Uma eleição dentro da outra
Em Pernambuco, as eleições municipais de outubro ganham um componente diferente: a de desenhar antecipadamente o cenário da disputa seguinte, em 2026, para o Governo do Estado. Tudo porque os olhos dos pernambucanos estarão voltados para o Recife. Dependendo do tamanho que o prefeito João Campos (PSB) sair da sua reeleição, a governadora Raquel Lyra (PSDB) já conhecerá de antemão o seu adversário.
Nas tertúlias políticas de cientistas e marqueteiros, em bares e em qualquer roda que se coloque a pauta da eleição, o que se ouve é que Raquel tem pela frente o desafio de recuperar a sua imagem, melhorando a gestão, apresentando resultados concretos ao povo, para João não representar uma ameaça real ao projeto dela de emplacar a reeleição.
Leia maisNão há um só analista que não diga o seguinte: João está muito bem, Raquel vai muito mal. Se isso não mudar, João come o cartão de Raquel em 2026. Para que isso não venha de fato se transformar numa realidade crua e irreversível, a governadora terá também de mostrar força eleitoral, além de apresentar realizações em obras de pedra e cal.
Tem que, por exemplo, se converter numa eleitora influente no Recife, para provocar uma eleição em dois turnos, o que, ocorrendo, deixaria o prefeito sem o mesmo tamanho de uma reeleição em primeiro turno. Teria que emplacar aliados importantes nos principais colégios eleitorais do Estado, da Região Metropolitana ao Sertão.
Mas, no Recife, Raquel não lança mão de um candidato competitivo. Daniel Coelho, o candidato dela, aparece com traços nas pesquisas, enquanto quem surpreende é o representante do bolsonarismo. Ex-ministro do Turismo, Gilson Machado, que disputará a Prefeitura da capital pelo PL, aparece em segundo lugar, com 21,4% das intenções de voto, enquanto Daniel tem apenas 3%, segundo o levantamento do Atlas-CNN, divulgado na semana passada.
BOLSONARISMO RESISTENTE – O fator Gilson Machado acende uma luz amarela no Palácio das Princesas e traz, ao mesmo tempo, uma preocupação ao prefeito João Campos. Mostra que o bolsonarismo está mais vivo no maior colégio eleitoral do Estado do que ele imaginava, podendo ser o fator preponderante para provocar um segundo turno, desde que o candidato de Raquel reaja. Isso sem levar em consideração a incógnita PT, que pode lançar candidato próprio, caso não arrebate a vaga de vice na chapa de João.
Em Caruaru, não pode fracassar – Ainda em relação aos desafios eleitorais de Raquel, a tucana não pode perder em Caruaru. Bem avaliado e com dez pontos à frente de José Queiroz (PDT), o prefeito Rodrigo Pinheiro (PSDB) é a grande aposta da governadora. Por Caruaru ser a sua terra, município que governou e que a projetou como gestora, seria muito ruim seu grupo não sair vitorioso de lá. Queiroz não é um adversário qualquer. Tem histórico de bom gestor, o apoio de Lula e a influência de João Campos, que se irradia além do território recifense.
Petrolina adversa – Além do desafio de Caruaru, o cenário para a governadora é amplamente desfavorável em Petrolina, maior colégio eleitoral do Sertão, cujo prefeito Simão Durando, do grupo Coelho, lidera com folga as pesquisas para reeleição. Ali, além de Durando vir fazendo uma boa gestão, quem canta de galo é o ex-prefeito Miguel Coelho, que disputou o Governo do Estado nas eleições passadas e não chegou ao segundo turno em razão de uma fatalidade: a comoção pela morte do marido de Raquel no dia da eleição.
PSB tende a reinar em Garanhuns – Já em Garanhuns, maior colégio eleitoral do Agreste Meridional, as pesquisas também indicam a preferência do eleitorado pela reeleição do prefeito Sivaldo Albino (PSB), com quem ela se atritou por causa de divergências na promoção do Festival de Inverno no ano passado, fez um aceno de entendimento para o evento deste ano, mas não cumpriu a palavra. Garanhuns é, também, a terra do líder do Governo na Alepe, Izaías Régis, ex-prefeito, que quer enfrentar Sivaldo, mas até o momento sem perceber gestos de euforia por parte da governadora.
Mato sem cachorro – Em Jaboatão, segundo maior colégio eleitoral do Estado, a governadora está no mato sem cachorro, literalmente. Seu partido, o PSDB, não lançou candidato e os nomes que se apresentam para uma aliança estão no campo da oposição, como Daniel Alves, do Avante, e Elias Gomes, do PT. Só restam o prefeito Mano Medeiros (PL) e a pré-candidata do PP, Clarissa Tércio. Dificilmente, optará pelo palanque de Mano por ser o candidato de Bolsonaro. E se apostar em Clarissa, também irá se misturar ao bolsonarismo. Embora o PP, de Dudu da Fonte, esteja na base do Governo Lula, Clarissa é uma bolsonarista doente, irrecuperável.
CURTAS
SERRA TALHADA – Em Serra Talhada, segundo maior colégio eleitoral do Sertão, Raquel sinaliza para subir no palanque da prefeita Márcia Conrado, embora filiada ao PT. O ex-prefeito Luciano Duque, principal adversário de Conrado, está no Solidariedade, que faz parte da base do Governo, mas não tem a mesma “solidariedade” da governadora.
CABO – Para o Solidariedade, igual cenário se observa no Cabo. Ali, quem lidera as pesquisas é o deputado e ex-prefeito Lula Cabral, filiado ao partido, mas, até o momento, sem nenhum aceno da parte da governadora para um apoio efetivo e declarado.
PAULISTA – Fato novo em Paulista: o ex-prefeito Júnior Matuto, pré-candidato a prefeito pelo PSB, convenceu a Irmã Iolanda, também socialista, vereadora mais votada nas eleições de 2020, a fechar a chapa dele como candidato a vice. Em pesquisas para prefeito, Iolanda desponta numa posição destacada.
Perguntar não ofende: Se o PT não emplacar a vice de João, quem vai lançar para disputar a Prefeitura do Recife?
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