tem trajetória política marcada por sete mandatos consecutivos na Câmara. Médico formado pela UFRJ, com especialização em saúde perinatal e mestrado em neurociências pela PUC-RS, ele ocupa cargos públicos há mais de 30 anos. Foi presidente do Grupo Hospitalar Conceição, superintendente do Inamps e secretário de Saúde do Rio Grande do Sul em diferentes períodos.
Ingressou na Câmara em 2001 e, desde então, acumulou passagens por comissões de Saúde, Segurança Pública, Relações Exteriores e comissões especiais. Ele também presidiu grupos técnicos, como o sobre a “Primeira Infância”, área na qual publicou obras e coordenou programas, entre eles, o “Criança Feliz”, que recebeu prêmio internacional de inovação educacional em 2019.
Terra exerceu dois ministérios: foi ministro do Desenvolvimento Social entre 2016 e 2018 e, depois, chefiou a pasta da Cidadania entre 2019 e 2020. Antes disso, governou o município de Santa Rosa (RS) de 1993 a 1996. Em 2025, filiou-se ao PL (Partido Liberal).
Ao longo de diferentes legislaturas, licenciou-se diversas vezes para assumir funções no Executivo gaúcho e cargos ministeriais. Também ocupou posições de liderança em bancadas e blocos parlamentares, incluindo postos de vice-líder da oposição, da minoria e, atualmente, do próprio PL.
Apesar de integrar o partido que patrocinou a revisão das penas dos acusados do 8 de Janeiro, Terra foi o único representante do PL a votar contra a dosimetria.
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O PL da Dosimetria, aprovado pelo plenário da Câmara dos Deputados na madrugada desta quarta-feira (10/12), pode beneficiar outros presos, além dos condenados pela trama golpista e pelos atos de 8 de janeiro de 2023.
Durante a votação do relatório do deputado Paulinho da Força (Solidariedade-SP), deputados da base governistas denunciaram que o projeto facilita “a progressão de regime para diversos crimes”. As informações são do Metrópoles.
Leia maisAmanhã nos jornais a manchete será: Câmara aprova a facilitação da progressão de regime para diversos crimes.
— Rodrigo Rollemberg (@RollembergPSB) December 10, 2025
Dano qualificado, incêndio criminoso sem resultado hediondo, associação criminosa comum e várias condutas praticadas nos ataques às instituições terão progressão…
De acordo com o texto-base, o projeto altera as regras de progressão de regime, mecanismo que permite ao condenado com bom comportamento passar para os regimes semiaberto ou aberto.
A nova legislação prevê que a progressão ocorra após o cumprimento de um sexto da pena, e não mais de um quarto. A medida só não se aplica aos crimes violentos. Confira o trecho do relatório de Paulinho da Força:
Na Lei de Execuções Penais, as mudanças atingem o art. 112, retomando consagrada redação quanto ao tempo necessário para progressão de regime, sem afetar crimes de maior gravidade contra a vida e contra o patrimônio (Títulos I e II da Parte Especial do Código Penal), que permanecem com as atuais exigências legais mais rigorosas, como é justo e esperado pela sociedade
De acordo com o levantamento do PSB, condenados por crimes como coação no curso do processo e incêndio doloso podem ser beneficiados. “Esse projeto vai muito além de Bolsonaro: ele reduz o tempo mínimo de pena para progressão de regime e abre brecha para beneficiar criminosos de colarinho branco, inclusive faccionados do PCC que atuavam na Faria Lima, refinarias e postos de gasolina”, diz o líder do PSB na Câmara, o deputado Pedro Campos (PE).
Em discurso na Câmara, o deputado Rodrigo Rollemberg (PSB-DF) também denunciou o projeto. “Dano qualificado, incêndio criminoso sem resultado hediondo, associação criminosa comum e várias condutas praticadas nos ataques às instituições terão progressão antecipada. É um absurdo. Quem diz combater o crime votou para reduzir penas e suavizar a resposta penal de quem atentou contra a democracia. Uma vergonha para este Congresso”, disse o parlamentar.
O relator do projeto nega que a dosimetria vai beneficiar presos por crimes comuns. “O projeto trata apenas dos condenados do 8 de Janeiro, não tem nenhuma possibilidade de esse texto beneficiar crime comum”, disse.
O substitutivo propõe ainda acabar com a soma de penas para crimes contra o Estado Democrático de Direito, como a tentativa de golpe de Estado e a abolição violenta do Estado Democrático de Direito — crimes pelos quais Jair Bolsonaro e outros réus foram condenados na trama golpista.
Paulinho determinou também que, quando esses crimes forem cometidos em “contexto de multidão”, ou seja, durante um ato coletivo, como os ataques de 8 de Janeiro, a pena pode ser reduzida de um terço a dois terços. Essa redução só vale se a pessoa não tiver financiado o ato nem exercido papel de liderança — e não alcançaria Bolsonaro, apontado pelo STF como líder da tentativa de golpe de Estado.
Aprovação no plenário da Câmara
O presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), anunciou o resultado da votação às 2h25 da madrugada de quarta-feira (10/12): 291 votos a favor e 148 contrários.
Agora, o projeto será analisado pelo Senado Federal. O presidente do Congresso Nacional, Davi Alcolumbre (UniãoBrasil-AP), afirmou em plenário, nessa terça-feira, que pretende analisar o PL da Dosimetria ainda em 2025.
A aprovação do Projeto de Lei 2162/23, o chamado PL da Dosimetria, é uma meia vitória para a oposição bolsonarista, que orientou voto a favor da proposta, mas que até então tentava articular uma anistia “ampla e irrestrita” para Bolsonaro e os demais condenados.
Com a falta de apoio ao tema, a oposição recuou e passou a aceitar debater um projeto que apenas reduz as penalidades aplicadas contra os condenados. O senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), anunciado como candidato do pai à disputa das eleições presidenciais de 2026, chegou a colocar a própria candidatura como moeda de troca para o texto ser aprovado.
Em setembro deste ano, o Supremo Tribunal Federal (STF) condenou Jair Bolsonaro a 27 anos e 3 meses de prisão em regime fechado, por liderar a trama golpista. O ex-presidente está preso na Superintendência da Polícia Federal, em Brasília, desde 22 de novembro. Com a aprovação do projeto de lei, a expectativa é que o ex-presidente fique preso por menos tempo.
Como Bolsonaro pode ser beneficiado?
Segundo o relator, além de reduzir o tempo necessário para a progressão de regime, o projeto também pode diminuir a pena do ex-presidente.
A Vara de Execução Penal estimou neste mês que a progressão de Bolsonaro para o semiaberto ocorreria em 23 de abril de 2033, após cerca de oito anos de detenção. Paulinho calcula que esse prazo poderia cair para pouco mais de 3 anos.
Em entrevista ao Metrópoles, na coluna de Igor Gadelha, o advogado Celso Vilardi, que atua na defesa de Bolsonaro, avalia em análise preliminar que a progressão só ocorreria daqui a quatro anos.
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O governo Trump se manifestou novamente nesta semana sobre a aplicação da lei Magnitsky ao ministro do STF Alexandre de Moraes, na qual acusou o magistrado brasileiro de realizar “prisões arbitrárias” e censura.
Em ofício enviado ao deputado republicano Rick McCormick na segunda-feira (8), a secretaria do Tesouro afirmou que Moraes “se utilizou sua posição para autorizar detenções arbitrárias antes do julgamento e suprimir a liberdade de expressão”. McCormick é membro do Comitê de Relações Exteriores da Câmara dos Deputados dos EUA. As informações são do g1.
Leia maisFoi o mesmo departamento do Tesouro que, em 30 de julho, sancionou Moraes com a lei Magnitsky, utilizada para punir estrangeiros e conhecida como “morte financeira”. Com a decisão, os vistos americanos do ministro e de sua família foram revogados.
A nova manifestação do Tesouro dos EUA ocorre em meio a negociações do governo Lula com os EUA para a revogação das sanções impostas a autoridades brasileiras. Além de Moraes, o ministro da Saúde, Alexandre Padilha, também foi sancionado, por exemplo.
A aplicação da Magnitsky contra Moraes se deu por conta do julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro no STF por golpe de Estado. À época, o julgamento ainda nem tinha começado e o governo Trump exercia pressão para interferir no aparato judicial brasileiro e acusava o ministro de violar direitos humanos. Desde então, Bolsonaro foi condenado 27 anos e dois meses de prisão e está detido na superintendência da PF em Brasília. Outros golpistas também foram julgados e condenados.
Ainda no ofício, o Tesouro americano também falou que Moraes “exerce uma campanha ilegal de censura contra cidadãos dos EUA em território americano”. A alegação, rebatida por Moraes na época da Magnitsky, foi ecoada por McCormick, que disse lutar pela liberdade de expressão dentro e fora dos EUA.
Moraes punido com Magnitsky
O ministro do STF Alexandre de Moraes foi sancionado em 30 de julho com a lei Magnitsky, utilizada para punir estrangeiros. A decisão foi publicada pelo Escritório de Controle de Ativos Estrangeiros do Tesouro norte-americano.
Segundo o governo americano, todos os eventuais bens de Alexandre de Moraes nos EUA estão bloqueados, assim como qualquer empresa que esteja ligada a ele. O ministro também não pode realizar transações com cidadãos e empresas dos EUA — usando cartões de crédito de bandeira americana, por exemplo.
O secretário do Tesouro dos EUA, Scott Bessent, mencionou diretamente uma suposta “caça às bruxas” tendo o ex-presidente Jair Bolsonaro como alvo por parte do ministro. A esposa e um dos filhos de Moraes também foram sancionados.
“Alexandre de Moraes assumiu para si o papel de juiz e júri em uma caça às bruxas ilegal contra cidadãos e empresas dos Estados Unidos e do Brasil”, disse Bessent.
“Moraes é responsável por uma campanha opressiva de censura, detenções arbitrárias que violam os direitos humanos e processos judicializados com motivação política — inclusive contra o ex-presidente Jair Bolsonaro. A ação de hoje deixa claro que o Tesouro continuará responsabilizando aqueles que ameaçam os interesses dos EUA e as liberdades de nossos cidadãos”, afirma o secretário, em comunicado.
A Lei Magnitsky permite que os Estados Unidos imponham sanções a cidadãos estrangeiros. O objetivo é punir pessoas acusadas de violações graves de direitos humanos ou de corrupção em larga escala.
O presidente da CCJ (Comissão de Constituição e Justiça) do Senado, o senador Otto Alencar (PSD-BA), e o senador Renan Calheiros (MDB-AL) reeditaram a parceria que formaram durante a tramitação da PEC da Blindagem, agora para barrar a aprovação acelerada do PL (Projeto de Lei) da Dosimetria no Senado Federal. A análise é da âncora da CNN Tainá Falcão.
Otto Alencar anunciou que o relator da proposta será o senador Esperidião Amin (PP-SC) e criticou diretamente a tentativa de tramitação acelerada do projeto. Durante sessão no Senado, Alencar afirmou que a Casa não pode ser “cartório da Câmara Federal”, referindo-se à prática de aprovar rapidamente projetos que vêm da Câmara dos Deputados sem a devida análise.
Leia mais“Essa é uma coisa absolutamente inaceitável. E quando eu conversei com o senador Davi Alcolumbre (União-AP), lá atrás, para apoiá-lo à presidência do Senado Federal do Congresso Nacional, ele me propôs comandar a Comissão de Constituição e Justiça, esse foi um acerto que nós fizemos”, declarou Otto Alencar, destacando a importância do relatório passar pela CCJ.
O senador Renan Calheiros, por sua vez, apoiou a posição de Otto Alencar, criticando a pressa para votar o projeto. “O Senado não pode aceitar passivamente que isso tramite aqui na Casa no mesmo dia”, afirmou Calheiros, destacando que o texto do relator já traz a redução da pena de um ex-presidente condenado e preso por tentar dar um golpe de Estado.
Estratégia repetida
A dobradinha entre Otto Alencar e Renan Calheiros repete a estratégia que ambos utilizaram anteriormente para barrar a aprovação da PEC da Blindagem. Na ocasião, os dois senadores iniciaram um movimento contrário à proposta antes mesmo de sua aprovação na Câmara, conseguindo posteriormente enterrá-la na CCJ do Senado.
Esse alinhamento entre as duas lideranças tem sido observado não apenas em relação ao PL da Dosimetria, mas também em outras questões envolvendo decisões de Alcolumbre. O movimento já mostrou resultados, com a matéria sendo encaminhada para análise na CCJ, contrariando a intenção inicial de levá-la diretamente ao plenário do Senado.
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O Ministério do Planejamento e Orçamento confirmou nesta quarta-feira (10) que o salário mínimo vai ser de R$ 1.621 em 2026. Com isso, o valor será R$ 103 acima dos atuais R$ 1.518.
Reportagem do g1 publicada mais cedo, nesta quarta, já informava que a estimativa de valor do salário mínimo para 2026 era essa.
O reajuste, de 6,79%, será aplicado a partir de janeiro – ou seja, no salário que o trabalhador recebe em fevereiro. As informações são do g1.
Leia maisPelo formato adotado, o reajuste corresponde à soma de dois índices:
Entretanto, em dezembro do ano passado, o governo aprovou uma lei que restringe o aumento real do salário mínimo a 2,5% (o teto de gastos do arcabouço fiscal).
Ao ser aplicada, então, considera a inflação em doze meses até novembro deste ano (4,18%, conforme divulgado pelo IBGE nesta quarta-feira) mais 2,5% de alta real (PIB de 2024, limitado a 2,5%).
Referência para 59,9 milhões de pessoas
De acordo com nota técnica divulgada em janeiro deste ano pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), o salário mínimo serve de referência para 59,9 milhões de pessoas no Brasil.
Além dos trabalhadores que, por contrato, recebem um salário mínimo (ou múltiplos do mínimo), há também as aposentadorias e benefícios como o Benefício de Prestação Continuada (BPC) vinculados ao mesmo valor.
O salário mínimo também gera impactos indiretos na economia, como o aumento do “salário médio” dos brasileiros e a elevação do poder de compra do trabalhador.
Impacto nas contas públicas
Ao conceder um reajuste maior para o salário mínimo, o governo federal também gasta mais. Isso porque os benefícios previdenciários, assim como o valor do abono salarial e do seguro-desemprego, entre outros, não podem ser menores que o valor do mínimo.
De acordo com cálculos do governo, a cada R$ 1 de aumento do salário mínimo cria-se uma despesa em 2026 de aproximadamente R$ 420 milhões.
Um aumento de R$ 103 do salário mínimo no próximo ano, portanto, corresponde a um crescimento de cerca de R$ 43,2 bilhões nas despesas obrigatórias.
O aumento maior do salário mínimo é um dos principais itens que eleva os gastos obrigatórias. Com isso, sobrarão menos recursos para os gastos “livres” do governo, chamados de “discricionários” – o que pode afetar políticas do governo federal.
Para impedir um crescimento maior da dívida pública, e consequentemente dos juros cobrados do setor produtivo, alguns economistas defendem que o piso dos benefícios previdenciários deixe de ser vinculado ao salário mínimo, e que volte a ter correção apenas pela inflação (como foi no governo Jair Bolsonaro).
Salário mínimo necessário
O Dieese, por outro lado, calculou que o salário mínimo mensal necessário para a manutenção de uma família de quatro pessoas deveria ter sido de R$ 7.067,18 em novembro desse ano, ou 4,66 vezes o piso mínimo nacional de R$ 1.518.
O cálculo leva em consideração a determinação constitucional que estabelece que o salário mínimo deve ser suficiente para suprir as despesas de um trabalhador e da família dele com alimentação, moradia, saúde, educação, vestuário, higiene, transporte, lazer e previdência.
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Por Zé Américo Silva*
A madrugada de 10 de dezembro de 2025 será lembrada como um marco de degradação institucional. A Câmara dos Deputados aprovou o chamado PL da Dosimetria, apresentado como uma “revisão técnica” do cálculo das penas, mas que, na prática, se converteu no maior ato de complacência parlamentar com golpistas desde a redemocratização.
Ao reduzir drasticamente as sanções de quem atentou contra o Estado Democrático de Direito, a Câmara produziu um efeito jurídico direto: aliviar a situação de Jair Bolsonaro e de seus generais conspiradores, repetindo o ciclo de anistias e proteções que sempre o acompanharam desde seus tempos de medíocre capitão do Exército. A história se repete como farsa – e, desta vez, como ameaça concreta ao futuro democrático do país.
Leia maisA aprovação não foi fruto de convicção, mas de conchavos. O que se viu foi um acordo amplo, costurado no subterrâneo do Centrão, cujo objetivo real foi retirar da mesa a candidatura de Flávio Bolsonaro, lançada dias atrás como instrumento de pressão política. O PL da Dosimetria virou peça de chantagem e moeda de troca.
Seu avanço permitiu ao bloco que domina a Câmara reposicionar suas ambições para 2026, pavimentando a construção de uma nova candidatura que atenda exclusivamente aos seus interesses eleitorais e financeiros. Nada ali dialoga com o país, com a justiça ou com a sociedade. Dialoga apenas com a autopreservação de um sistema que se alimenta da própria corrosão ética.
No centro desse processo vergonhoso está o presidente da Câmara, Hugo Motta – liderança frágil, politicamente comprometida e incapaz de exercer a mínima independência institucional. A forma truculenta com que conduziu a sessão, repetindo o padrão de violência seletiva demonstrado dias antes ao mandar retirar à força um deputado que protestava, revela muito mais do que postura autoritária. Revela conveniência.
Protestos de aliados, ainda que paralisando a Casa, foram tratados com condescendência. Já manifestações da oposição receberam o peso da repressão. Dois pesos, duas medidas; duas imoralidades incompatíveis com uma democracia madura. E a Câmara se apequena junto com seu presidente.
No Senado, a tendência é igualmente sombria. O presidente Davi Alcolumbre já sinalizou disposição de atropelar o rito, acelerando a apreciação do projeto sem o devido debate constitucional. A pressa não é técnica; é política. E serve ao mesmo objetivo: aplicar um manto de indulgência sobre os condenados, sejam eles golpistas, militares traidores do juramento constitucional ou outros beneficiados colaterais da mudança legislativa. A Casa Alta parece inclinada a reiterar a desserviço que a Câmara prestou ao país.
O que está em jogo é maior do que a sorte de Bolsonaro, de um punhado de generais e de quadros políticos associados ao extremismo. O que está em jogo é a integridade da democracia, corroída por um Parlamento que legisla para si mesmo enquanto ignora os temas que realmente importam para a vida nacional. O mesmo Congresso que passa madrugadas trabalhando para reduzir penas de golpistas é o que engaveta projetos de combate à corrupção, de taxação justa dos bilionários, de regulação das fintechs predatórias, de enfrentamento às desigualdades e de responsabilização dos setores que financiam ilegalidades, inclusive o poderoso ecossistema das apostas eletrônicas que hoje irriga campanhas e parlamentares. A mensagem é explícita: proteger privilégios é prioridade; enfrentar problemas reais, não.
A madrugada de 10 de dezembro deveria envergonhar qualquer brasileiro que acredita no Estado Democrático de Direito. Diante da condução indecente das Casas Legislativas, resta à sociedade mobilizar-se. O Congresso deixou claro que não agirá em defesa da democracia; só agirá sob pressão. A resposta, portanto, não pode ser resignação.
Deve ser participação ativa, veemente, firme. O país não é obrigado a assistir passivamente à construção de uma anistia disfarçada, nem a aceitar que acordos de bastidor valham mais do que a Constituição. É oportuno lembrar que os eleitores terão em 2026 a oportunidade de renovar todos os membros deletérios da Câmara dos deputados e 54 dos 81 senadores da República.
A história registra seus dias de vergonha – e este certamente será lembrado como um dos maiores. Mas também registra seus momentos de resistência. Que a sociedade brasileira esteja à altura deste desafio.
*Jornalista
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O presidente da Subcomissão dos Presos do 8 de janeiro, deputado Coronel Meira (PL) realiza a quinta e última audiência pública, hoje, a partir das 17h, dando continuidade ao recebimento de relatos e denúncias de violações de direitos humanos praticadas contra os presos do 8 de janeiro.
“Essas audiências, vão assegurar que o Estado brasileiro cumpra seus deveres de respeito à dignidade da pessoa humana, ao devido processo legal e à integridade dos cidadãos que se encontram injustamente sob sua custódia”, afirma o deputado Coronel Meira.
Leia maisA realização de mais uma oitiva é necessária para dar prosseguimento ao trabalho de apuração das graves denúncias de violações de direitos humanos praticadas no âmbito do sistema penitenciário e também pelo poder judiciário em desfavor dos cidadãos presos em decorrência dos fatos de 8 de janeiro de 2023.
As primeiras audiências mostraram a complexidade e a gravidade dos relatos, demandando mais espaço para a oitiva de familiares, vítimas, exilados políticos, representantes legais e especialistas, de modo a garantir uma investigação ampla, aprofundada e transparente.
Para o deputado Coronel Meira, a sequência desse processo de oitiva é fundamental para que a Subcomissão reúna subsídios suficientes para a elaboração de um relatório final consistente, que exponha a realidade enfrentada pelos presos e identifique propriamente as violações de direitos e garantias fundamentais asseguradas pela Constituição Federal e por tratados internacionais dos quais o Brasil é signatário, para a tomada de providências junto aos órgãos competentes.
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Por Paulo Abou Hana*
Hoje, 10 de dezembro, completam-se quatro anos que meu pai se foi. Como o tempo voa… Parece que foi ontem que eu, na estrada a caminho de Petrolina, recebi uma ligação de um médico dizendo que papai não havia resistido a mais uma parada cardíaca.
A viagem de volta foi a mais longa da minha vida. Foi inacreditável ver meu Pai, meu herói, sendo “preparado” para ser velado e sepultado. Acompanhei e cuidei de tudo como se fosse uma última missão a ser cumprida. Que dor…
A família e os muitos amigos foram fundamentais para a “ficha” da saudade, que só cai depois. Honrarei sempre seu nome e o seu legado. Tomara que os Kardecistas estejam certos e um dia eu possa te ver, te abraçar e conversar muito com o senhor sobre tudo que vivemos e deixamos de viver também.
Te amarei sempre, meu pai.
*Advogado
Por Rudolfo Lago – Correio da Manhã
É bastante provável que a CPI do Crime Organizado seja mais uma de várias recentes no Congresso a não chegar a lugar algum. Seja, porém, qual for seu resultado, ela vai ficar marcada pela contundente sinceridade de seu relator, o senador Alessandro Vieira (MDB-SE), ao criticar a promiscuidade que hoje parece haver entre os poderes e o crime organizado.
Ao inquirir o ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski, que já foi ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Vieira pôr um dedo “Supremo” na ferida, ao afirmar, com todas as letras, que “há hoje infiltração criminosa nos poderes da República”. E citou dois fatos recentes noticiados envolvendo ministros do STF em ligações com o enroladíssimo Banco Master.
Leia maisO primeiro foi a “carona” dada a Dias Toffoli em um jatinho com um advogado do Banco Master para assistir, no Peru, à final da Taça Libertadores, entre Flamengo e Palmeiras. “Eu tenho o mau hábito de dar nome às coisas”, disse Vieira. “O escândalo que é o ministro Dias Toffoli viajar para um compromisso particular com o advogado do Banco Master e despachar em favor do pedido do advogado”.
Essa infiltração, diz Vieira, se dá “por meio de lobby que se sustenta em parte na venda de acesso a gabinetes”. Vieira não fez acusações diretas nem a Toffoli nem a Moraes, mas citou, segundo ele, “exemplos”. E poderia ter citado outros nos demais poderes também. Mas vaticinou um cenário sombrio: pode estar próxima, diz ele, a hora da prisão de um ministro de tribunal superior.
O segundo caso claramente mencionado por Alessandro Vieira foi a minuta de um contrato encontrado nos celulares e notebooks de Daniel Vorcaro com o escritório Barci Advocacia, da esposa de Alexandre de Moraes, Viviane Barci de Moraes. O contrato previa uma remuneração mensal de R$ 3,6 milhões por 36 meses para que o escritório representasse o banco em qualquer circunstância. No total, R$ 129 milhões. “O escândalo do momento é o suposto contrato entre o Banco Master e o escritório da esposa e dos filhos do ministro Alexandre de Moraes”.
“Este é um país que já teve presidente, governador, senador, deputado, governador, prefeito e vereador presos”, disse Alessandro Vieira. “Mas não tivemos nenhum ministro de instâncias superiores preso”, continuou. Para, então, concluir o relator da CPI: “Me parece que este momento se avizinha”.
Na sua resposta, Ricardo Lewandowski não citou nenhum caso específico. Disse apenas ser contrário à “qualquer desvio ético”. Mas as menções talvez o tenham também incomodado. Depois que deixou o STF, antes de assumir o Ministério da Justiça, Lewandowski foi do conselho consultivo do Banco Master.
Ainda que Vieira tenha citado especificamente dois casos do Supremo, não é somente ali hoje que as coisas se complicam. Como o Correio Político lembrou, há hoje mais de 30 parlamentares investigados por desvios com emendas orçamentárias. E os esquemas do INSS agora arrastam mais alguns políticos.
Isso tudo num tempo de complicadíssimo conflito e de falta de harmonia entre os poderes. Cada ação autorizada por ministro do Supremo para investigar políticos é respondida com reação do Congresso. E em nada ajudam notícias que envolvam diretamente ministros da Suprema Corte e que fiquem sem explicação.
A Câmara primeiro tentou se blindar com a fracassada PEC que o Senado barrou. Então, o STF tenta se blindar com a decisão tomada pelo ministro Gilmar Mendes limitando a possibilidade de pedidos de impeachment de integrantes da Corte. Onde tudo irá parar, é imprevisível. Talvez haja aí um caminho para a CPI.
O presidente do STF, Edson Fachin, falou em criar um código de ética para os tribunais superiores. Houve reação dos colegas. Se Fachin não conseguir estabelecer tais limites pelo Judiciário, quem sabe talvez haja por aí a possibilidade de a CPI relatada por Alessandro Vieira não ser mais uma a acabar em pizza.
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Por Marcelo Diniz*
O debate sobre o chamado “PL da dosimetria” foi vendido como um acerto de contas com supostos excessos do Supremo Tribunal Federal nas penas do “8 de janeiro”. Mas o texto aprovado pela Câmara vai muito além de Bolsonaro e dos réus da trama golpista.
Ao mexer na Lei de Execução Penal e no capítulo dos crimes contra o Estado Democrático de Direito, o Congresso alterou engrenagens centrais do sistema penal. E fez isso num momento em que o próprio Legislativo discute leis para endurecer o combate às facções criminosas e milícias. O resultado é um conjunto contraditório de normas, que pode abrir brechas para antecipar a soltura ou até evitar a prisão de integrantes de organizações criminosas.
Leia maisOs defensores do projeto insistem em um ponto: o texto endurece a regra de progressão para quem exerce comando de facção ou constitui milícia, exigindo o cumprimento de ao menos 50% da pena, em vez dos 40% hoje aplicados em crimes hediondos sem morte. É verdade. O inciso VI do novo artigo 112 da Lei de Execução Penal fixa esse patamar para o comando de organização criminosa estruturada para crime hediondo, e o inciso VII faz o mesmo para a constituição de milícia privada. Mas essa vitrine de rigor esconde o movimento de fundo: o mesmo artigo 112 volta a consagrar a progressão após 1/6 da pena como regra geral – e, pior, expande esse benefício para crimes cometidos com violência ou grave ameaça que não se enquadrem como hediondos nem como crimes contra a vida ou o patrimônio.
Na prática, uma série de delitos frequentemente associados à atuação de organizações criminosas – como exploração sexual, certos crimes econômicos, corrupção em licitações e outras condutas previstas fora dos títulos de vida e patrimônio – passam a exigir menos tempo em regime fechado para progressão. São justamente esses delitos periféricos que, somados, alimentam o caixa e o poder territorial de facções e milícias. Ou seja: ao mesmo tempo em que o Congresso aprova um marco legal de combate ao crime organizado, com penas mais duras e percentuais mais altos para progressão em crimes hediondos e para chefes de organizações, o PL da dosimetria puxa o sistema para o lado oposto em uma parte relevante do Código Penal.
O risco de beneficiar, direta ou indiretamente, integrantes de organizações criminosas não é retórico. Ele decorre de três movimentos combinados:
O relatório da Câmara deixa claro: o objetivo foi “retomar consagrada redação quanto ao tempo necessário para progressão de regime”, aplicando o patamar de 1/6 de cumprimento inclusive para crimes com violência ou grave ameaça, salvo algumas exceções. Para crimes não hediondos, mas graves – como determinados delitos econômicos, contra a administração ou ligados à exploração de pessoas – isso significa menos tempo na prisão antes do semiaberto. É um presente também para o braço financeiro de facções e milícias.
A alteração do artigo 126 da LEP deixa expresso que o condenado em regime domiciliar poderá remir pena por trabalho ou estudo. A prática já vinha sendo admitida por decisões do STJ em casos específicos; agora, ganha chancela legal ampla. Em tese, é um avanço civilizatório. Na prática, em um país com enorme déficit de fiscalização e monitoramento eletrônico, abre espaço para que condenados vinculados a organizações criminosas acelerem o fim da pena fora do presídio, em ambiente em que o controle estatal é muito mais frágil.
As mudanças foram desenhadas para retroagir. Isso significa que condenados por crimes graves – inclusive integrantes de organizações criminosas que não se enquadrem na faixa mais dura de hediondos com morte ou comando formal de facção – poderão pedir recontagem de penas, progressões antecipadas e conversão de regime.
A combinação desses elementos cria uma janela de oportunidade para a atuação em cadeia de advogados de facção: uma lei aprovada sob o pretexto de corrigir “excessos” no 8 de janeiro passa a ser argumento para soltar antes da hora quem lucra com o crime organizado. O PL foi pensado para atingir um núcleo bem específico: os condenados pelo golpe de Estado e pela abolição violenta do Estado Democrático de Direito. A unificação das penas desses crimes, em concurso formal, reduz de forma drástica o total a ser cumprido por Bolsonaro e outros réus de alto escalão – cálculos divulgados apontam cenário de pouco mais de dois anos de regime fechado em vez de mais de sete. Só que a lei não é cirúrgica. Ao mexer no Código Penal e na Lei de Execução Penal, o Congresso recalibra o sistema inteiro. As mesmas regras que hoje são apresentadas como gesto de “reconciliação” com uma parcela dos golpistas poderão ser invocadas por réus de crimes violentos e por integrantes da engrenagem de facções e milícias.
Esse efeito colateral é particularmente grave num país em que o próprio governo calcula a existência de dezenas de facções e milícias atuando no território nacional, algumas com alcance transnacional. Não é trivial afrouxar as engrenagens da execução penal justamente quando se tenta estrangular o poder econômico e territorial dessas organizações.
A contradição política é evidente. De um lado, o Executivo envia ao Congresso projetos que criam o tipo penal de facção criminosa, ampliam penas, agravam circunstâncias qualificadoras e fortalecem a investigação patrimonial e a cooperação internacional. De outro, a Câmara aprova, em votação tensa e acelerada, um texto que:
É um recado confuso: endurecer na vitrine (“comando de facção”, “milícia privada”), mas abrir atalhos no miolo da legislação penal – justamente onde as organizações criminosas se sofisticam, lavam dinheiro, capturam contratos e exploram populações vulneráveis. Há ainda um efeito político-jurídico que não pode ser ignorado.
Ao introduzir conceitos abertos como “mesmo contexto” e “multidão” e ao selecionar, por lei, o tipo de concurso de crimes a ser aplicado pelo juiz, o Congresso cria um terreno fértil para disputas intermináveis de interpretação.
Essa ambiguidade interessa a quem tem estrutura para litigar sem prazo: grandes escritórios criminalistas, réus com poder econômico e, naturalmente, cúpulas de organizações criminosas. Cada brecha semântica vira um novo caminho recursal; cada regra retroativa, um novo pedido de revisão. Quando o alvo aparente é um grupo politicamente identificado – os golpistas de 8/1 –, mas o efeito normativo respinga em todo o sistema, a sensação de “virada de mesa” não se limita à política. Ela alcança a segurança pública e o combate ao crime organizado.
Defender o Estado Democrático de Direito não é apenas punir exemplarmente quem tentou derrubar as instituições. Também é garantir que o país não se torne mais vulnerável a facções, milícias e organizações criminosas que se alimentam da fragilidade do sistema penal. Ao aprovar o PL da dosimetria, a Câmara optou por uma solução aparentemente intermediária entre anistia ampla e manutenção integral das penas definidas pelo STF. Mas, ao fazer isso, mexeu em pilares da execução penal que vão muito além do 8 de janeiro.
O Senado terá agora a oportunidade – e a responsabilidade – de corrigir essa rota. Não se trata de blindar um ex-presidente ou de manter inimigos políticos atrás das grades a qualquer custo. Trata-se de uma pergunta mais simples e objetiva: Faz sentido, em plena expansão do crime organizado, aprovar uma lei que pode encurtar a prisão ou até impedir o encarceramento de integrantes de organizações criminosas (tenham elas atuação política ou não)?
Se a resposta for não, o caminho é claro: revisar o texto, separar o que diz respeito ao 8 de janeiro do que impacta o resto do sistema penal e fechar, em vez de alargar, as brechas que hoje interessam tanto aos golpistas quanto às facções.
*Empresário, coordenador-geral estadual do Instituto Afro Origem
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