A desonestidade de Jarbas Filho e Raul Henry
Um conto do escritor dinamarquês Hans Christian Andersen (1805 – 1875) relata a história de um rei muito severo e vaidoso, que não admitia ser contrariado. Certo dia, apareceu um homem se dizendo alfaiate, na verdade um charlatão, e se ofereceu para fazer a roupa mais bonita que qualquer monarca, em todo o mundo, jamais havia tido.
Mas ele avisou que somente as pessoas inteligentes poderiam vê-la. O rei, tocado pela vaidade, logo se interessou e o contratou. Providenciou todos os materiais que lhe foram solicitados. Fios de ouro, tecidos finos, adereços de diamantes e tudo que havia de melhor e mais valioso. Acomodou o “alfaiate” em um ateliê e deixou que desenvolvesse seu trabalho.
Passadas algumas semanas, como não teve notícia, o rei foi ao local onde estava sendo confeccionada a roupa. Viu uma mesa vazia, e o homem fazendo inúmeros movimentos como se estivesse medindo, costurando, esticando a peça. O rei, para não transparecer diante de seus súditos que não estava vendo nada, começou a elogiar.
Leia maisPor sua vez, os súditos presentes, que nada viam, para não passarem por ignorantes, também elogiaram. Após mais uma semana, o alfaiate deu o trabalho por terminado e convocou o rei para ir vestir a roupa. Este, para não deixar passar em branco, convocou todo o povo para um desfile onde ele mostraria sua nova roupa.
Assim foi feito. Com o rei nu, e todos fingindo que viam as vestes reais, o desfile seguiu, mas não se manifestavam para não passarem atestado de ignorantes. Somente uma criança, na sua pureza e inocência, vendo toda aquela encenação, gritou: “o rei está nu!!”.
Neste entrevero lamentável entre Raul Henry, herdeiro político não biológico do ex-senador e governador Jarbas Vasconcelos, e Jarbas Filho, o herdeiro de sangue do personagem exposto, ambos deixaram Pernambuco nu e envergonhado. Caíram no jogo sujo da governadora Raquel Lyra (PSD), que há muito persegue o controle do MDB, e não tiveram o menor respeito pela história de Jarbas Vasconcelos.
Na ânsia de agradar a governadora, a quem deseja se aliar, Jarbinhas, como é mais conhecido o deputado estadual e filho do ex-senador, usou a imagem de um pai debilitado mentalmente, que enfrenta uma doença degenerativa, enquanto Henry revelou de público o estado de saúde do seu guru, cuidadosamente zelado e preservado pela família.
Com o tempo, aprendi que na política existem apenas duas coisas imutáveis: a ingenuidade dos eleitores e a desonestidade dos políticos.
ASSUMIU DE VEZ – No encontro estadual do PSB, no último fim de semana, o presidente da Assembleia Legislativa, Álvaro Porto, agora na condição também de presidente estadual do PSDB, partido que arrebatou das mãos da governadora, assumiu de público seu palanque em 2026: o de João Campos, provável nome que tende a unir o bloco de oposição para frustrar o projeto de reeleição de Raquel pelo agora PSD.

Pernambuco do atraso – Em sua fala no seminário socialista, ao lado de João Campos, Álvaro Porto botou os pingos nos is: “Tenho certeza de que a união que vai tirar Pernambuco do atraso vai começar hoje aqui. Não sou dono do PSDB. Vamos sentar-nos à mesa, dialogar e tomar decisões em conjunto. Temos um longo caminho pela frente, mas o sentimento que observamos em cada canto de Pernambuco é favorável a uma nova mudança”, afirmou, referindo-se ao projeto majoritário do PSB, segundo ele, com forças suficientes para impor uma derrota às forças que estão no poder.
Pauleira em Raquel – O comandante do Legislativo estadual fez críticas à gestão Raquel, citando problemas na saúde, segurança e educação. Ele mencionou especificamente a situação de estudantes do programa Ganhe o Mundo que ainda vivem em hotéis no Chile por falta de regularização. “O pior exemplo disso são estudantes que estão no Chile e ainda estão morando em hotéis porque não estão regularizados no programa Ganhe o Mundo, criado pelo ex-governador Eduardo Campos”, pontuou.
Elogios a João – Álvaro Porto também elogiou figuras da política pernambucana durante o congresso, como o deputado estadual Sileno Guedes, reconduzido à presidência do PSB, e o prefeito do Recife, João Campos. “Tem gente que veio para ficar na política. Este é o caso de João Campos”, afirmou. Ao final de sua fala, destacou a homenagem ao ex-deputado José Patriota, falecido em 2024, ressaltando o legado do político para o fortalecimento do municipalismo em Pernambuco. Disse que mesmo convivendo pouco tempo com Patriota, que também foi prefeito de Afogados da Ingazeira, aprendeu muito com ele.

Bastidores do podcast – Tão logo chegou aos estúdios para o podcast de estreia “Direto de Brasília”, quinta-feira passada, parceria deste blog com a Folha de Pernambuco, o vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB), entre um café e outro, contou histórias do saudoso amigo Sérgio Guerra, que morreu em 2014 e que na então condição de presidente nacional do PSDB coordenou a primeira campanha dele à Presidência da República, em 2006. Relembrou o episódio em que José Serra passou a noite em branco na fazenda de Guerra, em Limoeiro, por causa do barulho ensurdecedor de araras. Ainda de políticos pernambucanos, lembrou o episódio no qual Roberto Magalhães havia dado a palavra para ser o vice na chapa presidencial de Mário Covas em 1989, tendo desistido por causa de uma declaração da então deputada Cristina Tavares.
CURTAS
HOMENAGEM A MACIEL – O vice-presidente Geraldo Alckmin, aliás, vai prestar uma homenagem a um outro ilustre e saudoso pernambucano: Marco Maciel. Na próxima quinta-feira, às 9h30m, ao lado da viúva Anna Maria Maciel e dos seus filhos, vai descerrar a placa e foto de Maciel na galeria dos ex-vice-presidentes da República, no prédio anexo do Palácio do Planalto.
ATO PELA ANISTIA – Em mais um ato pela anistia, o ex-presidente Jair Bolsonaro reuniu, ontem, em São Paulo, mais de 100 políticos e sete governadores, entre os quais Tarcísio de Freitas (SP), Cláudio Castro (RJ) e Romeu Zema (MG). Além de governadores, o deputado Nícolas Ferreira (PL-MG), a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro e o pastor Silas Malafaia.
GASTANÇA – A comitiva do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, que foi para Paris participar do Diálogo Econômico e Financeiro de Alto Nível Brasil-França no fim de março, gastou 92% a mais em diárias que a comitiva da primeira-dama Janja da Silva para o mesmo destino semanas antes: R$ 34.617,56 em uma média de quatro diárias por pessoa. Já a da primeira-dama, R$ 18.041,80 em período parecido. Foram três diárias em média.
Perguntar não ofende: O MDB fica com João ou Raquel?
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