Lula endurece discurso sobre segurança pública: “lugar de bandido não é na rua”
Por Larissa Rodrigues
Repórter do blog
De olho em 2026, o presidente Lula (PT) começou a mudar o discurso relacionado à segurança pública. “A gente não vai permitir que a República de ladrões de celular comece a assustar as pessoas nas ruas deste país”, afirmou o petista, na última semana, durante a inauguração de um hospital universitário, no Ceará.
Na mesma ocasião, Lula também disse que “lugar de bandido não é na rua assaltando, assustando as pessoas e matando pessoas”. A declaração não é (e está bem longe de ser) algo como o mantra da extrema direita brasileira, que sempre defendeu que “bandido bom é bandido morto”. Mas as novas falas de Lula sinalizam para a busca de uma parcela do eleitorado mais conservadora.
Leia maisEm 2022, uma fake news circulou durante a campanha e distorceu uma fala antiga de Lula sobre roubos de celulares. Essa mentira é usada até hoje pela oposição contra Lula, como se ele tivesse relativizado os assaltos. A verdade é que, durante uma entrevista para uma rádio em Pernambuco, em agosto de 2017, o petista relacionou o aumento da violência no Estado à desesperança.
“É uma coisa que está intimamente ligada, ou seja, o cidadão teve acesso a um bem material, a uma casinha, a um emprego e, de repente, o cara perde tudo. Então, vira uma indústria de roubar celular. Para que rouba celular? Para vender, para ganhar um dinheirinho. Eu penso que essa violência que está em Pernambuco é causada pela desesperança”, declarou Lula, naquele ano.
Como falava para o público pernambucano, na mesma entrevista o presidente defendeu o fim do ódio no Brasil, exemplificando com as torcidas dos times locais. “O ódio está disseminado no país. É preciso distensionar, para a sociedade perceber que a torcida do Santa Cruz e do Sport não são inimigas, são adversárias durante o jogo. Depois vão para o bar tomar uma cerveja juntas”, defendeu Lula.
Os adversários do petista, de forma mal-intencionada, manipularam as falas e disseminaram durante a campanha de 2022 que o presidente, então candidato, havia afirmado que os ladrões de celular no Brasil “roubam para tomar uma cervejinha”, o que jamais saiu da boca de Lula, mas boa parte dos eleitores bolsonaristas até hoje acredita que seja uma ideia defendida por ele.
PARA ALGUNS, LULA DEFENDE BANDIDO – Mesmo não tendo nunca minimizado o roubo de celular no Brasil, uma parte da população acredita que Lula “defende bandido” e relativiza a violência, porque a esquerda sempre se referiu a esse tema com olhar social, aprofundando o debate sem excluir as questões da desigualdade. O tema segurança pública acabou capturado pela extrema direita, ao longo dos anos. Com os índices de popularidade em baixa, num ano estratégico como 2025, o presidente sentiu a necessidade de endurecer o discurso e tentar se conectar com essa parcela do eleitorado mais à direita, que exige mais rigor no combate à violência.

PEC da Segurança – Para neutralizar o campo opositor e avançar no eleitorado mais conservador, foi preciso, além de endurecer o discurso, apresentar soluções. Por isso, o presidente tem defendido a PEC da Segurança. A proposta será enviada ao Congresso Nacional este ano com mudanças na política de segurança pública do país e pretende constitucionalizar o sistema. O governo argumenta que a PEC é uma forma de aumentar a participação da União na área, combater o crime organizado e integrar as polícias do país. Uma das alterações determina que a Polícia Rodoviária Federal (PRF) passará a fazer o policiamento ostensivo em rodovias, ferrovias e hidrovias federais.
Lula tem pressa – O endurecimento das falas sobre segurança pública reflete a pressa do presidente Lula para recuperar a popularidade, porque é urgente a necessidade de segurar os partidos de centro na base aliada. O fato é que as legendas, assim como o PT, também já olham para 2026, e algumas levantam a possibilidade de ter candidaturas próprias. Se Lula continuar com a popularidade em queda, as siglas podem começar a desembarcar da gestão e dar início às articulações de outros nomes para 2026.

Humberto diferente de Gleisi – Presidente interino do PT, o senador Humberto Costa (PE) afirmou que deve assumir um perfil “um pouco diferente” do que o da ex-presidente da legenda e atual ministra das Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann. “Cada pessoa tem o seu estilo. Acho que a ministra Gleisi realmente é muito firme nas suas colocações. Foi muito forte em cada tema da conjuntura e nós vamos tentar seguir esses passos, mas naturalmente com um estilo talvez um pouco diferente. Mas o PT não deixará de ter uma postura firme, combativa e de apoio ao governo Lula”, declarou.
Sem anistia – Metade (51%) dos brasileiros declara ser contra anistiar os presos pelo vandalismo em Brasília, em 8 de janeiro de 2023. Outros 37% defendem perdoar as pessoas detidas na capital no dia dos atos. Há ainda 12% que não souberam responder. Os dados são da pesquisa PoderData, realizada de 15 a 17 de março de 2025. A proposta de anistiar os presos pelo 8 de janeiro é apoiada e impulsionada por políticos de oposição, em especial, os ligados ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
CURTAS
Preso por furtar réplica da Constituição – A Polícia Federal prendeu o designer e empresário Marcelo Fernandes Lima, de 52 anos, responsável por furtar uma réplica da Constituição Federal de 1988 durante os atos golpistas de 8 de janeiro de 2023, em Brasília. O homem foi condenado pelo Supremo Tribunal Federal em 4 de fevereiro deste ano a 17 anos de prisão por participação nos atos antidemocráticos e, segundo a PF, era considerado foragido. A defesa dele, no entanto, alega que o homem estava em casa em regime de liberdade provisória por 1 ano e 3 meses, usando tornozeleira eletrônica, e não estava foragido.
Rosa e Dilma – A deputada estadual Rosa Amorim (PT) esteve com a presidente do Novo Banco do Desenvolvimento, Dilma Rousseff, em Xangai, ontem (21). Junto da comitiva de parlamentares do MST, o tema da reunião foram as possibilidades de parcerias econômicas para desenvolver iniciativas sustentáveis de apoio à agricultura familiar no Brasil. “Na sede dos Brics, conversamos sobre os projetos da agricultura familiar para o Brasil. Importante dizer que a presidenta entende o quanto é estratégico para um projeto de desenvolvimento nacional ter uma agricultura familiar fortalecida, produzindo alimento saudável para o povo”, ressaltou Rosa.
Magno cidadão de Bezerros – A Câmara de Vereadores de Bezerros, no Agreste, aprovou o título de cidadão para o titular deste blog. A iniciativa foi do vereador Diogo Lemos, da bancada do PSB. “Com orgulho, vai se somar aos mais de 80 títulos que tenho espalhados neste Estado, do Recife aos rincões do Sertão, em reconhecimento ao bom jornalismo, do combate ao bom combate”, comemorou Magno.
Perguntar não ofende: mesmo sendo o partido de Lula, o PT vai apoiar o novo discurso “contra bandido” adotado pelo presidente?
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