Cumprimentos, fotografias e muitas lágrimas. Assim foi o último dia de Cid Moreira como locutor do “Jornal Nacional”, em março de 1996, quando ele entregou o bastão para William Bonner e Lilian Wite Fibe. Glória Maria, Leilane Neubarth, Fátima Bernardes, Renata Caputti e William Bonner choraram ao acompanhar o desempenho do veterano. Tão logo Cid deu o último dos 7.500 “boas noites” de sua carreira no “JN”, o estúdio foi aberto, e o locutor, cercado por colegas.
A festa, montada no estúdio onde era gravado o “Jornal Hoje”, já estava preparada. Ele recebeu um beijo de Leilane, um abraço do diretor Daniel Filho, consolou Glória Maria, que chorava bastante, e foi cumprimentado por Evandro Carlos de Andrade, então diretor de Jornalismo da Rede Globo. “Cid é insubstituível”, comentou Bonner. “Não vou substituí-lo; vou sucedê-lo. Ele e Sérgio Chapelin são dois ícones”, completou o jornalista, ainda hoje apresentador e editor-chefe do “JN”.
Apesar da emoção, o “boa noite” de Cid não foi exatamente uma despedida. Já no domingo seguinte, ele voltaria, no encerramento do “Fantástico”, interpretando a oração ecumênica que passaria a ser lida por líderes religiosos na abertura da programação da Globo, às 6h. Na segunda-feira, Cid retornaria ao “JN” narrando o primeiro editorial de uma nova fase. “O povo vai se identificar ainda mais comigo, pois a emissora expressará sua opinião sobre temas polêmicos por meio da minha voz”.
Leia maisEm entrevista ao GLOBO, dias antes, o jornalista já deixara claro que estava satisfeito. “Parei no auge, assim como Pelé. Quando fui comunicado das mudanças, lembrei muito dele. Pelé foi convidado para voltar à seleção em 1974 e não quis. Exatamente como Pelé, saio de campo no momento ideal”.
O início do último dia de Cid apresentando o “JN” começou com um telefonema de dona Elza, a mãe dele. Então com 92 anos, ela ligou chorando de Taubaté, no interior de São Paulo, sem compreender a sua saída. Do outro lado da linha, o apresentador tentou acalmá-la. r procurou acalmá-la: “Mãe, você acha que um guerreiro como eu vai cair assim? Você continuará me vendo na TV, só que por menos tempo. Estou com 68 anos e já era hora de ter um refresco”.
Com a mesma tranquilidade que respondeu à mãe, Cid encarou seu último dia na função que exercera por quase 27 anos. Acordou cedo, fez o desjejum à base de frutas e iogurte (ele era vegetariano desde os 30 anos), fez a barba e, com a ajuda da mulher, Ulhiana Naumtchyk Moreira, de 35 anos, escolheu a roupa que usaria à noite. “Quando comecei a namorar o Cid, ele se vestia como velho. Então, passei a cuidar de todo o visual dele”, contou Ulhiana, que conheceu o marido no salão de beleza.
“Conheci Ulhiana quando estava com problema capilar. Ela me inspirou confiança logo na primeira conversa. Acabei me apaixonando e, hoje, não deixo outra pessoa mexer no meu cabelo”, disse o locutor do famoso “boa noite”, que, a partir de então, seria dito exclusivamente para a mulher.
Do Jornal O Globo.
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