Qual o cálculo de João Campos ao deixar Dema de fora do secretariado?
Por Larissa Rodrigues – repórter do blog
Na política não existe espaço vazio, não existe vácuo. Quando o prefeito reeleito do Recife, João Campos (PSB), resolveu abrir mão de seu secretário de Governo, Aldemar Santos, o Dema, extinguindo a histórica e importante Secretaria de Governo do Recife, na verdade, “colocou no mercado” um quadro que claramente ganhou notoriedade pela sua desenvoltura e jeito de ser.
A presença de Dema, extremamente positiva na gestão do socialista e durante a campanha para reeleição do prefeito, vinha, óbvio, sendo observada por outras lideranças políticas de todo o Estado. O risco de ele ser capturado para outro espaço ao não integrar o secretariado de João era imenso.
Atento ao cenário político, o recém eleito primeiro secretário da Assembleia Legislativa de Pernambuco (Alepe), o deputado Francismar Pontes (PSB), antevendo a possibilidade de que Dema não estaria na relação dos escolhidos pelo prefeito para o seu novo mandato, foi lá e o convidou para assumir a Superintendência Geral da Casa. O espaço é um dos mais importantes cargos do Poder Legislativo.
Leia maisApesar do fato de que Dema continua muito ligado a João Campos, Aldemar Santos reforçou, em conversa com este blog, que chega na Assembleia “não a serviço de lado A ou B da política, nem a favor de João, nem de José e nem de Maria, mas sim somando àquele Poder”.
O fato é que Dema leva para o Poder Legislativo todas as qualidades que o fizeram ser conhecido na política como um “construtor de viadutos”, como bem definiu o titular deste blog em texto no dia em que Dema anunciou no Instagram que encerrava sua missão na Prefeitura do Recife. Tem a capacidade de juntar pessoas, de resolver problemas e de conversar.
A dúvida que fica é se o prefeito não considerou essas virtudes na montagem do seu novo secretariado e Dema foi escolha livre de Francismar Pontes, ou se João Campos, conhecedor de tais virtudes, influenciou nessa escolha, indicando o seu ex-secretário de Governo para essa missão.
JOÃO CAMPOS FEZ A CONTA CERTA? – Para quem acompanha de perto a política em Pernambuco, não duvida de que a chegada de Dema na Alepe é boa para aquela casa legislativa. Sugere um clima de muito diálogo entre a Presidência, a primeira-secretaria e todos os lados da política do Estado ali representados. Resta saber se João Campos fez a conta certa. Resta saber se Dema, de fato, não vai fazer falta à gestão do prefeito.

Conciliador – Uma das características do próximo superintendente geral da Assembleia é a capacidade de conversar com todos os lados da política. Já foi recebido pelo presidente Lula (PT) em Brasília e, desde o início da gestão da governadora Raquel Lyra (PSDB), por exemplo, teve inúmeras conversas com a Casa Civil de Raquel. Como secretário de João, Dema também tinha a missão de dialogar com os partidos e com a Câmara de Vereadores, algo que ainda não se sabe exatamente quem vai fazer no novo mandato do prefeito.
Agora o diálogo é estadual – Se antes a atuação de Dema estava, de maneira geral, restrita aos limites da capital, a partir do momento em que assumir a Superintendência Geral da Alepe, vai passar a ter diálogo frequente com todos os cantos de Pernambuco, que são representados pelos deputados. Como diria o matuto, cada deputado tem junto uma “tuia” de prefeitos e de vereadores, ou seja, Dema vai ficar ainda mais visível para as diversas lideranças estaduais. Por isso que fica a dúvida se João considerou todos esses aspectos ao escolher não o manter no seu primeiro escalão ou se foi realmente uma jogada.
João vai precisar de gente – Por falar na montagem do time de João Campos, vale lembrar que ele vai precisar ampliar a quantidade de pessoas de confiança e articuladas no seu entorno, caso se consolide mesmo como liderança nacional. Com o resultado da última pesquisa AtlasIntel, divulgada na sexta-feira passada (10), o prefeito está posicionado como o segundo nome mais bem avaliado pelos eleitores de esquerda para liderar o campo progressista nos próximos anos. O levantamento aponta João com 18,3% das intenções. Ele ficou atrás apenas do presidente Lula (PT), que lidera com ampla vantagem de 61,5%. Como não poderia ser diferente, se torna alvo fácil de outros partidos que não querem abrir mão do poder.

Boulos em terceiro – Além de Lula e João Campos, o ranking AtlasIntel mostrou as opções no cenário político nacional para esquerda. Guilherme Boulos (PSOL), mesmo com toda a projeção que ganhou nas últimas eleições, aparece em terceiro lugar, com 10,7%, seguido pela presidente do PT, Gleisi Hoffmann, com 2%. Vale lembrar, ainda, que Boulos já criticou João Campos, afirmando que o prefeito do Recife construiu sua trajetória política por herança familiar.
CURTAS
Clodoaldo e o PV – Aliado da governadora Raquel Lyra, o deputado federal Clodoaldo Magalhães foi eleito, no último sábado (11), como vice-presidente nacional do Partido Verde (PV). Ele também mantém a presidência estadual do PV em Pernambuco. Na nova função, Clodoaldo Magalhães terá a missão de promover o crescimento do partido e fortalecer suas bandeiras em todo o País.
Auxílio aos municípios – Uma das pautas da Associação Municipalista de Pernambuco (Amupe) na reunião que fará com os prefeitos e prefeitas do Estado, nesta terça-feira (14), é a proposta para a criação do setor de engenharia da entidade. O objetivo é que a associação possa auxiliar os municípios de pequeno porte na elaboração de projetos. A assembleia extraordinária será na sede da Amupe, no bairro de Jardim São Paulo, no Recife, a partir das 9h.
Se inspirou em Raquel? – A prefeita de Sertânia, Pollyanna Abreu (PSDB), assinou seu primeiro decreto com medidas para o funcionalismo público municipal. O documento determinou a exoneração de todos os servidores comissionados da administração direta e indireta, além da rescisão de contratos, exceto para médicos e enfermeiros que atuam no Pronto Atendimento Municipal e nos Postos de Saúde da Família (PSF). Lembrou a canetada do fim do mundo de Raquel Lyra, no início de janeiro de 2023.
Perguntar não ofende: com a reforma ministerial de Lula prevista para este mês, como o presidente vai mexer com a vida dos vários pernambucanos que estão no time?
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