Lula duela com governadores
Se já não anda em sintonia com a população, fechando o ano com baixíssimos índices de aprovação, o presidente Lula (PT) comprou uma briga desnecessária com os governadores. Tudo por causa de um decreto do Ministério da Justiça sobre o uso da força por policiais em todo o País.
Publicado na última terça-feira, o texto, que prevê o uso da força e de armas de fogo apenas em último recurso, foi duramente criticado pelos governadores do Rio, Cláudio Castro (PL); de Goiás, Ronaldo Caiado (União Brasil); e do Distrito Federal, Ibaneis Rocha (MDB). Enquanto isso, o ministro Ricardo Lewandowski voltou a demonstrar descontentamento com ações violentas da polícia.
Isso depois de uma jovem ser baleada na cabeça por um policial rodoviário federal, na véspera de Natal, no Rio. O caso deve levar a pasta a acelerar a regulamentação e detalhamento do texto, antes previsto para 90 dias. As críticas dos governadores giram em torno dos repasses financeiros aos Estados.
Leia maisApesar das medidas do decreto não serem obrigatórias, elas servirão como condição para o repasse de verbas do Fundo Nacional de Segurança Pública (FNSP), principalmente na aquisição de equipamentos. Desta forma, o governo pretende fazer com que as regras sejam implementadas pelos 27 entes federados.
Castro prometeu ir ao STF para sustar os efeitos da medida. “Nós do Rio vamos entrar imediatamente com uma ação no STF para cassar esse absurdo. Por fim, espero que a população cobre dos responsáveis por esse decreto quando bandidos invadirem uma residência, roubarem um carro ou assaltarem um comércio”, disse o governador.
O decreto prevê que agentes policiais só devem usar armas de fogo em último recurso, em caso de risco pessoal. O uso da força física também deve ser evitado. Para implementar essas medidas, os profissionais passarão por capacitação.
ENGESSAMENTO DA POLÍCIA – Um dos primeiros a reagir publicamente ao texto foi o governador de Goiás, Ronaldo Caiado (União). Ele classificou o decreto como “engessamento das forças policiais” e como uma “chantagem explícita contra os Estados”, ao impor aos governadores sanções de “acesso aos fundos de segurança e penitenciário”, caso não sigam as “diretrizes do governo do PT”. “O texto evidencia que a cartilha do governo Lula para a segurança pública foca apenas crimes de menor potencial ofensivo, como furtos. Mas não estamos na Suécia”, disse Caiado.

Nem um pio de Raquel – Pelo menos até o fechamento desta coluna, ontem, a governadora Raquel Lyra (PSDB) não havia se manifestado sobre o decreto que engessa o policiamento nos Estados, conforme definiu Caiado, e é inconstitucional, segundo o governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha (MDB). O governador do Rio de Janeiro, Cláudio Castro, disse que o decreto é um “presentão de Natal para a bandidagem do país inteiro”.
Intervenções atabalhoadas – Por falar em Raquel, impressiona suas intervenções amadoristas na política. Seu novo alvo, para tentar se confrontar com o PSB, é reduzir o número de consórcios de prefeitos geridos por socialistas ou gestores simpáticos à pré-candidatura de João Campos a governador. Depois do Pajeú, intervenção que não deu em nada, agora fere de morte um aliado do deputado federal Luciano Bivar (UB), o prefeito de São Caetano, Josafá Almeida (UB). Estimula a candidatura à presidência do Coniape, formado por 34 associados, o prefeito eleito de Surubim, Cléber Chaparral.
Reforma aprovada – A Câmara do Recife aprovou, ontem, em primeiro turno, o projeto de reforma administrativa enviado à Casa pelo prefeito reeleito João Campos (PSB). O segundo turno está marcado para hoje, sem nenhum risco. Confiante no aval da Câmara, o socialista já anunciou sua equipe pelas redes sociais, inclusive obedecendo o novo organograma em discussão pelo parlamento municipal. Entre as mudanças, a Secretaria de Governo, que faz a interlocução com os vereadores, foi extinta e em seu lugar surgiram duas novas pastas.

Com quem Bivar fica? – Ao investir no controle do Coniape, consórcio de 34 prefeitos do Agreste e Zona da Mata, a governadora Raquel Lyra (PSDB) comprou uma briga com o poderoso deputado federal Luciano Bivar, ex-presidente do União Brasil e atual primeiro-secretário da Mesa Diretora da Câmara dos Deputados. Presidente da instituição, Josafá Almeida (UB), prefeito de São Caetano, é a principal liderança do Agreste ligada ao grupo de Bivar. É um cão de guarda, de tão fiel a Bivar. Pelo menos até o momento, Bivar ainda não se manifestou em relação a 2026, mas diante disso pode ficar mais próximo de João.
CURTAS
SÍNDICO – “Do jeito que vai, daqui a pouco a governadora vai intervir até em eleição de síndico”, reagiu, ontem, em tom de brincadeira, um deputado estadual ao acompanhar o noticiário das tentativas da gestora de tirar o controle dos consórcios de prefeitos de aliados de João Campos (PSB).
ACELERA 1 – O ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski, quer acelerar a regulamentação do decreto do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) que restringe o uso de armas por policiais durante abordagens. As portarias com as diretrizes devem ser enviadas já em janeiro.
ACELERA 2 – O prazo de regulamentação da medida é de 90 dias. Ou seja, o governo tem três meses para detalhar como devem ser os procedimentos seguidos pelos agentes. Segundo apurou o site Poder360, o ministro da Justiça já estava trabalhando nos detalhes antes mesmo do decreto ser assinado pelo presidente Lula.
Perguntar não ofende: Depois dos consórcios, qual será a próxima instância de briga que Raquel vai comprar com João?
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