Olho grande implode fusão
Estava escrito nas estrelas que a fusão do PSDB ao Podemos não daria certo e a confirmação se deu no fim de semana com o anúncio formal da direção nacional tucana. Inicialmente, as divergências nos Estados já pareciam como principais barreiras. A nota oficial do PSDB informa que a desistência se deu porque os presidentes dos dois partidos não abriram mão de comandar a nova legenda.
É o chamado olho grande. Marconi Perillo, presidente tucano, e Renata Abreu, a cacique-mor do Podemos, travaram uma briga que ninguém conseguiu apartar pela presidência da nova legenda, fruto da fusão dos dois partidos. O engraçado é que o PSDB havia confirmado a fusão uma semana antes numa concorrida convenção em Brasília.
Leia maisPela proposta dos tucanos, o comando do partido seria exercido em sistema de rodízio, com mudanças a cada seis meses em um primeiro momento e depois como alternância a cada ano. A sugestão não foi aceita pelo Podemos e as duas siglas resolveram encerrar as tratativas.
As duas siglas têm hoje tamanho parecido no Congresso. Na Câmara são 13 deputados do PSDB e 15 do Podemos, enquanto no Senado são três senadores tucanos e quatro do Podemos. A tentativa de fusão aconteceu em meio a um processo de desidratação do PSDB, que já comandou a Presidência da República por dois mandatos com Fernando Henrique Cardoso e polarizou a política nacional com o PT por cerca de 20 anos, mas que hoje tem uma bancada diminuta no Congresso, de governadores e de líderes nacionais.
Nas perdas mais recentes, os governadores do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, e de Pernambuco, Raquel Lyra, saíram do PSDB e se filiaram ao PSD. Agora, a estratégia do PSDB passa por apostar em uma federação, que diferente da fusão pode ser desfeita após quatro anos e mantém a estrutura e autonomia dos comandos internos de cada partido, ainda que seja preciso que as legendas tenham as mesmas posições nas eleições e no Congresso.
EM BUSCA DE PARCEIROS – Uma federação permite somar os resultados nas eleições para deputados federais de todos os partidos que compõem ela, o que facilita o grupo cumprir os requisitos da cláusula de desempenho, que limita quem pode ter fundo partidário e tempo de propaganda. O PSDB hoje está em uma federação com o Cidadania, mas por discordâncias nos estados ela será desfeita quando perder a validade no começo de 2026. Agora, os tucanos miram uma nova federação com partidos como Republicanos, MDB, Solidariedade e até o Podemos, já que, diferente de uma fusão, haveria menos necessidade de disputa para o comando da nova estrutura.

Briga feia em Pernambuco – As desavenças para o controle do novo partido, resultado da fusão do PSDB ao Podemos, se acentuaram também fortemente em Pernambuco. A queda de braço ocorreu entre o presidente da Assembleia Legislativa, Álvaro Porto (PSDB), e o presidente do Podemos, Marcelo Gouveia. Após o anúncio da iniciativa pelas direções nacionais de ambas as legendas, eles partiram para o tudo ou nada em busca do controle. Aliado de João Campos, Porto queria o novo partido apoiando a candidatura do socialista a governador, enquanto Marcelo insistia em levar para a aliança de reeleição da governadora Raquel Lyra (PSD).
Escândalo arrebentou Lula – Uma pesquisa inédita do Ipsos-Ipec mediu o tamanho do escândalo no INSS para o presidente Lula — e Bolsonaro também. Foram feitas perguntas sobre o episódio para dois eleitores de 132 municípios entre os dias 5 e 9 de junho. A primeira: “Você diria que a atuação do governo Lula em relação às denúncias recentes de fraudes no INSS está sendo: ótima, boa, regular, ruim ou péssima? Apenas 22% consideraram a resposta do governo ótima ou boa, enquanto 54% a acharam péssima ou ruim (18% disseram que está sendo regular). A segunda pergunta reforça a sensação de que o discurso do Palácio do Planalto de que o atual governo investigou e deu um fim às fraudes está longe de ter virado uma verdade para os brasileiros.
De quem é a responsabilidade – Apenas 35% dos entrevistados concordam com essa afirmação: “O esquema de fraudes descobertas no INSS começou no governo Bolsonaro e só foi descoberto porque o governo Lula investigou o caso”. Enquanto 43% acham correta a seguinte afirmação: “O Governo Lula é responsável pela escalada do problema, porque os valores das fraudes dispararam na sua gestão” (6% estão de acordo com as duas afirmações). O escândalo no INSS estourou há 52 dias. Até agora ninguém sabe quanto e nem quando será devolvido o dinheiro surrupiado dos aposentados.

Gilson no podcast Direto de Brasília – Preso e solto horas depois pela Polícia Federal, sexta-feira passada, por suspeita de tentar obter um passaporte português para o tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro (PL), o ex-ministro Gilson Machado Neto estará amanhã no meu podcast Direto de Brasília, em parceria com a Folha de Pernambuco. Impedido de sair do Recife, sua participação se dará por videoconferência. Para o advogado Cláudio Soares, a prisão cautelar de Gilson exige uma reflexão profunda sobre a credibilidade do judiciário. “Gilson foi vítima de uma grande violência. Não podemos permitir que a prisão cautelar no Brasil se torne um instrumento de banalização da justiça”, escreveu Soares, em artigo neste blog.
CURTAS
MAL-ENTENDIDO – Após deixar a prisão na noite da última sexta-feira, o ex-ministro Gilson Machado disse que está à disposição da Justiça para esclarecer o que ele chamou de “mal-entendido”. Em depoimento à PF, ele disse que tentou tirar o passaporte para o próprio pai.
CIDADÃO CORRETO – “Estou à disposição da Justiça para esclarecer esse mal-entendido. Importante dizer que o mesmo juiz que mandou prender, mandou soltar. Agradeço a Deus por ter iluminado a Justiça brasileira”, disse Gilson por telefone à CNN, quando estava a caminho de casa. “Fui muito bem tratado e respeitado pela PF. Sou um cidadão correto, nunca fui preso antes”, completou.
POSIÇÃO DE MORAES – Na decisão, o ministro do STF diz que a preventiva foi uma medida cautelar “extrema”, cuja eficácia já se demonstrou suficiente para este primeiro momento da investigação. Moraes ponderou, entretanto, que “existem indícios suficientes” de que Machado teria auxiliado o tenente-coronel Mauro Cid “com a finalidade de se furtar da aplicação da lei penal”.
Perguntar não ofende: Qual será o caminho mais fácil para o PSDB encontrar sua tábua de salvação para a fusão: Republicanos ou MDB?
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