“Quero abrir um clarão na cabeça das novas gerações”
O jornalista Magno Martins, parceiro nesta Folha com o podcast Direto de Brasília, lança, hoje, seu 14º livro – Os Leões do Norte, pela editora Eu Escrevo. Trata-se de uma minibiografia de 22 governadores de Pernambuco do período de 1930 a 2022. A noite de autógrafos está marcada para a partir das 18 horas no bar Boteco Porto Ferreiro, na Rui Barbosa.
Nesta entrevista à Folha, Martins diz que sua intenção foi abrir um clarão na nova geração, que vive sem informações de figuras que deram tanta contribuição ao desenvolvimento do País. “Modestamente, faço uma devolução à memória coletiva de Pernambuco de seus protagonistas maiores”, diz ele. Confira abaixo a sua entrevista:
Por que escrever Leões do Norte?
Em 40 anos de jornalismo político, conheço um pouco da história do Brasil e, particularmente, de Pernambuco. Estou sempre a devorar livros que falam de história e percebi que há uma pouca ou quase nada de literatura sobre os que passaram pelo Palácio do Campo das Princesas, dando uma grande parcela de contribuição ao Estado. Figuras lendárias e até estadistas, como Agamenon Magalhães, o nosso “Vargas tupiniquim”, que fez um governo revolucionário em todos os sentidos, seja no estilo de governar, seja em políticas que favoreceram os mais necessitados, seja nas horas de dureza, como no enfrentamento ao Cangaço. Ao mergulhar na história, nas pesquisas e nas entrevistas, fui movido por um único sentimento: dar aos jovens, a nova geração, nossos filhos e netos, a oportunidade de conhecer um pouco da história de tantas figuras lendárias que governaram o Estado.
Quem dos 22 governadores você destacaria mais?
Como escreveu, ontem, o escritor e jornalista Flávio Chaves, numa belíssima crônica no meu blog, “Leões do Norte” não é apenas um livro, mas um gesto cívico. Uma devolução à memória coletiva de Pernambuco de seus protagonistas maiores: os governadores que, desde 1931, ocuparam o vértice do poder estadual e ajudaram a escrever os capítulos decisivos do século XX e deste início de século XXI. São personagens que nos governaram antes e depois do Estado Novo, antes e depois do golpe de 64, cada um dando uma contribuição inestimável ao Estado. Há figuras muito esquecidas hoje, como Carlos de Lima Cavalcanti, Etelvino Lins, Barbosa Lima Sobrinho, Cid Sampaio, Paulo Guerra, Nilo Coelho, Eraldo Gueiros e Moura Cavalcanti. Há também os mais recentes, como Miguel Arraes, que governou o Estado por três vezes, e que é um dos personagens mais emblemáticos.
O que você descobriu de notável entre tantos personagens?
Começando por Carlos de Lima Cavalcanti, que governou o Estado como interventor em 1930, nomeado por Agamenon Magalhães, e depois foi eleito em 1935. Foi um usineiro reformista, enfrentou e venceu um levante anti revolucionário do 21º Batalhão de Caçadores, que se rebelou contra o seu governo em 1931, ocupando quartéis e delegacias e sacudindo o Recife por três dias. Mais tarde, virou proprietário dos jornais Diário da Manhã e Jornal da Tarde. Agamenon Magalhães, o China Gordo, foi um dos ministros mais poderosos da era Vargas. Como ministro da Justiça, redemocratizou o País, restabelecendo as eleições diretas para presidente.
Além de Miguel Arraes, algum governador chegou a ser cassado?
Não, mas Etelvino Lins, que foi interventor em 1945 e eleito governador em 1952, com o Estado Novo, implantado por Getúlio Vargas, teve um governo abalado pelo assassinato do estudante Demócrito de Souza Filho, na sacada do Diário de Pernambuco, em 1945. O crime foi atribuído à polícia política de Vargas, por quem Etelvino havia sido nomeado. Isso fragilizou a posição de Etelvino como interventor indicado por Agamenon, homem forte de Vargas, o que teria motivado a renúncia de Etelvino. A renúncia se deu a tempo de eleger-se senador pelo PSD. Já Paulo Guerra, que sucedeu a Miguel Arraes no golpe de 64, foi extremamente leal, em nenhum momento conspirou e fez uma grande gestão. Uma das suas marcas é o Hospital da Restauração, uma das maiores emergências do Nordeste.
E quem foi Cordeiro de Farias e Barbosa Lima Sobrinho?
Boa pergunta e daí a importância do livro. O general Cordeiro de Farias era gaúcho e foi eleito pelo PSD em 1954, derrotando João Cleofas, que disputou pela UDN. Antes de governar Pernambuco, foi interventor no Rio Grande do Sul em 1938. Tinha espírito militar. Dentre outros movimentos que liderou no País, o levante tenentista em Uruguaiana, em 1924. Teve destacada participação na Coluna Prestes, liderada por Carlos Prestes. Já Barbosa Lima Sobrinho foi uma das maiores figuras do século 20. Na disputa pelo Governo de Pernambuco em 1947 derrotou Neto Campelo e nomeou Miguel Arraes secretário da Fazenda. Seu sucessor foi Agamenon Magalhães. Barbosa era advogado e jornalista. Como jornalista, se fixou no Rio de Janeiro, dirigiu a Associação Brasileira de Imprensa (ABI) e morreu em 2000 aos 103 anos.
Quantos governadores foram prefeitos do Recife antes e quais assumiram mandato-tampão como vice?
Três prefeitos da capital chegaram a ser eleitos como governador – Miguel Arraes, Jarbas Vasconcelos e Joaquim Francisco. Dos três, Jarbas foi o único que saiu com popularidade em alta, tanto como prefeito quanto governador. O Datafolha o apontou como o gestor mais popular do País. Já Joaquim, paradoxalmente, liderou o ranking do Datafolha como prefeito, mas em nenhum momento apareceu em posição tão confortável no exercício do mandato de governador. Quanto aos vices que assumiram, pela ordem Carlos Wilson, que sucedeu a Miguel Arraes, João Lyra Neto, a Eduardo Campos, e Mendonça Filho, a Jarbas Vasconcelos. Dos três, apenas Mendonça foi candidato em seguida a governador, apoiado por Jarbas, mas perdeu a eleição para Eduardo Campos.
Pernambuco sempre emprestou ao País grandes nomes que atuaram na vida. Quais os mais notáveis?
Cada um a seu tempo: no Estado Novo, Agamenon Magalhães. Na redemocratização, Miguel Arraes, que foi eleito em 1986 numa campanha memorável e emocionante. Lá atrás, Etelvino Lins, que foi ministro e presidente do Tribunal de Contas da União. Cid Sampaio, que foi o governador da era industrial, chegou a ser senador e no parlamento, depois de passar pelo Governo, Roberto Magalhães, que fez uma excelente gestão como governador, se destacou entre os deputados federais que lideraram na sua época os cem mais influentes do País. Por fim, quero ressaltar sobre o nome de batismo do livro: o Leão do Norte é o símbolo da bravura do povo pernambucano, está presente em brasões do Estado, da capital e da sua bandeira.
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