De largada, Raquel subestimou o jogo da política
Depois de dois meses gerando expectativas, a governadora eleita, Raquel Lyra (PSDB), anunciou, ontem, sete nomes para o Secretariado. Todos técnicos, com exceção do deputado federal não reeleito Daniel Coelho (Cidadania), a quem entregou a pasta de Turismo agregada com Lazer, nova nomenclatura da Secretaria de Turismo. Ao todo, seis integrantes do primeiro escalão.
Mas, há dois dias, a tucana informou que havia demorado com o anúncio, mas que faria a divulgação de todos os nomes. Isso não ocorreu. Na composição do atual time de secretários, a totalidade é de 27, mas com a reforma administrativa que Raquel encomendou não se sabe a que número ficou reduzido ou ampliado.
Leia maisO certo, entretanto, é que, além dos seis titulares da equipe que começa a jogar no dia 2, foram anunciados um secretário-executivo, a jornalista Daniella Brito Alves, de Imprensa, e o presidente da Empetur, Eduardo Loyo, filho do empresário Fred Loyo, que havia sido indicado pelo ex-senador Armando Monteiro Neto para a Secretaria de Desenvolvimento Econômico.
Na primeira leva, o time é de natureza técnica, reproduzindo a experiência que Raquel levou a cabo em Caruaru quando governou o município. Se prevalecer o DNA técnico, em desprezo ao político, a primeira governadora mulher enfrentará muitas dificuldades para tocar o seu governo de reformas, como assim tem vendido.
De imediato, corre o risco de sofrer a primeira derrota política na eleição da mesa diretora da Assembleia Legislativa. Casa complicada, ali o jogo que se pratica é o do malabarismo político, das traições, da velha política do toma lá dá cá, ou rezando a prece de São Francisco, do é dando que se recebe.
Se Raquel se isolar da classe política como fez em Caruaru, vai se dar mal. Na Assembleia, seu partido, o PSDB, só elegeu três deputados. Para eleger o presidente, terá que construir a maioria de uma Casa formada por 49 profissionais do ramo da sabedora e do enrolation, para não recorrer ao termo dos adeptos do reino da esperteza.
A oposição emplaca facilmente a presidência da Alepe se ela não abrir o governo para os partidos, como Lula fez na composição do seu Ministério. Senão, vejamos indo os números.
Maior bancada, o PSB elegeu 13 deputados. O PL bolsonarista, cinco; o União Brasil, cinco. Só aí, são 23, quase a metade do parlamento. Já o Solidariedade, elegeu quatro, o PT, três, o PV, três. Patriota e PSol, um. Total: 35 deputados sem representação no próximo governo.
Só um lembrete à nova governadora: Pernambuco não é Caruaru e a Assembleia Legislativa não é a Câmara de Vereadores.
Chuva de votos – Raquel teve três conversas com Miguel Coelho ao longo dos últimos 20 dias, mas, segundo a nota do próprio ex-prefeito de Petrolina, em nenhum momento ele chegou a ser convidado para o Secretariado. Se não convidou nem vai prestigiar Miguel, a governadora comete um erro e revela o lado mais perverso do homem público: a ingratidão. Afinal, no primeiro turno, Raquel teve apenas cinco mil votos em Petrolina. Já no segundo, com Miguel no palanque, recebeu uma avalanche de votos: 90 mil.
A mudança do cunhado – O médico Márcio Mahom, cunhado da governadora eleita Raquel Lyra, que morava no condomínio Quintas das Colinas, em Caruaru, foi visto, ontem, fazendo sua mudança para o Recife. Com uma clínica de oftalmologia bem tradicional e movimentada, qual a razão da troca de domicílio? Será o secretário de Saúde? Com a palavra, a própria tucana.
Nome do PP – Se a governadora eleita quiser fazer um gesto com o PP, de Dudu da Fonte, abrindo vaga para a primeira-suplente da bancada na Alepe, Roberta Arraes, o nome que o partido indicará para o primeiro escalão é o do deputado estadual eleito Kaio Maniçoba. No Governo que se encerra, Kaio foi presidente do Ipa, órgão da Secretaria de Agricultura, pasta que Raquel reservou para Guilherme Coelho. Para onde iria, então, Kaio?
Hostilidade – De um aliado do ex-prefeito de Petrolina, Miguel Coelho, ao ser informado ontem que Raquel poderia abrir espaço na Alepe para Lucinha Mota, adversária política de Miguel, mãe da garota Beatriz, assassinada numa escola em Petrolina: “Aí, seria apunhalar o Galego duplamente”. Na terra que governou e que largou a gestão com 90% de aprovação, Miguel é chamado de Galego.
Vítima do União – O presidente nacional do PSD, Gilberto Kassab, indicou André de Paula para o Ministério das Comunicações e dava como líquida e certa a sua nomeação. Saiu do encontro com Gleice Hoffman, articuladora da composição do primeiro escalão, certo de que o seu partido abocanharia as Comunicações, mas André acabou em Pesca. “Fomos atropelados pela sede de poder do União Brasil”, confessou ao blog o próprio Kassab.
CURTAS
LIVRO DOS RECORDES – Se deixar mesmo para anunciar a segunda e última leva de secretários no dia 2, dia seguinte à posse, Raquel abrirá um novo paradigma no Estado. Nunca nenhum governador conseguiu tamanha façanha em termos de lentidão na montagem de uma equipe.
BELAS ESCOLHAS – Dos nomes que Raquel confirmou ontem, três foram bastante elogiados: Carla Patrícia, secretária de Defesa, Silvério Pessoa, de Cultura, e Simone Benevides, de Desenvolvimento Urbano e Habitação, ex-pasta de Cidades.
Perguntar não ofende: Se governa sem fazer política?
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