A nova bancada e seu DNA familiar
Em razão do brutal equívoco constitucional, deputados no Brasil eleitos em outubro não tomam posse em 1 de janeiro, como o presidente da República e os governadores. A posse só acontece na próxima quarta-feira, dia 1, 90 dias após o veredicto das urnas. Coisas do Brasil! Na Câmara Federal, a representação de Pernambuco pisa no salão verde com uma renovação próxima a 50%.
Houve uma renovação em torno de 47%. Em alguns casos, entretanto, apenas do nome familiar. No lugar de João Campos (PSB), o mais votado em 2018, sendo eleito prefeito do Recife em 2020, ocupa a cadeira, a partir de agora, o irmão Pedro Campos (PSB), sem conseguir a façanha de mais votado da bancada. Teve 172. 526 votos, mas ficou em terceiro lugar, atrás de Clarissa Tércio (PP), com 240.511 votos.
Leia maisO campeão foi André Ferreira (PP), irmão do ex-prefeito de Jaboatão, Anderson Ferreira, que largou a Prefeitura para disputar o Governo do Estado, não chegando ao segundo turno. André recebeu a confiança de 273.267 votos dos pernambucanos, uma marca espetacular, tanto que seu nome já está na bolsa de apostas como possível candidato a prefeito do Recife nas eleições do próximo ano.
Ainda em relação ao tronco familiar, Marília Arraes (SD), que perdeu a eleição ao Governo do Estado em segundo turno para Raquel Lyra (PSDB), terá em sua cadeira a irmã Maria Arraes (SD), a 11ª mais votada, com 104.571 votos. Já Sebastião Oliveira (Avante), que entrou na chapa de Marília Arraes como vice, elegeu o irmão Valdemar de Oliveira, o Dema. Uma bela votação, diga-se de passagem. Foi o sexto mais votado, com 141.386 votos.
Por fim, neste cenário de parentesco, quem conseguiu a maior façanha na bancada foi o deputado Dudu da Fonte, cacique-mor do PP em Pernambuco e uma das suas principais lideranças em nível nacional. Além de reeleito com 124.850 votos (o nono mais votado entre os 25), Dudu puxou o filho Lula da Fonte, também do PP, que teve 94.122 votos. Com apenas 21 anos, Lulinha, como é conhecido, chega ao Congresso como o parlamentar mais jovem do País.
Dudu da Fonte, ao ser reeleito e eleger o filho, repete a façanha do ex-deputado José Mendonça Bezerra. Nas eleições de 1994, Mendonção, como era mais conhecido, emplacou a sua reeleição e elegeu por tabela o filho Mendonça Filho, que em seu mandato se destacou como liderança nacional a partir do projeto de sua autoria, que permitiu o direito à reeleição em todos os níveis, de presidente a prefeito.
PSB murchou – Partido abandonado pelo ex-governador Paulo Câmara, o PS, sofreu a maior derrocada entre todas as legendas no Congresso. A bancada nacional caiu de 33 para 14 deputados. Cinco dos 14 são de Pernambuco e quatro de São Paulo, Estados até então com mais tradição socialista. Quanto à bancada de Pernambuco, manteve os cinco representantes. Perderam o mandato Tadeu Alencar, Milton Coelho e Gonzaga Patriota, este o decano da Casa. Se reeleito, Patriota iria para o 11º mandato consecutivo, ou seja, 44 anos de parlamento.
Vítima do próprio veneno – Já o MDB, partido que chegou a ter por muito tempo as maiores bancadas na Câmara e no Senado, em Pernambuco só elegeu um federal, com um detalhe curioso que chama atenção: Raul Henry, sem mandato a partir de quarta-feira, montou a chapa achando que Iza Arruda, filha do prefeito de Vitória de Santo Antão, iria servir de cauda eleitoral para garantir sua reeleição. Estava completamente enganado. Iza comeu, literalmente, o seu cartão, sendo a única eleita pela legenda.
O troco de Clodoaldo – Ainda em relação ao PSB, o partido em frangalhos negou legenda para o deputado estadual Clodoaldo Magalhães disputar uma vaga na Câmara dos Deputados. O veto veio de praticamente toda a bancada federal, num movimento liderado por Danilo Cabral, derrotado na corrida pelo Palácio do Campo das Princesas. Resultado? Clodoaldo se transferiu para o Partido Verde e foi o 10º deputado mais votado entre os 25 federais. Ainda incluiu em seu currículo o fato de ser o primeiro deputado federal eleito em Pernambuco pelo PV.
Novo duelo em 24? – Decano na Câmara dos Deputados, Gonzaga Patriota perdeu a sua vaga na bancada do PSB para um conterrâneo, Lucas Ramos. Filho do conselheiro do Tribunal de Contas do Estado, Lucas teve 85.571 votos, o 18º mais votado da bancada, enquanto Patriota teve 67.328 votos. Ambos têm como principal colégio eleitoral o município de Petrolina, onde em 2024 poderão se confrontar novamente. Patriota já declarou que é candidato a prefeito e Lucas não esconde de ninguém que sonha acordado em governar Petrolina.
A volta de Mendonça – O deputado Wolney Queiroz (PDT) também não conseguiu a reeleição para a Câmara dos Deputados, com um detalhe: seu pai, José Queiroz, ex-prefeito de Caruaru, igualmente não emplacou a reeleição para a Assembleia Legislativa. 8Entre os que já tiveram mandato e estão de volta ao Congresso, com muita disposição de fazer oposição ao Governo Lula, está Mendonça Filho (UB), que no Governo Temer foi ministro da Educação.
CURTAS
NO SUFOCO – O rabo da gata em votação na Câmara federal foi Renildo Calheiros (PCdoB). Obteve 59.686 votos, bem menos do que Wolney, que teve 63 mil votos. Também perderam o mandato, em razão dos seus partidos não atingirem o quociente eleitoral, ao contrário do PCdoB de Renildo, Daniel Coelho (CD) e Ricardo Teobaldo (Podemos).
PL ELEGE QUATRO– Partido de Bolsonaro, o PL, além do campeão de votos André Ferreira, elegeu mais três deputados federais: Coronel Meira, Fernando Rodolfo e Pastor Eurico. Uma das surpresas da eleição, Coronel Meira, que assumiu as bandeiras bolsonaristas, teve quase 80 mil votos, exatos 78.941 votos.
Perguntar não ofende: Com oito deputados na Alepe, o PP, além de perder a Alepe, vai ficar sem cargos no Governo?
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