Secretários sem transição
A demora do anúncio do Secretariado de Raquel Lyra (PSDB) já gerou um problemão aos escolhidos e não revelados por ela: a provável inexistência do processo de transição. Se o anúncio for amanhã, conforme, finalmente, decidiu ontem, certamente os que estão saindo não passarão as informações das suas respectivas pastas para os que estão chegando.
Isso, por outro lado, deve repercutir até num drama de ordem burocrática, porque quando os secretários chegarem em seus novos postos de trabalho não encontrarão sequer um servidor para passar a senha de acesso ao sistema geral de informações. A senha que dá acesso geralmente fica em poder do secretário, do adjunto ou de um assessor de confiança mais próximo.
Leia maisO retardamento da equipe tucana, portanto, levará muita gente a um mergulho na escuridão. “Se o anúncio for na véspera da posse, como ela fez em Caruaru, tem secretário que terá que usar o Google para chegar ao seu novo gabinete no Recife, especialmente se vier de Caruaru”, brincou um parlamentar integrante da futura base governista na Assembleia Legislativa.
Com seu ritmo tartaruga, Raquel está abrindo um paradigma no País, especialmente em Pernambuco. Nunca um governador chega para tomar posse sem ter montado todo o seu governo ou pelo menos os auxiliares de pastas mais importantes, como Educação, Saúde e Fazenda. Se com o primeiro escalão está sendo assim, imagine no segundo escalão.
Este, aliás, dará muito mais trabalho, porque são 37 órgãos de áreas estratégicas para o futuro e de grande expectativa para a população, como os comandantes da Polícia Militar, da Polícia Civil e do Corpo de Bombeiros. Entre as instituições, setores fundamentais para o Estado, como o turismo, via Empetur, a Cultura, através da Fundarpe, além do DER, que cuida das estradas.
Desapontamento – Soube, ontem, que o empresariado pernambucano já está desapontado com o estilo tartaruga de Raquel, especialmente impactado com as especulações de que a Fazenda seria entregue a Simone Benevides, ex-secretária de Finanças de Caruaru e servidora de carreira da Caixa Econômica Federal. O PIB estadual esperava um nome mais conhecido, já com trânsito em todos os segmentos empresariais e também que tivesse relativa facilidade de andar em Brasília sem cartão de apresentação.
Câmara, só amanhã – Lula criou a expectativa de anunciar, ontem, os 13 ministros restantes, mas não avançou nas negociações com o Centrão, como imaginava. Em razão disso, os últimos integrantes do primeiro escalão somente serão conhecidos amanhã. Entre os que devem entrar na última lista, o governador Paulo Câmara, que não se sabe ainda se terá um gabinete na Esplanada ou irá para o segundo escalão.
Mudança das regras – Resposta bem dura do secretário estadual da Fazenda, Décio Padilha, ao rebater, ontem, a vice-governadora eleita Priscila Krause, de que Pernambuco estava com as finanças desarrumadas. “O Estado de Pernambuco tem equilíbrio fiscal com base no Tesouro Nacional. Quem achar que não tem precisa, então, mudar as regras do Tesouro. Entregamos ainda o menor endividamento dos últimos anos”.
Balanço de João – Em entrevista, ontem, à Rádio Folha, o prefeito do Recife, João Campos, disse que, em dois anos, já concluiu e entregou 2,3 mil obras entregues. “Fechamos o ano de 2022 com um R$ 1 bilhão em investimentos, uma marca histórica da década. Mais de 50% disso é para a Secretaria de Infraestrutura e só na parte de morro a gente tem mais de R$ 140 milhões investidos em dois anos e, sobretudo, de fonte própria e captada pelo município”, afirmou.
Dinheiro novo – João fez referências ainda ao programa Parceria, que, segundo ele, conseguiu tirar do papel, só este ano, cerca de mil obras em áreas de morro, programa premiado pela ONU, com mais de R$ 70 milhões do orçamento. “Vamos assinar no início do próximo ano com o BID duas novas operações de crédito: uma de R$ 1,5 bilhão e outra de R$ 500 milhões, que são as duas maiores operações de crédito da história do Recife, quase na sua totalidade revertidas para áreas vulneráveis”, afirmou.
CURTAS
SEM VIOLÊNCIA – Ministro da Defesa, o pernambucano José Múcio Monteiro disse, ontem, que não vai usar a força para retirar manifestantes bolsonaristas acampados em frente aos quartéis generais do Exército em diversos Estados.
CONVERSA BOA – O deputado Eduardo da Fonte faz segredo da conversa que teve, na última segunda-feira, com a governadora eleita Raquel Lyra para tratar de secretariado. Seus aliados, entretanto, revelam que ele saiu satisfeito do encontro.
Perguntar não ofende: Cadê o Secretariado, Raquel?
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