O dia que Lula nunca mais esquecerá
O susto foi grande, até pelas manchetes que varreram o noticiário online pela madrugada e o raiar do dia de ontem, mas, felizmente, o presidente Lula superou mais um episódio grave de saúde. Estampadas em todos os sites e blogs, presente em todos os telejornais pela manhã, o noticiário dizia que Lula havia sido socorrido às pressas com hemorragia na cabeça e submetido a uma cirurgia de emergência.
No primeiro boletim do hospital Sírio-Libanês, divulgado de madrugada, por volta de 3h20, a equipe médica informou que o presidente havia passado mal ainda em Brasília, que havia feito um exame de imagem após sentir fortes dores de cabeça, ainda na unidade de Brasília. Segundo o boletim, a ressonância magnética mostrou hemorragia intracraniana, decorrente do acidente domiciliar em 19 de outubro.
E completou: “O presidente foi transferido para o Hospital Sírio-Libanês, unidade de São Paulo, onde foi submetido à craniotomia para drenagem de hematoma. A cirurgia transcorreu sem intercorrências”. Mais tarde, por volta das 9 horas, o médico Roberto Kalil Filho, chefe da equipe que atendeu o chefe da nação, deu uma entrevista ao lado de colegas que o ajudaram no procedimento e tranquilizou o País.
Leia maisDisse que o paciente estava absolutamente estável e que seguiria internado por mais alguns dias. “O presidente encontra-se estável, conversando, se alimentando e ficará em observação nos próximos dias”, disse o médico Roberto Kalil. De acordo com ele, a previsão é que o presidente fique por mais dois na UTI e em observação no hospital por uma semana, devendo retornar a Brasília no começo da próxima semana.
Lula passou a última segunda-feira se sentindo sonolento e com mal-estar, mas cumpriu a sua agenda, inclusive recebeu os presidentes da Câmara e do Senado, já no início da noite, para tratar de uma problemática: a pressão dos deputados pela liberação das emendas parlamentares, o que, certamente, só aumentou a sua dor de cabeça.
Apesar de lúcido e orientado, o presidente estava reclamando de dores. Mas seguiu tocando os compromissos. “Ele só se entregou na última agenda”, disse uma fonte que acompanhou o dia do presidente. Chegou a resistir, mas acabou convencido ainda em seu gabinete presidencial. Do Palácio do Planalto foi direto ao hospital Sírio-Libanês, unidade de Brasília.
Ali, depois de um exame, a equipe achou melhor transferir o paciente para a unidade de São Paulo. Lula foi levado num avião presidencial com itens de UTI, que não precisaram ser usados. Houve restrição de passageiros. Foram somente os imprescindíveis: a primeira-dama Janja da Silva, seguranças e equipe médica, que contou com um neurocirurgião. Lula viajou o trajeto acordado, calmo e calado.
TREPANAÇÃO – No Sírio, em São Paulo, Lula se submeteu a uma trepanação, intervenção cirúrgica em que um pequeno furo é feito no crânio do paciente. Em seguida, é inserido um dreno para sucção de hematoma. Inicialmente, o boletim médico de Lula apontou que o presidente havia sido submetido a uma craniotomia. No entanto, o termo foi corrigido para trepanação durante coletiva da equipe médica que monitora o presidente. Segundo o neurocirurgião Mauro Suzuki, que participou da coletiva, “não é que esteja errado [o termo craniotomia], é que geralmente a gente usa esse termo para aberturas maiores”.
Felizmente, sem sequelas – O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) não teve nenhum machucado ou lesões no cérebro em decorrência da cirurgia. “O hematoma está entre o crânio, entre o osso, e o cérebro. Ele não tem machucado no cérebro. A gente fez o procedimento para que esse hematoma não comprima o cérebro. Então ele fica sem sequelas, o cérebro está livre de qualquer compressão ou lesão”, afirmou o neurologista Rogério Tuma durante coletiva de imprensa. Ainda de acordo com o médico, o hematoma foi totalmente drenado.
Retorno a Brasília – De acordo com a equipe médica que monitora Lula, o chefe do Executivo pode retornar a Brasília no início da próxima semana. Apesar disso, os médicos não estipularam um prazo para a alta do Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo. “O tempo de internação, se tudo ocorrer bem, como está ocorrendo, ele deve retornar a Brasília no começo da próxima semana. Tudo depende da evolução, mas a previsão é que o presidente esteja em Brasília na semana que vem”, afirmou o médico pessoal de Lula, dr. Roberto Kalil Filho, em coletiva na manhã de ontem.
Covid, suspeita inicial – O exame preliminar do presidente mostrava um quadro levemente febril. Cogitou-se até mesmo covid. Mas a escolha dos médicos foi por fazer todos os exames na sede do Sírio em Brasília, já que Lula vinha sendo monitorado constantemente por conta da lesão recente que teve na cabeça, após cair no banheiro. Foi no exame de ressonância magnética, segundo o hospital, que se confirmou o sangramento intracraniano que levou o presidente à mesa de cirurgia. Embora o Sírio-Libanês disponha de uma estrutura completa em Brasília, foi Kalil quem insistiu em transferir Lula para a sede do hospital em São Paulo. Afinal, a sede do hospital na capital paulista possui uma estrutura muito mais robusta, além da equipe de confiança do cardiologista. Tudo aconteceu muito rápido. Mas o trajeto no avião presidencial foi marcado por muita tensão.
Rapidez salvou presidente – Lula, segundo os relatos, manteve-se calmo durante todo o trajeto. Mas não era o Lula brincalhão que costuma fazer piada até mesmo nos momentos difíceis. Afinal, o presidente estava de fato se sentindo muito mal. E, assim como seus médicos, estava preocupado. Mas o clima tenso não se restringia ao interior da aeronave. Kalil aguardava ansiosamente a chegada de Lula na pista de pouso do aeroporto de Congonhas. Ele recebeu Lula na porta do avião. O quadro de Lula está controlado e sua recuperação será completa, de acordo com a equipe médica. Mas a rapidez na tomada de decisões foi determinante para evitar que o desfecho fosse grave. Para os médicos do presidente, 12 horas a mais mudariam tudo.
CURTAS
TRAUMA – Mas por que o sangramento na cabeça do presidente Lula aconteceu mais de um mês depois do acidente doméstico no Palácio da Alvorada? “Esse tipo de hematoma, que é decorrente de um trauma, pode acontecer algum tempo depois da queda”, explica Gisele Sampaio, neurologista e professora da Unifesp.
GOTEJANDO – Felipe Barros, neurologista da Clínica DFV Neuro, afirma que o sangramento pode nem aparecer nos primeiros exames ou até ser diagnosticado no início, mas ainda de forma discreta. Em ambos os casos, é só depois que ele aumenta, como uma “torneira que ficou um tempo gotejando”.
CONGRESSO – A governadora Raquel Lyra (PSDB) abre hoje, pela manhã, em Triunfo, o último congresso de 2024 da União dos Vereadores de Pernambuco (UVP), com quórum altíssimo. Amanhã, farei palestra no evento. Vou falar sobre o tema “O recado das urnas”, uma avaliação das eleições municipais.
Perguntar não ofende: E se Lula dependesse do SUS?
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