Duas mãos e o sentimento do Sertão
João Campos (PSB) pisou no solo sagrado do Rio Pajeú sábado passado. De lá, seus aliados saíram energizados pela poesia que brota fácil da sua gente. “Eu sou da terra onde as almas são todas de cantadores. Sou do Pajeú das flores, tenho razão de cantar”, cantou o gigante Rogaciano Leite, que nasceu e viveu versejando nas veredas com a sua viola entre Itapetim e São José do Egito.
No mesmo poema, ele diz: “Não sou Manuel Bandeira, Drummond nem Jorge de Lima. Não espereis obra-prima deste matuto plebeu. Eles cantam suas praias, palácios de porcelana. Eu canto a roça, a cabana. Canto o Sertão, que ele é meu”. De São José do Egito saiu também o canto de Lourival Batista, outro faraó da poesia, avô de Antônio Marinho, o poeta por quem Eduardo Campos, pai de João, tinha grande admiração e virou garoto propaganda do seu governo. Ele deixou os olhos do prefeito recifense marejando com os versos saudando a sua chegada no Pajeú, no último fim de semana.
Leia maisA poesia cantada no improviso tem suas raízes nos aedos gregos e na chegada dos mouros à Península Ibérica. Já a poesia falada vem de muito tempo, ainda das tradições indígenas dos povos originários que já habitavam a região. No chão do Pajeú não tem apenas vidas secas, o doloroso retrato de Graciliano Ramos em sua obra-prima.
Tem também gente que canta e poetiza para minimizar os efeitos da seca e das suas adversidades. Quando era perene, com suas águas em um eterno ir e vir, o Rio Pajeú era uma usina de poetas, uma fonte inesgotável de glosadores e repentistas. Bastava apenas beber da sua água para nascer um poeta. Há uma lenda que, há séculos, uma viola do período da colonização portuguesa foi enterrada dentro do rio.
Na terra sagrada, na qual faça sol ou caia chuva, esta coisa rara, pessoas de diferentes ofícios e profissões se encontram para recitais e cantorias. Miguel Arraes, bisavô de João, vindo da Chapada do Araripe para ganhar o mundo, se encantou pelo verso e a prosa do Pajeú. Afogados da Ingazeira, de onde João saiu animado para disputar o Governo do Estado, encheu de poesia a alma do seu bisavô e do seu pai, Eduardo. Um encantamento sem tamanho, deslumbre, paixão.
Tão logo voltou do exílio com planos de retomar o mandato de governador, usurpado de suas mãos pelo golpe militar, Arraes fez peregrinações constantes à região, que virou quase uma moradia permanente para ele. Ali, era como se estivesse fazendo uma comunhão com a sua gente do Araripe que havia deixado para trás. As mesmas caras, a mesma dor, os velhos sonhos da sua região natal.
Certa vez, já governador pela segunda vez, o encontrei no hotel Brotas, em Afogados da Ingazeira, tomando seu uísque predileto na companhia de Zé Preguiça, dono da pousada. Quis saber dele a razão de rotulá-lo de gestor das coisas pequenas, como os programas sociais Vaca na Corda, não adepto dos grandes empreendimentos geradores de renda e emprego, objeto e quase obsessão de qualquer gestor.
Nunca esqueci a sua resposta: “O que é ser moderno: um governante tocador de obras faraônicas ou quem tira o sertanejo da escuridão, que mata a sua sede? Você acha concebível, em pleno século 21, alguém não ter um bico de luz? Entendi perfeitamente o Arraes socialista, que sofreu na sua infância na pequena Araripe os horrores da seca inclemente, as injustiças sociais, o grito ensurdecedor por um copo d’água.
Mas com o passar do tempo, entendi tudo quando vi os campos do Pajeú e de todo o Estado floridos, quando enxerguei luz elétrica, quando meus olhos não se depararam com a luz do candeeiro ou os caminhos da roça iluminados pelos pirilampos. Era a universalização da eletrificação rural, materializada pelas mãos de um homem que tinha duas mãos e o sentimento do Sertão.
SEM DATA – Presidente da Comissão de Justiça da Assembleia Legislativa, o deputado Alberto Feitosa (PL) confirmou, ontem, em entrevista ao Frente a Frente, a insatisfação dos seus colegas de Casa, especialmente da colegiado que preside, com a decisão do Governo de promover um verdadeiro trem da alegria com Fernando de Noronha sem sequer o nome indicado para gerir a ilha tenha sido sabatinado pelos parlamentares. Diante disso, disse que não há data ainda marcada para a sabatina do advogado Virgílio Oliveira, nome indicado pelo Avante.

Raquel não deu bola – Antes de assumir compromisso com a candidatura de João Campos a governador, no sábado passado, a prefeita de Serra Talhada, Márcia Conrado (PT), havia dado a senha para Raquel: não engoliria o acordo dela fechado com seus principais adversários no município – Luciano Duque e Sebastião Oliveira. Mas a governadora não fez o menor esforço para evitar a debandada da petista. Força poderosa e influente no Sertão, Conrado certamente não aterrissa sozinha no palanque do socialista.
Floresta chora – Em clima de revolta, sob forte emoção, Floresta, a 440 km do Recife, parou, ontem, para se despedir da adolescente Ingridy Vitória, de apenas 13 anos, que foi sequestrada no último dia 25 em Santa Maria da Boa Vista e após cinco dias em cativeiro foi encontrada morta. A mãe Adriana Gomes estava inconsolável, amparada por parentes e amigos enquanto se despedia da filha. O clima era de profunda dor.
O caso como o caso foi – A garota foi sequestrada por Jocelmo Caldas da Silva, que havia oferecido carona a sua família (a mãe Adriana Gomes e o seu irmão Marcos, de 4 anos), de Curaçá, na Bahia, até Santa Maria da Boa Vista, no Sertão do São Francisco. Jocelmo largou o carro em uma estrada de barro, deixando a mãe e o irmão para trás, e arrastou a garota pelo meio da caatinga. Após cinco dias em cativeiro, o corpo de Ingryd foi encontrado no último sábado. Antes, o sequestrador foi atingido, após tiros com a polícia, e morreu a caminho do hospital.

Toritama bate recorde em jeans – Em entrevista, ontem, ao Frente a Frente, o prefeito de Toritama, Sérgio Colin (MDB), disse que o município já é considerado o maior produtor de jeans do País, com uma média de 6 milhões de peças por mês. “Abastecemos o País inteiro e já estamos presentes no comércio internacional”, afirmou. Serginho, como é mais conhecido, está debruçado na organização e captação de mais um festival do jeans, que será aberto no próximo dia 30, atraindo empresários de vários Estados.
Curtas
TECNOLOGIA – O festival é considerado o maior evento de moda do Norte e Nordeste. De acordo com a organização, o evento terá início no dia 30 de abril e segue até 3 de maio. Neste ano, o tema é Retro Future, com a ideia de explorar a fusão entre tradição e inovação com o avanço da tecnologia.
ATRAÇÕES – A 23ª edição do Festival do Jeans de Toritama (FJT), já teve as duas primeiras atrações musicais confirmadas: os cantores Tarcísio do Acordeon e Priscila Senna. Segundo o prefeito, também está confirmada a dupla Iguinho e Lulinha.
SEMINÁRIO – Anfitrião do seminário do PSB, domingo passado, no Sertão do Pajeú, o prefeito de Afogados da Ingazeira, Sandrinho Palmeira (PSB), disse que não precisou fazer muitos esforços para o evento atrair uma multidão. “A procura se deu naturalmente e fiquei feliz com a presença de tantos prefeitos e lideranças da região”, afirmou.
Perguntar não ofende: Quem Márcia Conrado vai levar junto na adesão ao projeto de João Campos?
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