Raquel e João: o que explica a diferença nas pesquisas de intenção de voto?
Por Larissa Rodrigues – repórter do Blog
Prestes a encerrar o terceiro ano de gestão, a governadora Raquel Lyra (PSD) continua pontuando baixo nas pesquisas de intenção de voto para as eleições de 2026. Na mais recente, do Instituto Alfa Inteligência, em parceria com a CNN Brasil, divulgada na última quarta-feira (26), Raquel aparece com 24% das intenções, enquanto o prefeito do Recife, João Campos (PSB), figura com 50%.
Este blog ouviu quatro cientistas políticos para entender onde está o nó que atrapalha Raquel, faltando menos de um ano para a disputa. De forma geral, todos ressaltaram que pesquisa é sempre um retrato do momento. “A um ano da eleição, a intenção de voto é uma fotografia ainda temporária, não cristalizada”, observou a doutora em Ciência Política pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) Priscila Lapa.
Leia maisNa opinião da doutora, há dois fatores principais que explicam a diferença de pontos entre João Campos e Raquel, neste momento: a popularidade digital, terreno no qual, segundo Priscila, João já foi soberano, mas já é possível perceber um aumento no engajamento da governadora.
O segundo é a falta de clareza sobre as principais entregas do Governo do Estado até aqui. “É como se João tivesse vantagem competitiva nesses dois fatores, apesar de a governadora ainda ter tempo e elementos capazes de mantê-la no páreo”, observou Priscila Lapa.
Ela aponta o caminho para Raquel melhorar as intenções de voto: “é possível que, com um cronograma de entregas de ações já iniciadas ao longo de 2026; ajustes na estratégia de comunicação, especialmente digital, e ajustes na estratégia de relacionamento político, a disputa se reverta mais favorável à governadora”, completou Lapa.
O economista e analista político Maurício Romão destacou que a governadora está diante de um adversário “de alta potencialidade eleitoral” e explicou os motivos para tal. Segundo ele, João “tem uma gestão muito bem avaliada pelos recifenses, é um rapaz jovem, antenado com a digitalidade, com os novos tempos, histórico familiar expressivo e méritos de gestão”.
Esse quadro, porém, na opinião de Maurício Romão, não significa que o processo esteja definido. Longe disso. “Se você olhar a pergunta espontânea, há um grande contingente do eleitorado que ainda não se inseriu no processo. Mais da metade da população não está acompanhando o momento político”, comentou.
Romão lembrou, ainda, que os números mostram avaliação positiva da gestão de Raquel. “Aprovação e avaliação de governo são elementos fundamentais na decisão de voto”, destacou.
Percepção dos eleitores – Já o doutorando em História pela Universidade Federal da Bahia (UFBA), cientista político e jornalista, Alex Ribeiro, aponta dois fatores para a diferença entre Raquel e João nas pesquisas: o prefeito do Recife mantém significativo capital político e simbólico; o segundo é que a gestão estadual ainda não conseguiu transformar suas ações em percepção positiva entre os eleitores.

Entregas visíveis e diálogo – Para Alex Ribeiro, Raquel Lyra precisa aumentar a visibilidade de suas entregas, fortalecer a comunicação e reconstruir pontes com lideranças regionais, prefeitos e, principalmente, deputados. “Falta ao governo uma narrativa mais contundente sobre resultados concretos e uma conexão mais direta com segmentos que se sentem pouco alcançados. Se quiser competitividade em 2026, a governadora precisa combinar três movimentos: intensificar políticas de impacto imediato, reorganizar alianças políticas no interior e com parlamentares e ainda apresentar uma visão de futuro que dialogue com demandas reais da população”, avaliou.
Início de governo conturbado – O cientista político e professor Antônio Henrique Lucena lembrou o começo da gestão de Raquel e acredita que a baixa pontuação nas pesquisas ilustra uma avaliação do próprio governo e da governadora. “Ela começou de forma meio que atabalhoada, com aquele decreto que demitiu muita gente, de diversas designações de cargos políticos, de uma vez só. Teve que voltar atrás em algumas coisas depois, fazendo correções pontuais. Não que ela esteja errada no conteúdo, mas na forma. De lá para cá, houve uma expectativa de mudanças com relação à gestão anterior, de Paulo Câmara. Parece que esse movimento não foi realizado. Então, houve uma quebra de expectativa”, opinou.
Chances reais de deixar o Palácio – Para Antônio Henrique, mesmo que a governadora comece a fazer entregas de obras, deve ser difícil reverter esse quadro. “Já João Campos, na Prefeitura do Recife, fez um bom trabalho de marketing, principalmente com os recursos que ele pegou do Banco Mundial para poder fazer vários investimentos na cidade, depois que aconteceram aquelas graves chuvas. Ele soube capitalizar em cima disso. Então, Raquel tem um perfil mais técnico, tem certa dificuldade também em alguns processos, principalmente de autoimagem. Acredito que essa pesquisa é uma avaliação do próprio governo de Raquel Lyra. Caso as atuais condições persistam, ela corre o risco real de deixar o Palácio das Princesas”, destacou.

Cobrança – Em discurso ontem (27), em Petrolina, no Congresso de 50 anos da União dos Vereadores de Pernambuco, o presidente da Alepe, deputado Álvaro Porto (PSDB), saiu em defesa da independência da Casa, destacou o empenho dos parlamentares em aprovar os empréstimos do Executivo e voltou a cobrar entregas à atual gestão estadual. Ao falar da possibilidade da eleição do prefeito João Campos para o governo em 2026, foi bastante aplaudido. “A governadora tem dito que a Assembleia está atravancando obras e investimentos do governo, mas é importante observar que os instrumentos de crédito foram colocados à disposição do Poder Executivo”, disse.
CURTAS
MAIS DE R$ 11 BI – Segundo Porto, de 2023 para cá, a Alepe já aprovou mais de R$ 11 bilhões para operações de crédito. Todavia, o governo conseguiu colocar nos cofres do Estado, neste período, apenas R$ 2,8 bilhões. “Como se vê, a gestão não consegue buscar os recursos autorizados. A responsabilidade não pode ser atribuída ao Legislativo”, ressaltou.
ANO QUE VEM TEM MAIS – O presidente lembrou que o último empréstimo solicitado, de R$ 1,7 bi, ainda a ser votado na Assembleia, se trata de pedido de crédito referente ao exercício fiscal de 2026. Portanto, segundo ele, não há necessidade de pressa.
DIRETO DE BRASÍLIA – O podcast Direto de Brasília, comandado pelo titular deste Blog em parceria com a Folha de Pernambuco, abre o debate da ferrovia Transnordestina. O convidado da próxima terça-feira é o advogado Alex Azevedo, diretor da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), que acompanha o projeto de perto junto ao Ministério dos Transportes.
Perguntar não ofende: Raquel Lyra vai conseguir reverter o atual cenário das intenções de voto em Pernambuco?
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