Por Tales Faria – Vero Notícias
Não foi por mero puritanismos que líderes e presidentes de partidos do chamado centrão se negaram – até a tarde desta segunda-feira (8), a participar da reunião em que o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) anunciaria sua disposição de desistir da candidatura a presidente da República em troca da aprovação do projeto de anistia para seu pai, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
O filho mais velho de Bolsonaro chegou a anunciar que a anistia era “o preço” para desistir da candidatura. O presidente do Republicanos, Marcos Pereira, avisou que não ia. O presidente do União Brasil, Antônio Rueda, também, assim como o presidente do PP, Ciro Nogueira. Estes dois voltaram atrás depois de pedidos insistentes de Flávio. “Não me deixe passar vergonha”, teria apelado o bolsonarista.
Leia maisÉ verdade que os partidos do centrão sentiram-se alvos de uma verdadeira chantagem do clã Bolsonaro: “Desistimos de lançar um candidato da família, o que atrapalharia o nome escolhido pelo centrão, em troca da anistia para papai”, é o que na prática propôs Flávio na reunião da noite desta segunda-feira a Rueda e Ciro Nogueira, mas ambos recusaram apoiá-lo.
Mas chantagens não eriçam os pelos da ética nos manuais do centrão. O grupo que reúne praticamente todos os partidos de centro no Congresso conhece bem esse roteiro. Há décadas que vem chantageando praticamente todos os chefes do Poder Executivo no país.
O centrão não recusaria ser chantageado por motivos éticos. Afinal, o grupo lança mão do expediente da chantagem contra governos há décadas.
“Ou o presidente da República nos dá cargos e verbas no Orçamento da União, ou retiramos nosso apoio ao Palácio do Planalto e aprovamos pautas bombas no Congresso”, é o mantra dos parlamentares do centrão que ecoa há décadas na Praça dos Três Poderes.
Os comandantes partidários recusaram apoio à anistia porque concluíram que Flávio estava cobrando resgate de uma candidatura do centrão à Presidência que não tinha bala na agulha para ter sequestrado.
O centrão acredita já ter o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), como seu candidato ao Palácio do Planalto. Se Tarcísio desistir, o agrupamento partidário pretende escolher qualquer outro nome de centro, menos os integrantes da família Bolsonaro.
A experiência de ficar quatro anos sob o jugo do clã não agradou ao centrão, que pretende agora ser senhor do seu próprio destino. Daí porque até a aliança com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) sofre restrições.
Não foi de todo ruim a aliança nos primeiros governos do PT, mas os partidos do centrão também não a consideram nenhuma maravilha.
A família Bolsonaro, por sua vez, acredita que um candidato com o sobrenome do clã retira tantos votos do possível concorrente pelo centrão que inviabilizaria o lançamento de um nome desses partidos. Daí a chantagem: “Papai não lança candidato e vocês podem concorrer tranquilos.”
O problema é que, na visão do centrão, um candidato apenas com sobrenome Bolsonaro – que não seja o próprio – não tem viabilidade eleitoral.
A aposta é que a candidatura de Flávio Bolsonaro não emplaca. Ele terá que desistir por inanição. Por falta de votos.
Então, o filho de Jair Bolsonaro está vendendo um produto de que não dispõe: sua candidatura. Seria como vender um terreno na lua. E os caciques do centrão são espertos demais para comprar terrenos na lua.
Ao mesmo tempo em que não se rende à chantagem do clã Bolsonaro, o centrão avalia que chegou a hora de pressionar Tarcísio por uma decisão: “ele precisa escolher um lado. Não dá para a política ficar a mercê dos movimentos dos Bolsonaro”, disse à coluna um dos caciques do centrão.
A ideia é que Tarcísio dê demonstrações mais fortes de que pretende concorrer a presidente da República.
Os filhos de Bolsonaro poderão protestar, mas isso não teria qualquer efeito eleitoral. Só uma fala do próprio Bolsonaro contra Tarcísio poderia prejudicar a campanha. Mas, na avaliação do centrão, Bolsonaro não bateria em Tarcísio, mesmo que pudesse. Agora que está preso, ele mal pode se pronunciar publicamente.
É hora de Tarcísio começar a preparar as velas para navegar no mar da campanha presidencial.
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