Daqui a pouco tem Sextou em homenagem ao rei Roberto Carlos

Daqui a pouco, o Sextou presta uma homenagem ao rei Roberto Carlos. Entrevistei o seu maior biógrafo, o escritor e pesquisador Paulo César de Araújo, autor de ‘Roberto Carlos em Detalhes’, um dos melhores livros sobre a trajetória do cantor, mas que acabou numa pendenga judicial por ter sido proibido pelo rei.

Depois de passar por todas as instâncias judiciais, o processo movido por Roberto Carlos contra o biógrafo chegou ao Supremo Tribunal Federal e foi julgado em 15 de junho de 2015. A batalha jurídica entre os dois começou em 2006, quando Paulo César lançou pela editora Planeta a biografia “Roberto Carlos em Detalhes”.

O cantor reivindicava a proibição do livro justificando a defesa do seu patrimônio: a sua história pessoal. O julgamento culminou com a vitória de Paulo César e a liberação de biografias e cinebiografias não autorizadas.

Mesmo com toda essa situação, Paulo César diz não guardar mágoa do então ídolo. Em 2014, ele lançou o livro “O réu e o rei: minha história com Roberto Carlos em detalhes”, em que conta a polêmica proibição. Fã ardoroso de Roberto, Paulo César lançou mais um livro sobre o artista.

No Sextou, o consagrado biógrafo do rei fala dos grandes clássicos gravados pelo artista, seu envolvimento com a Bossa Nova e a Jovem Guarda.

O programa vai ao ar hoje, das 18 às 19 horas, pela Rede Nordeste de Rádio, formada por mais de 40 emissoras em Pernambuco, Paraíba, Alagoas e Bahia, tendo como cabeça de rede a Rádio Folha 96,7 FM, no Recife.

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Chefe da Ajudância de Ordens de Jair Bolsonaro (PL), o tenente-coronel Mauro Cid afirmou no primeiro depoimento de sua colaboração premiada que a ala “mais radical” do grupo que defendia um golpe de Estado no Brasil no final de 2022 incluía a então primeira-dama, Michelle Bolsonaro, e o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP).

A íntegra do depoimento de Cid, datada de 28 de agosto de 2023, foi obtida pelo colunista Elio Gaspari. Em novembro daquele ano, o UOL revelou que a delação de Cid apontava Michelle e Eduardo como incitadores do golpe.

“Tais pessoas conversavam constantemente com o ex-presidente, instigando-o para dar um golpe de Estado, afirmavam que o ex-presidente tinha o apoio do povo e dos CACs [Colecionadores, Atiradores Desportivos e Caçadores] para dar o golpe”, diz a transcrição do depoimento de Cid, que agora vem a público.

O relatório final da investigação da Polícia Federal sobre a trama golpista, concluído em 21 de novembro de 2024 — ou seja, um ano e três meses após o depoimento inicial de Cid —, não traz Michelle nem Eduardo entre os 40 indiciados.

O nome da ex-primeira-dama nem é mencionado no documento. Eduardo é citado apenas de forma lateral, no contexto de que seu nome aparecia como contato no telefone celular de um dos investigados.

À época em que vazaram esses pontos da delação de Cid, Eduardo e Michelle negaram ao UOL envolvimento em ações pró-golpe.

As afirmações são “absurdas e sem qualquer amparo na verdade”, disse a defesa de Michelle à época, acrescentando que Bolsonaro ou seus familiares “jamais estiveram conectados a movimentos que projetassem a ruptura institucional do país”. Eduardo disse que a delação de Cid não passava de “devaneio” e “fantasia”.

O relatório da PF está sob análise da Procuradoria-Geral da República, a quem cabe oferecer denúncia ao STF contra os 40 suspeitos ou arquivar os indiciamentos.

Michelle e Eduardo são atualmente cotados para disputar a Presidência em 2026, no lugar de Jair Bolsonaro, que está inelegível até 2030.

No depoimento dado em agosto de 2023, Cid disse que havia três grupos distintos em torno de Bolsonaro no final de 2022, momento em que o país vivia com acampamentos de bolsonaristas em frente a quartéis do Exército pedindo um golpe de Estado.

De acordo com o tenente-coronel, o primeiro trabalhava para convencê-lo a admitir a derrota e se tornar “o grande líder da oposição”. Entre eles estariam o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), o ministro-chefe da Casa Civil, Ciro Nogueira, e o comandante da Aeronáutica, Baptista Júnior, entre outros.

O segundo grupo, segundo Cid, não concordava com os rumos que o país estava tomando, mas também se colocava contra medidas de ruptura. Fariam parte dele, entre outros, o comandante do Exército, Freire Gomes.

Já o terceiro grupo, favorável a medidas golpistas, era formado por duas alas nas palavras de Cid. Uma “menos radical”, que buscava encontrar indícios de fraudes nas urnas para justificar uma virada de mesa. Outra, mais radical, “a favor de um braço armado”.

Esse grupo mais belicoso defendia assinatura de decretos de exceção, de acordo com ele.

No depoimento, Cid diz que essas pessoas “gostariam de alguma forma incentivar um golpe de Estado”, queriam que Bolsonaro assinasse um decreto de exceção e “acreditavam que quando o presidente desse a ordem ele teria apoio do povo e dos CACs”.

“Quanto a parte mais radical”, prossegue o relato do depoimento de Cid feito pela PF, “não era um grupo organizado, eram pessoas que se encontravam com presidente, esporadicamente, com a intenção de exigir uma atuação mais contundente do então presidente”.

Nessa ala, Cid cita nominalmente Felipe Martins, ex-assessor para Assuntos Internacionais de Bolsonaro, Onyx Lorenzoni, que ocupou quatro ministérios na gestão Bolsonaro, Gilson Machado, ex-ministro do Turismo, o general Mario Fernandes, secretário-executivo da Secretaria-Geral da Presidência, e os senadores Jorge Seif (PL-SC) e Magno Malta (PL-ES), além de Eduardo e Michelle.

Desse grupo, apenas Felipe Martins e Mario Fernandes acabaram sendo indiciados pela PF no relatório final da trama golpista.

O presidente do PL, Valdemar Costa Neto, é citado por Cid nessa ocasião como integrante da ala “menos radical” que buscava o golpe, a que buscaria indicativos de fraude eleitoral que justificassem a virada de mesa.

Valdemar está entre os indiciados pela PF. De acordo com a investigação, ele é suspeito de ter ingressado com questionamento do resultado eleitoral em que Bolsonaro foi derrotado por Lula mesmo ciente de que eram falsos os argumentos que usava para sugerir fraude nas urnas eletrônicas.

Da Folha de São Paulo.

Conheça Petrolina

A Câmara dos Deputados elege em 1º de fevereiro a nova Mesa Diretora da Casa e com um grande favorito para assumir a presidência: Hugo Motta (Republicanos-PB), deputado indicado pelo atual presidente Arthur Lira (PP-AL).

Motta tem o apoio do governo e da maioria dos partidos da Casa, com exceção do Psol e do Novo. O outro candidato é o Pastor Henrique Vieira (Psol-RJ).

Até o momento, a chapa favorita se desenha para manter a estrutura partidária da atual gestão, composta pelo Republicanos, PL, PP, PT, União Brasil, PSD e MDB.

Hoje, além de Lira na presidência, Marcos Pereira (Republicanos-SP) é o 1º vice-presidente; Sóstenes Cavalcante (PL-RJ), o 2º; Luciano Bivar (União Brasil-PE), o 1º secretário; Maria do Rosário (PT-RS), a 2ª secretária; Júlio César (PSD-PI), o 3º, e Lucio Mosquini (MDB-RO), o 4º.

Os congressistas escolhem o próximo presidente, dois vice-presidentes, quatro secretários e quatro suplentes. Ao todo são 11 cargos com mandato de dois anos.

A sessão preparatória para a eleição da Mesa começa às 16h. Os candidatos têm até as 13h30 para registrarem suas candidaturas.

Os cotados

Com Motta na presidência, o líder do maior partido na Câmara, Altineu Côrtes (PL-RJ), é o mais cotado para ser 1º vice-presidente. Seu cargo faz parte de um acordo que envolve o apoio do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).

A ala mais radical do PL resistia em apoiar Motta porque queriam candidatura própria. Mas o partido fechou a aliança ainda em outubro de 2024.

Lula da Fonte (PP-PE) é cotado para 2º vice-presidente. Ele tem 24 anos e foi eleito aos 21, em 2022, com o apoio do pai, Eduardo da Fonte (PP-PE). Seu nome foi indicado pelo partido.

O PT, do presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, participa da chapa na 1ª secretaria, com o nome do deputado Carlos Veras (PE). Hoje, ele é vice-líder do partido na Casa e coordena a bancada de Pernambuco.

A formação da chapa de Motta ainda depende das definições das demais secretarias. Elas devem ser distribuídas entre o União Brasil, PSD e MDB. Eles vão preencher a 2ª, a 3ª e a 4ª secretaria, mas ainda não se sabe qual sigla ficará com cada cargo.

Em definição

No MDB, os deputados Carlos Chiodini (SC), Sérgio Souza (PR) e Simone Marquetto (SP) manifestaram interesse na vaga que ficará com o partido.

Simone defende que a escolha da bancada seja por uma mulher. “Acho que é o momento de ter uma mulher representando, o MDB é um partido de centro, mas eu represento a centro-direita”, disse a deputada ao Poder360.

A congressista afirma que conversou com o presidente do partido, o deputado Baleia Rossi (MDB-SP), e o líder da sigla na Casa, Isnaldo Bulhões (AL), e apresentou suas pautas. Simone diz ser “uma defensora pró-vida” e de pautas relacionadas à centro-direita. Carlos Chiodini e Sérgio Souza não responderam os contatos do Poder360.

Se o critério for de proporcionalidade em relação aos tamanhos das bancadas na Câmara, o MDB ficará com a quarta secretaria. O União Brasil ficaria com a segunda e o PSD com a terceira secretaria. As conversas e negociações ainda estão em andamento.

O Poder360 apurou que o União Brasil definirá o nome a ser indicado em votação interna. Os membros da bancada do partido na Casa decidirão os representantes às vésperas da eleição.

O deputado federal Zacharias Calil (União Brasil-GO) colocou seu nome à disposição do partido, mas pondera o preço de se tornar secretário e não poder integrar as comissões. Médico, o congressista é membro das comissões de Defesa dos Direitos da Pessoa Idosa e de Saúde. No PSD, ainda não há nomes cotados.

Atribuições da câmara

A Mesa Diretora é responsável pela organização dos trabalhos legislativos e pela administração da Casa.

O presidente comanda a Câmara e tem as funções de convocar, presidir e suspender as sessões do plenário, manter a ordem, nomear comissão especial, organizar o cronograma de votações das propostas.

Ele também é o responsável por definir a composição das comissões e presidir as reuniões da Mesa Diretora.

Do Poder360.

Camaragibe Avança 2024

Sob o sol de 15 de janeiro numa comunidade do bairro de Água Fria, Zona Norte do Recife, uma suada senhora evangélica, vestindo uma camiseta da Assembleia de Deus, não escondia a euforia antes de pedir uma foto.

— Quero ver o rosto do homem! Já vi muito o do pai e o do avô — gritou ao lado do rapaz de olhos azuis e nariz avantajado. — Vai virar governador! — vaticinou um outro apoiador.

Quando percorre as ruas da cidade — sempre de camisa de manga curta, jeans e tênis esportivo —, o jovem tratado como celebridade se depara a todo momento com ecos do passado e projeções sobre o futuro. Aos 31 anos, o prefeito do Recife é hoje mais João do que Campos, mas não deixa de ser o bisneto de Miguel Arraes e o filho de Eduardo Campos, os dois políticos mais vivos na memória pernambucana. Reeleito com 78% dos votos, também já escuta aos montes gritos que o colocam na disputa do ano que vem pelo Palácio do Campo das Princesas, sede do governo do estado comandado pelo bisavô em diferentes momentos dos anos 60, 80 e 90, e pelo pai entre 2007 e 2014.

É assim todo dia, e os dias são longos. O mais jovem prefeito de uma capital brasileira se gaba de ter realizado mais de 1.300 agendas em cerca de 1.200 dias de mandato, numa média de mais de uma por dia. Em uma terça-feira de janeiro, começou às 6h em visita a obras de contenção de encostas, passou por reuniões internas e voou para o velório do pai do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP), em Alagoas. À noite, deu entrevista, cortou o cabelo e se reuniu com três secretários já de visual novo. Quando saiu da prefeitura, um destacado prédio alto no Recife Antigo, era madrugada de quarta-feira. Como é de praxe após todos os atos da rotina profissional, registrou com orgulho nas redes sociais o horário de encerramento do expediente. “Nada vence o trabalho”, escreveu na selfie em que aparece sorridente.

Todos os passos de João são seguidos de perto por um assessor que o filma com o celular, mas o próprio prefeito planeja cerca de 80% do que publica nas redes. É na arena digital, na qual a direita dá de goleada na esquerda, que agiu como uma espécie de consultor para o governo Lula na semana da crise do Pix.

Naqueles dias, o “prefeito TikTok” foi chamado a Brasília e deu pitacos na área em que ostenta números relevantes. São 2,8 milhões de seguidores no Instagram, o maior montante entre todos os comandantes de cidades do Brasil e quase o dobro da população recifense, que é de 1,5 milhão de pessoas. Integrantes da equipe de João passaram a compor o time do novo ministro da Secretaria de Comunicação Social (Secom), Sidônio Palmeira, e o estrategista de sua campanha de reeleição, Rafael Marroquim, também desembarcou por uma semana na capital federal para ajudar o Planalto.

— O principal é ter conexão e sinergia com o povo, e Lula tem isso como poucos. O desafio é entender que no mundo de hoje é preciso ser mais rápido, mais simbólico, não tem direito a falhas. Estamos falando de um tempo na comunicação digital que tem a força do Reels, de um bumper, uma propaganda de cinco segundos no máximo no YouTube. Se você fizer um pronunciamento de uma hora, ninguém vai ver o que você falou, mas vão ver a falha de cinco segundos que cometeu — avalia João Campos, em claro recado à língua do presidente.

O prefeito constrói o “simbólico” de que tanto fala nas redes sociais, e o momento de virada se deu no carnaval de 2024. Era verão, mas nevou no Recife: instigado pela turma do bregafunk, o gênero musical nascido na periferia da cidade, descoloriu o cabelo e dançou com óculos Juliet, dois símbolos das regiões mais pobres. Com o gesto, ganhou centenas de milhares de seguidores em poucos dias, transcendendo as fronteiras recifenses e alcançando outras cidades do estado e do país.

— O que me fez nevar foi que quem neva são os jovens periféricos que pintam o cabelo para brincar o carnaval, e parte da sociedade vê isso com preconceito. Eu fiz como ato de manifesto social, para dizer que quem é da periferia tem nosso respeito — afirma. — Foi um verdadeiro sucesso. É um tempo do símbolo. Não precisei explicar, as pessoas entenderam.

Apoio a Aécio e foto bebê com Lula

A parceria de hoje entre João Campos e PT esconde um passado de atritos. Em 2014, quando o pai, então candidato a presidente, morreu em um acidente aéreo, ele fez campanha para Aécio Neves (PSDB) contra Dilma Rousseff (PT) no segundo turno presidencial. Dois anos depois, a maior parte do PSB abraçou o impeachment de Dilma, e o partido entrou com cargos no governo Michel Temer (MDB). Quando Lula estava preso em Curitiba no auge da operação Lava-Jato, era daqueles que achavam que a esquerda deveria buscar alternativas. O partido chegou a flertar com a candidatura do ex-ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Joaquim Barbosa.

Hoje, João tem olhar mais crítico sobre esse passado:

— Não participei das decisões, mas acho que de fato foi um momento histórico muito ruim para o Brasil, e tenho certeza que se meu pai estivesse ali nada disso teria acontecido. Até porque ele seria presidente do país. O PSB já disse que hoje não tomaria a mesma medida, eu certamente não tomaria. Mas o principal é que o partido já superou isso, e o PT também, ou Lula não teria Geraldo Alckmin como vice — afirma em relação ao ex-tucano, agora filiado ao PSB.

João se orgulha de ter uma foto com 1 ano de idade nos braços do presidente, e de, aos 7, ter matado aula para encontrar o petista na casa de Arraes. Classifica Lula como um personagem de tamanho único no Ocidente: a maior liderança do passado e do presente, além de esperança para o futuro. Conta com este ativo — somado ao imaginário político sobre a família e à bem avaliada gestão na capital — para cativar os pernambucanos em 2026. Ele não confirma ainda se será candidato ao governo, mas sabe que a questão será martelada por jornalistas e apoiadores ao longo do ano.

— O próprio fato de a pergunta ser feita em toda entrevista traz um sinal. Se ela é feita, é porque as pessoas acreditam que o caminho pode ser esse. Mas na política há tempo, há prazo, e o momento não é esse. O ano da eleição é 2026.

Um sinal do desejo de disputar o governo do estado foi a escolha do vice da chapa de reeleição, no ano passado. Victor Marques, que se filiou ao PCdoB, é amigo de João desde o primeiro período de faculdade na UFPE. Assim como o aliado, Marques vem de uma família com histórico político, mas bem mais humilde: o pai foi vereador no município de São José do Belmonte, no sertão pernambucano, terra de pouco mais de 30 mil pessoas.

Durante o primeiro mandato de João, o agora vice e secretário de Infraestrutura, pasta de grande visibilidade, trabalhou como chefe de gabinete. Na prefeitura, sabia-se que, quando se ouvia Victor, deveria se ouvir João. É o braço direito inconteste do prefeito e vem sendo a cada dia mais projetado na rotina municipal, uma forma de ganhar capital político antes de se sentar na cadeira em 2026.

Indiretas a Raquel Lyra

Na próxima eleição estadual, o embate tende a ser entre João Campos e a atual governadora, Raquel Lyra, do PSDB. Há meses, Raquel negocia migrar para o PSD, que corteja o PT no estado a fim de neutralizar a parceria entre Lula e o prefeito. Pesquisa Quaest de dezembro do ano passado mostra João com quase o triplo das intenções de voto a menos de dois anos da eleição: 64% a 22%. O prefeito evita falar tão mal da provável futura rival, mas solta críticas indiretas.

— As pessoas querem resultados. Estamos num tempo em que o simbólico é muito importante, mas o concreto também. Não adianta falar e não fazer. As pessoas querem ver o resultado. Isso faz toda a diferença na hora da indicação de voto. Eleição é comparação.

Nenhuma comunicação é capaz de segurar sozinha uma avaliação de governo tão alta como a dele, afirma João. É preciso ter entrega. Orgulha-se das “três obras por dia em área de morro”, do aumento de vagas em creche e do “investimento recorde ano a ano”, além do monitoramento rigoroso de metas e da digitalização de serviços. A cidade virou de fato um canteiro de obras, sempre com placas chamativas para reivindicá-las politicamente: “Mais uma obra da prefeitura”, “A prefeitura do Recife está trabalhando aqui” e outros avisos do tipo pululam em todo canto.

Os críticos o chamam de “o prefeito moderno, mas que sabe usar a velha lógica de máquina”. No início do ano, houve aumento de 25% no número de cargos comissionados na cidade, com impacto de R$ 65 milhões. Existem mais contratados dessa modalidade na administração municipal do que na estadual.

Duas vitrines do prefeito entraram nos últimos meses no radar do Tribunal de Contas do Estado, que apontou possíveis superfaturamentos e outras irregularidades no Parque da Tamarineira e no Hospital da Criança. A prefeitura afirma que os itens destacados no documento sobre o hospital “estão sendo cuidadosamente analisados, e as informações técnicas necessárias estão sendo levantadas para subsidiar a resposta”. O relator no tribunal é Marcos Loreto, primo da mãe de João. No caso do parque, a gestão rechaça os argumentos do TCE e garante que todo o processo licitatório foi feito de forma correta e até mais econômica do que o sugerido pela auditoria.

Sucessor político da família

Na política, escreveu certa vez a historiadora Angela de Castro Gomes, funerais costumam provocar uma “alegoria às avessas”: ao invés de uma ideia ser dotada de um corpo, um corpo passa a representar uma ideia.

O enterro de Eduardo Campos, em plena campanha presidencial de 2014 e um dia depois de o candidato ser entrevistado no Jornal Nacional, é considerado por muitos em Pernambuco o momento em que a ideia simbolizada por ele não só se imortalizou, como passou a habitar outro corpo.

Diante de toda a dor no funeral, recorda um integrante da família, o mais velho dos filhos homens do ex-governador logo incorporou o papel de herdeiro político. Ao mesmo tempo em que se despedia do corpo do pai, era o único capaz de ter a frieza de cumprimentar os apoiadores que faziam fila para chegar perto do caixão.

— Ali ficou cravado que ele seria o sucessor político da família — afirma o presidente do PSB, Carlos Siqueira, que assumiu o partido até então chefiado por Eduardo Campos.

Foi depois da morte do pai, com Marina Silva encabeçando a chapa e Paulo Câmara concorrendo ao governo estadual pelo PSB, que João fez campanha em palanques pela primeira vez.

— É como se disséssemos que nossa bandeira não ficaria a meio mastro. Meu pai não gostava de nada triste, a última coisa que queria era a família dele de cabeça baixa. Decidimos fazer o que ele faria. Eu nunca tinha feito um comício político, fiz o primeiro 15 dias depois de ele ter falecido. Meu primeiro discurso foi em Caetés, onde Lula nasceu. Em 20 dias, fui a 44 cidades do estado — relembra o prefeito.

Eduardo e ‘pai Arraia’

Sempre que falam do ambiente da casa nos tempos de Eduardo governador, os olhos dos Campos brilham. Era um permanente evento político, e por lá passaram todas as grandes figuras da República. O pernambucano Lula a visitou sete vezes em um mesmo ano, na esteira de agendas presidenciais no Recife.

O escritor Ariano Suassuna, tio-avô de João, era sempre convidado quando o petista aparecia, e o cardápio incluía clássicos da culinária local: carne de sol, macaxeira, feijão verde e bolo de rolo. Para ajudar a descer a fartura, uísque, o mesmo destilado que João, iniciado na bebedeira apenas aos 23 anos, tem hoje como quitute alcoólico favorito.

Se o pai é a grande referência política, de Arraes João se recorda mais como bisavô do que como figura mítica da esquerda brasileira, o homem cassado pela ditadura que partiu para o exílio e voltou para cumprir outros dois mandatos de governador. O reconhecimento do tamanho do “Pai Arraia” na política pernambucana se deu com o tempo e nas ruas, onde os mais velhos se emocionam quando veem “o netinho de Arraes”.

Pai e filho haviam selado um acordo: enquanto Eduardo estivesse na política, João não disputaria eleições. Na esteira da morte, teve quem incentivasse o então jovem de 20 anos a cobiçar uma cadeira de deputado federal já naquele processo eleitoral, o que exigiria que algum outro candidato da nominata do PSB desistisse. Ele recusou: preferiu terminar a faculdade e esperar quatro anos para se colocar nas urnas.

Formou-se em Engenharia, vocação notada ainda na infância e da qual se vale hoje para detalhar obras da cidade. Quando criança, João andava pela casa dos pais, no bairro Dois Irmãos, com uma caixa de ferramentas para lá e para cá. Gostava de consertar tudo o que via pela frente — incluindo relógios antigos, que desmontava e montava “para entender como funcionava”.

Fora do padrão

Os slogans de João em campanhas narram a história política que construiu de 2018 para cá. Começou como “filho da esperança” quando concorreu a deputado federal, passou por “a esperança (que) se renova” na primeira vitória para o Executivo municipal e virou, enfim, “meu prefeito”.

A mãe, Renata Campos, costuma contar uma anedota que também ilustra a passagem de bastão na política pernambucana. Diz que era conhecida como a mulher de Eduardo, até que virou a viúva de Eduardo. Agora, é a mãe de João.

João é inquieto. Quando senta para conversar, as mãos se mexem com frequência. Afagam as pernas ou se embrenham uma na outra. Orgulhoso da rotina insana de trabalho, tem como hobby a corrida, que o ajuda a desopilar. Foram duas meias maratonas concluídas no ano passado, mas admite que, desde a reeleição, anda meio “fuleiro” com os treinos.

É teimoso, obsessivo, perfeccionista, exigente, workaholic, e por aí vai — palavras de todos que falam de João, além do próprio. Sobre ele, no entanto, não se ouvem críticas voltadas para o temperamento. Ao contrário do pai, avaliam aqueles que conheceram os dois Campos, não é “temperamental”.

Fora do padrão na política, o prefeito mora sozinho, uma solidão caseira que se dá pela distância física da namorada, a deputada federal Tabata Amaral (PSB-SP). Os amigos que analisam a entrada de Tabata na vida de João, assim como ele mesmo, citam como maior impacto o estímulo ao estudo e a ser mais questionador. Com vidas em cidades diferentes, os dois tentam se ver aos fins de semana, seja em Brasília, São Paulo ou Recife.

João e a prima Marília

João é bisneto, mas na boca do povo virou neto do ex-governador. Neta mesmo é Marília Arraes, a prima de Eduardo Campos que, brigada com o outro lado da família em 2014, sequer foi ao funeral. Seis anos depois, João e Marília protagonizaram uma eleição municipal — ele pelo PSB, ela pelo PT — que rachou os dois núcleos, com ataques na linha da cintura.

Foi Marília quem começou a trocação, mas João, à época com 26 anos, mostrou no segundo turno que, apesar da cara de bom moço, era capaz de acirrar a guerra familiar para vencer o jogo. Chegou a contar com Silas Malafaia, pastor da Assembleia de Deus Vitória em Cristo e um dos principais líderes religiosos do universo bolsonarista, para pregar voto contra a então petista, hoje dirigente estadual do Solidariedade. Ao mesmo tempo, fez uma campanha em que pintou Marília como alguém de ideias mirabolantes e inviáveis. Deu certo, e o resultado foi uma vitória até confortável: 56% a 44%.

Parte dos ataques cara a cara se concentrou em acusações de corrupção envolvendo os respectivos partidos, que volta e meia se bicam no Recife em busca de protagonismo. Depois que a candidata que carregava o nome Arraes citou operações da Polícia Federal contra o então prefeito Geraldo Júlio, do PSB, o de sobrenome Campos mencionou suspeitas de “rachadinha” no gabinete da prima e disse que “em relação ao PT, não cabe nos dedos das duas mãos quantos gestores presos têm no Brasil”. Declaração impensável para o João de hoje.

A reconciliação entre os primos só veio em 2022, quando o palanque de Lula em Pernambuco fez os dois ficarem frente a frente pela primeira vez desde então, e foi o próprio petista quem intermediou o encontro. Mas, depois daquela traumatizante eleição municipal, a relação entre os Campos e os Arraes nunca mais foi a mesma, a despeito da paz restabelecida.

Hoje, tanto João como Marília têm irmãos com mandatos na Câmara dos Deputados, Pedro Campos (PSB) e Maria Arraes (Solidariedade), ambos orbitando os 30 anos. Em Pernambuco, os dois sobrenomes são uma espécie de passaporte para a política, e Pedro e Maria foram eleitos com mais de 100 mil votos cada em 2022.

João tem ainda outros três irmãos: a única mais velha, Duda, e os mais novos, Zé e Miguel, até o momento sem experiência eleitoral. Ele e Pedro sempre foram os mais interessados nas conversas políticas do pai.

PSB e o elo com Lula

Em maio, o prefeito vai assumir a presidência nacional do PSB, apesar de ainda adotar cautela ao falar da missão, outra que o pai e o bisavô cumpriram por vários anos. À frente da sigla, lidará com a construção do processo eleitoral de 2026, enfrentando pela primeira vez dilemas de outros estados e, sobretudo, impondo pressão para Lula manter Geraldo Alckmin como vice na chapa de reeleição.

— Isso é uma prioridade do partido. Quando fizemos a aliança com Lula, o maior partido a apoiá-lo foi o PSB. Nenhum dos grandes partidos que hoje têm ministérios apoiou Lula — observa. — E tenho certeza que muitos também não coligarão no ano que vem. Isso é uma disfunção, claro que é, mas para resolver não é simples. Hoje o modelo de representação no Congresso quase que exige que isso seja feito.

Insistente na tese de que é preciso “ouvir o povo”, João é há bastante tempo crítico do protagonismo das chamadas pautas identitárias na esquerda. Ainda em 2021, quando começava a se reaproximar de Lula, disse ao GLOBO que “os problemas e as soluções do Brasil não estão nessas pautas puramente identitárias ou ideológicas”, e que era necessário tirar o debate desse campo, no qual o bolsonarismo cresce. Prega que as energias estejam concentradas nas políticas públicas mais amplas.

Outra crítica que fez a parcelas da esquerda, esta diretamente ao aliado Lula, foi à visita pomposa do venezuelano Nicolás Maduro ao Planalto. O episódio exemplifica o que o prefeito considera deslizes do governo que dão munição para opositores desviarem o foco do que importa.

Os casos do passado recente do partido, nos anos de turbulência da política nacional e também nas brigas locais, evidenciam que, a exemplo do pai, João nutre uma relação mais sólida com Lula do que com o PT. Ex-ministro de Ciência e Tecnologia do petista antes de virar governador, Eduardo resolveu, afinal, tentar a presidência contra Dilma.

Quando é perguntado sobre o cenário para 2026 se o atual presidente não disputar a reeleição, o futuro chefe máximo do PSB evita projetar outros nomes e considerar conjunturas.

— Lula é o nome natural, e o que torço e espero é que ele seja candidato — limita-se a dizer.

Sem ter sequer os 35 anos necessários para disputar a Presidência da República, João é considerado a grande aposta nacional do PSB, o elo entre o sonho interrompido de Eduardo Campos e o futuro. Enquanto corta o cabelo — sem “nevar”, ao menos até o próximo carnaval — com Weydson Alves, que vai todo mês à prefeitura prestar o serviço, conversas descontraídas sobre o passado e o horizonte político do prefeito tomam conta da sala, incluindo projeções presidenciais.

Se dependesse de Weydson, fã dos slogans políticos da família Campos, o bordão para a eventual candidatura ao Planalto já estaria definido: “João Campos, a sorte do Brasil”, vislumbra, arrancando o sorriso do prefeito diante de um quadro na parede em que o pai também sorri.

Do jornal O Globo.

Caruaru - IPTU 2025

A corridinha diária de 8 km, hoje, foi no Parque da Jaqueira, no Recife, onde botei os pés ontem de volta depois das férias vapt-vupt entre o litoral e o sertão. Na sexta-feira, já embarco para Brasília. Na pauta, as eleições para renovação das mesas diretoras da Câmara dos Deputados e do Senado.

Belo Jardim - Construção do CAEE

Brasileiros deportados dos Estados Unidos que foram algemados e acorrentados denunciam que sofreram agressões dos agentes do governo estadunidense dentro do avião que os trouxe ao Brasil.

“Eu fiquei 50 horas acorrentado pelo braço, barriga e pés. Sem poder ir no banheiro. Nós pedimos para sair porque estava muito quente [dentro do avião] e não deixaram. Me agrediram e me enforcaram”, relatou o vigilante Jeferson Maia ao Metrópoles.

O avião com os deportados pelo governo de Joe Biden – porém os primeiros a serem mandados de volta ao Brasil na era Donald Trump – saiu dos Estados Unidos e parou por algumas horas no Panamá. Em seguida, foi até Manaus (AM). Os brasileiros – 88 no total – fizeram um protesto porque estavam trancados, a temperatura estava muito alta e queriam sair da aeronave. O destino final era Belo Horizonte (MG).

“Eles queriam que a gente esperasse sem água, sem comida, todo mundo apavorado”, conta Aeliton Cândido, morador de Divinópolis (MG). Famílias inteiras, incluindo crianças, estavam no voo. Vários dos deportados exibiam marcas das algemas e correntes.

“Meteram porrete sem dó”

O deportado Luis Fernando Caetano Costa disse que testemunhou a agressão contra cerca de cinco pessoas dentro da aeronave. “Os meninos estavam todos algemados. Os caras meteram porrete sem dó. Jogaram o moleque no chão. Teve um menino que deram um golpe nele até desmaiar”, conta o brasileiro.

Diante do problema técnico no avião norte-americano, houve uma escala em Manaus. O ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski, desautorizou o uso de algemas e correntes, e os deportados foram transferidos para uma aeronave da Força Aérea Brasileira (FAB) a fim de concluir a viagem até Minas Gerais.

“Denúncias graves”

A ministra dos Direitos Humanos, Macaé Evaristo, esteve no aeroporto de Belo Horizonte para recepcionar os brasileiros deportados e chamou as denúncias de agressão de muito graves.

“As denúncias das pessoas que chegaram são muito graves. A gente tinha numa mesma aeronave famílias, crianças, crianças com autismo, com algum tipo de deficiência, que passaram por situações muito graves”, declarou a ministra.

Macaé disse que o ministério irá fazer um relatório para o presidente e para o Ministério das Relações Exteriores, com as denúncias dos brasileiros deportados. Além disso, o governo federal está em articulação com a Prefeitura de Belo Horizonte para acolher os repatriados.

“Os países têm suas políticas imigratórias, mas as suas políticas imigratórias não podem violar os direitos humanos. O Brasil sempre tratou com muito respeito toda a população, tanto refugiados que chegam no Brasil quanto pessoas que nós temos que repatriar.”

Do Metrópoles.

A presença da governadora Raquel Lyra (PSDB) no interior pernambucano será reforçada a partir da próxima semana. Quarta, quinta e sexta-feiras estarão reservadas a entregas, reuniões e também encontro com o ministro dos Transportes, Renan Filho.

As primeiras visitas do ano fora da Região Metropolitana do Recife começam pelo Agreste. Em Águas Belas, terra do deputado e presidente estadual do PT, Doriel Barros, a gestora entrega a PE-300 recuperada. Um investimento de R$ 95 milhões.

Ainda na quarta, ela estará em Petrolina. A partir das 16h, visita a travessia urbana, obra estruturante para facilitar a mobilidade entre o município pernambucano e Juazeiro, na Bahia. O investimento é do Governo Federal e é esperada a presença do ministro Renan Filho, que responde pela Transnordestina e pelo metrô, pautas caras à governadora. Raquel Lyra segue em Petrolina na quinta-feira.

A cidade é comandada pelo adversário político Simão Durando (União Brasil), prefeito ligado ao grupo Coelho. Pela manhã, dá entrevistas, tem reunião fechada e visita uma subestação da Neoenergia.

À tarde, a partir das 16h, reúne professores da rede estadual e entrega notebooks. Do Sertão do São Francisco, Raquel parte para o Sertão Central. Em Salgueiro, do prefeito aliado Fabinho Lisandro, anuncia a retomada e ampliação do Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) Leite.

No município também entrega a PE-483 recuperada, um trecho de 13 quilômetros e que custou R$ 21 milhões. A programação termina em Sertânia, no Sertão do Moxotó. Lá será entregue a PE-265, chamada Estrada Pernambuquinho, porque liga o município ao distrito de Pernambuquinho, na divisa com o Estado da Paraíba.

Da Folha de Pernambuco.

Por Italo Rocha*

A rivalidade de duas famílias (Capuleto e Montechio) na Itália do século XVI, retratada pelo escritor inglês William Shakespeare, foi transportada para o interior do Nordeste brasileiro quatro séculos depois. A partir do ano de 1949, houve o que Luiz Gonzaga, o rei do baião, chamou de “Romeu e Julieta” do Sertão pernambucano.

Começava naquele ano, em Exu, a 615 km do Recife, uma guerra sangrenta entre duas famílias, Alencar e Sampaio, que durou mais de três décadas e deixou um saldo lastimável de 33 pessoas assasinadas. As desavenças entre os dois clãs começaram a partir de um caso de infidelidade conjugal que foi parar na polícia.

O estopim foi uma frase dirigida de forma provocativa por um integrante da família Sampaio, o coronel Romãozinho, na frente da delegacia local, a um jovem de 22 anos da família Alencar: “O que você está olhando para mim, seu pederasta?!”

Ao que Zito Alencar respondeu:
— Já sabia de muitas coisas ruins a seu respeito, menos que o senhor tinha essa tendência!

Ambos puxaram seus revólveres e o coronel levou a pior. Nesse mesmo dia, começou a série de assassinatos dos dois lados, que só terminou em 1982, com a intervenção decretada pelo então governador Marco Maciel e uma campanha pela paz feita por Luiz Gonzaga, filho ilustre da terra. A médica Adriana Alencar decidiu, em 2022, contar em livro o amor que surgiu entre a sua mãe Teresinha Sampaio e o seu pai Zito Alencar, no meio desse banho de sangue entre essas duas famílias.

No livro “Amor sem tréguas”, Adriana conta nas suas 237 páginas detalhes de como começou o conflito que ocupou o noticiário nacional. Mas a parte mais instigante do livro, contada por Adriana, foi como pôde ser possível ter surgido uma história de amor tão puro e verdadeiro entre duas pessoas das famílias rivais.

Uma união que gerou seis filhos. A autora também descreveu como foi o dia mais triste da sua vida, o 12 de maio de 1978, quando seu pai Zito Alencar, então prefeito do município, foi assassinado a tiros, no centro da cidade, por um pistoleiro que desapareceu misteriosamente na escuridão da noite de Exu.

Mas, hoje, 43 anos depois de o conflito ter terminado, Adriana olha para trás e conclui que o mais importante foi a paz ter sido selada definitivamente entre os Alencar e os Sampaio!

*Jornalista

Quem foi o maior de todos os grandes parceiros musicais de Luiz Gonzaga? Humberto Teixeira, autor de Asa Branca, o hino do Nordeste, alguém arriscaria, na bucha. Não erraria, porque Humberto foi um gigante. Mas é uma resposta difícil, porque o Rei do Baião sempre esteve acompanhado de celebridades, como Onildo Almeida, autor da Feira de Caruaru, e João Silva, o arcoverdense de Pagode Russo.

Os gonzaguianos, estudiosos da obra de Luiz Gonzaga, são mais ousados. Sem deixar de enaltecer cada um dos monstros sagrados, fazem uma deferência especial a José Dantas de Souza Filho, que se imortalizou como Zé Dantas, o Doutor do Baião, porque era médico e sem a bata, um boêmio. Tocava violão, era apaixonado por música e pelo seu Sertão.

Zé Dantas nasceu em Carnaíba, nas barrancas do Rio Pajeú, cidade que todos os anos celebra seu filho mais ilustre com um festival musical. Ali, Zé Dantas viveu sua infância e na adolescência virou um profundo conhecedor das músicas do Lua, que escutava através das rádios e dos discos.

Certo dia, o jovem médico furou o cerco da segurança do Grande Hotel, no Recife, e bateu na porta do quarto onde estava hospedado Luiz Gonzaga. Quando o atendeu, o cantor foi saudado com um aboio. Em seguida, Zé Dantas disse que tinha umas “musiquinhas” para mostrar, e cantou algumas, entre elas o baião “No resfolego da sanfona”.

Luiz adorou e disse que gravaria – o que de fato fez, em novembro de 1949. O disco RCA Victor 80-0643, lançado em junho de 1950, trazia a primeira música da parceria que entraria para a história com o título: “Vem, morena”. Mas Zé Dantas, no primeiro encontro, havia implorado para que, caso Luiz gravasse alguma de suas composições, não colocasse seu nome no disco, para não entrar em mais atritos com o pai, o fazendeiro José de Sousa Dantas, mais conhecido como o Coronel Zeca.

Seu pai foi prefeito de Flores, cidade vizinha a Carnaíba, e não iria aprovar seu filho metido com esse negócio de artista. Gonzaga ouviu o pedido, mas não acatou. No rótulo da primeira gravação de “Vem, morena” saiu registrada, pela primeira vez, a parceria Luiz Gonzaga-Zédantas (seu nome aparecia assim nos selos dos discos de 78 rotações da RCA Victor, grafia respeitada por diversos periódicos da época).

Quando o disco foi lançado, Zé Dantas se encontrava no Rio de Janeiro, médico residente de obstetrícia no Hospital dos Servidores. Não demorou muito para perceber que o direito autoral que recebeu era muito maior do que aquela mesada que seu pai mandava na época da faculdade e resolveu então assumir de vez suas composições.

Pernambucano do Recife, mas já atuando no Rio, o jornalista Antônio Maria, na sua coluna em “O Jornal” de 12/03/1950, escreveu sobre um sarau num apartamento da Urca para recepcionar Zé Dantas, seu recém-chegado conterrâneo. Participaram do evento Pixinguinha, Benedito Lacerda, Almirante, Herivelto Martins, Haroldo Barbosa, Humberto Teixeira e, claro, Luiz Gonzaga, de sanfona a tiracolo, entoando várias de suas canções.

Antônio Maria afirmava ao final do texto: “Enfim, uma noite muito gostosa. Zédantas está aí e poderá ser a sensação desta época meio parada do rádio”. De fato, só em 1950 a dupla Gonzaga-Zé Dantas lançou – quase sempre em discos do Rei do Baião – nove músicas, entre elas os clássicos “Vem, morena”, “A dança da moda”, “Forró de Mané Vito”, “Cintura fina”, “Derramaro o gai” (corruptela de “Derramaram o gás”, na voz dos Quatro Ases e Um Coringa) e “A volta da asa branca”, retomando o tema da “Asa branca” lançada em 1947 por Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira, outra parceria-chave da música brasileira.

Sobre esta época, narra Dominique Dreyfus, biógrafa de Luiz Gonzaga: “Parecia que Humberto Teixeira e Zé Dantas estavam rivalizando em talento e genialidade, e, entre os dois, Luiz Gonzaga orquestrava o festival de obras-primas” (em “Vida do viajante: a saga de Luiz Gonzaga”. São Paulo, Ed. 34, 1996, página 144).

No início de 1951, Teixeira e Dantas criaram e produziram uma série radiofônica na rádio Mayrink Veiga (PRA-9), “No mundo do baião”, onde este último dava vazão a seu lado folclorista e contava causos diversos. Mas os temperamentos dele e de Humberto não davam “liga”.

Gonzaga ficava ali no meio, tentando “harmonizar os dois” (como diria mais tarde para sua biógrafa). Até fizeram um baião juntos, “Piririm”, mas no fim das contas nunca falaram a mesma língua. Mesmo assim, o programa fez sucesso e durou o ano inteiro. Na Mayrink, Zé Dantas chegou a assumir o cargo de diretor do Departamento de Folclore, porque, além de médico e poeta, era um grande folclorista.

Com o cearense Humberto, Gonzaga havia formatado o baião que trouxera do seu pé-de-serra, transformando-o num ritmo mais urbano, sem deixar de lado a temática sertaneja. Com Zé Dantas, essa temática se aprofundou ainda mais. Com o fim da dupla Gonzaga-Teixeira em 1952, a parceria de Luiz com seu conterrâneo engrenou, ao mesmo tempo em que o tripé sanfona-zabumba-triângulo passava a ditar os acompanhamentos de suas músicas.

Entre 1951 e 1953, foram várias gravações, destacando-se “O forró do Quelemente” (corruptela de “Clemente”) – também conhecido como “Xote miudinho” – e “Sabiá” em 1951; “Imbalança” e “São João na roça” em 1952; em 1953 teve “O xote das meninas” e “A letra i”, feita para homenagear a noiva de Zé Dantas, Yolanda, cujo nome curiosamente começava com “y” – com quem ele se casaria no ano seguinte.

Dona Yolanda também foi inspiradora de outras músicas, como “Sabiá”, e com quem Dantas teve três filhos. Ela faleceu em janeiro de 2017, aos 86 anos. Além das já citadas, o rei lançou em 1953 três dos mais apaixonantes baiões da dupla: “Algodão”, “ABC do sertão” e o petardo “Vozes da seca”.

“Algodão” fala do “ouro branco” que “tanto enriquece o país” e do trabalhador que, para plantá-lo, “tem que ser forte, robusto, valente ou nascer no sertão / Tem que suar muito pra ganhar o pão, que a coisa lá não é brinquedo não”.

ABC do sertão ensinava o alfabeto da maneira bem particular que se ouvia no Nordeste em épocas passadas: “Lá no meu sertão, pro caboclo ler tem que aprender um outro ABC / O J é ji, o L é lê, o S é si mas o R tem nome de rê”. Arrematava com a tomada da “lição” (do jeito que meu avô paraibano me ensinava quando eu era criança): “A bê cê dê fê guê lê mê nê pê quê rê tê vê e zê”.

A composição mais importante que a dupla fez neste período foi um grito de alerta à famigerada “indústria da seca”. Em 1953, o Nordeste conheceu uma de suas mais terríveis estiagens, que matou muita gente de fome. Foram lançadas então várias músicas sobre o tema, cinco delas apenas no mês de maio: “Ajuda teu irmão”, apelo de Humberto Teixeira na voz da Rainha do Baião, Carmélia Alves, com o Trio Melodia; o contundente disco de Luiz Vieira, o Príncipe do Baião, contendo a prosa “Se eu pudesse falar” e “A fome no Nordeste”; “Baião de São Pedro”, de Wilson Batista e Alberto Rego, por Emilinha Borba; “Pedido a São João”, de Zé e Zilda Gonçalves, pelos Vocalistas Tropicais; e, pelos Quatro Ases e Um Coringa, “Vozes da seca” (de Gonzaga e Dantas, que também seria gravada pelo primeiro naquele ano).

Nela, Zé Dantas faz uma severa crítica ao poder público: “Seu dotô, os nordestinos têm muita gratidão pelo auxílio dos sulistas nesta seca do sertão / Mas dotô, uma esmola para um homem que é são / Ou lhe mata de vergonha ou vicia o cidadão”.

Recado certeiro, direto: o povo podia arregaçar as mangas e ajudar, faltava apenas o empurrão dos doutores políticos. A música apontava um caminho para quem quisesse escutar – ao que parece, os ouvidos continuam moucos: “Dê serviço a nosso povo, encha os rios de barragem / Dê comida a preço bom, não esqueça a açudagem / Livre assim nós da esmola, que no fim dessa estiagem lhe pagamo inté os juros sem gastar nossa coragem / Se o dotô fizer assim, salva o povo do sertão / Quando um dia a chuva vir, que riqueza pra nação!…”.

Com Zé Dantas, música e letra geralmente caminhavam juntas. Em certos casos, Luiz Gonzaga efetivamente participava, dando o tema e indicando o ritmo na sanfona. Em outros, havia um acordo tácito com Gonzaga, que acabava incluído na parceria – não que precisasse deste expediente: exímio cantor e instrumentista, era também compositor, embora, em muitos casos, como ele mesmo dizia, fazia o “monstro” e entregava ao parceiro, ou seja, dava o mote, entrava com a base, o ritmo, a ideia, o outro burilava, fazia a letra e dava corpo, depois Gonzaga “vestia” e finalizava a canção.

Na emblemática “Acauã”, lançada em 1952 por por Zé Dantas em parceria com José Tobias – Gonzaga interpretou magistralmente, criando um diálogo vocal inesquecível com o pássaro. Quase 20 anos mais tarde, Gilberto Gil e Gal Costa apresentariam uma versão eletrizante de “Acauã” num show em Londres, em novembro de 1971.

A produção Gonzaga-Zé Dantas continuou firme na década de 1950, gerando outros clássicos como “Noites brasileiras” – um hino das festas juninas –, “Paulo Afonso” – homenagem à hidrelétrica inaugurada em 1955 –, “Riacho do Navio” – repaginada e transformada em sucesso carnavalesco pelo grupo Chiclete com Banana em 1987 – e “Siri jogando bola” – primeira menção à Coca-Cola numa música brasileira, 10 anos antes de Caetano tomar o refrigerante em “Alegria, alegria” (1967).

Sem parceiros, Zé Dantas também brilhou com “Forró em Caruaru”, grande sucesso na voz de Jackson do Pandeiro, “Farinhada”, que estourou com Ivon Curi, e as bem-humoradas “O delegado no coco” – registrada em disco pelo Rei do Baião – e “Nós num have”, gozação com o recém-criado rock’n’roll, que teve como intérprete Catulo de Paula.

Ao fim desta década, uma das parcerias mais importantes da MPB tinha esfriado: Gonzaga viajava bastante, Zé Dantas estava compondo sozinho e sendo gravado por vários artistas. Em 1959 foi lançado pela RCA Victor o LP “Luiz Gonzaga canta seus sucessos com Zé Dantas”, onde o primeiro fazia uma releitura das principais composições da dupla e o segundo, em texto publicado na contracapa, relembrava seu primeiro encontro com o rei Luiz e comentava faixa por faixa.

Entre 1960 e 1961, Gonzaga ainda iria gravar mais duas do ex-parceiro: “São João no arraiá” e “Pisa no pilão”. No Carnaval de 1961, em Miguel Pereira (RJ), na fazenda de Luiz Gonzaga, Zé Dantas sofreu um acidente, rompendo o tendão do pé. As dores desta lesão – nunca curada totalmente – somaram-se às que sentia na coluna vertebral. Por conta disso, chegava a ingerir três comprimidos de cortisona por dia, o que acabou comprometendo o funcionamento dos rins.

Pouco mais de um ano após o acidente acabou falecendo no Rio de Janeiro de insuficiência renal, em 11 de março de 1962, menos de um mês após completar 41 anos, sem realizar o sonho de lançar um disco como cantor. Enterrado no Recife, foi pranteado em verso e música por Antônio Barros (“Homenagem a Zédantas”, 1962) e por Onildo Almeida (“Zédantas”, gravada por seu autor em 1962 e por Luiz Gonzaga em 1963).

Na letra desta última, um lindo e sentido baião, é lembrado três vezes como “o poeta”. Que realmente foi, e dos bons – mas limitá-lo à função de poeta ou letrista é esconder sua verdadeira condição de compositor popular, excelente melodista e um cronista atento do seu povo sertanejo.

Várias de suas músicas não registradas em discos de 78 rotações continuaram a ser gravadas nos anos seguintes, como “Balança a rede”, “Forró de Zé Antão”, “Adeus, Iracema” (esta em parceria com Gonzaga) e a deliciosa prosa “Samarica parteira”, todas por Luiz Gonzaga, e “O bom que o coco tem”, por Marinês.

Curiosamente, no reino do baião – o Rei Luiz, a Rainha Carmélia Alves, o Príncipe Luiz Vieira, a Princesinha Claudette Soares, o Barão Jair Alves, além do Doutor do Baião, Humberto Teixeira, e da Rainha do Xaxado, Marinês –, o outro doutor, Zé Dantas, inexplicavelmente, acabou sem coroa, mas não sem realeza.

Suas músicas continuam por aí, na voz do povo, na arte de sua neta, a cantora Marina Elali – que lançou em 2013 o CD e DVD “Duetos – Homenagem a Luiz Gonzaga e Zé Dantas”, um tributo à obra do avô materno.

Quais carros tiveram a menor desvalorização no ano passado?

A Mobiauto, uma das maiores lojas online de vendas de veículos usados do Brasil, usou a sua base de dados do mercado para verificar a variação dos preços dos carros mais vendidos do Brasil em 2024. O estudo considerou o preço médio dos modelos entre janeiro (zero quilômetro) e dezembro de 2024 (seminovo).

De acordo com o levantamento, o Chevrolet Onix, terceiro colocado no ranking geral de vendas, apresentou o menor índice de desvalorização entre os modelos mais vendidos no decorrer do ano passado: -4,93%. O preço médio do hatch variou de R$ 105.514,31 (janeiro de 2024) para R$ 100.409,03 (dezembro de 2024). A Fiat Strada, líder geral de vendas entre automóveis e comerciais leves, registrou a segunda menor depreciação durante 2024.

O preço médio da picape compacta caiu de R$ 131.811,60 (zero quilômetro) para R$ 124.106,18 (seminovo), apresentando uma desvalorização média de -6,55%. A maior desvalorização entre os modelos mais vendidos do Brasil no ano passado foi apontada pelo Hyundai HB20. O hatch, que ficou na quarta posição do ranking de vendas, teve depreciação média de -25,62%, segundo o levantamento da Mobiauto.

Variação média de preços dos 10 carros mais vendidos do Brasil em 2024

GWM Ora 03, o elétrico que menos perde valor – Os veículos elétricos da GWM Ora 03 Skin e GT são os menos desvalorizados em seus segmentos, de acordo com dados da Tabela Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe), a principal referência do mercado para quem deseja comprar ou vender um veículo usado. Em sua categoria, o Ora 03 GT, que era vendido zero km por R$ 184 mil em janeiro de 2024, foi o modelo que menos perdeu valor no mercado após um ano de uso: apenas 11,96%. Seu principal concorrente, o BYD Dolphin Plus, apresentou desvalorização de 17,41% entre janeiro e dezembro de 2024. Outros veículos elétricos tiveram uma depreciação ainda mais acentuada, como Mini Cooper (27,18%) e Peugeot e-208 GT (40,77%). Até modelos a combustão da mesma faixa de preço tiveram um desempenho pior no mercado brasileiro, como Hyundai Creta N Line (16,38%) e Jeep Renegade S T270 (19,58%). A situação se repetiu com o Ora 03 Skin, que era vendido a R$ 150 mil em janeiro de 2024. O elétrico da GWM desvalorizou apenas 13,96% em um ano, enquanto seu principal concorrente, o BYD Dolphin, apresentou uma depreciação de 14,92% no mesmo período. Outros concorrentes da mesma categoria apresentaram uma perda de valor ainda maior. A versão elétrica do Renault Kwid desvalorizou 42,05% no ano passado. Os modelos a combustão da mesma faixa de preço tiveram um comportamento no mercado um pouco melhor que o Kwid E-Tech, porém ainda assim perderam mais valor do que o Ora 03 Skin. É o caso de Nissan Kicks Exclusive 1.6, Chevrolet Tracker Midnight 1.0 Turbo e Jeep Renegade Longitude T270, que tiveram desvalorização de 14,45%, 15,74% e 16,96%, respectivamente.

GM faz 100 anos e anuncia cinco lançamentos – A General Motors é a fabricante de automóveis com maior tempo de operação contínua no país, enquanto a Chevrolet é a marca de veículos mais querida pelos brasileiros. Nessa semana, a GM revelou que vai expandir ainda mais seus investimentos no Brasil até 2028, diversificar suas áreas de negócios e lançar 10 modelos eletrificados nos próximos anos. Além disso, a empresa apresentará ao mercado cinco novos produtos ainda este ano, incluindo modelos inéditos com diferentes tecnologias. Em seus 100 anos de atuação no Brasil, a GM produziu quase 20 milhões de veículos, com a Chevrolet se destacando como a marca de maior sucesso, representando um em cada cinco carros registrados no país. A Chevrolet lançou, em média, um novo produto ou geração de veículos a cada seis meses.

Demanda por seguros cresce 10,7% – A procura dos consumidores brasileiros por seguros de automóveis cresceu 10,7% em 2024, na comparação com o ano anterior. No último mês de dezembro, a alta foi de 9% frente ao mesmo mês de 2023. Já na comparação com o mês anterior, novembro de 2024, o aumento foi de 4,34%. Os dados são do Índice Neurotech de Demanda por Seguros (INDS), que mede mensalmente o comportamento e o volume das consultas na plataforma da Neurotech, empresa pioneira em soluções de inteligência artificial aplicadas a seguros e crédito. O levantamento de dezembro de 2024 também analisou a demanda por faixa etária dos segurados. Aqueles com idades entre 18 e 25 anos, que historicamente apresentam a menor procura, tiveram o melhor resultado do período, com um crescimento de 9,28% em relação ao mesmo mês de 2023. Entre os condutores com 60 anos ou mais, tradicionalmente mais cautelosos, o aumento foi de 8,50%. 

Rampage ganha mais assistência à condução – O primeiro modelo da Ram desenvolvido fora dos Estados Unidos, a Rampage, apresenta uma novidade em 2025 que a torna ainda mais completa e segura: as versões Rebel e Laramie, tanto as equipadas com o motor 2.0 turbo a gasolina de 272 cv quanto com o recém introduzido 2.2 turbodiesel de 200 cv, além da versão R/T 2.0 turbo gasolina, passam a oferecer como item de série o conjunto de sistemas avançados de assistência à direção (ADAS) de nível 2. Com a adição do assistente ativo de direção, que combina o uso da centralização na pista e do piloto automático adaptativo, a Rampage passa a ser capaz de contornar diferentes curvas de forma autônoma em vias sinalizadas, mantendo uma velocidade pré-definida.

Além disso, a aceleração e a frenagem também podem ser efetuadas sem a atuação do condutor em cenários específicos. Os auxílios exigem que o motorista mantenha as mãos no volante e atenção à via, se tornando uma camada extra de segurança e conforto da Rampage durante seu uso. Para permitir a detecção das mãos do condutor foi incorporado um novo volante com revestimento premium, sendo perfurado na versão R/T. Outra novidade recente para a Rampage foi a introdução da versão Big Horn, que se tornou a nova porta de entrada para o universo Ram.

Classe C 2025 chega mais conectado – O novo Mercedes-Benz Classe C 2025 desembarca no Brasil nas versões C 200 AMG Line, que sai por R$ 384.900, e C 300 AMG Line, com preço de R$ 445.900. Ambos têm sistema híbrido leve e a potência pode chegar aos 258cv. O sedã, que terá as primeiras unidades entregues ainda em janeiro. traz linhas esportivas com faróis no formato de gota, ampla grade frontal e rodas de 19 polegadas. Por dentro, conta com uma ampla central multimídia na vertical e um painel de instrumentos robusto. Além disso, ainda há ar-condicionado de 4 zonas, sistema de luzes ambientes, bancos em couro Nappa, sistema de som premium Burmester Surround 3D com 15 alto-falantes e 710 watts.

Aliás, o sistema MBUX — de entretenimento — traz chamada de emergência, diagnóstico remoto, atualização de software remotamente, dados de tráfego em tempo real, entre outras conectividades, como integração com Apple Music, Amazon Music, Spotify etc. O Mercedes-Benz Classe C 200 AMG Line tem motor de quatro cilindros em linha com sistema híbrido leve, que entrega até 204cv. Já a versão C 300 AMG Line tem potência de 258cv, assim como, também tem sistema híbrido de 48V. A transmissão é automática de nove velocidades. Na configuração de entrada é possível fazer de zero a 100 km/h em apenas 7,3 segundos e atingir a máxima de 246 km/h. Já na versão topo de gama são 6 segundos para chegar aos 100 km/h e 250 km/h de velocidade final.

Arrizo volta ao mercado mais completo – A Caoa Chery voltou a trazer ao mercado brasileiro o sedã Arrizo 6 Pro, agora na versão Max Drive – recheada de equipamentos de tecnologia de segurança e de assistência à condução, como alertas de colisão frontal, tráfego cruzado, assistente de permanência em faixa e frenagem automática de emergência. Ele também ganhou ar-condicionado automático e sensor de chuva – além de farol alto automático. O Arrizo 6 usa um sistema híbrido-leve, com um gerador de 48V no lugar do motor de partida e do alternador. O motor é 1.5 turboflex. O conjunto entrega 160 cavalos e 25,5 kgfm de torque, auxiliados por uma transmissão CVT que simula 9 marchas. O preço sugerido, pelo pacote de equipamentos, é oferta um bom custo/benefício: são R$ 140 mil para as primeiras 1.000 unidades.

Toyota lidera venda híbridos flex em 2024 – A Toyota do Brasil fabricou no ano passado 17.015 híbridos flex plenos (full hybrid), o equivalente a 67,4% da produção nacional. Os híbridos flex são uma das principais tendências para 2025, representando parte importante dos investimentos do setor automotivo anunciados no último ano. A Toyota, pioneira nesta tecnologia, produz e comercializa localmente veículos equipados com a tecnologia híbrida flex plena desde 2019. Desde então, mais de 90 mil unidades foram vendidas, reforçando o seu protagonismo e liderança na descarbonização do país. Esses veículos comercializados pela Toyota ajudaram a evitar a emissão de aproximadamente 34 mil toneladas de CO2 na atmosfera desde então.

Venda de motos em 2025 será recorde – Pelo menos é o que acredita a Abraciclo, a associação dos fabricantes. A indústria de Manaus, por exemplo, fechou 2024 com 1.748.317 motocicletas produzidas –  expansão de 11,% sobre 2023. Para 2025, a projeção é seguir crescendo – pelo menos na faixa de 7,5%, com meta de atingir 1,88 milhão de unidades. As exportações deverão somar 35 mil unidades, volume 13% superior ao de 2023, quando houve recuo de 5,9%.

Triumph supera expectativa – A marca inglesa de motos de alto luxo Triumph chegou a 12 mil emplacamentos no Brasil. Isso significa uma alta de 89,6% em relação a 2023. A empresa está no país desde 2012 e conta com 38 concessionárias. No segmento de motos acima de 500cc, a marca registrou 7.790 unidades emplacadas, um aumento de 21%. Dezembro foi especialmente destacado, com 804 unidades emplacadas (+48,9%) nessa categoria. Também no mês passado a Triumph registrou o quarto mês consecutivo de crescimento, com 1.085 unidades emplacadas, alta de 100,9% no comparativo interanual.

Venda de seminovos e golpistas: como se proteger – O mercado de carros usados segue em alta no Brasil, impulsionado pelos elevados preços de veículos novos e pela maior restrição ao crédito. Segundo dados recentes da Fenauto, a federação dos revendedores de usados, a soma das vendas de carros, motos, picapes, caminhões e outros veículos atingiu a marca de 15,8 milhões unidades, um crescimento de 9,2% em relação ao ano anterior, e o melhor resultado desde 2011. Contudo, essa movimentação também atrai a ação de golpistas, que se aproveitam da vulnerabilidade de compradores menos experientes. Para ajudar na prevenção de fraudes, especialistas em segurança veicular compartilham os cinco golpes mais comuns e cinco dicas essenciais para realizar uma compra segura e sem dores de cabeça.

Cinco golpes comuns ao comprar carros usados

  1. Golpe do falso intermediário
    Golpistas se passam por intermediários em negociações online, fingindo representar vendedores ou compradores reais. Eles manipulam as partes envolvidas e somem com o dinheiro sem entregar o veículo.
  2. Venda de carros clonados
    Carros com placas clonadas ou documentos falsificados são colocados à venda. Os compradores podem acabar com um veículo ilegal ou até mesmo apreendido.
  3. Anúncio falso com pagamento antecipado
    Golpistas criam anúncios atrativos e pedem pagamentos antecipados como forma de sinal para garantir o negócio. Após receberem o dinheiro, desaparecem.
  4. Carros com histórico oculto de sinistro ou leilão
    Veículos com histórico de acidentes graves, passagem por leilão ou até mesmo roubo são vendidos sem que o comprador seja informado.
  5. Fraudes em documentos
    Documentos adulterados ou falsificados são apresentados como autênticos, induzindo o comprador ao erro e comprometendo a legalidade da compra.

De acordo com Yago Almeida, cofundador e CEO da Olho no Carro, empresa especializada em consulta veicular para pessoas físicas, os consumidores, com o mercado aquecido, precisam estar ainda mais atentos às práticas de segurança. “Golpes na compra de carros usados são mais comuns do que se imagina, mas podem ser evitados com medidas simples, como a consulta ao histórico do veículo e a desconfiança de ofertas fora do padrão”, afirma.

Cinco dicas para uma compra segura

  1. Fique atento aos preços anunciados
    É comum que a maioria dos anúncios apresente preços dentro de uma margem semelhante. Por isso, ofertas com valores muito abaixo do mercado podem ser um sinal de alerta. Embora tentadoras, essas promoções podem indicar veículos em mau estado de conservação ou mesmo golpes. Pesquisar a média de preço para o modelo desejado é uma forma de evitar armadilhas.
  2. Pesquise sobre o vendedor
    Ao negociar, especialmente em plataformas online, é fundamental verificar a identidade e a credibilidade do vendedor. Uma simples busca na internet pode revelar informações relevantes e evitar negociações com golpistas que falsificam dados ou criam perfis falsos.
  3. Evite pagamentos antecipados
    Um dos golpes mais comuns envolve o pedido de pagamentos adiantados como forma de sinal ou reserva do veículo. Esse tipo de transação pode ser arriscado, já que o suposto vendedor pode desaparecer com o dinheiro sem entregar o carro. O ideal é realizar qualquer pagamento apenas após a assinatura de um contrato formal e a entrega do veículo.
  4. Inspecione o veículo pessoalmente
    Não ceda à pressão de fechar o negócio sem antes conhecer o carro. Realizar uma inspeção presencial permite avaliar o estado de conservação do veículo, identificando possíveis danos, reparos ou indícios de negligência. Aproveite para fazer um test drive, garantindo que componentes como motor, freios e suspensão estão em boas condições.
  5. Verifique o histórico do veículo
    Antes de finalizar a compra, é imprescindível consultar o histórico do veículo. Essa etapa ajuda a identificar problemas como registro de roubos, batidas graves, passagens por leilão ou pendências legais. Além disso, garanta que a documentação esteja em dia para evitar futuras complicações.

Com essas medidas, é possível minimizar os riscos e aproveitar as oportunidades no mercado de seminovos e usados. Mais do que um investimento financeiro, a compra de um carro deve ser uma experiência segura e confiável.

Renato Ferraz, ex-Correio Braziliense, tem especialidade em jornalismo automobilístico

A posse de Donald Trump nos últimos dias como presidente dos Estados Unidos levou a um encontro de nomes da direita mundial no país, que passará a ser usado ainda mais por bolsonaristas na disputa política do Brasil.

A volta de Trump ao poder é vista como um fortalecimento da direita radical no mundo e uma oportunidade de reorganização do campo. Ainda que isso não signifique vitórias práticas, como a reversão da inelegibilidade de Jair Bolsonaro (PL), a chegada do republicano à Casa Branca serve, na opinião de parlamentares, para ecoar a narrativa conservadora e pressionar o Brasil.

A direita tem ocupado espaços que no passado eram mais explorados no Brasil por políticos à esquerda, como comissões de direitos humanos do Congresso americano e da OEA (Organização dos Estados Americanos). Alguns deputados brasileiros defendem que a esquerda também volte a atuar junto a parlamentares americanos e a outros órgãos para não deixar a narrativa dos adversários ganhar corpo sozinha.

Na última semana, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP) e a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro frequentaram alguns eventos que marcam o retorno de Trump à Casa Branca. Uma caravana de congressistas bolsonaristas também esteve nos Estados Unidos.

Eduardo mal voltou ao Brasil e já tem nova previsão de viagem aos EUA, para um evento do Cpac (Conferência de Ação Político Conservadora), em Washington, em fevereiro.

Ele também pretende abrir um escritório internacional do PL em Miami ou então fechar parcerias com americanos para ter um local fixo de despacho nos EUA.

Eduardo participou de eventos durante a semana com nomes do alto escalão do Partido Republicano e outros nomes da direita, como o presidente da Argentina, Javier Milei, a primeira-ministra da Itália, Giorgia Meloni, Sebastian Abascal, líder do partido populista de direita da Espanha Vox.

O filho de Bolsonaro conversou com aliados de Trump a respeito da situação do pai. A tese entre líderes da direita é que o ex-presidente e aliados sofrem perseguição. O ex-mandatário foi convidado para ir à posse de Trump, mas não teve o passaporte liberado pelo ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal).

Bolsonaro foi indiciado em três inquéritos: sobre um esquema de fraude no seu cartão de vacina, em outro sob a acusação de ter tentado vender no exterior joias recebidas de presente e ainda por supostamente ter participado de uma trama para impedir a posse de Lula (PT).

À Folha Eduardo aponta que a maioria republicana na Câmara e no Senado são ativos para tentar aprovar projetos de interesse do Brasil e ecoar a narrativa. “A gente estava com uma abertura muito boa na Câmara dos Deputados, que era de maioria republicana. Agora a gente também tem o Senado e tem a administração Trump”, disse.

“Eu pretendo retornar para continuar algumas tratativas. Alguns pontos [importantes para a agenda bolsonarista] devem caminhar naturalmente. Um deles seria o caso do Filipe Martins, porque é um caso ali de segurança nacional.”

Martins ficou preso por seis meses por determinação de Moraes no ano passado. O ministro citou que o ex-assessor de Bolsonaro teria viajado aos EUA no fim de 2022 com o ex-presidente. Martins, porém, nega que tenha viajado.

O nome de Martins, porém, teve a entrada no país registrada pelo serviço de imigração americano. Eduardo já disse considerar que houve fraude no caso e espera consiga esclarecer os registros.

Aliados de Bolsonaro acreditam que Trump poderia tomar uma medida drástica, como cassar o visto americano de Moraes, ou mesmo agir de alguma forma para facilitar a reversão da inelegibilidade do ex-presidente. Ambas as medidas, porém, são custosas e difíceis de serem concretizadas.

Trump disse após a posse que o “Brasil precisa mais dos EUA” do que o contrário. Suspender o visto de um ministro da Suprema Corte, no entanto, geraria um desgaste diplomático entendido como desnecessário por analistas.

Além disso, o presidente dos EUA também não tem meios para interferir nas investigações que o ex-presidente enfrenta na Justiça brasileira. Ele pode, avaliam bolsonaristas, pressionar com ameaças de tarifas e sanções ao Brasil, mas, para políticos brasileiros, isso não seria suficiente para alterar o rumo da ação.

“Os Estados Unidos, certamente, se seguir adiante as promessas de campanha do Trump de combate à censura e de fortalecimento da democracia, que nada mais é do que o retorno à tradição dos Estados Unidos de exportar a democracia e liberdade para o mundo inteiro, isso já nos beneficia”, avalia Eduardo.

Ele aposta na troca do embaixador dos EUA no Brasil para fortalecer o grupo. Eduardo também diz que usará ainda mais o espaço da OEA, onde parlamentares têm reclamado das penas aplicadas aos acusados pela invasão e ataque às sedes dos três Poderes em 8 de janeiro de 2023.

“Se a OEA realmente não atentar para essas causas de direitos humanos, essas violações que estão ocorrendo no Brasil, ele é capaz de sair da OEA, tal qual também saiu da OMS [Organização Mundial da Saúde]”, diz.

No final do ano passado, deputados brasileiros de esquerda estiveram em Washington para agendas em órgãos internacionais e com parlamentares e defenderam um reforço na articulação nos EUA.

“Depois que a direita descobriu os caminhos para se fazer ouvir aqui, eles estão explorando, então, mais importante do que nunca a esquerda se fazer presente. Os democratas, os progressistas, devemos, eu diria, intensificar os contatos”, avalia o deputado Arlindo Chinaglia (PT-SP).

“Eles que são, digamos, antiglobalistas, como eles se definem, então eles começam agora a se organizar como uma internacional de extrema direita, buscam seus pares no mundo inteiro”, avalia.

Da Folha de São Paulo.

O ex-coach Pablo Marçal (PRTB) afirmou na sexta-feira (24) que o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) “só considera candidato quem é parente dele” para disputar a eleição presidencial em 2026. Em entrevista à CNN, o empresário também comentou sobre uma declaração dada pelo ex-mandatário à emissora, que dizia que ele seria” uma carta fora do baralho”. As críticas feitas por Marçal surgem após Bolsonaro cogitar publicamente a indicação da sua mulher, Michelle, e dos filhos Eduardo e Flávio para a sua sucessão.

“Carta fora do baralho de Bolsonaro, que está fora do jogo. Por que ele faria comentários de uma carta fora do baralho? O Bolsonaro só considera candidato quem é parente dele“, disse Marçal à CNN. O ex-coach, que chegou a disputar o apoio do ex-presidente na corrida pela prefeitura de São Paulo no ano passado, tem se colocado como pré-candidato à presidência em 2026.

O ex-mandatário, no entanto, indica ter outros planos. Diante da possibilidade de permanecer inelegível, ele levantou a hipótese, pela primeira vez nesta semana, de indicar sua mulher, Michelle Bolsonaro, para disputar o Palácio do Planalto em 2026, desde que ela o indicasse para assumir a Casa Civil. Horas depois, ao ser entrevistado pelo portal Metrópoles, ele recuou ao afirmar que não há nada encaminhado para lançar a ex-primeira dama ao Executivo e disse ainda que os filhos seriam as possíveis apostas para a Presidência.

— Não tem nada negociado, nada conversado (sobre Michelle na Presidência). Ela vem candidata ao Senado aqui em Brasília. Se tivesse que botar alguém da família, seria o Flávio (Bolsonaro), o Eduardo (Bolsonaro).

O ex-presidente, no entanto, costuma defender com mais frequência que ele próprio será o candidato ao Planalto em 2026, não admitindo discutir um nome para substituí-lo na direita. Ainda no mês passado, ele afirmou que é o “o plano A, B e C” do partido e disse que só pensaria em alternativas depois da “morte física ou política em definitivo”.

Do jornal O Globo.

Depois de 54 anos, um dos mais conhecidos crimes da ditadura militar ainda não tem definição sobre a possibilidade de punir os acusados, hoje protegidos pela Lei da Anistia.

Um dos recursos relacionados à morte do ex-deputado Rubens Paiva foi encerrado no último dia 9 no STF (Supremo Tribunal Federal). O outro, apresentado em 2021, ainda não teve decisão.

Os dois processos tratam do mesmo tema e são relatados pelo ministro Alexandre de Moraes. Por meio do caso, o STF pode ainda rever a abrangência da Lei de Anistia. O Ministério Público Federal provocou a corte em uma das ações para argumentar que determinados crimes cometidos pela ditadura não podem ser anistiados.

Em 21 de novembro, o procurador-geral da República, Paulo Gonet, se manifestou pelo encerramento de um dos processos, aberto pelos advogados dos réus, sob o entendimento de que parte dos envolvidos já morreu. O pedido foi acatado pelo relator. Por outro lado, o PGR afirmou que a discussão deve seguir na outra ação, que questiona a anistia dos militares.

O assassinato de Rubens Paiva e a resposta do Estado ao crime vêm gerando debates nos últimos meses na esteira do sucesso do filme “Ainda Estou Aqui”, que foi indicado ao Oscar de melhor filme nesta semana e que retrata a trajetória da viúva Eunice Paiva na busca por justiça.

Os acusados de matar o ex-deputado foram ao STF para tentar barrar a ação que corria na Justiça Federal no Rio de Janeiro, sob a justificativa de que o processo afrontaria a Lei da Anistia.

Desde o pedido da defesa dos réus, em 2014, três dos cinco autores morreram: Rubens Paim Sampaio, em 2017; Jurandyr Ochsendorf e Souza, em 2019; e Raymundo Ronaldo Campos, em 2020.

Jacy Ochsendorf e Souza e José Antônio Nogueira Belham estão vivos, mas a ação penal contra eles está trancada por uma decisão do STJ (Superior Tribunal de Justiça). O MPF recorreu do trancamento ao Supremo em 2021.

O procurador-geral defende a continuidade da discussão do caso nesse recurso. De acordo com o pedido, decisões da CIDH (Corte Interamericana de Direitos Humanos) distinguem crimes políticos dos de lesa humanidade, que não poderiam ser protegidos pela Lei da Anistia.

Na prática, o órgão reforça uma tese apresentada à corte outras duas vezes, mas sem julgamento há mais de uma década. Essa diferenciação permitiria o julgamento de militares e civis que fizeram parte da repressão.

O MPF entende que o período histórico não foi devidamente passado a limpo. Ainda, argumenta que o Supremo pode avaliar que não deu um recado claro o suficiente no julgamento que validou a Lei da Anistia, em 2010, e considera importante reforçar que militares devem ser mantidos distantes da política.

“A matéria questionada envolve, na verdade, a própria incompatibilidade da Lei de Anistia com o ordenamento constitucional brasileiro e com as normas internacionais de proteção aos direitos humanos, já reconhecida pelas condenações sofridas pelo Estado brasileiro perante a Corte Interamericana de Direitos Humanos”, diz Gonet, numa das manifestações.

Assessores da corte e integrantes do Ministério Público ouvidos pela Folha avaliam que a ação seria uma oportunidade para dar mais clareza às consequências de atentados contra a democracia. O processo de Rubens Paiva teria o potencial de provocar a revisão dos termos da anistia pela ideia do crime continuado.

No caso concreto do ex-deputado, trata-se do crime de ocultação de cadáver: o Estado brasileiro ainda deve a informação do local do corpo de Rubens Paiva. Por isso, segundo a Procuradoria, o crime não poderia ser anistiado.

A anistia não voltou a ser debatida pelo STF desde a decisão de validar os termos definidos em 1979, pelo último presidente da ditadura, o general João Figueiredo. A decisão de 2010 protegeu agentes que reprimiram a resistência e opositores que tenham cometido crimes no período de exceção. Parte do debate, no entanto, ficou pendente.

A OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) questionou trechos da decisão em que o Supremo validou a anistia a torturadores da ditadura e o PSOL entrou com pedido semelhante em 2014: querem a não aplicação da anistia a crimes praticados por agentes públicos do regime.

Na ação do PSOL, relatada pelo ministro Dias Toffoli, os despachos do relator nos últimos seis anos são somente sobre questões secundárias. Nunca houve decisão no processo. O recurso da OAB está parado no tribunal há 12 anos.

Da Folha de São Paulo.