Raquel Lyra e a má vontade com as cotas raciais, igual a Bolsonaro
Por Larissa Rodrigues – Repórter do blog
A governadora Raquel Lyra (PSD) não faz mais questão nenhuma de esconder seu alinhamento com o bolsonarismo. Embora adote a postura pública de estar em cima do muro — nem Lula (PT), nem Bolsonaro (PL) —, suas atitudes revelam o que ela evita dizer com palavras.
Há poucas semanas, posou para fotos segurando uma arma de fogo. Para quem entende de semiótica, não há dúvida alguma de que foi um aceno aos eleitores bolsonaristas.
Ontem (9), publicou o edital do Concurso Público Unificado de Pernambuco sem reserva de cotas raciais, assim como sempre defendeu o ex-presidente Jair Bolsonaro, terminantemente contrário a minorias.
Leia maisRaquel se afasta cada vez mais daquele voto que busca nas autoridades a capacidade de colocar em prática ações concretas que possam reduzir desigualdades sociais e violência por meio de medidas inclusivas, não com bravatas ideológicas (como posar com uma pistola, por exemplo, ou não incluir cotas raciais em concursos).
Mais de 65% da população de Pernambuco é composta por pretos e pardos, segundo dados do Censo 2022 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), sendo 55,3% de pardos e 10% de pretos.
A governadora se amparou na falta de uma norma estadual que estabeleça cotas raciais em concursos públicos para não colocar as cotas na disputa. É o argumento perfeito para a má vontade com a pauta.
Se quisesse, poderia destinar uma porcentagem para pessoas pretas e pardas, porque não estaria infringindo lei alguma. Faltou sensibilidade. Quer dizer que Raquel só praticará políticas afirmativas em sua vida pública se for obrigada por uma lei?
Além da má vontade, ficou evidente ainda a falta de informação de Raquel Lyra e de sua equipe sobre a importância das cotas raciais. Uma rápida pesquisa no Google ou no YouTube e a governadora encontraria uma infinidade de especialistas.
Todos ensinariam a Raquel sobre a necessidade de se combater o racismo estrutural, de promover reparação histórica, de amparar grupos étnicos sistematicamente excluídos e discriminados por séculos.
Concurso vira mais um desgaste – Em quase três anos de gestão de Raquel Lyra, ainda é difícil para quem acompanha a gestão dela diariamente entender o que se passa na cabeça da governadora e de sua equipe. É impressionante a capacidade desse governo de transformar pautas que poderiam ser positivas em desgastes. Em pleno 2025, depois de muita luta, mobilização e união do povo preto, sobretudo nas redes sociais, Raquel lança um concurso público sem cotas raciais. É óbvio que viraria mais uma crise.

Atitude de Raquel é exceção – A atitude de Raquel Lyra difere da de outras autoridades. O Governo Federal destinou cotas raciais nos dois concursos nacionais unificados que já realizou. Também o Tribunal de Contas do Estado (TCE) e o Tribunal de Justiça (TJPE) previram as cotas em seus últimos concursos. O TCE reservou 20% das vagas para cotas raciais, em maio de 2025, por meio de resolução. No documento, o órgão já definiu que as cotas raciais seriam obrigatórias nos concursos estaduais de Pernambuco, o que a governadora não seguiu.
Estatuto da Igualdade Racial – A própria Raquel Lyra assinou, em junho de 2023, a lei estadual que criou o “Estatuto da Igualdade Racial do Estado de Pernambuco”. A lei determina mecanismos de redução das desigualdades, absolutamente ignorados pela governadora no edital do concurso.
O que diz a lei – O Estatuto da Igualdade Racial foi originado por um projeto dos ex-deputados Isaltino Nascimento e Teresa Leitão, atual senadora de Pernambuco pelo PT. “O Estado promoverá a adequação dos serviços públicos ao princípio do reconhecimento e valorização da diversidade e da diferença racial, religiosa e cultural, em conformidade com o disposto neste Estatuto”, diz a lei estadual assinada por Raquel.

Dani Portela tomará providências – A deputada Dani Portela (Psol) postou um vídeo no Instagram, ontem, no qual afirma que vai tomar todas as medidas cabíveis contra a falta de cotas raciais no edital do concurso unificado de Pernambuco. A parlamentar apresentou um projeto sobre cotas na Assembleia Legislativa, mas ele está parado na Comissão de Justiça da Casa desde dezembro de 2023.
CURTAS
Rosa Amorim também falou – A deputada Rosa Amorim (PT), aliada de Raquel Lyra, também postou vídeo no Instagram. Disse que já entrou em contato com o governo cobrando alterações no edital e que está pronta para acionar a Justiça para garantir as cotas raciais no concurso de Pernambuco.
Como se não bastasse – O deputado federal Paulo Bilynskyj (PL-SP), presidente da Comissão de Segurança Pública da Câmara, apresentou um projeto de lei que autoriza o embarque armado em aeronaves civis a qualquer pessoa que detenha porte de arma de fogo com validade em âmbito nacional. Tá achando pouca a violência no Brasil.
Direto de Brasília – O economista, professor, ex-governador do Distrito Federal (DF) e ex-ministro da Educação, Cristovam Buarque, será o entrevistado do podcast em parceria com a Folha de Pernambuco, o Direto de Brasília, da próxima semana. O programa é comandado pelo titular deste blog. Aos 81 anos, Buarque se prepara para disputar mais uma eleição. Será candidato a deputado federal pelo Cidadania, partido do qual é presidente no DF.
Perguntar não ofende: Raquel Lyra vai voltar atrás e incluir cotas raciais no concurso de Pernambuco?
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