Hesitação é uma das marcas de Raquel
A relutância da governadora Raquel Lyra (PSD) em se pronunciar sobre temas espinhosos tem se tornado um traço recorrente de sua gestão. Sempre que episódios que geram forte comoção social ocorrem em Pernambuco, impera a lei do silêncio lá pelas bandas do Palácio do Campo das Princesas.
E quando o governo se vê encurralado por conta de alguma omissão, tornando quase obrigatório um posicionamento, o que vem a público são respostas estritamente protocolares. Foi assim, mais uma vez, no caso dos dois turistas mato-grossenses espancados, no fim de semana, na praia de Porto de Galinhas.
Os vídeos da violência já circulavam em portais de notícias desde o início da tarde de domingo passado e desnudavam não só o descontrole na fiscalização do trabalho dos barraqueiros que atuam na orla, mas também a completa ausência de policiamento em um dos destinos turísticos mais conhecidos do país.
Leia maisAs vítimas só não apanharam mais dos ambulantes porque foram amparadas na caçamba de um veículo de guarda-vidas civis que estavam perto do local. Com a falha na segurança, o governo de Raquel ficou descoberto em rede nacional. O episódio, amplamente repercutido ao longo do dia por emissoras de TV do eixo Rio–São Paulo, atingiu não apenas as vítimas, mas a credibilidade do destino Pernambuco.
Ainda assim, a governadora só se pronunciou na manhã de ontem, quase 24 horas depois, e apenas porque foi provocada em uma entrevista de rádio. Em lugar de uma fala firme, veio um compêndio de obviedades. A avaliação de que o caso se tratou de um crime foi uma delas. As imagens já deixam isso nítido. Outra fala protocolar foi a de que seria criado um grupo de trabalho, com a participação do Governo do Estado e do município, para estudar medidas que evitem casos semelhantes na orla.
No meio político, todo mundo sabe que grupos de trabalho são a resposta típica a ser dada quando os governantes não têm nada contundente a dizer à sociedade para resolver um problema. Quando um governo reluta demais, perde a oportunidade de exercer autoridade política e de transmitir confiança à sociedade.
E, sem respaldo institucional, as próprias equipes — nesse caso, as da segurança — também passam a hesitar. Já o silêncio, ao contrário, abre espaço para especulações. Um desgaste que, no episódio dos turistas espancados, não é restrito ao governo, mas a uma das principais atividades econômicas do Estado. Sofre o trade turístico, sofre o comércio, sofrem todos.
Diferentemente das picuinhas que Raquel costuma nutrir na relação com a Assembleia Legislativa, que se esgotam em si mesmas, os efeitos da dureza da comunicação dela deveriam preocupá-la mais quando afetam em cheio a economia do Estado. Governar também é enfrentar temas incômodos, assumir riscos e falar quando o momento exige firmeza.
Foi tudo o que não aconteceu nesse caso recente, que fechou melancolicamente o terceiro ano de seu governo. Agora, é torcer para que, em seu último ano, essa postura até agora incorrigível dê lugar a uma forma mais empática de lidar com as crises. É bem provável que o turismo e os turistas sejam os primeiros a agradecer.
TENTATIVA DE HOMICÍDIO – Em artigo, ontem, neste blog, o advogado criminalista Cláudio Soares classificou como uma grave tentativa de homicídio a agressão praticada por um grupo de barraqueiros a dois turistas, domingo passado, em Porto de Galinhas. O caso se configura numa clara tentativa de homicídio. Até o momento, não há respostas satisfatórias sobre punições, investigações ou ações preventivas”, afirmou. Segundo escreveu, relatos recorrentes de turistas apontam um cenário alarmante em Porto, com barraqueiros cobrando valores abusivos — que chegam a até R$ 150 — simplesmente para que pessoas possam se sentar em áreas que são públicas.

Retrato vergonhoso – “Porto de Galinhas não pode ser território sem lei. O Estado e o município têm a obrigação constitucional de garantir segurança, ordem e respeito aos direitos básicos. Enquanto as autoridades fecham os olhos, a praia, que é pública, segue sendo privatizada à força. O que acontece hoje em Porto de Galinhas não é apenas um problema turístico. É um retrato vergonhoso da omissão do Estado diante da violência e da ilegalidade. E cada dia sem ação concreta é mais um golpe na credibilidade de Pernambuco”, acrescentou o advogado. Seu texto teve uma ampla repercussão nas redes sociais.
Barraqueiro punido – Em entrevista ao Frente a Frente de ontem, o prefeito de Ipojuca, Carlos Santana (Republicanos), relatou que passou a manhã reunido para tratar do lamentável episódio em Porto de Galinhas. O encontro resultou na punição do responsável pela barraca e agressor, que ficará por 30 dias sem usar a área como comércio. “Também serão punidos todos os que participaram do que consideramos um linchamento”, disse.
Sem repercussão no turismo – Santana anunciou, também, o aumento do efetivo da guarda municipal costeira e a governadora pediu que reforçasse o policiamento ao longo de toda a extensão de Porto de Galinhas. Na sua opinião, a tentativa de linchamento, classificada por ele próprio, não trará impacto capaz de reduzir a presença de turistas no município. “Foi um fato isolado, que poderia ter sido resolvido com diálogo ali mesmo na própria barraca, mas se estendeu pela praia, o que lamentamos muito”, afirmou.

Raquel vê crime grave – Ao falar sobre a tentativa de linchamento em Porto, a governadora Raquel Lyra (PSD) informou que 14 agressores foram identificados e serão punidos na forma da lei. Ela classificou como um “crime grave”. “Porto de Galinhas é um lugar que todo pernambucano tem no coração. É o quarto maior destino turístico do Brasil e o que aconteceu é absolutamente inadmissível”, disse, acrescentando que o Estado é o destino mais procurado no País este ano. “E aconteceu algo que não vamos tratar de incidente, mas de crime grave”, afirmou.
CURTAS
O CULPADO – A CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil) colocou o Congresso Nacional e o peso dos juros da dívida pública no centro de sua mensagem de Ano Novo ao apontar os principais fatores que, segundo os bispos, comprometem a capacidade do Estado de enfrentar desigualdades e fragilizam a democracia no país. O texto afirma que o pagamento “exorbitante de juros e amortizações da dívida” reduz o espaço para investimentos em áreas essenciais como educação, saúde, moradia e segurança.
NOVO AEROLULA – Após ao menos três episódios de risco em voos oficiais neste mandato, o presidente Lula estuda a compra de um novo avião presidencial. A decisão, no entanto, esbarra no alto custo da aeronave, estimado entre R$ 1,4 bilhão e R$ 2 bilhões, segundo cotações de mercado, e no potencial desgaste político em um ano eleitoral, cenário que leva aliados a desaconselhar a troca. O orçamento deve ser entregue ao petista no início de 2026.
EM QUEDA – O programa “Fantástico”, da TV Globo, registrou uma média de 16 pontos de audiência na Grande São Paulo em 2025. Os dados são da Kantar Ibope e foram divulgados pelo jornalista Gabriel Vaquer. Cada ponto na região equivale a 78.781 domicílios ou 199.633 telespectadores. A média de audiência do “Fantástico” está em queda desde 2023.
Perguntar não ofende: Lula vai enfrentar o desgaste da compra de um novo avião em ano eleitoral?
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