A última excrescência dos deputados brasileiros
Encampada pelo presidente, o paraibano Hugo Motta (Republicanos-PB), diante da ameaça de que seu Estado iria perder uma cadeira, conforme recomendação do STF, com base no Censo do IBGE, a Câmara dos Deputados aprovou, ontem, por 270 votos a favor e 207, o aumento de 18 cadeiras na Casa, que passa de 513 para 531. A excrescência vai gerar um custo anual de R$ 64,8 milhões ao País.
De acordo com a Constituição Federal, o número de vagas deve refletir a proporção da população dos estados. Em 2023, o Supremo Tribunal Federal (STF) determinou que o Congresso deveria revisar a distribuição com base no Censo de 2022, com a possibilidade de o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) intervir caso a decisão não fosse cumprida até 30 de junho.
Leia maisPelo projeto aprovado, nenhum estado terá redução no número de cadeiras. Se aprovado pelo Senado e sancionado pelo presidente, a alteração entrará em vigor a partir da legislatura de 2027. Psol, Rede e Novo orientaram o voto contra a proposta. O comportamento dos nobres parlamentares foi vergonhoso, uma ofensa ao povo brasileiro, que sustenta essa gente pagando seus impostos em dia.
Com crise econômica e política assolando a nação, propor aumento de gastos aumentando o número de deputados é um deboche com a sociedade. Aumentar o número de deputados é aumentar também os gastos anuais. Segundo o texto aprovado, nenhum Estado perderá vagas na Casa, ao contrário do que recomendou o Supremo Federal. A mudança deve entrar em vigor na legislatura de 2027, caso seja aprovada pelo Senado e sancionada pelo presidente da República.
Oito estados serão beneficiados com mais cadeiras, sob o argumento de que registraram aumento em suas populações: Santa Catarina e Pará terão quatro deputados a mais cada; Amazonas, Mato Grosso e Rio Grande do Norte dois deputados a mais; Ceará, Goiás, Paraná e Minas Gerais uma vaga extra.
CARA-DE-PAU – O deputado Damião Feliciano (UB-PB), argumentou, em seu parecer, que a criação das 18 vagas não levará a um aumento de despesas na Câmara. Segundo ele, dados fornecidos pela cúpula da Câmara estimam que a ampliação de cadeiras custaria cerca de R$ 64,6 milhões anualmente. “A Direção da Casa conclui que, mesmo hoje, o orçamento da Câmara dos Deputados já comportaria as despesas decorrentes da aprovação do projeto. E que, tomando por base a última estimativa de reajuste dos limites dos órgãos, para os próximos quatro anos, o orçamento desta Casa em 2027 contará com margem ainda maior para abrigar as despesas em tela”, disse.

Só quatro de Pernambuco votaram contra – Da bancada de Pernambuco na Câmara Federal, apenas quatro deputados votaram contra o aumento do número de parlamentares na Casa de 513 para 531: os bolsonaristas Clarissa Tércio e Coronel Meira, do PL, Mendonça Filho (UB) e Túlio Gadelha (Rede). Luciano Bivar (UB) e Pastor Eurico (PL), em missão oficial, não votaram, mas Eurico, ouvido pelo blog, disse que se estivesse presente seu voto seria a favor, sob a alegação de que, pela proposta anterior, a recomendação do STF, Pernambuco perderia uma vaga.
Lista dos 24 que votaram a favor – Votaram a favor pelo aumento do número de deputados os seguintes integrantes da bancada federal: André Ferreira (PL), Augusto Coutinho (Republicanos), Carlos Veras (PT), Clodoaldo Magalhães (PV), Eduardo da Fonte (PP), Eriberto Medeiros (PSB), Felipe Carreras (PSB), Fernando Coelho (UB), Fernando Monteiro (Republicanos), Fernando Rodolfo (PL), Guilherme Uchoa (PSB), Iza Arruda (MDB), Lucas Ramos (PSB), Lula da Fonte (PP), Maria Arraes (SD), Ossesio Silva (Republicanos) e Pedro Campos (PSB).
Petistas do RN dão bom exemplo – Da bancada petista do Rio Grande do Norte, dois deputados votaram contra o aumento: Fernando Mineiro e Natália Bonavides. “Acreditamos que o ideal seria buscar a proporcionalidade entre os estados sem aumentar o número de parlamentares. Principalmente porque não é o momento de mais gastos com o Legislativo”, disse Natália. Para Mineiro, “foi mais um remendo para não enfrentar uma necessária reforma política, que toque em questões essenciais”.

TÚLIO MANTÉM A ESCRITA – Do bloco de esquerda na bancada de Pernambuco, apenas Túlio Gadelha (Rede) manteve postura altiva, de coerência e responsabilidade com o seu mandato. A grande decepção foi o comunista Renildo Calheiros (PCdoB), que se aliou ao núcleo conservador da bancada. Não foi por acaso, aliás, que pela segunda vez consecutiva Gadêlha foi escolhido pelo público que votou no Prêmio Congresso em Foco 2024 como o melhor representante do Nordeste na Câmara. Criado em 2006, o prêmio é uma iniciativa do Congresso em Foco que tem como finalidade distinguir os melhores parlamentares do Congresso.
CURTAS
FOI COERENTE – Afora os bolsonaristas Clarissa Tércio e Coronel Meira, faça-se justiça também ao voto sóbrio e corajoso do deputado Mendonça Filho, mesmo sabendo que a maioria esmagadora da bancada do seu partido, o União Brasil, votaria a favor.
DISTORÇÃO – Voto a favor do aumento dos deputados, o jovem Lula da Fonte (PP) argumentou não concordar com o corte em alguns estados menores em detrimento dos de maior densidade eleitoral e econômica. “Iríamos criar aqui na Casa uma tremenda distorção”, afirmou.
FESTÃO – Presidente nacional do Podemos, a deputada Renata Abreu (SP) reuniu muitos políticos, ontem, numa casa de eventos em Brasília, para comemorar seu aniversário. De Pernambuco vieram o presidente da legenda, Marcelo Gouveia, o irmão Gustavo, deputado estadual, e o ex-presidente Ricardo Teobaldo.
Perguntar não ofende: O Governo vai conseguir acalmar o PDT e trazer a bancada de volta à base na Câmara Federal?
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