Trump impacta Governo Lula
A vitória de Donald Trump nos Estados Unidos provocou um grande impacto em Brasília. Foi o assunto mais comentado e discutido, ontem, entre auxiliares do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). O resultado foi encarado com preocupação por esses aliados, que veem a possibilidade das eleições americanas exercerem um reflexo sobre a política brasileira negativa para o governo Lula.
A manifestação de Lula sobre a vitória de Trump foi publicada na rede social X. “Meus parabéns ao presidente Donald Trump pela vitória eleitoral e retorno à presidência dos Estados Unidos. A democracia é a voz do povo e ela deve ser sempre respeitada. O mundo precisa de diálogo e trabalho conjunto para termos mais paz, desenvolvimento e prosperidade. Desejo sorte e sucesso ao novo governo”, afirmou Lula.
Leia maisNão há expectativa de que o petista faça qualquer contato com o republicano neste momento. A declaração de Lula ocorre dias depois de ele ter defendido publicamente que apoiava a agora candidata derrotada Kamala Harris. Na ocasião, o presidente brasileiro não poupou críticas a Trump.
“Nós vimos o que foi o presidente [Donald] Trump no final do seu mandato, ou seja, fazendo aquele ataque ao Capitólio. Uma coisa que era impensável acontecer nos Estados Unidos”, disse Lula, em entrevista à emissora francesa TF1+. Para André Cesar, analista político da Hold Assessoria, a vitória de Trump logo após a declaração de Lula amplia o sentimento de derrota para o presidente brasileiro e da esquerda como um todo.
Segundo ele, esse resultado vem logo após as diversas derrotas que os seus aliados tiveram nas eleições municipais deste ano. O PT conseguiu eleger apenas 252 prefeitos, ficando em nono lugar no ranking de vitórias por partido. “O governo Lula perdeu espaço e a partir de agora vai ter que jogar um outro jogo, mas eu não vejo margem para uma mudança de posição da esquerda brasileira”, afirmou o analista.
DIREITA COMEMORA – A direita comemorou amplamente a volta de Trump ao Governo americano. Aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e conservadores acreditam que o resultado pode impulsionar a oposição ao governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT), visando as eleições de 2026. Pessoas próximas ao ex-presidente acreditam que, da mesma forma que a derrota de Trump para Joe Biden em 2020 foi um baque para o então governo e uma inspiração para a esquerda brasileira, o inverso pode acontecer desta vez e ajudar a mudar os ventos da política brasileira.
Semelhanças com Bolsonaro – Nos bastidores são apontadas, ainda, semelhanças nas trajetórias de Trump e Bolsonaro. Após não terem sido reeleitos, ambos demonstraram dificuldade em aceitar o revés e não agiram para coibir movimentos que pregavam uma insurreição contra o resultado das urnas. Além disso, também é feita a comparação entre a invasão ao Capitólio americano, em 6 de janeiro de 2021, e as invasões aos prédios dos Três Poderes, em Brasília, em 8 de janeiro de 2023.
Inelegibilidade, a diferença – Outra semelhança é que ambos enfrentam processos criminais. O político americano foi condenado por ocultar um pagamento feito a uma atriz pornô para encobrir um caso extraconjugal. E é indiciado por supostamente ter incitado as invasões ao Capitólio – acusação semelhante à enfrentada por Bolsonaro em relação ao 8 de janeiro. O brasileiro ainda responde a processos como o caso das joias e a falsificação em cartões de vacina. No entanto, Bolsonaro tem um obstáculo que Trump não enfrentou: está inelegível pela Justiça Eleitoral até 2030.
Tensão na economia – Além de um possível impulsionamento da oposição, algumas promessas de campanha de Donald Trump na economia geram preocupação no Palácio do Planalto. Uma delas é fazer um cerco à economia chinesa, principal parceira comercial do Brasil e grande compradora de produtos agrícolas. Caso o presidente eleito americano cumpra com o que promete, isso pode afetar as exportações brasileiras à China, impactando em outros índices como o dólar e a inflação.
Protecionismo americano – Trump promete, ainda, ampliar o protecionismo aos produtos americanos. Medidas que podem impactar o cenário econômico do País e gerar um cenário mais propício a um crescimento da oposição. No entanto, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, foi mais cauteloso ao avaliar a vitória de Trump: “Entre o que foi dito e o que vai ser feito, as coisas às vezes não se traduzem como foram anunciadas. E o discurso pós-vitória já é mais moderado que o da campanha”, disse, em conversa com jornalistas.
CURTAS
PACOTE – O governo deve encaminhar ao Congresso medidas para cortar gastos, com a perspectiva de mexer em políticas como o BPC e o seguro-desemprego. A nova alta do dólar provocada pelo triunfo de Trump pressiona ainda mais Haddad a propor um pacote robusto, ao mesmo tempo em que terá de lidar com o fato de serem medidas impopulares.
DESNORTEADA 1 – A imprensa americana, e a de outros países do Ocidente, ficou desnorteada com a vitória acachapante de Donald Trump na eleição presidencial dos Estados Unidos, embora ela estivesse diante do seu nariz.
DESNORTEADA 2 – Mas é compreensível: para uma imprensa que se deixa guiar inteiramente pelas suas preferências ideológicas, mas ainda vendendo hipocritamente o mito da sua imparcialidade, o pensamento mágico infantil é o de que os cidadãos perceberão a realidade da mesma forma que ela e farão tudo o que a sua mestra mandar.
Perguntar não ofende: O que será do Brasil com um Trump tão poderoso?
Leia menos