Raquel erra na estratégia
A política é um jogo, vence aquele que tiver o melhor time, a melhor estratégia para eliminar o adversário. Desde que viu João Campos (PSB) impor uma frente de quase 50 pontos na primeira pesquisa do Opinião, tão logo se encerrou o processo eleitoral das eleições municipais em 2024, a governadora Raquel Lyra (PSD) anda tonta.
Impactada, passou a governar do Interior para a capital, na tentativa de reduzir a enorme diferença diante do seu provável adversário em 2026, que é fortíssimo no Recife e Região Metropolitana, que detêm quase metade do eleitorado do Estado. Supostamente para ficar mais próxima da base do Governo Lula, a ex-tucana deixou o PSDB e ingressou no PSD.
O Republicanos ocupa o Ministério dos Portos e Aeroportos. Silvio Costa Filho, titular da pasta, é adversário de Raquel e aliado de João. Se João vier a disputar o Governo, Sílvio pode ser um dos candidatos ao Senado na chapa dele.
Leia maisSe Raquel migrou para o PSD para estar mais próxima de Lula, como se diz, projetando abrir um segundo palanque para o petista em Pernambuco, a estratégia está errada para vencer o jogo. A governadora não ganha nada ao lado de Lula, porque perde os votos dos bolsonaristas, responsáveis pela vitória dela, e só lhe resta dividir o eleitor de esquerda com João.
Ontem, numa entrevista ao jornal O Globo, Marcos Nobre, autor do livro “Limites da democracia: de junho de 2013 ao Governo Bolsonaro”, vencedor do Prêmio Jabuti em 2023, disse que Tarcísio, o novo “líder” de Raquel, representa a tríade Republicanos, PP e União Brasil, que se adaptou aos interesses de Bolsonaro.
“O jogo de Kassab passa pelo Tarcísio, seja para virar seu vice em São Paulo ou para sucedê-lo”, traduziu Nobre, para quem o presidente nacional do PSD tende a ficar ao lado de Tarcísio, seja ele candidato ou não ao Planalto, e não com Lula, se este vier a tentar a reeleição.
Raquel errou ao se precipitar pela troca do PSDB pelo PSD. Esqueceu a máxima de Marco Maciel: “Quem tem prazo, não tem pressa”.
CENTRÃO SEM MEDO – Na mesma entrevista, Marcos Nobre, que é também pesquisador da Unicamp, filósofo e cientista social, cunhou uma nova definição para o Centrão, movimento ultraconservador do Congresso: “O Centrão sem medo”. Revela que se diferencia do velho Centrão, com o qual Lula convivia nos dois outros mandatos. “O Centrão sem medo é como se fosse uma holding de apoio parlamentar. Atuando como uma espécie de conglomerado, deixa de ser um vagão para ser uma locomotiva, embalado pelas emendas parlamentares impositivas”.

O fim do PSDB – No momento em que o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, prepara sua saída do PSDB para ingressar no PSD, os tucanos finalizaram as tratativas com o Podemos e o Solidariedade e devem anunciar ainda em abril a união dos três partidos. Segundo fontes do PSDB ouvidas pela CNN, o anúncio da fusão com o Podemos e a subsequente formação de uma federação com o Solidariedade devem ser anunciadas nos próximos dez dias.
Composição com o MDB – A executiva tucana ainda não foi informada oficialmente sobre a saída do governador gaúcho, que deve disputar o Senado em 2026 pelo PSD, mas a mudança já está precificada e acelerou as negociações intrapartidárias. Os movimentos de associações partidárias foram intensificados pelo avanço da formação de uma federação entre União Brasil e PP, que deve criar a maior força do Congresso Nacional. O MDB também avançou nas conversas com o Republicanos, com o objetivo de criar um bloco partidário para equilibrar a correlação de forças no Centrão. Depois da fusão com o Podemos e da federação com o Solidariedade, o novo bloco espera uma composição com o MDB.
Novo Cesare Battisti – O senador e ex-juiz Sérgio Moro afirmou, ontem, que Nadine Heredia, ex-primeira-dama do Peru, é o “novo Cesare Battisti, o assassino asilado pelo PT”. Em postagem publicada em seu perfil no X (antigo Twitter), Moro qualificou Heredia como “a primeira-dama corrupta da Odebrecht”. “Lula tem uma queda por bandidos e prejudica a imagem do Brasil”, acrescentou. Heredia chegou a Brasília na quarta-feira passada em um avião da FAB, acompanhada de seu filho menor de idade, depois de o Brasil ter concedido asilo diplomático a ambos. Ela e o marido, o ex-presidente Ollanta Humala (2011-2016), foram condenados pela Justiça peruana a 15 anos de prisão por lavagem de dinheiro durante a campanha eleitoral de 2011.

Mais uma confusão à vista – A fusão do PSDB ao Podemos terá fortes desdobramentos nos estados, principalmente em Pernambuco, onde a legenda tucana foi objeto de disputa entre a governadora Raquel Lyra (PSD) e o seu desafeto Álvaro Porto, presidente da Alepe, tendo este saído vitorioso. Como no Estado o Podemos é controlado pelo ex-prefeito de Paudalho e presidente da Amupe, Marcelo Gouveia, aliado de Raquel, não se sabe quem vai ficar dando as cartas depois da incorporação, que deve ser oficializada ainda este mês, se ele ou Porto.
CURTAS
TRANQUILO – “Estou muito tranquilo e muito animado. Vejo com bons olhos a possibilidade de fusão com o Podemos. As perspectivas são muito positivas”, reagiu o presidente da Alepe e da executiva estadual do PSDB, Álvaro Porto, numa conversa com a colunista Betânia Santana, da Folha.
COM PORTO – Segundo Álvaro Porto, na divisão sobre quem administrará os diretórios estaduais, PSDB e Podemos já definiram que cada um terá a mesma quantidade de unidades federativas. Pernambuco deverá ficar sob a responsabilidade dos tucanos. “Os partidos nacionalmente já definiram tudo”, sustentou o presidente do PSDB em Pernambuco.
VAI ESPERAR – Marcelo Gouveia esteve recentemente com a presidente nacional do Podemos, Renata Abreu, na companhia do ex-presidente do partido, Ricardo Teobaldo. Ele prefere não se posicionar sobre uma possível fusão. “Se ela for mesmo anunciada no dia 29, no dia 30 eu falo”, garantiu. Adiantou que, independentemente do rumo que a legenda tomar, estará ao lado da governadora.
Perguntar não ofende: Se o PSD não der certo para Raquel em razão das implicações no plano nacional, a governadora adere a qual partido?
Leia menos